quinta-feira, 22 de outubro de 2009

376 Buddha e o barqueiro no Ganges


376
“Nunca se irrite...etc.” - O Mestre contou este conto enquanto morava em Jetavana, sobre um barqueiro. Este homem, dizem, era tolo e ignorante : ele não conhecia as qualidades da Tríplice Jóia e de todos os seres excelentes : era impaciente, grosseiro e violento. Um certo Irmão do campo, desejoso de visitar o Buddha, veio uma tarde para a barca, balsa, de Aciravati e disse para o barqueiro : “Irmão leigo, desejo atravessar, leve-me no teu barco.” “Senhor, é muito tarde já, fique aqui.” “Irmão leigo, não posso ficar aqui, atravesse-me.” O ferreiro disse irritado, “Venha então, Senhor Padre,” e o colocou dentro do barco : mas ele conduzia mau e fez entrar água no barco, de modo que o hábito do Irmão se molhou e ficou escuro antes do atracarem na margem oposta. Quando o Irmão chegou no mosteiro, não podia visitar o Buddha naquele dia. Dia seguinte ele foi até o Mestre saudou-o e sentou em um lado. O Mestre cumprimentou-o e perguntou quando chegara. “Ontem.” “Então por quê só me visitaste ho-je ?” Quando escutou a razão, o Mestre disse, “Não agora apenas mas antes também este homem foi rude : e importunou sábios antigos, como fez contigo.” E quando ele pediu, contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família brahmin. Quando cresceu foi educado em todas as artes em Takkasilā ( Taxila ), e tornou-se asceta. Depois de viver muito tempo de frutos selvagens do Himālaya, veio a Benares em busca de sal e vinagre: ficou no parque real e no dia seguinte foi à cidade para as ofertas. O rei o viu no jardim do palácio e agradando-se de sua postura fez com que fosse trazido e alimentado : tomou depois a promessa de que moraria no jardim : e lá iria diariamente conversar. O Bodhisatva disse-lhe, “Ó grande rei, um rei deve legislar com retidão, evitando os quatro desvios, tendo zelo, e cheio de paciência e gentileza e compaixão,” e com tal exortação diária falou duas estrofes:

Nunca fiques irado, príncipe dos guerreiros; nunca fiques irritado, senhor da terrra:
Ira nunca retribuída com ira: assim a um rei vale venerar-se.

Na cidade, na floresta, no oceano ou na praia,
Nunca fiques irritado, príncipe dos guerreiros: é para sempre meu conselho.

Assim o Bodhisatva falava estas estrofes para o rei todo dia. O rei ficou feliz com ele e lhe ofereceu uma cidade cuja renda era de mil dinheiros: mas ele recusou. Desse jeito o Bodhisatva viveu por doze anos. Então ele pensou, “Já fiquei muito tempo, vou fazer uma viagem pelo país e depois voltarei para cá” : então sem falar ao rei e apenas comunicando o jardineiro, “Amigo, estou ocupado, viajarei pelo país e volto para cá, fale ao rei por favor,” foi para a estação das balsas no Ganges. Lá um barqueiro tolo chamado Avāriyapitā vivia: não entendia nem os méritos dos homens bons nem dos seus próprios ganhos e perdas: quando o povo atravessava o Ganges, primeiro ele levava ao outro lado depois cobrava a passagem; quando não lhe davam nada, brigava e batia, tendo mais tapas que ganhos, tão tolo cego era.
Em relação a ele, o Mestre em sua Sabedoria Perfeita falou a terceira estrofe:

O pai de Avāriya,
Sua barca navegava no Ganges:
Primeiro atravessava o povo
Depois pedia a passagem:
E daí que ele só ganhava discussão,
Perdulário, azarado, ladrão !

O Bodhisatva veio até este barqueiro e disse, “Amigo, leve-me ao outro lado.” Ele disse, “Padre, o quê pagarás de passagem?” “Amigo, te direi como aumentar tua riqueza, teu bem estar, e tua virtude.” O barqueiro pensou, “Certamente ele me dará algo,” e o levou para outro lado e depois disse, “Pague-me a passagem.” O Bodhisatva disse, “Muito bem, amigo,” e primeiro dizendo como aumentar sua riqueza, falou a primeira estrofe:

Peça a passagem antes de atravessar, nunca no cais distante:
Mentes diferentes tem as gentes, barqueiro, diferentes antes e depois.

O barqueiro pensou, “Isto é só um conselho dele para mim, agora ele me dará algo”: mas o Bodhisatva disse, “Amigo, antes tens o caminho para aumentar tua riqueza, agora escute o caminho para aumentar teu bem estar e virtude,” falando uma estrofe de conselho:

Na cidade, na floresta, no oceano ou na praia,
Nunca fiques irado, meu bom barqueiro; é para sempre meu conselho.

Assim tendo-lhe dado o caminho para aumentar bem estar e virtude, ele disse, “Aí tens o caminho para aumentar o bem estar e a virtude.” Então o estúpido, considerando os conselhos como nada, disse, “Padre, é isto que me dás como preço passagem?” “Sim, amigo.” “Não tenho uso nenhum para isto, me dê outra coisa.” “Então por que entraste na minha barca?” ele disse, e atirou o asceta na areia, sentando em cima de seu peito e batendo em sua boca.
O Mestre disse: “Então você veja que quando o asceta deu este conselho ao rei, ganhou o prêmio de uma cidade, e quando deu o mesmo conselho ao barqueiro estúpido recebeu um soco na boca: assim quando alguém aconselha deve fazê-lo à pessoa adequada,” e então na sua Perfeita Sabedoria falou uma estrofe:

Pelo bom conselho o rei deu a renda de uma vila
O barqueiro pelo mesmo conselho noucauteou o conselheiro.

Enquanto o homem batia no padre, sua esposa veio trazendo seu arroz, e vendo o asceta, ela disse, “Esposo, este é um asceta da corte do rei, não bata nele.” Ele estava irado, e dizendo, “Você me proíbe de bater neste falso padre!” ele explodiu e derrubou ela também. O prato de arroz caiu e quebrou, o fruto do ventre dela também abortou. O povo aglomerou-se em volta dele e gritou, “Assassino tratante!” amarrou-o e o levaram até o rei. O rei julgou-o e fez com que fosse punido.
O Mestre em sua Perfeita Sabedoria explicando a matéria falou a última estrofe:

O arroz foi derramado, sua esposa atingida, a criança morta antes de nascer,
Para ele, como ouro fino para animal, conselho nada valia.
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Quando o Mestre terminou a lição, declarou as Verdades : - após as Verdades o irmão foi estabelecido no fruto do primeiro caminho : e identificou o Jataka : “Naquele tempo o barqueiro era o barqueiro de ho-je, o rei era Ānanda, o asceta era eu mesmo.”





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