quinta-feira, 30 de abril de 2009

282 A não-violência

       
                             Imagem de stupa em Taxila, Takkasilla, no Paquistão.

282
“É melhor que saibam...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana, sobre um cortesão do rei de Kosala. Este homem era muito útil ao rei, nos foi dito, e fazia tudo que devia ser feito. Porque era muito útil, o rei muito o honrava. Os outros ficaram com ciúmes e tramaram difamá-lo e o caluniaram. O rei acreditou no que falaram e sem inquirir sua culpa o amarrou em cadeias, grilhões, apesar de virtuoso e inocente, e o atirou na prisão. Lá ele permaneceu totalmente isolado ; mas devido a sua virtude, poderes, ele tinha paz na mente e com a mente em paz ele entendeu as condições da existência e atingiu a fruição do Primeiro Caminho. Logo logo o rei descobriu que ele era des-culpado, sem culpa, e soltando seus grilhões o honrou mais que antes. O homem desejou prestar seu respeito ao Mestre ; e tomando flores e perfumes, foi ao mosteiro e fez reverência ao Buddha e sentou respeitosamente de um lado. O Mestre falava agradavelmente com ele. “Nós ouvimos sobre o infortúnio que aconteceu contigo,” disse ele. “Sim, senhor, mas transformei minha má sorte em boa ; e enquanto sentado na prisão, produzi a fruição do Primeiro Caminho.” “Bom amigo,” disse o Mestre, “não foste o único que transformaste mal em bem ; pois sábios em tempos antigos transformaram mal em bem como tu fizeste.” E ele contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho da Rainha. Ele cresceu e foi educado em Takkasilā ( Taxila ) ; e com a morte do pai tornou-se rei e manteve as dez regras reais : fazia ofertas, praticava a virtude e guardava dias santos.

Bem, um dos seus cortesãos fez intriga no meio das esposas do rei. Os empregados notaram e contaram ao rei que tal e tal estava fazendo intriga. O rei descobriu a verdade sobre o assunto e mandou chamá-lo. “Nunca mais mostre-se diante de mim novamente,” disse ele, e o baniu. O homem partiu para a corte do rei vizinho e então tudo aconteceu como descrito acima no Jataka 51. Aqui também este rei o testou três vezes e acreditando na palavra do cortesão foi com um grande exército para diante de Benares com intenção de tomá-la. Quando foi revelado aos chefes militares do rei de Benares, quinhentos em número, disseram ao rei,
“Tal e tal rei vem para cá, devastando o campo, com intenção de tomar Benares – vamos e o capturemos !”

“Não quero nenhum reino que deva ser mantido pela violência,” disse o rei. “Não façam nada.”

O rei saqueador cercou a cidade. Novamente os cortesãos aproximaram-se do rei e disseram,
“Meu senhor, esteja atento – vamos capturá-lo !”

“Nada pode ser feito,” disse o rei. “Abram os portões da cidade.” Então, cercado por sua corte, sentou-se em pompas debaixo de um grande pavilhão.

O saqueador entrou na cidade derrubando os homens nos quatro portões e subindo ao terraço. Lá ele aprisionou o rei e todo sua corte, em grilhões amarrados e atirados na prisão. O rei, enquanto estava sentado na prisão, teve pena do saqueador e um ênstase de piedade o agitou. Devido a esta piedade, o outro rei caiu em grande tormento corporal ; ardia todo em febre como se em uma chama dupla ; e atingido por grande sofrimento, ele perguntou o que era aquilo.

Responderam, “Jogaste um rei reto na prisão, daí porque estais assim.”

Ele foi e suplicou perdão ao Bodhisatva e devolveu seu reino, dizendo, “Que seu reino seja seu mesmo. De agora em diante deixe que eu cuido de seus inimigos.” Puniu o mau conselheiro e retornou à sua cidade.

O Bodhisatva sentou em pompas sobre seu alto estrado, em roupas de festa, com sua corte ao redor ; e dirigindo-se a eles repetiu as primeiras duas estrofes :-

É melhor que saibam, a melhor parte
Será sempre a melhor coisa a ser feita.
Tratando as pessoas com gentileza no coração,
Salvei cem soldados a morte entregues.

Daí peço a vós, que a todo o mundo mostres
A graça da gentileza e da amizade querida ;
E assim não ireis sozinhos ao céu.
Ó povo de Kasi, escutes !

Deste jeito o grande Ser louvava a virtude de modo a tornar piedosa a grande multidão ; e deixando o parassol branco na grande cidade de Benares, doze léguas em extensão, retirou-se para o Himalaia e abraçou a vida religiosa.

O Mestre, em sua sabedoria perfeita, repetiu a terceira estrofe :

Estas são as palavras que eu, rei Kamsa, digo,
Eu grande legislador da cidade de Benares
Larguei meu arco, larguei meu carcás,
E realizei meu auto-conhecimento.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo Ānanda era o rei saqueador mas o rei de Benares era eu mesmo.”

Jataka 282 = 51
“Não quero nenhum reino que deva ser mantido pela violência.”







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