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“No tempo em que o pássaro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão que morreu por comer demais.
Na sua morte, os irmãos reuniram-se no Salão da Verdade e discutiam os deméritos dele deste modo : “Amigo, Irmão Tal-e-tal ignorava o quanto podia comer em segurança. Então quando comeu mais do que podia digerir, morreu em consequência.” O Mestre entrou e perguntou o quê conversavam sentados ali ; e eles disseram a ele. “Irmãos,” ele falou, “esta não é a primeira vez que nosso amigo morre de gula ; o mesmo aconteceu antes.” Então contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se um Papagaio e morava na região do Himalaia. Ele reinava sobre vários milhares da sua espécie, que viviam no lado marítimo dos Himalaias ; e um era filho dele. Quando seu filho cresceu e ficou forte, os olhos do Papagaio pai ficaram fracos. A verdade é que os papagaios voam com grande rapidez ; daí quando eles ficam velhos são os olhos que fraquejam primeiro. Seu filho mantinha os pais no ninho e trazia comida para alimentá-los.
Aconteceu um dia que nosso jovem Papagaio foi para o lugar onde arranjava sua comida e pousou no alto do topo da montanha. Dali ele olhou por cima do oceano e viu uma ilha, na qual havia um bosque de mangas cheio de doces frutos. Então dia seguinte, na hora de buscar comida, ele elevou-se nos ares e voou para seu bosque de mangas, onde ele chupou muita manga e depois pegando frutos carregou para casa para seu pai e sua mãe.
Enquanto o Bodhisatva comia, ele reconheceu o sabor.
“Meu filho,” disse ele, “esta manga é de tal e tal ilha,” nomeando-a.
“Isto mesmo, pai !” respondeu o jovem Papagaio.
“Papagaios que vão até lá, meu filho, não têm vida longa,” ele disse. “Não vá até esta ilha novamente !” - Mas o filho não obedeceu e foi novamente.
Então um dia aconteceu que ele foi como usualmente ia e bebeu muito suco de manga. Com manga no bico ele passava por cima do oceano, quando cresceu o cansaço de carregar peso tanto e o sono o dominou ; voando dormindo o fruto que carregava acabou por cair do bico. E gradualmente ele foi deixando seu caminho e afundando na espuma da superfície d'água, até que no final caiu. Um peixe então o pegou e o devorou. Quando já devia ter retornado, ele não retornava e o Bodhisatva soube que ele devia ter caído n'água. Seus pais com isto, sem receber alimento, definharam e morreram.
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O Mestre, tendo contado esta história, em sua perfeita sabedoria, pronunciou as seguintes estrofes:-
No tempo em que o pássaro comia sem exceder-se,
Encontrava o caminho e trazia comida para a mãe.
Mas uma vez comeu demais, esqueceu o meio termo,
E caiu ; e depois não foi mais visto.
Assim não sejais gananciosos ; mas modestos em tudo.
Poupando-se em segurança ; cobiça vem antes da queda.
[ n. do tr.: O Escoliasta, a Glosa, adiciona as seguintes linhas:
Sejas moderado em comer e em beber,
E isto a necessidade da tua fome satisfará.
Quem come com cuidado, cuja barriga não é grande,
Será um eremita santo, cedo ou tarde.
Quatro ou cinco mastigadas, - depois um gole é correto ;
Suficiente para qualquer eremita atento.
Um comedor moderado e cuidadoso tem pouca dor,
Lentamente envelhece, vive duas vezes mais novamente.
E estas :
Quando filhos trazem alimento para os pais na floresta,
Como unção para os olhos, é muito bom.
Assim para a vida escassa, esgotada pela fadiga,
Ele alimenta-os com tal alimento. ]
Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades (na conclusão das quais muitas pessoas entraram no Primeiro Caminho, ou no Segundo, ou no Terceiro ou Quarto), e identificou o Jataka : “Naquele tempo o irmão que comeu demais era o jovem Papagaio e o rei dos Papagaios era eu mesmo.”
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