terça-feira, 20 de outubro de 2009

374 Buddha Sakra


374
“Já que ganhastes...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana sobre a tentação de um Irmão pela esposa dos tempos de inconverso. Quando o Irmão confessou que era devido a esposa que havia deixado, que arrependia-se de se ter ordenado, o Mestre disse, “Não apenas agora, Irmão, esta mulher te faz mal. Antes também devido a ela, tiveste a cabeça cortada.” E a pedido dos Irmãos contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ) o Bodhisatva renasceu como Sakra. Naquele tempo um certo jovem, brahmin de Benares adquiriu todas as artes liberais em Takkasilā ( Taxila ), e tendo obtido perícia em arco e flecha, era conhecido como o Pequeno Arqueiro inteligente.
Então seu mestre pensou, “Este jovem adquiriu habilidades iguais as minhas,” e deu-lhe sua filha como esposa. Ele a tomou e desejando voltar para Benares, foi pela estrada. No meio do caminho, um elefante aterrorizava um certo lugar e ninguém ousava subir até lá. O Pequeno Arqueiro inteligente, apesar das pessoas tentarem pará-lo, tomou sua esposa e subiu até a entrada da floresta. Então quando estava no meio da mata, o elefante levantou-se e o atacou. O Arqueiro feriu o elefante na testa com uma flecha, que atravessou e saiu na nuca, e o elefante caiu morto no lugar. O inteligente Arqueiro depois de fazer este lugar seguro continuou andando e foi para outra floresta. Lá cinqüenta ladrões infestavam a estrada. Para este lugar também, apesar das pessoas tentarem pará-lo, ele subiu até chegarem onde os ladrões tendo matado um cervo e assado, comiam a carne, perto da estrada. Os ladrões vendo-o aproximar, com a esposa ricamente vestida, fizeram um grande esforço para pegá-lo.

Mas o ladrão chefe, hábil em ler o caráter das pessoas, à primeira vista o reconheceu como herói distinto, e não deixou-os levantarem-se contra ele, apesar de ser apenas um. O inteligente Arqueiro mandou a esposa até os ladrões dizendo, “Vá e peça-os que me dêem um pedaço de carne e traga para mim.” Então ela foi e disse, “Dêem-me um pedaço de carne.” O ladrão chefe disse, “Ele é um sujeito nobre,” e disse que lha dessem a carne. Os ladrões disseram, “O quê ?! Ele vai comer nossa carne assada ?” E deram a ela um pedaço de carne crua. O Arqueiro, que tinha auto-estima, ficou irado com os ladrões por terem oferecido carne crua. Os ladrões disseram, “O quê ?! Só ele é macho, e nós apenas fêmeas ?” E assim ameaçando-o, levantaram-se contra ele. O arqueiro feriu e jogou ao chão cinqüenta ladrões com o mesmo número de flechas. Não sobrou flecha para ferir o chefe dos ladrões. Em sua aljava haviam cinqüenta flechas. Com uma delas matou o elefante e com o resto os cinqüenta ladrões menos um. Então ele noucauteou o ladrão chefe e sentando em cima dele pediu à esposa que trouxesse a espada para cortar a cabeça dele. Naquele momento ela concebeu uma paixão pelo ladrão chefe e colocou o cabo da espada na mão dele e a bainha na mão do marido. O ladrão pegando o cabo tirou a espada e cortou a cabeça do Arqueiro. Depois de matar o marido pegou a mulher com ele e enquanto viajavam juntos perguntou sobre a família dela. “Sou filha,” ela disse, “de um famoso professor de Takkasilā ( Taxila ).”
“Como ele a conseguiu como esposa ?” ele perguntou.
“Meu pai,” ela disse, “ficou tão feliz dele ter adquirido habilidade na arte igual a dele, que me deu como esposa. E porque me apaixonei por você, deixei que matasse meu leal marido.”
Pensou o ladrão chefe, “Esta mulher matou seu leal esposo. Logo que veja outro homem vai me tratar do mesmo jeito. Devo me livrar dela.”
E enquanto caminhavam viu uma trilha que passava por dentro de um rio raso mas que estava cheio, e ele disse, “Minha querida, há um crocodilo selvagem neste rio. Que faremos?”
“Meu senhor,” ela disse, “pegue minhas jóias e faça com ela uma trouxa com a roupa, e leve-as para o outro lado do rio, e depois volte para me pegar.”
“Muito bem,” ele disse, e tomando todas as jóias, e descendo para a corrente, com pressa, chegou no outro lado, e deixando-a fugiu.
Vendo isto ela gritou, “Meu senhor, vais como alguém que me deixa. Por que fazes isto ? Volte e venha me pegar.” E falou a primeira estrofe:

Já que ganhastes o outro lado,
Com todos os meus bens amarrado em fardo
Retornes o tão rápido quanto possas
E atravesse-me contigo.

O ladrão, escutando-a, enquanto ela estava na margem distante, falou a segunda estrofe: (cf. jātaka 318)

Tua fantasia, senhora, vagabundeia
De amores fiéis bem-testados para mais leves,
Eu também antes trairia,
Disto não posso fugir.

Mas quando o ladrão disse, “Eu vou daqui: você fica onde está,” ela começou a gritar alto, e ele fugiu com as jóias todas. Tal é o fado que assoma ao pobre tolo pelo excesso de paixão. E estando totalmente desamparada dirigiu-se para uma acácia e sentou lá chorando. Naquele momento Sakra, examinando o mundo, viu-a abatida pelo desejo e chorando a perda de ambos do marido e do amante. E pensando em ir lá e repreendê-la, chamou Mātali e Pañcasikha (um Gandharva), e foram para a margem do rio e disse, “Mātali você torna-se um peixe, Pañcasikha, transforme-se em um pássaro e eu me tornarei um chacal. E tomando um pedaço de carne na boca, irei colocar-me em frente desta mulher, e quando você me ver lá, você, Mātali, pula fora da água, e cai diante de mim, é quando vou largar o pedaço de carne que está na minha boca, e me esticarei para pegar o peixe. Neste momento Pañcasikha, você agarre o pedaço de carne e voe com ele, e você Mātali, volta para as águas.”
Assim Sakra os instruiu. E eles disseram, “’Tá bem, senhor.” Mātali transformou-se em peixe, Pañcasikha em pássaro, e Sakra em chacal. E tomando um pedaço de carne na boca, ele foi e colocou-se em frente da mulher. O peixe pulou fora da água e caiu diante do chacal. O chacal largando o pedaço de carne que estava na boca, esticou-se para pegar o peixe. O peixe pulou e voltou para a água, e um pássaro agarrou o pedaço de carne e voou pelos ares. O chacal tendo perdido ambos peixe e carne sentou amuado olhando para a acácia. A mulher vendo isto disse, “Em sendo muito ganancioso, perdeu carne e peixe,” e, como se visse o ponto da questão, riu de coração.
O chacal, escutando, pronunciou a terceira estrofe:

Quem faz a acácia soar
Com riso, quando ninguém dança nem canta,
Ou bate palmas, festejando ?
Bela, não ria, quando deves chorar.

Escutando ela respondeu com a quarta estrofe:

Ó chacal bobo, desejarias
Não teres perdido ambos carne e peixe.
Pobre tolo ! Bem deves chorar em ver
O que aconteceu com tua estupidez.

Então o chacal falou a quinta estrofe:

Os erros dos outros são vistos amplamente,
É difícil ver os próprios, penso.
Acho que deves fazer as contas,
Quando perdestes esposo e amante.

Escutando ela falou esta estrofe:

Rei chacal, é justo como dizes,
Então me apressarei em ir para longe,
Buscar outro amor devotado
E batalhar para me provar esposa fiel.

Então Sakra, rei do céu, escutando estas palavras desta mulher viciada e não casta, repetiu a estrofe final:

Aquele que rouba um pote de argila
Um de bronze roubará qualquer dia :
Assim aquela que foi a ruína do marido
Será tão má ou pior novamente.

Assim Sakra a envergonhou e a fez se arrepender e voltou para seu próprio domicílio.
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O Mestre aqui terminou sua lição e revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão relapso atingiu o fruto do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo o Irmão relapso era o arqueiro, a esposa que deixou era a mulher e eu mesmo era Sakra ( Indra ), rei do céu.”

[ Esopo Buddhista repete a cena com o cão atravessando o rio com um pedaço de carne nos dentes e vendo seu reflexo, da carne, n'água, abre a boca para pegar o reflexo !!!  Semelhante ao do macaco com as ervilhas e também se remetendo a frase famosa e evangélica 'onde está a carne aí estão os pássaros' que já vimos aparece nos Jatakas na história de Pingala e o brahmin que testa a virtude.]







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