sexta-feira, 7 de março de 2014

480 Buddha sábio, Anurudha Sakra




 
       (  imagens de Buddha em Ellora compartilhando espaço com imagens dos deuses hindus, cada um na sua caverna. clique na imagem para vê-la ampliada. )

480
           “Sakra, o senhor dos seres...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um generoso doador que vivia em Savatthi. Este homem, assim é dito,convidou o Mestre e por sete dias deu muitos presentes para a companhia que o seguia ; no último dia presenteou a companhia dos Santos com todas as coisas necessárias para eles. Então disse o Mestre, agradecendo-o, “Irmão Laico, grande é tua generosidade : fizeste uma coisa muito difícil. Este costume de dar é costume de sábios antigos. Dons devem ser dados, estejas tu no mundo, estejas tu afastado do mundo ; sábios antigos, mesmo quando deixam o mundo e moram na floresta, quando têm para comer apenas folhas de Kara ( Canthium parviflorum ) aspergidas com água, sem sal ou tempero, ainda assim as deram a todos os mendicantes que passavam para servir às necessidades deles e eles mesmos viviam em sua própria alegria e benção.” O homem respondeu, “Senhor, este doar de todas as coisas necessárias à companhia é bastante claro mas o quê falas não está claro. Explicarás para nós ?” Então o Mestre ao seu pedido contou uma história do passado.

______________________

Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu numa família de um magnata Brahmin, cuja fortuna amontava-se em oitocentos milhões. Eles o chamavam Akitti. Quando atingiu a capacidade de andar, nasceu uma irmã, e deram a ela o nome de Yasavati. O Grande Ser direcionou-se na idade de dezesseis anos para Benares, onde completou sua educação e então voltou. Após isto sua mãe e seu pai morreram. Ele realizou todas as obrigações pelos espíritos dos mortos e foi inspecionar seu tesouro : “Tal e tal,” discorria o catálogo, “depositou tanto e morreu, tal outro tanto.” Escutando isto ficou preocupado na mente e pensou, “Este tesouro está aqui para todos verem mas os que o juntaram não são mais vistos : todos já se foram e deixaram o tesouro para trás mas quando eu me for vou levá-lo comigo.” Então chamando sua irmã, disse, “Tome conta deste tesouro.” “Qual é tua intenção ?” ela perguntou. Ele respondeu, “Me tornar um asceta.” “Querido,” ela respondeu, “Não tomarei sobre minha cabeça o que você cuspiu para fora da tua boca ; não terei nada dele mas também me tornarei uma asceta.” Então pedindo licença ao rei, fez com que se tocasse o tambor por toda a cidade e uma proclamação foi feita : “Escutais ! Que todos aqueles que desejam dinheiro se dirijam para a casa do homem sábio !” Por sete dias ele distribuiu uma grande quantidade de esmolas e ainda assim o tesouro não terminou. Então pensou consigo mesmo, “Os elementos do meu ser gastam-se e o quê quero com este jogo do tesouro ? Que aqueles que o desejam, peguem-no.” Então abriu largamente as portas da casa,dizendo, “Isto é uma oferta ; que o Povo pegue-a.” Assim, deixando a casa com todo seu ouro e metal precioso, com seus parentes lamentando-se ao redor, ele e sua irmã partiram. E o portão de Benares pelo qual eles saíram foi chamado Portão de Akitti e a plataforma de desembarque pelo qual desceu ao rio Cais de Akitti.
Três léguas percorreu e em um lugar agradável fez uma cabana de folhas e ramos e com sua irmã viveu nela como asceta. Depois que ele se retirou do mundo, muitos outros também fizeram o mesmo, aldeões, gente de cidade pequena e da capital real ; grande era o aglomerado deles, grande as ofertas e as honras recebidas ; foi como o surgimento de um Buddha. Então o Grande Ser pensou consigo mesmo, “Aí temos uma grande homenagem e acúmulo de ofertas, uma grande companhia, mais do que grande mas preciso morar sozinho.” Então quando ninguém esperava, sem nem mesmo avisar sua irmã, partiu sozinho e logo chegou no reino de Damila ( Costa de Malabar ou norte do Ceilão ), onde, residindo em um parque em frente de Kavirapattana, cultivou ênstase místico e Faculdades sobrenaturais. Lá também recebeu muita honra e grande estoque de ofertas. Ele não gostou disto e abandonou tudo passando através dos ares e descendo na ilha de Kāra, que está à frente da ilha de Naga ( próximo ao Ceilão ). Naquele tempo, karadipa era chamada Ahidipa, a Ilha das Cobras. Lá ele construiu um eremitério ao lado de uma grande árvore kara e morou nele. Mas nenhuma pessoa sabia que ele estava morando lá.
Bem, sua irmã saiu em busca de seu irmão e no devido tempo chegou ao reino de Damila, não o viu, e ainda assim residiu no mesmo lugar onde ele residiu mas não podia induzir o ênstase místico. O Grande Ser estava tão contente que não foi a nenhum lugar mas no tempo do fruto se alimentava do fruto d'árvore e no tempo de brotar as folhas alimentava-se das folhas aspergidas com água. Através do fogo de sua virtude , o trono de mármore de Sakra tornou-se quente. “Quem me fará descer do meu lugar ?” pensou Sakra e procurando viu o sábio. “Por quê é que,” pensou ele, “aquele asceta lá guarda sua virtude ? É porque ele aspira à Sakridade ou por alguma outra causa ? Vou testá-lo. O homem vive miseravelmente, come folhas de kara aspergidas com água : se ele deseja tornar-se Sakra, ele me dará suas próprias folhas encharcadas ; mas se não, então ele não me dará.” Então disfarçado de um brahmin ele foi até o Bodhisatva.
O Bodhisatva sentou à porta da sua cabana de folha, tendo encharcado as folhas e deixado-as descansar : “Quando estiverem frias,” ele pensou, “vou comê-las.” Naquele momento Sakra apareceu na frente dele, suplicando esmolas. Quando o Grande Ser o viu, ficou feliz de coração ; “Uma benção para mim,” pensou, “vejo um mendigo ; ho-je atingirei o desejo do meu coração e darei esmolas.” Quando a comida estava pronta, ele a colocou na sua tigela imediatamente e avançando em direção a Sakra, disse a ele,”Esta é minha oferta : seja ela o meio d'eu ganhar onisciência !” Então sem deixar nada para si mesmo, colocou a comida na tigela do outro. O brahmin a pegou e deslocando-se um pouco afastando-se pelo caminho, desapareceu. Mas o Grande Ser, tendo feito sua oferta, não cozinhou mais novamente, contudo, sentou-se imóvel, alegre e abençoado. Dia seguinte cozinhou novamente e sentou como antes na entrada da cabana. Novamente Sakra veio na aparência de um brahmin e novamente o Grande Ser deu a ele a refeição e continuou em alegria e benção. No terceiro dia de novo ele ofertou como anteriormente , dizendo, “Veja que benção para mim ! Umas poucas folhas de kāra produziram grande mérito para mim.” Assim em alegria sentida no coração, fraco como estava por querer comer por três dias, saiu fora da cabana ao meio dia e sentou na porta, refletindo sobre a oferta que fez. E Sakra pensou : “Este brahmin jejuando por três dias, fraco como está, ainda assim me faz oferta e fica feliz em oferecer. Não há outra intenção em seus pensamentos ; não entendo o quê ele deseja e por quê ele faz estas ofertas, portanto devo perguntar a ele e descobrir sua intenção e aprender a razão de sua oferta.” De acordo com isto, ele esperou até passar o meio dia e em grande glória e magnificência veio até o Grande Ser reluzente como um sol jovem ; e de pé diante dele, fez a pergunta : Ó asceta ! Por quê praticas a vida ascética nesta floresta, cercada pelo mar salgado, com ventos quentes batendo em ti ?”

_________________________

Para tornar clara a matéria, o Mestre repetiu a primeira estrofe :

Sakra, o senhor dos seres, viu o honrado Akitti :
Por quê,Ó grande Brahmin, descansas aqui no calor ?' ele disse.

_____________________

Quando o Grande Ser escutou isto e percebeu que era Sakra, respondeu e disse a ele,”Aquelas Consecuções não ambiciono ; mas ambicionando onisciência vivo vida de recluso.” Para tornar isto claro, ele recitou a segunda estrofe :

Re-nascer, o dissolver do corpo, morte, erro – tudo é sofrimento :
Por isto, Ó Sakra Vasava ! Aqui em paz permaneço.

Escutando estas palavras, Sakra ficou satisfeito de coração e pensou - “Ele está insatisfeito com todo o tipo de ser e no interesse do Nirvana reside na floresta. Vou oferecer a ele um dom.” Então o convidou a escolher um dom nas palavras da terceira estrofe :

Bem falado, Kassapa, bem colocado, mais excelentemente dito :
Escolha agora um dom – como manda teu coração, deixe a escolha ser feita.

O Grande Ser repetiu a quarta estrofe, escolhendo este dom :

Sakra, senhor de todos os seres, me ofereceu um dom,
Filho, esposa ou tesouro, grãos armazenados, não contentam apesar de possuídos :
Não peço que nenhuma luxúria tais quais estas possa ancorar em meu peito.

Então Sakra, muito satisfeito, ofereceu ainda mais dons e o Grande Ser aceitou-os, cada um por sua vez repetindo uma estrofe como segue :

Bem falado, Kassapa, bem colocado, mais excelentemente dito :
Escolha agora um dom – como manda teu coração, deixe a escolha ser feita.

Sakra, o senhor dos seres, me ofereceu um dom.
Terras, bens, ouro, escravos, cavalos e gado, envelhecem e morrem :
Qu'eu possa não ser como eles, nem ter esta falta em mim, peço.

Bem falado, etc...

Sakra, o senhor de todo o mundo, me ofereceu um dom.
Qu'eu possa nem ver nem ouvir um tolo, nem tal morar comigo,
Nem sustentar conversa com um tolo, nem gostar de sua companhia.

O quê um tolo já fez para ti, Ó Kassapa, declare !
Vamos diga-me por quê a companhia dos tolos é demais para você suportar ?

O tolo age erradamente, amarra em si cargas que ninguém pode carregar,
O bem dele é fazer o mal e está colérico quando fala com justiça,
Não conhece conduta reta ; por isto não quero tolo aqui.

Bem falado, Kassapa, etc...

Sakra, o senhor dos seres todos, me ofereceu um dom.
Seja por mim o sábio visto e ouvido e possa habitar comigo,
Qu'eu possa sustentar conversa com o sábio e amar sua companhia.

O quê o homem sábio fez para você, Ó Kassapa, declare!
Por quê você deseja que onde você esteja, o sábio possa estar ?

O sábio faz bem, nenhuma carga amarra-se nele que ninguém possa carregar,
Seu bem é fazer o bem, nem fica irado quando fala com justiça,
Bem conhece conduta reta ; daí porque é bom que esteja lá.

Bem falado, Kassapa, etc...

Sakra, o senhor de todos os seres, me ofereceu um dom.
Qu'eu possa ser livre de luxúrias e quando o Sol começar a brilhar
Possam santos mendicantes aparecer e me conceder alimento divino ;

Possa esta não minguar enquanto oferto, nem eu me arrepender do gesto,
Mas meu coração alegre-se em dar : isto escolho como prêmio.

Bem falado, Kassapa, bem colocado, mais excelentemente dito :
Escolha agora um dom – como manda teu coração, deixe a escolha ser feita.

Sakra,o senhor de todos os seres, para mim um dom concedeu : -
Ó Sakra, não me visite mais : este dom é tudo que anseio.

Mas muitos homens, e mulheres também, entre os que vivem retamente
Desejam me ver : pode haver perigo na visão ?

Tal é teu aspecto todo divino, tal glória e encanto,
Vendo isto, posso esquecer meus votos : este perigo tem a visão.

Bem, Senhor,” disse Sakra, “nunca mais te visitarei” ; e assim o saudando e pedindo perdão, Sakra partiu. O Grande ser então residiu por toda sua vida cultivando as Excelências e nasceu novamente no mundo de Brahma.

________________

O Mestre, tendo completado este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo Anuruddha era Sakra e eu mesmo era o sábio Akitti.”


Nenhum comentário: