(
desenho de pintura de Ajanta relatando a história do cervo ;
começando de baixo quando o cervo salva o sujeito que se afoga
passa logo para cima com o caçador relatando ao rei o local e
descendo pela esquerda do desenho, a corte saindo em caravana e
parando junto ao cervo que segue subindo pela direita homenageado em
um carro com parassol . pg. 44, Guide to Ajanta paintings, vol1,
Dieter Schlingloff, MM Publishers, New Delhi, 1999. Clique na imagem para vê-la ampliada. )
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“Te trago
notícias...etc.” - Esta história o Mestre contou
enquanto residia no bosque de Bambu sobre Devadatra. Alguém
dizia para ele, “O Mestre é muito útil para ti, amigo
Devadatra. Você recebeu ordens sacras do Tathagata, dele
aprendeste as Três Cestas, obtivestes ofertas e honra.”
Quando tais coisas foram ditas, é relatado com credibilidade
que ele respondeu, “Não, amigo ; o Mestre não me fez
nenhum bem, nem no valor de uma folha de grama. De mim mesmo recebi
as ordens sacras, por mim mesmo aprendi as Três Cestas e por
mim mesmo ganhei ofertas e honras.” No salão da Verdade os
Irmãos falavam sobre tudo isto : “Ingrato é
Devadatra, meu amigo, e esquece uma gentileza feita.” O Mestre
entrou e queria saber o que falavam lá sentados. Eles
disseram. Ele falou, “Esta não é a primeira vez,
Irmãos, que Devadatra é ingrato mas ingrato ele também
foi antes ; e em dias há muito tempo passado tendo a vida
salva por mim ainda assim não reconheceu a grandeza do meu
mérito.” Assim falando, ele contou uma história do
passado.
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Certa vez,
quando Brahmadatra reinava em Benares, um grande mercador que possuía
uma fortuna de 800 milhões, teve um filho nascido dele ; e deu
a ele o nome de Maha-dhanaka ou Homem dinheiro. Mas nunca lhe
ensinou nada ; pois dizia, “Meu filho achará estudo uma
canseira da carne.” Entre cantos e danças, comida e
festança, o rapaz não aprendeu nada. Quando chegou à
idade, seus pais lhe providenciaram uma esposa adequada e logo depois
morreram. Após a morte deles, o jovem cercado de libertinos,
bêbados e jogadores, dissipou toda sua riqueza em todo tipo de
gastança e profusão. Depois pediu dinheiro emprestado
e não pode pagar e foi cobrado pelos credores. Por fim ele
pensou, “O quê é minha vida para mim ? Nesta única
existência , estou como que já transformado em outro ser
; é melhor morrer.” Com isto disse a seus credores, “Tragam
suas contas e venham aqui. Tenho um tesouro de família
enterrado e guardado às margens do Ganges e vocês o
terão.” Eles seguiram junto com ele. Ele fez como se
estivesse apontando aqui ou lá o lugar do tesouro escondido (
mas enquanto isto pretendia cair no rio e se afogar ) e finalmente
correu e atirou-se dentro do Ganges. Enquanto a corrente o
transportava, ele berrava alto um grito de dor.
Bem,
naquele tempo o Grande Ser nascera como um Cervo e tendo abandonado a
horda, habitava próximo a uma curva do rio sozinho, em uma
moita de salgueiros misturada com belas mangueiras floridas : a pele
de seu corpo era da cor de um prato dourado bem lustrado, patas
traseiras e dianteiras pareciam como que cobertas de verniz, seu rabo
como o rabo de boi selvagem, seus chifres como espirais de prata,
seus olhos tinham o brilho de gemas polidas quando virava a boca em
qualquer direção parecia como uma bola de roupa
vermelha. Ao redor da meia noite escutou o triste grito do outro e
pensou, “Escuto a voz de uma pessoa. Enquanto estou vivo que ele
não morra ! Salvarei para ele sua vida.” Surgindo de seu
lugar de descanso no mato, ele desceu para a margem do rio e gritou em
voz calma,”Ei homem ! Nada tema, salvarei tua vida.” Então
cortou a corrente do rio e nadou até ele e o colocando em suas
costas carregou-o até a margem e para sua própria
moradia ; onde por dois ou três dias o alimentou com frutos
selvagens. Após o quê disse ao homem, “Ei homem,
agora vou te conduzir para fora desta floresta e te colocar numa
estrada para Benares e irás em paz. Mas te peço, não
seja levado por ganância de ganho em dizer ao rei ou outro
grande homem que em tal lugar encontra-se um cervo dourado.” O
homem prometeu observar suas palavras ; e o Grande Ser, tendo
recebido esta promessa, o colocou nas suas costas, o carregou até
a estrada de Benares e seguiu seu caminho.
No dia
em que alcançou Benares, a Rainha principal cujo nome era
Khema, viu de manhã em um sonho que um cervo dourado pregava
a Lei a ela ; e pensou, “Se não existisse tal criatura, não
a veria em meu sonho. Certamente deve existir ; vou proclamar ao
rei.”
Ela ela
foi ao rei e disse, “Grande rei ! Estou ansiosa em escutar o
discurso do cervo dourado. Se puder, viverei mas se não, não
haverá existência para mim.” O rei a confortou,
dizendo, “ Se tal criatura existe no mundo das pessoas, você
a terá.” Então ele chamou os brahmins e colocou a
questão - “Existe tal ser : cervo de cor dourada ?” “Sim,
existe, meu senhor.” O rei colocou sobre as costas de um elefante
ricamente ajaezado uma bolsa com mil peças de dinheiro dentro
de uma caixa dourado : quem quer que traga uma palavra sobre um
cervo dourado, o rei de boa vontade dará a ele a bolsa com mil
peças, a caixa de ouro e o elefante com tudo ou um melhor. E
fez gravar uma estrofe sobre uma tábua de ouro e entregou a
alguém da sua corte pedindo que proclamasse a estrofe em seu
nome por todo o Povo da cidade. Então ele recitou a estrofe
que vem primeiro neste Jataka :
Quem me trará
notícias deste cervo, primoroso entre todos da raça :
Belas
mulheres e uma cidade escolhida serão dadas como prêmio.
O
cortesão tomou o prato dourado e fez com que fosse proclamado
por toda a cidade. Justo então o filho jovem do mercador
entrava em Benares ; e escutando a proclamação,
aproximou-se do cortesão e disse, “Posso dar notícias
de um tal cervo ao rei ; leve-me em sua presença.” O cortesão
desmontou do elefante e o levou para diante do rei, dizendo, “Este
homem, meu senhor, diz que pode te dar notícias do cervo.”
cotejou o rei, “É verdade, cara ?” “É verdade,
Ó grande rei ! me darás toda aquele a honra.” E
recitou a segunda estrofe :
Te
trago notícias do cervo, primoroso entre todos da raça
:
Belas
mulheres e uma cidade escolhida dê-me por prêmio.
O rei ficou
feliz quando escutou estas palavras do amigo traidor. “Vamos,”
disse ele, “onde este cervo pode ser encontrado ?” “Em tal e
tal lugar, meu senhor,” ele respondeu e declarou o caminho que
deviam fazer. Com um grande séquito fez o traidor de guiá-lo
até o lugar e então disse, “Ordene que o exército
pare.” Quando o exército foi feito estacionar, ele seguiu
apontando com a mão, “Há um cervo dourado lá
naquele lugar :” e repetiu a terceira estrofe :
Dentro
daquela moita de flores de salgueiro e manga, onde o chão
É
todo vermelho qual cochonilha, este cervo será encontrado.
Quando o rei
escutou estas palavras, disse para seus cortesãos,”Não
deixem o cervo escapar mas com toda a velocidade façam um
círculo ao redor do bosque, homens com armas nas mãos.”
Eles fizeram isto e fizeram um clamor. O rei com um certo número
de pessoas estava de pé à parte e o traidor também
não estava distante. O Grande Ser escutou o som e pensou, “É
o som de uma grande hoste, portanto devo me precaver deles.” Ele
levantou-se e espreitando toda a companhia percebeu o lugar onde o
rei estava. “Onde está o rei,” ele pensou, “estarei a
salvo e para lá devo ir;” e correu na direção
do rei. Quando o rei o viu vindo, disse, “Uma criatura forte como
um elefante derrubaria tudo pelo caminho. Colocarei uma flecha na
corda e amedrontarei o animal ; se ele correr o acertarei e o
tornarei fraco de modo que possa pegá-lo.” Então
acordoando seu arco, permaneceu olhando o Bodhisatva.
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Para
explicar este assunto, o Mestre repetiu um par de estrofes :
Para frente
ele foi : o arco estava curvado, a flecha na corda ;
Quando
então de longe o cervo gritou, enquanto contemplava o rei :
Ó
senhor dos aurigas, grande rei, pare ! E não faça
ferimento :
Quem te
trouxe notícias, que aqui seria encontrado este cervo ?
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O rei ficou
encantado com a sua voz melíflua ; deixou cair o arco e ficou
parado em reverência. O Grande Ser aproximou-se do rei e
conversou agradavelmente com ele, permanecendo em um dos lados. Toda
a hoste também largou as armas e aproximou-se cercando o rei.
Naquele momento o Grande Ser fez sua pergunta ao rei com voz doce (
era como o tilintar de um sino dourado ) : “Quem te trouxe a
notícia de que aqui este cervo seria encontrado ?” Justo
então o homem mau aproximou-se e ficou escutando. O rei
apontou-o dizendo “Foi ele que me informou,” e recitou a sexta
estrofe :
Aquele
homem de pecado, meu amigo valioso, lá está parado,
Ele me
trouxe a notícia, que aqui o cervo seria encontrado.
Escutando
isto, o Grande Ser censurou seu amigo traidor e dirigindo-se ao rei
recitou a sétima estrofe :
Sobre a
terra há muitas pessoas, de quem o provérbio é
verdadeiro :
É
melhor salvar um tronco afundando que alguém como tu.
Quando
escutou isto o rei repetiu outra estrofe :
Quem
é este que culpas por isto, Ó cervo ?
É
alguma pessoa, animal ou pássaro ?
Estou
possuído por um temor imenso
Por
esta tua fala humana que escutei por último.
Com isto o
Grande Ser respondeu, “Ó grande rei, não culpo
animal, nem culpo pássaro mas um homem :” para explicar o
quê ele repetiu a nona estrofe :
Salvei-o
certa vez quando quase se afogava
Na
rápida maré cheia que o carregava para baixo :
E
agora estou em perigo por causa disto.
Vá
com o fraco e certifique-se de castigá-lo.
O rei quando
escutou isto ficou irado com o sujeito.”O quê ?” cotejou
ele, “não reconhecer seus méritos após um tal
bom serviço ! Vou atirar nele e matá-lo !“E então
falou a décima estrofe :
Esta
voadora de quatro asas deixarei voar,
E
o atravessarei no coração ! Que ele pereça,
O
mau em sua traição,
Quem
por tal gentileza feita nenhuma gratidão nutre !
Então o
Grande Ser pensou, “Não o deixarei perecer por minha causa,”
e falou a estrofe onze :
Vergonha
para tolo,Ó rei, realmente !
Mas
nenhuma pessoa boa aprova a morte ;
Deixe
o tratante ir, e lhe dê o prêmio,
Realizando
tudo que a ele prometeste :
E
te ajudarei em tua necessidade.
O rei ficou
muito feliz de escutar isto, e louvando-o pronunciou a próxima
estrofe :
Este
cervo é realmente bom,
Não
querendo pagar o mal com o mal,
Deixem
o miserável ir ! Dou a ele o prêmio,
Cumprindo
tudo que lhe prometi.
E
você vá onde desejares – vá rápido !
Com isto o
Grande Ser disse,”Ó poderoso rei, as pessoas dizem uma coisa
com os lábios e fazem outra;” para expor o assunto
recitando duas estrofes :
O
grito do chacal e dos pássaros é entendido com
facilidade ;
Sim,
mas as palavras das pessoas, Ó rei, é mais difícil
que estes.
Uma pessoa
pode pensar, 'este é meu amigo, meu camarada, meu parente' ;
Mas
amizade vai e geralmente ódio e inimizade começam.
Quando o rei
escutou estas palavras, ele respondeu, “Ó rei dos cervos !
Não suponho que sou alguém deste tipo ; pois não
negarei o dom que te prometi, nem mesmo se perder o reino por isto.
Creia-me.” E deu a ele a escolha de um dom. O Grande Ser aceitou
este dom das mãos dele e escolheu isto : Que todas as
criaturas, começando por ele mesmo fossem livres de perigo.
Este dom o rei concedeu e então o levou de volta para a cidade
de Benares e tendo adornado e decorado a cidade e o Grande Ser
também, o fez discursar para a rainha sua esposa. O Grande Ser
discursou para a rainha e depois para o rei e toda a corte com voz
humana doce qual mel ; ele aconselhou o rei a praticar fielmente as
dez Virtudes dos Reis e confortou a grande multidão e então
retornou para a floresta onde habitou com uma horda de cervos.
O rei
enviou um tambor bater ao redor da cidade, esta proclamação
: “Dou proteção a todas as criaturas !” A partir
daquele momento em diante ninguém ousaria nem mesmo levantar
as mãos contra um animal ou pássaro.
Hordas
de cervos devoravam as colheitas agrícolas humanas e ninguém
era capaz de desviá-las. Uma multidão reuniu-se na
corte do rei e reclamou.
________________________
Para
tornar isto claro, o Mestre repetiu a seguinte estrofe :
O
povo do campo e da cidade foram todos diretos até o rei :
Os
cervos estão comendo nossa colheita : que o rei evite isto !
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Escutando
isto, o rei recitou um par de estrofes :
Seja este o
desejo do Povo ou não, mesmo que meu reino cesse,
Não
posso errar com o cervo, a quem prometi vida e paz.
O Povo pode
me abandonar, meu poder real pode acabar,
O dom que
prometi ao cervo real nunca vou negar.
O Povo escutou as
palavras do rei e vendo-se impotentes em dizer algo, partiram. Esta
fala foi espalhada para todo lado. O Grande Ser a escutou e reunindo
todos os cervos, deu sua ordem a eles : “A partir deste momento
vocês não devem devorar as colheitas das pessoas.”
Ele então enviou uma mensagem aos homens, que cada um deveria
levantar uma placa em suas terras. Os homens fizeram isto ; e com
aquele sinal até ho-je mesmo os cervos não devoram as
colheitas.
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Quando o
Mestre terminou este discurso,ele disse, “Esta não é
a primeira vez, Irmãos, que Devadatra foi ingrato ;” e então
ele identificou o Jataka : “Naquele tempo, Devadatra era o filho do
mercador, Ananda era o rei e eu mesmo era o cervo.”
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