segunda-feira, 13 de abril de 2009

269 Sujata


                                                              pintura de Ajanta, Índia.

269
“Aqueles dotados...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana sobre Sujata, nora de Anatha-pindika, filha do grande mercador Dhanañjaya e irmã mais nova de Visakha.

Nos é dito que ela entrou na casa de Anatha-pindika cheia de arrogância, pensando como era grande a família de que provinha, era obstinada, violenta, irada e cruel ; recusando-se fazer sua parte em relação a seu novo pai e mãe, ou ao seu marido ; e andava pela casa com palavras ásperas e socando todos.

Um dia, o Mestre e quinhentos irmãos visitaram a casa de Anatha-pindika e sentaram-se. O grande mercador sentou-se ao lado do abençoado, escutando o seu discurso. No mesmo momento aconteceu de Sujata estar ralhando com os empregados.

O Mestre parou de falar e perguntou que barulho era aquele. O mercador explicou que tratava-se de sua rude nora ; que ela não se comportava adequadamente para com o marido ou os pais, não fazia ofertas, e não tinha boas qualidades ; sem fé e descrente, andava pela casa resmungando noite e dia. O Mestre pediu que a chamassem.

A mulher veio e após saudá-lo permaneceu em um dos lados. Então o Mestre dirigiu-se a ela assim :
“Sujata, existem sete tipos de esposa que um homem pode ter ; de que tipo é você?” Ela respondeu: “Senhor, falastes pouco para eu entender; por favor explique”. “Bem,” disse o Mestre, “escute com atenção,” e pronunciou os seguintes versos :

Uma é de coração mau, sem compaixão
com o bem; ama outros, mas não seu esposo, que odeia.
Destruindo o quê seu esposo obtém
Esta esposa chama-se Destruidora de ganhos.

O que o esposo ganha no comércio
Ou profissão liberal, ou na enxada de fazendeiro,
Ela tenta tirar um pouco.
Para tal esposa o título de a Ladra cabe.

Sem cuidar das obrigações, preguiçosa, passional,
Gananciosa, de boca cheia, de ódio e raiva
Tirânica com os empregados -
Esta traz o título de Alta e Poderosa.

Que sempre aproxima-se do bem,
Cuida do marido como Mãe,
Guardando tudo que o marido obtém -
Esta esposa ganha o título de Maternal.

Esta respeita o marido no caminho
Irmãs mais novas respeitam as mais velhas,
Modesta, obediente a vontade do marido
Esta tem o título de Fraternal.

Esta a vista do esposo sempre agradará
Como amigo que após longa ausência vê amigo,
Bem nascida e virtuosa, dando sua vida
A ele - esta chama-se Amiga.

Calma quando ofendida, temente de violência
Sem paixão, cheia de paciência canina,
De coração verdadeiro, voltando-se para a vontade do esposo,
Escrava, é o título dada a esta.

"Estas Sujatas são as sete esposas que um homem pode ter. Três destas, a esposa Destrutiva, a esposa Desonesta e a Madame Alta e Poderosa, as de cima, renascerão no ínfero ; e as outras quatro, de baixo, no Quinto Céu.”

Aquelas que são chamadas Destruidoras nesta vida,
A Alta e Poderosa, ou a esposa Ladra,
Sendo iradas, más, desrespeitosas, vão
Fora do corpo para o ínfero abaixo.
Aquelas esposas que são chamadas Amiga nesta vida,
Mãe, Irmã ou Escrava,
Devido à virtude e a suas longas auto-aprendizagens
Passam para o céu quando seus corpos morrem.

Enquanto o Mestre explicava estes sete tipos de esposas, Sujata atingiu o Fruto do Primeiro Caminho ; e quando o Mestre perguntou a que classe ela pertencia, ela respondeu, "Sou uma Escrava, Senhor !" e respeitosamente saudou o Buddha, ganhando o perdão dele.

Assim com um discurso o Mestre domou a megera ; e após a refeição, quando já declarara os deveres deles para com a Irmandade, ele entrou em sua câmara perfumada.

Bem os Irmãos se reuniram no Salão da Verdade e cantaram louvores ao Mestre. “Amigo, com um único discurso o Mestre domou uma megera e elevou-a à Fruição do Primeiro Caminho !” O Mestre entrou e perguntou o quê eles falavam lá sentados. Eles disseram. Ele disse, “Irmãos, esta não é a primeira vez que domei Sujata com um único discurso.” E continuou contando um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho de sua Rainha. Quando cresceu, recebeu sua educação em Takkasila ( Taxila ) e após a morte de seu pai, tornou-se rei e reinou em retidão.

Sua mãe era mulher irada, cruel, áspera, rabugenta, de língua ferina. O filho desejava advertir a mãe ; mas sentia que não devia fazer nada muito desrespeitoso ; então aguardava uma chance para dar uma indireta.

Um dia ele desceu para os jardins e sua mãe foi com ele. Um gaio azul soltou um guincho esganiçado na estrada. Com isto todos os cortesãos amparam seus ouvidos, gritando-
“Que voz estridente, que guincho ! - não faças este barulho !”

Enquanto o Bodhisatva andava pelo parque com sua mãe e na companhia dos cortesãos, um cuckoo, pendurado no meio de folhas grossas de uma árvore sal ( Shorea Robusta ), cantou com voz doce.

Todos os que estavam juntos ficaram deliciados com a voz dele - “Oh, que voz macia, que voz doce, que voz gentil ! - continue cantando passarinho, cante !” e lá permaneceram, esticando seus pescoços, ansiosamente escutando.

O Bodhisatva notando estas duas situações, pensou que aí estava a chance de dar uma indireta para a rainha-mãe. “Mãe,” disse ele, “quando escutaram o guincho do gaio na estrada, todos tamparam seus ouvidos e gritaram – Não faça este barulho ! Não faça este barulho ! E fecharam os ouvidos : pois de barulho estridente ninguém gosta.” E repetiu as seguintes estrofes :-

Aqueles dotados de belo aspecto,
Apesar de sempre bonitos e agradáveis à vista
Se tiverem uma voz aguda aos ouvidos
Nem neste nem no outro mundo, são queridos.

Há este pássaro que podemos ver freqüentemente;
Magro, negro, e pintado mesmo,
Mas sua voz macia podemos ouvir:
Quantas criaturas prezam, o caro cuckoo !

Portanto sua voz deve ser gentil e melodiosa,
Falando com sabedoria e não inflada de presunção.
E tal voz – como é doce seu som ! -
Explica o significado da Sagrada Escritura.

Quando o Bodhisatva assim aconselhou sua mãe com estes três versos, ele a trouxe para o seu modo de pensar ; e depois disso ela sempre seguiu um curso correto de vida. E ele tendo com uma fala tornado sua mãe uma mulher abnegada, posteriormente passou sendo tratado de acordo com seus atos.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele então identificou o Jataka : “Sujata era a mãe do rei de Benares e eu era o rei mesmo.”






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