terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

479 Buddha e àrvore Bo





A lista das árvores ( de Sañchi no lintel de cima da direita para a esquerda ) e dos Buddhas anteriores, a elas relacionados : pathali de Vipasyin ; a figueira de Sikhin ; a sala de Visvabhu ; a sirisha de Krakucchanda ; a udumbara de Kanakamuni ; nyagrodha de Kasyapa e asvattha de Siddharta Gautama. Na última foto a mesma relação apresentada em outro pórtico : reparem nas várias guirlandas penduradas. Os outros lintéis representam a mesma cena. ( Alfred Foucher e sir John Marshall, Monuments of Sañchi. )


479
Rei Kalinga...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre a veneração d'árvore bo realizada pelo Ancião Ānanda.
Quando o Tathagata partiu em peregrinação, com objetivo de reunir aqueles que estavam maduros para a conversão, os cidadãos de Savatthi foram para Jetavana, suas mãos cheias de guirlandas e grinaldas fragrantes e não encontrando nenhum outro lugar para mostrar sua reverência, as deixaram no corredor da câmara perfumada e saíram. Houve grande regozijo. Mas Anathapindika o escutou ; e no retorno do Tathagata visitou Ancião Ānanda e disse a ele, - “Este mosteiro, Senhor, é deixado desprovido quando o Tathagata vae em peregrinação e não há lugar para o Povo reverenciar oferecendo guirlandas e grinaldas fragrantes. Serias gentil, Senhor, em falar ao Tathagata sobre este assunto e saber dele se é ou não possível encontrar um lugar para este propósito.” O outro, nada desprezando, fez isto, perguntando,”Quantos santuários existem ?” - “Três, Ānanda.” - “Quais são eles ?” - “Santuário para uma relíquia do corpo, uma relíquia de uso ou vestimenta, uma relíquia de memorial.” ( este último de imagem) - “Pode um santuário ser feito, Senhor, durante tua vida ?” - “Não, Ānanda, não um santuário de corpo ; este tipo é feito quando o Buddha entra no Nirvana. Um santuário de memorial é impróprio porque a conexão depende somente da imaginação. Mas a grande árvore bo usada pelos Buddhas é adequada para um santuário, estejam eles vivos estejam eles mortos.” - “Senhor, enquanto estás fora em peregrinação o grande mosteiro de Jetavana fica desprovido e o Povo não tem nenhum lugar para mostrar sua reverência. Devo plantar uma semente da grande árvore bo diante do corredor de Jetavana ?” - “Com todos os meios faça isto Ānanda e este será como um lugar de moradia para mim.”
O Ancião contou isto para Anathapindika e Visakha e o rei. Então no corredor de Jetavana fez uma clareira abriu uma cova para àrvore bo permanecer e disse para o Ancião chefe, Moggallana, “quero plantar uma árvore bo em frente de Jetavana. Você me consegue um fruto da grande árvore bo ?” O Ancião, de boa vontade, passou através dos ares até a plataforma debaixo da árvore bo. Ele colocou no seu hábito um fruto que estava caindo de um ramo mas ainda não tinha atingido o chão, o trouxe de volta e entregou à Ānanda. O Ancião informou o Rei de Kosala que ele plantaria àrvore bo naquele dia. Assim à tardinha veio o Rei com um grande séquito, trazendo todas as coisas necessárias ; então veio também Anathapindika e Visakha e uma multidão de fiéis do lado.
No lugar onde àrvore bo seria plantada o Ancião colocou um jarro de ouro e debaixo dele estava a cova ; tudo foi preenchido com terra misturada com água fragrante . Ele disse, “Ó rei, plante esta semente de árvore bo,” dando-a ao rei. Mas o rei, pensando que seu reino não estaria nas suas mãos para sempre e que Anathapindika devia plantá-la, passou a semente para Anathapindika, o grande mercador. Então Anathapindika mexeu o solo fragrante e a jogou dentro. No instante que ela caiu de suas mãos, diante mesmo dos olhos de todos, brotou largo como uma ponta de arado uma muda bo, alta cinquenta côvados ; nos quatros cantos e para cima projetou-se cinco grandes ramos de cinquenta côvados de comprimento como o tronco. Assim ficou àrvore, já uma verdadeira senhora da floresta ; um milagre portentoso ! O rei derramou ao redor d'árvore jarros de ouro e de prata, em número de oitocentos, cheios de água cheirosa, embelezadas com uma grande quantidade de lírios azuis aquáticos. Sim, e fez com que se estabelecesse lá uma longa série de vasos sempre cheios e um lugar feito com as sete coisas preciosas, pó de ouro aspergiu ao redor, um muro foi construído rodeando o recinto e erigiu um portão com câmara feito com as sete coisas preciosas. Grande foi a honra prestada a ela.
O Ancião aproximando-se do Tathagata, disse a ele, “Senhor, para o bem do Povo, realize debaixo d'árvore bo que plantei, aquela altura da Consecução à qual atingiste debaixo da grande árvore bo.” “O quê é isto que você está falando, Ananda ?” respondeu ele. “Não há nenhum outro lugar que possa me suportar, s'eu sentar lá e atingir ao que atingi no lugar da grande árvore bo.” “Senhor,” disse Ananda, “peço a ti pelo bem do Povo, para usar esta árvore para o rapto da Consecução, na medida que este lugar de chão possa suportar o peso.” O Mestre o usou durante uma noite para o rapto da Consecução.
O Ancião informou o rei e a todos os outros e a chamou pelo nome de Festival Bo. E esta árvore, tendo sido plantada por Ananda, ficou conhecida pelo nome e Árvore Bo de Ananda.
Naquele tempo começaram a falar sobre isto no Salão da Verdade. “Irmão, enquanto o Tathagata ainda vivia, o venerável Ananda fez uma árvore bo ser plantada, e grande reverência prestou a ela. Oh, como é grande o poder do Ancião !” O Mestre entrando perguntou sobre o quê estavam falando. Eles disseram. Ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Ananda guia a humanidade cativa de quatro grandes continentes, com todas suas multidões ao redor e faz uma vasta quantidade de guirlandas cheirosas serem trazidas e realiza um festival bo no recinto de uma grande árvore bo.” Assim falando, ele contou uma história do passado.
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Certa vez, no reino de Kalinga na cidade de Dantapura, reinava um rei chamado Kalinga. Ele tinha dois filhos, Maha-Kalinga e Culla-Kalinga, Kalinga o Grande e o Pequeno. Bem, adivinhos previram que o filho mais velho reinaria depois da morte do pai ; mas que o mais novo viveria como asceta e viveria de ofertas, ainda que seu filho seria um monarca universal.
O tempo passou e com a morte do pai o filho mais velho tornou-se rei, e o mais novo vice rei. O mais novo, sempre pensando que um filho nascido dele seria monarca universal, cresceu arrogante por causa disto. O rei não podia tolerar isto e então enviou um mensageiro para prender Kalinga o Pequeno. O homem veio e disse, “Príncipe, o rei deseja que você seja preso, portanto salve tua vida.” O príncipe mostrou ao cortesão encarregado desta missão seu próprio selo-anel, um tapete fino e sua espada : estes três. Então disse, “Através destes penhores você conhecerá meu filho e o fará rei.” Com estas palavras, ele correu para fora para a floresta. Lá construiu para si uma cabana em um lugar agradável e viveu como asceta nas margens de um rio.
Bem, no reino de Madda na cidade de Sagala, nasceu uma filha do Rei de Madda. Sobre a garota, como sobre o príncipe, os adivinhos previram que ela viveria como asceta mas seu filho seria monarca universal. Os Reis da Índia, escutando este rumor, reuniram-se e vieram concordes e cercaram a cidade. O rei pensou consigo mesmo, “Bem, se der minha filha para um, todos os outros reis ficarão irados. Tentarei salvá-la.” Então com esposa e filha ele fugiu disfarçado para a floresta ; e após construir para si uma cabana a alguma distância acima do rio da cabana do Príncipe Kalinga, viveu lá como asceta, comendo o que podia colher, catar.
Os pais, desejando salvar sua filha, deixaram-na atrás, na cabana, e saíram para colher frutos selvagens. Enquanto eles estavam fora ela reuniu flores de todos os tipos , e as arranjou em uma guirlanda. Bem, na margem do Ganges há uma mangueira com belas flores, que formam uma espécie de escada natural. Ela subiu nesta e brincando acabou jogando a guirlanda de flores n'água.
Um dia, quando Príncipe Kalinga saía do rio após um banho, esta guirlanda de flores prendeu no cabelo dele.
Ele olhou para ela e disse, “Alguma mulher fez isto e não foi foi mulher madura mas uma garota jovem e meiga. Devo procurá-la.” Profundamente apaixonado ele partiu em busca subindo o Ganges até escutar ela cantando com voz doce sentada na mangueira. Ele aproximou-se do tronco d'árvore e vendo-a, disse, “O que é você, bela Senhora ?” “Sou uma humana, Senhor,” ela respondeu. “Desça então,” disse ele. “Senhor, não posso ; sou da casta guerreira.” “Também sou, senhora : desça !” “Não, não, Senhor, não posso fazer isto. Apenas por falar não te faz um guerreiro ; se és tanto, me diga os segredos deste mistério.” Então eles repetiram um para o outro estes segredos de guilda ( casta, classe ). E a princesa desceu e fizeram conexão um com o outro.
Quando seus pais retornaram ela contou a eles sobre este filho do Rei de Kalinga e como ele veio para a floresta com todos os detalhes. Eles consentiram em dá-la a ele. Enquanto viviam juntos em união feliz, a princesa concebeu e após dez meses deu à luz um filho com os sinais da boa sorte e da virtude ; e eles o chamaram de Kalinga. Ele cresceu e aprendeu todas as artes e realizações com seu pai e seu avô.
Por fim seu pai soube pelas conjunções das estrelas que seu irmão estava morto. Chamou então seu filho e disse, “Meu filho, você não deve passar sua vida na floresta. O irmão de teu pai, Kalinga o Grande, está morto ; você deve ir a Dantapura e receber o reino por herança.” Então deu a ele as coisas, penhores, que trouxera consigo , o selo-anel, o tapete e a espada, dizendo, “Meu filho, na cidade de Dantapura, em tal rua vive um cortesão que é um servidor muito bom. Desça até a casa dele e entre no seu quarto e mostre a ele estas três coisas e diga-lhe que és meu filho. Ele te colocará no trono.”
O rapaz deu adeus a seus pais e avós ; e pelo poder de sua própria virtude atravessou pelos ares e descendo na casa daquele cortesão entrou em seu quarto. “Quem és tu ?” perguntou o outro. “O filho de Kalinga o Pequeno,” disse ele, apresentando os três penhores. O cortesão contou no palácio e todos os da corte decoraram a cidade e abriram o parassol real sobre sua cabeça. Então o capelão, que era chamado Kalinga-bharadvaja, ensinou a ele as dez cerimônias que um monarca universal deve realizar e ele cumpriu todos os seus deveres. Então no décimo quinto dia, dia de jejum, veio até ele de Cakkadaha a preciosa Roda do Império, do estoque de Uposatha o precioso Elefante, da linhagem real de Valaha o precioso Cavalo, de Vepulla a preciosa Jóia ; e a preciosa esposa, séquito e príncipe conselheiro apareceram. Então ele atingiu a soberania em toda a esfera terrestre.
Um dia, acompanhado por uma companhia que espalhava-se por 36 léguas e montado em um elefante todo branco, alto como um pico do Monte Kelasa ( Kailasa ), em grande pompa e esplendor ele foi visitar seus pais. Mas para além do círculo ( a palavra é usada para o trono embaixo d'árvore e o terraço construído em volta ) ao redor da grande árvore bo, o trono da vitória de todos os Buddhas, que se tornou o umbigo mesmo da terra, para além deste o elefante era incapaz de passar : seguidamente o rei incitava-o mas não podia passar.
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Explicando isto, o Mestre recitou a primeira estrofe :

Rei Kalinga, senhor supremo,
Legislava a terra pela lei e o direito,
Para árvore bo certa vez veio
Em um poderoso elefante.
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Em relação a isto o capelão do rei, que estava viajando junto, pensou consigo mesmo,”Nos ares não há impedimento ; por quê o rei não pode fazer o elefante prosseguir ? Irei e verei.” Então descendo do alto,ele contemplou o trono da vitória de todos os Buddhas, o umbigo da terra, o círculo ao redor da grande árvore bo. Naquele tempo, é dito, no espaço de uma karisa real não havia nunca nem uma folha de grama, nem do tamanho de um bigode de lebre ; parecia como se fosse uma areia macia brilhante qual prato de prata. Mas para todos os lados haviam grama, trepadeiras, árvores poderosas, senhoras da floresta, como em modo de reverência todas ao redor com suas faces viradas em direção ao trono da árvore bo. Quando o brahmin contemplou este lugar na terra, “Este,” pensou ele, “é o lugar onde todos os Buddhas esmagaram todos os desejos da carne ; e para além dele nada pode passar, não nem se fosse Sakra mesmo.” Então aproximando-se do rei, ele contou-lhe a qualidade do círculo ao redor d'árvore bo, e pediu-lhe que descesse.
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À guisa de explicar isto o Mestre recitou estas estrofes seguintes :

Este Kalinga-bharadvaja disse ao seu rei, o filho do asceta,
Quando girava a roda do império, guiando-o, fazendo obediência :

'Este é o lugar que os poetas cantam sobre ; aqui, Ó poderoso rei, salte !
Aqui atingiram sabedoria perfeita, Buddhas perfeitos, brilhantes em luz.

No mundo, tradição diz, este lugar único é chão sagrado,
Onde em atitude de reverência ervas e trepadeiras situam-se ao redor.

Venha, desça e preste obediência ; tanto quanto o limite do oceano
Na fértil terra tudo criando este lugar é chão santo.

Todos os elefantes que possuis puros sangue por mãe e pai,
Para aqui dirigidos, viriam tão longe mas não ultrapassariam.
É puro sangue o quê você monta ; dirija a criatura como você queira,
Ele não irá um passo mais à frente : aqui o elefante estaciona.'

Falou o adivinho, escutou Kalinga ; o rei então, respondeu,
Batendo forte o chicote – 'Se isto é verdade ou não, veremos logo.'

Perfurada a criatura trompeteou alto, gritando como qualquer garça o faria,
Mexida, caiu sobre as patas debaixo do peso e não pode se levantar.
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Perfurada e perfurada novamente pelo rei, este elefante não pode suportar a dor e assim morreu ; mas o rei não soube que estava morto e ficou lá parado nas suas costas. Então Kalinga-bharadvaja disse, “Ó grande rei ! Teu elefante está morto ; passa para outro.”
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Para explicar o assunto, o Mestre recitou a décima estrofe :

Quando Kalinga-bharadvaja viu que o elefante estava morto,
Ele, tremendo e temendo, disse então ao rei Kalinga :
'Busque outro, poderoso monarca : este teu elefante está morto'.
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Pela virtude e poder mágico do rei, outra besta da linhagem de Uposatha apareceu e ofereceu as costas. O rei sentou atrás. Neste mesmo momento o elefante caiu morto em terra.
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Para explicar o assunto, o Mestre repetiu outra estrofe :

Escutando isto, Kalinga, consternado
Montou em outro e direto
Sobre a terra o cadáver afundou,
E a palavra do adivinho como verdadeira se apresentou.

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Com isto o rei desceu das alturas e contemplando o recinto d'árvore bo e o milagre que aconteceu, louvou Bharadvaja, dizendo -

Para Kalinga-bharadvaja, rei Kalinga, disse então :
'Sabes e compreendes tudo, e tudo vês continuamente.'

Bem, o brahmin não aceitaria este louvor ; mas permanecendo em sua humilde posição, exortou e louvou os Buddhas.
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Para explicar isto o Mestre repetiu estas estrofes :

Mas o brahmin sincero negou isto e assim falou ao rei :
'Sei a verdade por marcas e sinais : mas os Buddhas, todas as coisas.

Apesar de tudo saber e tudo ver, em marcas não têm habilidade :
Eles sabem tudo mas sabem por intuição : eu um homem de livros sou fraco'.

( intuição = insight )
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O rei, escutando as virtudes dos Buddhas, ficou feliz de coração ; e fez todos os habitantes do mundo trazer flores fragrantes em abundância e por sete dias os fez venerar o circuito da Grande Árvore Bo.
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À guisa de explicação, o Mestre recitou um par de estrofes :

Assim venerando a grande árvore bo com muito som melodioso
De música e com guirlandas fragrantes : levantou um muro ao redor,

e após isto o rei seguiu seu caminho -

Trouxe flores em sessenta mil carros fazendo oferta ;
Assim o rei Kalinga venerou o Circuito d'Árvore.

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Tendo deste modo prestado veneração à Grande Árvore Bo, ele visitou seus pais e os levou de volta novamente para Dantapura ; onde fez ofertas e boas ações até nascer novamente no Céu dos Trinta e Três.

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O Mestre, tendo terminado este discurso, disse : “Não é esta a primeira vez , Irmãos, que Ananda presta veneração àrvore bo mas anteriormente também;” e ele identificou o Jataka :- “Naquele tempo Ananda era Kalinga e eu mesmo Kalinga-bharadvaja.” 

 

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