segunda-feira, 26 de outubro de 2009

378 Brahmadatra e Darimukha



                                 Taxila, Paquistão.

378
“Prazeres dos sentidos...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana, relativa a Grande Renúncia. O incidente que levou à história já foi contado antes.
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Certa vez o rei Magadha reinava em Rājagaha. O Bodhisatva nasceu de sua rainha mãe, e o chamaram príncipe Brahmadatra. No dia de seu nascimento, o padre da família também teve um filho: sua face era muito bela, e assim o chamaram Darimukha [‘boca de gruta’: talvez ‘muito belo’ possa ser ‘bem largo’]. Cresceram juntos na corte real, e com dezesseis anos foram para Takkasilā ( Taxila ) e aprenderam todas as artes. Então, com o intuito de aquisição das práticas comuns e entendimento das observâncias dos povos, eles vagaram por vilas, cidades e por toda a terra. Assim alcançaram Benares ( Varanasi ), e parando no templo foram dia seguinte à cidade colher ofertas. Numa das casas da cidade o povo cozinhou mingau de arroz e preparou lugares para alimentar brahmins e foram servidos. As pessoas vendo os dois jovens que colhiam ofertas, pensaram, “Os brahmins chegaram,” e recebendo-os colocam uma toalha branca no assento do Bodhisatva e um tapete vermelho no de Darimukha. Darimukha observando o presságio, entendeu que seu amigo seria rei em Benares e ele mesmo chefe do exército. Eles comeram o alimento e com uma benção saíram e foram para o jardim real. O Bodhisatva deitou na assento de pedra real. Darimukha sentou-se massageando os pés. O rei de Benares havia morrido a sete dias. O padre da família realizou ritos fúnebres e enviou o carro festivo por sete dias , já que não havia herdeiro para o trono. Esta cerimônia do carro será explicada no Mahā Janaka Jātaka, jataka 539. Este carro deixou a cidade e foi para o portão do jardim, acompanhado pelas quatro divisões do exército [infantaria, cavalaria, elefantes e carros] e por música de centenas de instrumentos. Darimukha, escutando a música, pensou, “Este carro está vindo para meu amigo, ele será rei ho-je e me dará o lugar de comandante, mas por que preciso ser leigo ? Eu sairei e me tornarei um asceta” ; e assim sem nenhuma palavra ao Bodhisatva ele foi para o lado e permaneceu escondido. O sacerdote parou o carro no portão do jardim, e entrando viu o Bodhisatva deitado no assento de pedra real: vendo as marcas auspícias em seus pés, ele pensou, “Ele tem mérito e merece ser rei mesmo dos quatro continentes com duas mil ilhas ao redor deles, mas o que será de sua coragem ?” Assim mandou os instrumentos tocarem o mais alto possível. O Bodhisatva acordou e tirando a coberta da cara viu a multidão: então cobrindo de novo a face descansou mais um pouco, e levantando quando o carro parou, sentou de perna cruzada no assento. O sacerdote sentado de joelhos disse, “Senhor, o reino cabe a ti.” “Por quê, não há herdeiro ?” “Não, senhor.” “Então ‘tá bem,” e assim aceitou, e eles o ungiram lá no jardim. Em sua grande glória esqueceu Darimukha. Ele subiu no carro e dirigiu entre a multidão de forma solene ao redor da cidade: então, parando no portão do palácio arrumou o lugar dos cortesãos e foi para o terraço. Naquele instante, Darimukha vendo o jardim agora vazio veio e sentou no assento de pedra real do jardim. Uma folha seca cai diante dele. Nisto ele vê os princípios do decaimento e da morte, apreendeu as três marcas das coisas, e fazendo a terra re -ecoar de alegria entrou em paccekabodhi. Naquele instante as características de pai de família sumiram dele, uma tigela e um hábito miraculosos desceram do céu e aderiram a seu corpo, de repente ele tinha os oito requisitos e a aparência de um monge centenário, e por milagre ele voou pelos ares e foi para a cova Nandamula no Himālaia.
O Bodhisatva legislou com retidão mas a grandeza da glória o enfeitiçou e por quarenta anos esqueceu Darimukha. No quadragésimo primeiro lembrou-se dele, e dizendo, “Tenho um amigo chamado Darimukha; onde ele está agora ?” ansiava por vê-lo. Daí em diante mesmo no harém e na assembléia dizia, “Onde está meu amigo Darimukha ? Darei honras a quem me indicar seu domicílio.” Outros dez anos se passaram enquanto ele lembra-se de Darimukha de tempos em tempos. Darimukha, apesar de já ser um paccekabuddha, depois de cinqüenta anos refletiu e soube que seu amigo lembra-se dele: e pensando, “Ele agora está velho e crescido com filhos e filhas, irei pregar-lhe a lei e ordená-lo,” foi pelos ares, e pousando no jardim sentou no assento de pedra real como uma estátua dourada. O jardineiro vendo veio e perguntou, “Senhor, de onde vens?” “Da caverna Nandamulaka.” “Quem és tu ?” “Amigo, sou Darimukha o pacceka.” “Senhor, conheces nosso rei?” “Sim, ele foi meu amigo quando leigo.” “Senhor, o rei anseia em vê-lo, direi de sua chegada.” “Vá e faça isto.” Ele foi e disse ao rei que Darimukha veio e estava sentado na pedra. O rei disse, “Então meu amigo veio, devo vê-lo” : assim subiu no carro e com um grande cortejo foi para o jardim e saudando o paccekabuddha com gentil ternura sentou ao lado. O paccekabuddha disse, “Brahmadatra, legislas com retidão, não segues cursos ruins ou oprimes o povo por dinheiro, e boas obras fazes por caridade ?” e após gentil saudação, “Brahmadatra, estais velho, é tempo de renunciares aos prazeres, e ser ordenado,” e então pregou a lei e falou a primeira estrofe:

Prazeres dos sentidos são pântano e lama:
O ‘horror de raiz tripla’ eu os chamo
Vapor e poeira os proclamo, Senhor :
Torne-se Irmão e abandone a eles todos.

Escutando isto, o rei explicou que estava atado pelos desejos falando a segunda estrofe:

Enfeitiçado, atado e profundamente sujo estou,
Brahmin, com prazeres : pavorosos podem ser,
Mas amo a vida e não possso negá-los :
Boas obras empreendo continuamente.

Então Darimukha apesar do Bodhisatva dizer “Não posso ordenar-me,” não o rejeitou mas mais o exortou:

Aquele que rejeita o conselho de amigo
Que apieda-se e evita sua sina,
Pensando “este mundo é melhor,” não encontra fim,
Tolo, de longos nascimentos dentro do útero.

Aquele temido lugar de punição é seu,
Cheio de sujeira, mal seguro pelo bom:
Os gananciosos seus desejos nunca podem rejeitar,
A carne aprisiona a progênie do sangue.

Assim Darimukha o paccekabuddha , mostra a miséria que surge da concepção e da animação, e depois a do nascimento, falando estrofe e meia:

Coberto de sangue e com grossa sujeira suja,
Todos seres mortais surgem no nascimento:
A partir daí o que tocam está ordenado
A trazê-los na terra dor e sofrimento.

Falo do que vi, não do que escuto
De outros: lembro de tempos passados.

O Mestre agora em sua Perfeita Sabedoria disse, “Assim o paccekabuddha ajudou o rei com boas palavras,” e no fim falou a meia estrofe restante:

Darimukha no ouvido de Sumedha
Sabedoria em muitas doces estrofes explicou.

O paccekabuddha, mostrando a miséria dos desejos, fazendo suas palavras serem entendidas, disse, “Ó rei, sejas ordenados ou não, de qualquer modo falei da fraqueza dos desejos e das bençãos da ordenação, sejas zeloso,” e então como um ganso dourado real elevou-se nos ares, e caminhando nas nuvens alcançou a caverna Nandamulaka. O Grande Ser fez na cabeça a saudação resplendente com os dez dedos colocados juntos e abaixando-se até Darimukha sair da vista: então chamou seu filho mais velho e deu-lhe o reino: e deixando os desejos, enquanto uma grande multidão chorava e lamentava, foi para o Himālaia e construindo uma cabana de folhas foi ordenado asceta: logo ganhou as Faculdades e as Consecuções e no fim da vida foi para o céu de Brahma.
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A lição terminada, o Mestre declarou as verdades : então muitos atingiram o Primeiro Caminho e os restantes : e ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o rei era eu mesmo.”





2 comentários:

Anagrama Publicidade disse...

Então o segredo é sempre a renúncia aos prazeres que a vida parece oferecer. Humildade e simplicidade.

Anagrama Publicidade disse...

Então o segredo é sempre a renúncia aos prazeres que a vida parece oferecer. Humildade e simplicidade.