segunda-feira, 24 de março de 2014

482 Buddha Cervo


                                   

( desenho de pintura de Ajanta relatando a história do cervo ; começando de baixo quando o cervo salva o sujeito que se afoga passa logo para cima com o caçador relatando ao rei o local e descendo pela esquerda do desenho, a corte saindo em caravana e parando junto ao cervo que segue subindo pela direita homenageado em um carro com parassol . pg. 44, Guide to Ajanta paintings, vol1, Dieter Schlingloff, MM Publishers, New Delhi, 1999. Clique na imagem para vê-la ampliada. )

482
Te trago notícias...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no bosque de Bambu sobre Devadatra. Alguém dizia para ele, “O Mestre é muito útil para ti, amigo Devadatra. Você recebeu ordens sacras do Tathagata, dele aprendeste as Três Cestas, obtivestes ofertas e honra.” Quando tais coisas foram ditas, é relatado com credibilidade que ele respondeu, “Não, amigo ; o Mestre não me fez nenhum bem, nem no valor de uma folha de grama. De mim mesmo recebi as ordens sacras, por mim mesmo aprendi as Três Cestas e por mim mesmo ganhei ofertas e honras.” No salão da Verdade os Irmãos falavam sobre tudo isto : “Ingrato é Devadatra, meu amigo, e esquece uma gentileza feita.” O Mestre entrou e queria saber o que falavam lá sentados. Eles disseram. Ele falou, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Devadatra é ingrato mas ingrato ele também foi antes ; e em dias há muito tempo passado tendo a vida salva por mim ainda assim não reconheceu a grandeza do meu mérito.” Assim falando, ele contou uma história do passado.
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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, um grande mercador que possuía uma fortuna de 800 milhões, teve um filho nascido dele ; e deu a ele o nome de Maha-dhanaka ou Homem dinheiro. Mas nunca lhe ensinou nada ; pois dizia, “Meu filho achará estudo uma canseira da carne.” Entre cantos e danças, comida e festança, o rapaz não aprendeu nada. Quando chegou à idade, seus pais lhe providenciaram uma esposa adequada e logo depois morreram. Após a morte deles, o jovem cercado de libertinos, bêbados e jogadores, dissipou toda sua riqueza em todo tipo de gastança e profusão. Depois pediu dinheiro emprestado e não pode pagar e foi cobrado pelos credores. Por fim ele pensou, “O quê é minha vida para mim ? Nesta única existência , estou como que já transformado em outro ser ; é melhor morrer.” Com isto disse a seus credores, “Tragam suas contas e venham aqui. Tenho um tesouro de família enterrado e guardado às margens do Ganges e vocês o terão.” Eles seguiram junto com ele. Ele fez como se estivesse apontando aqui ou lá o lugar do tesouro escondido ( mas enquanto isto pretendia cair no rio e se afogar ) e finalmente correu e atirou-se dentro do Ganges. Enquanto a corrente o transportava, ele berrava alto um grito de dor.
Bem, naquele tempo o Grande Ser nascera como um Cervo e tendo abandonado a horda, habitava próximo a uma curva do rio sozinho, em uma moita de salgueiros misturada com belas mangueiras floridas : a pele de seu corpo era da cor de um prato dourado bem lustrado, patas traseiras e dianteiras pareciam como que cobertas de verniz, seu rabo como o rabo de boi selvagem, seus chifres como espirais de prata, seus olhos tinham o brilho de gemas polidas quando virava a boca em qualquer direção parecia como uma bola de roupa vermelha. Ao redor da meia noite escutou o triste grito do outro e pensou, “Escuto a voz de uma pessoa. Enquanto estou vivo que ele não morra ! Salvarei para ele sua vida.” Surgindo de seu lugar de descanso no mato, ele desceu para a margem do rio e gritou em voz calma,”Ei homem ! Nada tema, salvarei tua vida.” Então cortou a corrente do rio e nadou até ele e o colocando em suas costas carregou-o até a margem e para sua própria moradia ; onde por dois ou três dias o alimentou com frutos selvagens. Após o quê disse ao homem, “Ei homem, agora vou te conduzir para fora desta floresta e te colocar numa estrada para Benares e irás em paz. Mas te peço, não seja levado por ganância de ganho em dizer ao rei ou outro grande homem que em tal lugar encontra-se um cervo dourado.” O homem prometeu observar suas palavras ; e o Grande Ser, tendo recebido esta promessa, o colocou nas suas costas, o carregou até a estrada de Benares e seguiu seu caminho.
No dia em que alcançou Benares, a Rainha principal cujo nome era Khema, viu de manhã em um sonho que um cervo dourado pregava a Lei a ela ; e pensou, “Se não existisse tal criatura, não a veria em meu sonho. Certamente deve existir ; vou proclamar ao rei.”
Ela ela foi ao rei e disse, “Grande rei ! Estou ansiosa em escutar o discurso do cervo dourado. Se puder, viverei mas se não, não haverá existência para mim.” O rei a confortou, dizendo, “ Se tal criatura existe no mundo das pessoas, você a terá.” Então ele chamou os brahmins e colocou a questão - “Existe tal ser : cervo de cor dourada ?” “Sim, existe, meu senhor.” O rei colocou sobre as costas de um elefante ricamente ajaezado uma bolsa com mil peças de dinheiro dentro de uma caixa dourado : quem quer que traga uma palavra sobre um cervo dourado, o rei de boa vontade dará a ele a bolsa com mil peças, a caixa de ouro e o elefante com tudo ou um melhor. E fez gravar uma estrofe sobre uma tábua de ouro e entregou a alguém da sua corte pedindo que proclamasse a estrofe em seu nome por todo o Povo da cidade. Então ele recitou a estrofe que vem primeiro neste Jataka :

Quem me trará notícias deste cervo, primoroso entre todos da raça :
Belas mulheres e uma cidade escolhida serão dadas como prêmio.

O cortesão tomou o prato dourado e fez com que fosse proclamado por toda a cidade. Justo então o filho jovem do mercador entrava em Benares ; e escutando a proclamação, aproximou-se do cortesão e disse, “Posso dar notícias de um tal cervo ao rei ; leve-me em sua presença.” O cortesão desmontou do elefante e o levou para diante do rei, dizendo, “Este homem, meu senhor, diz que pode te dar notícias do cervo.” cotejou o rei, “É verdade, cara ?” “É verdade, Ó grande rei ! me darás toda aquele a honra.” E recitou a segunda estrofe :

Te trago notícias do cervo, primoroso entre todos da raça :
Belas mulheres e uma cidade escolhida dê-me por prêmio.

O rei ficou feliz quando escutou estas palavras do amigo traidor. “Vamos,” disse ele, “onde este cervo pode ser encontrado ?” “Em tal e tal lugar, meu senhor,” ele respondeu e declarou o caminho que deviam fazer. Com um grande séquito fez o traidor de guiá-lo até o lugar e então disse, “Ordene que o exército pare.” Quando o exército foi feito estacionar, ele seguiu apontando com a mão, “Há um cervo dourado lá naquele lugar :” e repetiu a terceira estrofe :

Dentro daquela moita de flores de salgueiro e manga, onde o chão
É todo vermelho qual cochonilha, este cervo será encontrado.

Quando o rei escutou estas palavras, disse para seus cortesãos,”Não deixem o cervo escapar mas com toda a velocidade façam um círculo ao redor do bosque, homens com armas nas mãos.” Eles fizeram isto e fizeram um clamor. O rei com um certo número de pessoas estava de pé à parte e o traidor também não estava distante. O Grande Ser escutou o som e pensou, “É o som de uma grande hoste, portanto devo me precaver deles.” Ele levantou-se e espreitando toda a companhia percebeu o lugar onde o rei estava. “Onde está o rei,” ele pensou, “estarei a salvo e para lá devo ir;” e correu na direção do rei. Quando o rei o viu vindo, disse, “Uma criatura forte como um elefante derrubaria tudo pelo caminho. Colocarei uma flecha na corda e amedrontarei o animal ; se ele correr o acertarei e o tornarei fraco de modo que possa pegá-lo.” Então acordoando seu arco, permaneceu olhando o Bodhisatva.

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Para explicar este assunto, o Mestre repetiu um par de estrofes :

Para frente ele foi : o arco estava curvado, a flecha na corda ;
Quando então de longe o cervo gritou, enquanto contemplava o rei :

Ó senhor dos aurigas, grande rei, pare ! E não faça ferimento :
Quem te trouxe notícias, que aqui seria encontrado este cervo ?

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O rei ficou encantado com a sua voz melíflua ; deixou cair o arco e ficou parado em reverência. O Grande Ser aproximou-se do rei e conversou agradavelmente com ele, permanecendo em um dos lados. Toda a hoste também largou as armas e aproximou-se cercando o rei. Naquele momento o Grande Ser fez sua pergunta ao rei com voz doce ( era como o tilintar de um sino dourado ) : “Quem te trouxe a notícia de que aqui este cervo seria encontrado ?” Justo então o homem mau aproximou-se e ficou escutando. O rei apontou-o dizendo “Foi ele que me informou,” e recitou a sexta estrofe :

Aquele homem de pecado, meu amigo valioso, lá está parado,
Ele me trouxe a notícia, que aqui o cervo seria encontrado.

Escutando isto, o Grande Ser censurou seu amigo traidor e dirigindo-se ao rei recitou a sétima estrofe :

Sobre a terra há muitas pessoas, de quem o provérbio é verdadeiro :
É melhor salvar um tronco afundando que alguém como tu.

Quando escutou isto o rei repetiu outra estrofe :

Quem é este que culpas por isto, Ó cervo ?
É alguma pessoa, animal ou pássaro ?
Estou possuído por um temor imenso
Por esta tua fala humana que escutei por último.

Com isto o Grande Ser respondeu, “Ó grande rei, não culpo animal, nem culpo pássaro mas um homem :” para explicar o quê ele repetiu a nona estrofe :

Salvei-o certa vez quando quase se afogava
Na rápida maré cheia que o carregava para baixo :
E agora estou em perigo por causa disto.
Vá com o fraco e certifique-se de castigá-lo.

O rei quando escutou isto ficou irado com o sujeito.”O quê ?” cotejou ele, “não reconhecer seus méritos após um tal bom serviço ! Vou atirar nele e matá-lo !“E então falou a décima estrofe :

Esta voadora de quatro asas deixarei voar,
E o atravessarei no coração ! Que ele pereça,
O mau em sua traição,
Quem por tal gentileza feita nenhuma gratidão nutre !

Então o Grande Ser pensou, “Não o deixarei perecer por minha causa,” e falou a estrofe onze :

Vergonha para tolo,Ó rei, realmente !
Mas nenhuma pessoa boa aprova a morte ;
Deixe o tratante ir, e lhe dê o prêmio,
Realizando tudo que a ele prometeste :
E te ajudarei em tua necessidade.
O rei ficou muito feliz de escutar isto, e louvando-o pronunciou a próxima estrofe :

Este cervo é realmente bom,
Não querendo pagar o mal com o mal,
Deixem o miserável ir ! Dou a ele o prêmio,
Cumprindo tudo que lhe prometi.
E você vá onde desejares – vá rápido !

Com isto o Grande Ser disse,”Ó poderoso rei, as pessoas dizem uma coisa com os lábios e fazem outra;” para expor o assunto recitando duas estrofes :

O grito do chacal e dos pássaros é entendido com facilidade ;
Sim, mas as palavras das pessoas, Ó rei, é mais difícil que estes.

Uma pessoa pode pensar, 'este é meu amigo, meu camarada, meu parente' ;
Mas amizade vai e geralmente ódio e inimizade começam.

Quando o rei escutou estas palavras, ele respondeu, “Ó rei dos cervos ! Não suponho que sou alguém deste tipo ; pois não negarei o dom que te prometi, nem mesmo se perder o reino por isto. Creia-me.” E deu a ele a escolha de um dom. O Grande Ser aceitou este dom das mãos dele e escolheu isto : Que todas as criaturas, começando por ele mesmo fossem livres de perigo. Este dom o rei concedeu e então o levou de volta para a cidade de Benares e tendo adornado e decorado a cidade e o Grande Ser também, o fez discursar para a rainha sua esposa. O Grande Ser discursou para a rainha e depois para o rei e toda a corte com voz humana doce qual mel ; ele aconselhou o rei a praticar fielmente as dez Virtudes dos Reis e confortou a grande multidão e então retornou para a floresta onde habitou com uma horda de cervos.
O rei enviou um tambor bater ao redor da cidade, esta proclamação : “Dou proteção a todas as criaturas !” A partir daquele momento em diante ninguém ousaria nem mesmo levantar as mãos contra um animal ou pássaro.
Hordas de cervos devoravam as colheitas agrícolas humanas e ninguém era capaz de desviá-las. Uma multidão reuniu-se na corte do rei e reclamou.
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Para tornar isto claro, o Mestre repetiu a seguinte estrofe :

O povo do campo e da cidade foram todos diretos até o rei :
Os cervos estão comendo nossa colheita : que o rei evite isto !

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Escutando isto, o rei recitou um par de estrofes :

Seja este o desejo do Povo ou não, mesmo que meu reino cesse,
Não posso errar com o cervo, a quem prometi vida e paz.

O Povo pode me abandonar, meu poder real pode acabar,
O dom que prometi ao cervo real nunca vou negar.

O Povo escutou as palavras do rei e vendo-se impotentes em dizer algo, partiram. Esta fala foi espalhada para todo lado. O Grande Ser a escutou e reunindo todos os cervos, deu sua ordem a eles : “A partir deste momento vocês não devem devorar as colheitas das pessoas.” Ele então enviou uma mensagem aos homens, que cada um deveria levantar uma placa em suas terras. Os homens fizeram isto ; e com aquele sinal até ho-je mesmo os cervos não devoram as colheitas.

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Quando o Mestre terminou este discurso,ele disse, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Devadatra foi ingrato ;” e então ele identificou o Jataka : “Naquele tempo, Devadatra era o filho do mercador, Ananda era o rei e eu mesmo era o cervo.” 

 

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