terça-feira, 21 de abril de 2009

276 A retidão Kuru




276
“Conhecendo tua fé...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão que matou um ganso selvagem. Dois Irmãos, grandes amigos, que vieram de Savatthi e abraçaram a vida religiosa, após tomarem as ordens altas costumavam geralmente passear juntos. Um dia eles vieram para Aciravati. Depois de um banho, permaneceram n'areia esquentando ao sol e conversando agradavelmente. Neste momento dois gansos selvagens passaram voando por cima das cabeças deles. Um dos jovens pegou uma pedra. “Vou acertar aquele ganso no olho !” disse ele. “Não consegues,” disse outro. “Consigo,” disse o primeiro, “e não apenas – posso acertar este olho ou aquele olho, qual eu queira.” “Não, não você !” respondeu outro. “Olhe então !” disse o primeiro ; e pegando uma pedra de três pontas, atirou no pássaro. O pássaro girou a cabeça escutando o seixo zoar pelo ar. Então pegando um cristal redondo, jogou de modo que atingiu olho mais próximo e saiu fora pelo outro. O ganso com um grande grito virou e virou até cair aos pés deles mesmos.

Os Irmãos que estavam lá, viram o quê aconteceu e apressaram em repreendê-los. “Que vergonha,” eles disseram, “que vocês, que abraçaram tal doutrina como a nossa, possam tirar a vida de uma criatura vivente !” Fizeram com que ele fosse levado diante do Tathagata. “É verdade o que dizem ?” perguntou o Mestre. “Você realmente tirou a vida de uma criatura viva ?” “Sim, senhor,” respondeu o Irmão. “Irmão,” disse ele, “como é que você faz tal coisa, após abraçar tão grande salvação ? Sábios antigos, antes do Buddha aparecer, apesar de viver no mundo, e a vida mundana é impura, caíram de remorso por mera ninharia ; mas tu, que abraçaste esta grande doutrina, não tem escrúpulos. Um Irmão deve se manter controlado em atos, palavras e pensamentos.” Contou uma história então.
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Certa vez quando Dhanañjaya reinava na cidade de Indrapatra, no reino Kuru, o Bodhisatva nasceu como filho dele com a Rainha. Logo logo cresce e é educado em Taxila (Takkasilā ). Seu pai o fez Vicerei, e depois com a morte do pai tornou-se rei, crescendo na retidão Kuru, mantendo os dez deveres reais. A retidão Kuru significa as Cinco Virtudes ; estas o Bodhisatva observava e guardava pura ; como fazia o Bodhisatva, do mesmo modo fazia a rainha-mãe, a rainha mesma, o irmão mais novo, o vicerei, a família do capelão, brahmin, motorista, cortesão, auriga, tesoureiro, mestre dos celeiros, nobre, porteiro, cortesã, escrava – todos estes faziam o mesmo.

Rei, mãe, esposa, vicerei, capelão também,
Fiscal, auriga e tesoureiro,
E aquele que cuida dos celeiros reais,
Porteiro e cortesã, onze no total,
Observam as regras da retidão Kuru.

Todos estes então, observavam as Cinco Virtudes e as guardavam imaculadas. O rei construiu seis Casas de Caridade ( Ofertas ), - uma em cada um dos quatro portões da cidade, uma no meio mesmo da cidade e uma na sua própria porta ; diariamente distribuía 600.000 peças de dinheiro em ofertas, com o quê agitou a Índia inteira. Toda Índia foi tomada por seu amor e alegria na caridade.

Neste tempo havia na cidade de Dantapura, no reino de Kalinga, um rei chamado rei Kalinga. Nos seus domínios, chuva não caía e devido a seca havia fome na terra. O povo acreditava que falta de comida podia produzir a peste ; e havia medo da seca e medo da fome – estes três temores estavam sempre presentes diante deles. O povo vagava para lá e para cá despossuído, levando suas crianças pelas mãos. Todo o povo do reino reuniu-se e veio para Dantapura ; e lá às portas do rei fizeram protesto e gritaria.

Como o rei estava na janela, escutou o barulho e perguntou por quê o povo fazia todo aquele algazarra.

“Oh, Senhor,” foi a resposta, “três temores tomaram todo teu reino : não cai chuva, as colheitas faltam, há fome. O povo, faminto, doente e despossuído, vaga por aí com suas crianças levadas pelas mãos. Faça chover para nós, Ó rei !”

Disse o rei, “O quê costumavam monarcas anteriores fazer, se não chovesse ?”

“Monarcas anteriores, Ó rei, se não chovesse, costumavam dar ofertas, guardar dia santo, fazer votos de virtude e ficar deitado sete dias em sua câmara numa esteira de palha : então a chuva caía.”

“Muito bem,” disse o rei ; e justo assim ele fez. Mas a chuva não veio. O rei disse para sua corte,
“Como vocês me pediram, eu fiz ; mas não veio chuva. Que faço agora ?”

“Ó rei, na cidade de Indrapatra, há um elefante de estado, chamado Añjana-vasabho, o Elefante Negro. Ele pertence a Dhanañjaya, o rei Kuru. Vamos buscá-lo ; a chuva então virá.”

“Mas como faremos isto ? O rei e seu exército não são fáceis de sobrepujar.”

“Ó rei, não há necessidade alguma de brigar com ele. O rei gostar de fazer ofertas, ele ama a caridade : se fosse apenas pedido, ele cortaria mesmo a cabeça em toda sua magnificência, ou arrancaria fora seus olhos graciosos, ou desistiria de seu reino. Não haverá nem mesmo necessidade de pleitear o elefante. Ele o dará sem falta.”

“Mas quem será capaz de pedi-lo ?” disse o rei.

“Os Brahmins, grande rei !”

O rei convocou oito Brahmins de uma cidade Brahmin e com toda honra e respeito, enviou-os para pedir o elefante. Levaram dinheiro para a jornada e vestiram roupas de viagem e sem descansar, passando a noite em um lugar, viajaram rapidamente até que após uns poucos dias eles tomaram refeição na Casa de Caridade do portão da cidade. Quando já tinham satisfeito suas necessidades corporais, perguntaram, “Quando o rei vem até a Casa de Caridade ?”

A resposta foi, “Em três dias na quinzena – oitavo, décimo quarto, décimo quinto ; mas a-manhã é lua cheia, então ele virá a-manhã também.”

Assim cedo na manhã seguinte, os brahmins vieram e entraram pelo portão do leste. O Bodhisatva também, lavado e ungido, todo adornado e em cortejo raro, montado em um elefante fino ricamente ajaezado, veio em uma grande tropa até a Casa de Caridade do portão leste. Lá desmontou e deu comida a sete, oito, pessoas com suas próprias mãos. “Deste modo ofereçam,” disse ele, e montando seu elefante partiu para o portão sul. No portão leste os brahmins não tiveram nenhuma chance, devido à força da guarda real ; de modo que dirigiram-se para o sul e olhavam quando o rei chegaria.

Quando o rei alcançou um chão elevado não distante do portão, eles levantaram suas mãos e saudaram o rei como vitorioso. O rei guiou seu animal com o chicote de elefante para o lugar em que eles estavam. “Bem, Brahmins, qual o desejo de vocês ?” perguntou ele. Então os brahmins declararam as virtudes do Bodhisatva na primeira estrofe :-

Conhecendo tua fé e virtude, Senhor, viemos ;
Em troca desta besta gastamos todas as riquezas de casa.

A isto o Bodhisatva respondeu, “Brahmins, se toda a riqueza de vocês foi gasta para ganhar este elefante, não se preocupem – eu dou ele para vocês com todo o esplendor junto.” Assim confortando-os, ele repetiu estes dois versos:-

Sirvam vocês ou não como empregados,
Qualquer criatura que venham aqui até mim,
Como meus preceptores me ensinaram tempos atrás,
Todos que venham aqui serão sempre bem vindos.
Este elefante como presente para vocês eu apresento :
É uma porção real, válida para um rei !
Tomem-no, com todos os arreios, correntes douradas,
Condutor , tudo e sigam seus caminhos novamente.

Assim falou o grande Ser, montado nas costas do seu elefante ; então, desmontando, disse a eles - “Se houver um lugar nele não adornado, eu adornarei e depois dou a vocês.” Três vezes ele rodeou a criatura, virando para a direita e a examinando ; mas não encontrou nenhum lugar sem adorno.

Colocou então a tromba nas mãos dos brahmins ; o aspergiu com água perfumada de um vaso dourado fino e o entregou a eles. Os brahmins aceitaram o elefante com os pertences e sentando nas costas dele viajaram de volta para Dantapura, e o entregaram ao rei deles. Mas apesar do elefante ter vindo ainda assim não caiu chuva.

Então o rei perguntou novamente - “Qual será a razão ?”

Eles disseram, “Dhanañjaya, o Rei Kuru, observa a retidão Kuru ; portanto em seus domínios chove a cada dez ou quinze dias. Este é o poder da bondade do rei. Se neste animal há qualquer bondade, como ela deve ser pequena !” Então disse o rei, “Peguem este elefante, ajaezado como está, com todos seus pertences e devolvam ao rei. Escrevam num prato dourado a retidão Kuru que ele observa e traga ela aqui.” Com estas palavras ele despachou os brahmins e cortesãos.

Estes vieram para diante do rei e devolveram seu elefante, dizendo, “Meu senhor, mesmo quando seu elefante veio, nenhuma chuva caiu em nosso país. Dizem que observas a retidão Kuru. Nosso rei deseja também observá-la ; e ele nos envia pedindo que a escreva em um prato dourado e a leve até ele. Diga-nos esta retidão !”

“Amigos,” disse o rei, “na realidade certa vez observei esta retidão ; mas agora estou em dúvida justamente em relação a isto. Esta retidão não abençoa mais meu coração agora : portanto não a posso dá-la a vocês.”

Por quê, vocês podem perguntar, a virtude não abençoa mais o rei ? Bem, todo terceiro ano, no mês de Kattika ( outubro-novembro ) os reis costumam fazer um festival, chamado Festa de Kattika.
Enquanto guardando esta festa, os reis costumam se enfeitar em grande magnificência e ficam vestidos como deuses ; eles permanecem na presença de um duende chamado Cittaraja, o Rei das Muitas Cores e atiram para os quatro pontos do compasso, flechas trançadas em flores e pintadas em diversas cores. Este rei então, guardando a festa, estava na margem do lago, na presença de Cittaraja, e atirou flechas para os quatro quartos. Eles puderam ver para onde três das flechas foram ; mas a quarta , que foi lançada por cima d'água, esta eles não viram. Pensou o rei, “Talvez a flecha que atirei tenha caído em cima de algum peixe !” Quando esta dúvida surgiu, o pecado de tirar uma vida fez uma brecha na virtude dele ; daí porque sua virtude não o abençoa mais como antes. O rei contou isto a eles ; e adicionou, “Amigos, estou em dúvida quanto a mim mesmo, se observo ou não a retidão Kuru ; mas minha mãe a guarda muito bem. Vocês podem consegui-la com ela.”

“Mas, Ó rei,” eles disseram, “não tiveste nenhuma intenção em tirar a vida. Sem a intenção do coração não há como tirar a vida. Dê-nos a retidão Kuru que guardavas !”

“Escrevam, então,” disse ele. E os fez escrever no prato dourado : “Não matar o quê vive ; não pegar o quê não for dado ; não andar erradamente na luxúria ; não mentir ; não beber bebida forte.” Depois adicionou, “Ainda assim não me abençoa ; seria melhor aprenderdes com a rainha mãe.”

Os mensageiros saudaram o rei e visitaram a Rainha-mãe. “Senhora,” eles falaram, “dizem que guardas a retidão Kuru : passa ela p'ra gente !”

Disse a Rainha-mãe, “Meus filhos, realmente certa vez guardava esta retidão mas agora tenho minhas dúvidas. Esta retidão não me faz feliz, e portanto não posso dá-la a vocês.” Bem, nos é dito que ela tinha dois filhos, o mais velho sendo o rei e o mais jovem o vicerei. Um certo rei enviou ao Bodhisatva perfumes de sândalo fino válidos cem mil dinheiros e um colar de ouro válido de cem mil dinheiros. E ele, pensando em honrar sua mãe, mandou tudo para ela. Ela pensou : “Não me perfumo com madeira de sândalo e não uso colares. Darei os presentes para as esposas dos meus filhos.” Então um pensamento ocorreu a ela - “A esposa do meu filho mais velho é minha senhora ; ela é a rainha principal : para ela darei o colar de ouro ; mas a esposa do mais jovem é uma pobre criatura, - para ela darei os perfumes de sândalo.” Assim para uma ela deu o colar e para outra o perfume. Depois ela considerou, “Guardo a retidão Kuru ; sejam elas pobres ou não, não importa. Não é conveniente que eu faça a corte ao mais velho. Talvez não fazendo isto, tenha aberto uma brecha na minha virtude !” E ela começou a duvidar ; daí porque ela falava daquele jeito.

Os mensageiros disseram, “Quando está em suas mãos, uma coisa é dada do modo que você quiser. Se tens escrúpulos sobre coisas tão pequenas quanto estas, que outro pecado você teria ? Virtude não se quebra por uma coisa deste tipo. Dê-nos a retidão Kuru !” E dela também eles receberam e escreveram no prato dourado.

“De qualquer modo, meus filhos,” disse a rainha-Mãe, “não estou feliz com esta retidão. Mas minha nora a observa bem. Perguntem a ela. “

Assim pediram licença respeitosamente e perguntaram à nora do mesmo jeito que antes. E, como antes, ela respondeu, “Não posso, pois não a guardo mais !” - Bem, um dia quando ela estava sentada na varanda, olhando para baixo ela viu o rei fazendo procissão solene ao redor da cidade ; e atrás dele nas costas do elefante estava sentado o vicerei. Ela se apaixonou por ele e pensou, “E se eu fizesse amizade com ele e seu irmão morresse e então ele se tornaria rei e me tomaria por esposa !” Então ocorreu à sua mente - “Eu que guardo a retidão Kuru, que sou casada com um marido, olhei com amor para outro homem ! Aqui há uma brecha na minha virtude !” Remorso tomou ela. Isto contou aos mensageiros.

Eles então disseram, “Pecado não é um mero surgimento de pensamento. Se sentiste remorso por uma coisa tão pequena como esta, que transgressão poderia você cometer ? Por algo tão pequeno virtude não é quebrada ; dê-nos esta retidão !” E ela do mesmo jeito contou a eles , que escreveram no prato dourado. Mas ela falou, “Contudo, meus filhos, minha virtude não é perfeita. Mas o vicerei observa estas regras bem ; vão até ele e recebam-nas dele.”

Eles então foram até o vicerei e como antes pediram a ele a retidão Kuru. - Bem, o vicerei costumava ir e prestar suas obrigações ao rei de tarde ; e quando eles chegavam no jardim do palácio, em seu carro, se ele desejasse fazer a refeição com o rei e passar a noite lá, ele atiraria as rédeas e a chicote no jugo ; e este era o sinal para o povo partir ; e dia seguinte cedo eles voltavam e esperavam o partida do vicerei. E o auriga cuidaria do carro e viria novamente com ele cedo de manhã e esperaria na porta do rei. Mas se o vicerei partisse na mesma hora, ele deixava as rédeas e o chicote na carruagem e entrava para ver o rei. Mas quando ele estava dentro, começou a chover ; e o rei, notando isto, não o deixaria ir embora, de modo que ele tomou a refeição e dormiu lá. Mas uma grande multidão de pessoas ficou lá esperando que ele saísse, e lá ficaram a noite toda se molhando.

Dia seguinte o vicerei saiu e vendo a multidão esperando molhada, pensou - “Eu que guardo a retidão Kuru, coloquei toda esta multidão em desconforto ! Certamente há uma brecha na minha virtude !” e foi tomado de remorso. Então ele disse aos mensageiros : “Agora dúvida existe em mim se realmente guardo esta retidão ; portanto não posso dá-la a vocês;” e ele contou a eles o ocorrido.

“Mas,” eles disseram, “você não teve a intenção de castigar estar pessoas. O que não é intencionado não conta contra alguém. Se sentes remorso por algo tão pequeno, em que você transgrediria ?” Então receberam dele também o conhecimento desta retidão e escreveram no prato dourado. “Contudo,” disse ele, “esta retidão não é perfeita em mim. Mas meu capelão a guarda bem ; vão, perguntem a ele.” Então eles foram até o capelão.

Bem, o capelão um dia estava indo para diante do rei. Na estrada ele viu uma carruagem, enviada para o rei por outro rei, colorida como o sol nascente. “De quem é esta carruagem ?” ele perguntou. “É enviada para o rei,” eles disseram. Então ele pensou, “Sou um velho ; se o rei me desse esta carruagem para andar, como seria bom dirigi-la !” Quando ele chegou diante do rei e permaneceu diante após saudá-lo com prece de prosperidade, eles mostraram a carruagem ao rei. “Este é um carro muito bonito,” disse o rei ; “dê para meu preceptor.” Mas o capelão não queria aceitar ; não, apesar de insistirem várias vezes. Por quê isto ? Por quê o pensamento veio na mente dele - “Eu, que pratico a retidão Kuru, cobicei a propriedade de outra pessoa, Certamente isto é uma brecha na minha virtude !” Então ele contou este ocorrido aos mensageiros , adicionando, “Meus filhos, estou em dúvida sobre a retidão Kuru ; esta retidão não me abençoa agora ; portanto não posso ensiná-la a vocês.”
Mas os mensageiros disseram, “Com o mero surgimento da cobiça a virtude não é quebrada. Se sentes escrúpulo em matéria tão pequena, que transgressão real você faria ?” E dele também receberam a retidão e escreveram no prato dourado. “Ainda assim esta bondade não me abençoa agora,” disse ele ; “mas o fiscal real cuidadosamente a pratica. Vão e perguntem a ele.” Encontraram então o fiscal real e perguntaram a ele.

Bem, o fiscal um dia estava medindo um campo. Amarrando uma corda a uma estaca, ele deu uma extremidade para o dono do terreno segurar e segurou a outra ele mesmo. A estaca amarrada na extremidade da corda que ele segurava, atingiu um buraco em que um siri se escondia. Pensou ele, “Se coloco a estaca no buraco, o siri que se esconde será machucado : se coloco daquele lado, a propriedade do rei se perderá ; e se coloco deste lado o fazendeiro perderá. O que farei ?” Pensou novamente - “O caranguejo deve estar no buraco ; mas se estivesse mesmo, teria se mostrado ;” e então colocou a estaca na cova. O caranguejo fez um 'click !' dentro. Pensou, “A estaca deve ter atingido as costas do siri e o matou ! Observo a retidão Kuru e agora há uma brecha nela !” Contou a eles isto e adicionou, “Portanto agora tenho minhas dúvidas sobre ela e não posso dá-la a vocês.”

Disseram os mensageiros, “Não tivestes nenhum desejo em matar o caranguejo. O que é feito sem intenção não conta contra ; se tens escrúpulo sobre uma questão tão pequena, que real transgressão jamais cometerás ?” E tomaram a retidão dos lábios dele do mesmo modo e a escreveram no prato dourado. “Contudo,” disse ele, “apesar desta não me abençoar, o auriga a pratica cuidadosamente ; vão e perguntem a ele.”

Eles então pediram licença e procuraram o auriga. Bem, o auriga um dia levava o rei para o parque de carro. Lá o rei se divertiu durante o dia e à noite retornou e entrou na carruagem. Mas antes que chegassem na cidade, no momento do crepúsculo uma tempestade levantou-se. O auriga temendo que o rei pudesse se molhar, bateu nos cavalos com o chicote : os corcéis correram rapidamente para casa. Desde então, indo para o parque ou voltando dele, a partir daquele ponto eles passaram a correr. Por quê isso ? Porque eles pensaram que devia haver algum perigo naquele ponto e isso porque o auriga bateu neles com o chicote ali. E o auriga pensou, “Se o rei está seco ou molhado, não é erro meu ; mas bati com o chicote fora de hora neste corcéis bem treinados e daí passam a correr repetidamente até estarem cansados, tudo culpa minha. E eu observo a retidão Kuru ! Certamente há uma brecha nela agora !” Contou isto aos mensageiros e disse, “Por causa disto estou em dúvida sobre ela e não posso dá-la a vocês.” “Mas,” disseram eles, “você não quis cansar os cavalos e o quê é feito sem querer não conta contra. Se tens escrúpulos sobre algo tão pequeno, que real transgressão podes cometer ?” E aprenderam a retidão dele também e escreveram no prato dourado. Mas o auriga os enviou em busca de um certo homem rico, dizendo, “Mesmo que esta retidão não me abençoe mais, ele a guarda cuidadosamente.”

Então até este homem rico eles vieram e perguntaram a ele. Bem, ele um dia tinha ido a um arrozal e vendo uma cabeça de arroz arrebentando da casca, foi amarrá-la com uma mecha de arroz ; e pegando uma mão cheia dele, amarrou a cabeça em um estaca. Então ocorreu a ele - “Deste campo preciso apresentar o devido ao rei, e apanhei uma mão cheia de arroz sem dar o dízimo dela ! Eu, que observo as regras da retidão Kuru ! Certamente devo tê-las quebrado !” E este fato contou aos mensageiros, dizendo, “Agora estou em dúvida sobre esta retidão e assim não posso dá-la a vocês.”

“Mas,” eles disseram, “não tivestes nenhum pensamento em roubar ; por isto ninguém pode ser proclamado culpado de roubo. Se tens escrúpulo com algo tão pequeno quando tomarás o que pertence a outra pessoa ?” E dele também receberam a retidão e a escreveram no prato dourado. Ele adicionou, “ainda assim, apesar de não estar feliz em relação a isto, o Mestre do Celeiro Real guarda bem estas regras. Vá, perguntem a ele sobre elas.” Assim os enviou ao Mestre dos Celeiros.

Bem, este homem, enquanto estava sentado na porta do celeiro, medindo a taxa de arroz do rei, pegou um grão do monte que não estava medido e colocou embaixo para marcar. Naquele momento começou a cair chuva. O oficial contou as marcas, muitas, e então as varreu juntas e as atirou no monte que tinha sido medido. Correu então rapidamente e sentou na casa do portão. “Atirei as marcas no monte medido ou no não medido ?” ele cogitava ; e o pensamento veio a sua mente - “Se os atirei no já medido, a propriedade do rei aumentou, e os proprietários perdem ; guardo a retidão Kuru ; e agora tenho uma falha !” Contou isto aos mensageiros, adicionando que, portanto, ele tinha dúvidas sobre ela e não a podia dar a eles. Mas os mensageiros disseram, “Não pensaste em roubar e sem pensamento ninguém pode ser declarado culpado de desonestidade. Se tens escrúpulos com algo tão pequeno, quando roubarás qualquer coisa que pertence a outrem ?” E dele também receberam a retidão e a escreveram no prato dourado. “Mas,” adicionou ele, “apesar desta virtude não estar perfeita em mim, há o porteiro, que a observa bem : vão e peguem-na com ele.” Então eles saíram e perguntaram ao porteiro.

Bem, aconteceu um dia na hora de fechar o portão da cidade, dele gritar três vezes. E um certo homem pobre, que havia ido à floresta catar gravetos e folhas com sua irmã mais nova, tendo escutado o som, vir correndo com ela. Disse o porteiro - “O quê ! Não sabem vocês que o rei está na cidade ? Não sabem que o portão desta cidade fecha cedo ? É por isto que saíram para a floresta para fazer amor ?” Disse outro, “Não , mestre, esta não é minha esposa mas minha irmã.” Pensou então o porteiro, “Como foi inconveniente dirigir-se a uma irmã como se fosse esposa ! Guardo as regras dos Kurus ; certamente devo tê-las quebrado agora !” Contou isto aos mensageiros, adicionando, “Deste modo tenho minhas dúvidas se realmente guardo a retidão Kuru e portanto não posso passá-las a vocês.” Mas eles disseram, “Dizes isto porque pensas assim ; o fato não quebra tua virtude. Se tens remorso por causa de algo tão pequeno, como podes contar uma mentira com intenção?” E assim pegaram as virtudes com ele também e as escreveram no prato dourado deles.

Então ele disse, “Mas apesar desta virtude não me abençoar, há uma cortesã que a guarda bem ; vão e perguntem a ela.” e assim eles fizeram. Ela recusou como também o fizeram, pela seguinte razão. Sakra, rei dos deuses, projetou testar a bondade dela ; assumindo a forma de um jovem, deu a ela mil dinheiros dizendo, “Voltarei logo logo.” Voltou então para o céu e não a visitou por três anos. E ela, para manter a honra, por três anos não aceitou nem uma folha de bétele ( planta que se mastiga no Oriente ) de outro homem. Gradualmente foi ficando pobre ; então ela pensou - “O homem que me deu mil dinheiros não voltou nestes três anos ; e agora fiquei pobre. Não posso manter corpo e alma juntos. Bem agora devo ir falar com o chefe de Justiça e conseguir meu salário como antes.” Para a corte ela veio e disse, “Houve um homem três anos atrás que me deu mil dinheiros e nunca mais voltou ; se está morto não sei. Não consigo manter corpo e alma juntos ; que devo fazer, meu senhor ?” Disse ele, “Se ele não voltou por três anos, o que podes fazer ? Ganhe teu sustento como antes.”

No momento que deixava a corte, após esta sentença, apareceu um homem oferecendo a ela mil dinheiros. Enquanto esticava as mãos para aceitar, Sakra mostrou-se. Ela disse, “Aí está o homem que me deu mil dinheiros três anos atrás : não devo pegar teu dinheiro;” e ela retirou as mãos. Sakra então mostrou sua forma mesma e flutuou no ar, brilhante como o sol nascente e reuniu toda a cidade.

Sakra, no meio da multidão, disse, “Para testar a bondade dela, dei mil dinheiros três anos atrás. Sejam como ela e do mesmo modo mantenham a honra;” e com este conselho, encheu a morada dela com os sete tipos de jóias e disse, “De agora em diante esteja vigilante,” a confortou, e foi embora para o céu. Por este razão ela recusou dizendo, “Porque antes ganhei um salário e estendi a mão para outro, por isto minha virtude não é perfeita e portanto não posso dá-la a vocês.” Os mensageiros responderam, “Meramente estender as mãos não é uma quebra de virtude : esta virtude tua é a mais alta perfeição !” E dela, como do resto, eles receberam as regras da virtude e as escreveram no prato dourado. Levaram o prato com eles para Datanpura e contaram ao rei como foi a viagem.

O rei deles então praticou os preceitos Kuru e realizou as Cinco Virtudes. Com isto em todo o reino de Kalinga a chuva caiu ; os três temores foram mitigados ; a terra tornou-se próspera e fértil. O Bodhisatva por toda sua vida fez ofertas e obras boas e depois com seus súditos foi preencher os céus.
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Quando o Professor terminou este discurso, declarou as Verdades e explicou o Jataka. Na conclusão das Verdades, alguns entraram no Primeiro caminho, alguns no segundo, alguns no Terceiro e alguns tornaram-se santos. E o Jataka é explicado assim :

Uppalavanna era a cortesã,
Punna o porteiro e o homem rico era
Kuccana ; Kolita, o fiscal ;
Sariputra, o mestre dos celeiros ;
Anuruddha, o auriga ; e o capelão
Kassapa, o ancião ; o que era
Vicerei, agora é Nandapandita ;
A mãe de Rahula era a rainha,
E a Rainha-mãe era Māyā ; e o Rei
Era o Bodhisatva – assim o Jataka fica claro.”








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