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      “Tal é a qualidade...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto residia  no santuário de Aggalava próximo de Alavi, relativa as regulações a serem observadas na construção de celas.
          A história introdutória já foi estabelecida no Jataka 253 e nesta ocasião o Mestre disse, “É vero Irmãos que vocês vivem aqui porque foram inoportunos em pedir e coletar ofertas ?”  E quando responderam “Sim,”  ele os reprovou e disse, “Sábios antigos, quando apresentaram suas escolhas ao rei, apesar de ansiarem em pedir um único par de sandálias, temendo fazer violência a sua natureza sensível e escrupulosa, não se aventuraram a dizer palavra na presença do povo, contudo falaram privadamente.”  E assim contou a eles uma lenda do mundo antigo.
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          Certa vez no reino de Kampillaka, quando um rei Pañcāla reinava numa cidade em Pañcāla do Norte, o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin, em uma certa cidade mercantil. E quando cresceu adquiriu os conhecimentos das artes em Takkasilā (Taxila). Após o quê tomando as ordens como asceta e morando no Himalaia, viveu por um longo tempo catando – alimentando-se de frutas e raízes. E vagando pelas zonas humanas procurando sal e vinagre, chegou numa cidade em Pañcāla do Norte e protegeu-se no jardim do rei. No dia seguinte entrando na cidade para colher ofertas, aproxima-se do portão do palácio. Ao rei agradou tanto sua postura e comportamento, que o sentou no sofá e o alimentou com comida de rei. E o ligou por uma solene promessa, designando sua morada no jardim.
         Ele vivia constantemente na casa do rei e no final da estação chuvosa, estando ansioso para retornar ao Himalaia, pensou, “S’eu for fazer esta viagem, vou precisar de um par de sandálias (de sola simples) e um parassol de folhas. Vou pedir ao rei.”  Um dia ele veio ao jardim e encontrando o rei sentado lá, o saudou e resolveu que lhe pediria a sandália e o parassol. Mas seu segundo pensamento foi: “Uma pessoa que pede algo a outra, dizendo,’Dê-me isto e isto’, deve estar apta a chorar. E a outra pessoa também quando recusa, dizendo,’ Não tenho isto,’ por sua vez também chora.” E para que as pessoas não vissem ele ou o rei chorando, pensou, “Ambos choraremos em algum lugar secreto.”  Assim ele disse: “Grande Rei, estou ansioso em falar contigo em particular.”  Os empregados ouvindo isto, saíram. Pensou o Bodhisatva, “Se o rei recusar meu pedido, terá terminado nossa amizade. Então não pedirei nada a ele.”  Naquele dia, não aventurando-se a mencionar o assunto, ele disse, “Deixa Grande Rei, depois vemos isto.”  Noutro dia o rei chegando no jardim, fazendo como antes, não pode fazer seu pedido. E assim 12 anos se passaram.
             Então o rei pensou, “Este padre disse, ‘Quero falar em particular,’ e quando os cortesãos saíram, não teve coragem de falar. E enquanto anela isto, doze anos passaram-se.  Após viver uma vida religiosa tão longa,suspeito, que esteja sentindo falta do mundo. Está sedento de prazeres e anela a soberania. Mas sendo incapaz de falar a palavra ‘reino’, ele se mantém em silêncio. Hoje contudo lhe oferecerei o que desejar, do reino para baixo.”  E assim foi ao jardim e sentou-se e falou com ele. O Bodhisatva pede para falar em particular, e quando os empregados saem, não consegue pronunciar uma palavra.  O rei disse: ‘Por 12 anos você me pede para falar em particular, e quando tem a oportunidade não é capaz de pronunciar uma palavra. Ofereço-te tudo, começando pelo reino. Não tenha medo, peça o que lhe agrada.”
            “Grande Rei,” ele disse, “me dará o que quero ?”  
            “Sim, Senhor Reverendo, darei.”  
            “Grande Rei, quando eu for na minha viagem vou precisar de um par de sandálias e um parassol de folhas.”  
            “Você não foi capaz, Senhor, por durante 12 anos, de me pedir uma bagatela desta ?”  
            “Foi isto, Grande Rei.”  
            “Por que agiu assim ?”
           “Grande Rei, a pessoa que diz ‘Dê-me isto e isto’, lança lágrimas, e a pessoa que recusa e diz  ‘Não tenho’, por sua vez também chora. Se, quando pedisse, o senhor recusasse, temia que o povo nos visse vertendo lágrimas. Daí o pedido de falar privadamente.” Então repetiu as três estrofes :-
                   Tal é qualidade do pedir, Ó Rei,
                   Trazer um rico dom ou uma recusa.
                   Quem pede, senhor de Pañcāla, resigna-se a chorar,    
                   Aqueles que recusam aptos estão a chorar também.
                    Para que as pessoas não nos vejam vertendo lágrimas vãs,
                    Meu pedido secretamente sussuro no teu ouvido.
          O rei encantado com a marca de respeito por parte do Bodhisatva, garantiu os dons e falou a quarta estrofe:
                 Brahmin, ofereço-te mil cabeças de gado
                    Gado vermelho, acrescentando o líder da manada ;
                 Ouvindo agora suas generosas palavras,
                     Também sou movido a gestos generosos.
       Mas o Bodhisatva disse: “Senhor, não desejo prazeres materiais. Dê-me só o que pedi.”  E ele tomou o par de sandálias e o parassol de folhas, exortando o rei a zelar pela religião, manter a lei moral e observar os dias de jejum. E apesar do rei pedir para que ficasse, ele saiu para os Himalaias, onde desenvolveu as Faculdades e Consecuções, e foi destinado a nascer no mundo de Brahma.
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                O Mestre tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo Ananda era o rei e eu mesmo o asceta.”     
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