Desenho
reproduzindo imagens da caverna XVII de Ajanta que ilustram este
Jataka feitos por Monika Zin baseados em rascunhos preliminares de
Matthias Helmdach em Dieter Schlingloff, Guide to Ajanta Paintings,
MM Publishers, New Delhi, 1999.
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“Venha, nobre
Ganso...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana
sobre o Dalhadhamma Suttanta ou a Parábola dos Homens Fortes.
O Abençoado disse : “Suponha, Irmãos, quatro
arqueiros nos quatro cantos, pontos, cardiais, homens fortes, bem
treinados e de grandes habilidades, perfeitos no arco e flecha ; e
então deixe um homem vir e dizer, 'Se estes quatro arqueiros,
fortes, bem treinados, e de grande habilidade, perfeitos no arco e
flecha, atirarem flechas dos quatro cantos, apanharei estas flechas
enquanto são atiradas e antes delas tocarem o chão' :
vocês não concordariam, com toda certeza, que deve ser
um homem muito rápido e a perfeição da rapidez ?
Bem, Irmãos, grande como a rapidez de tal homem pode ser,
grande como a rapidez do sol e da lua, há algo mais rápido
: grande, digo, Irmãos, qual a rapidez de tal homem possa
ser, grande qual a rapidez do sol e da lua e apesar dos deuses voarem
mais rápido que o sol e a lua, há algo mais rápido
que os deuses : grande, Irmãos, como a rapidez de tal homem (
e assim por diante ), ainda mais rápido que os deuses podem
ir, os elementos fazem a vida decair. Portanto, Irmãos, vocês
devem aprender isto, sejam cuidadosos ; verdadeiramente digo a vocês,
isto vocês devem aprender.” Dois dias após este
ensinamento, falando sobre isto no Salão da Verdade :
“Irmãos, o Mestre, em seu lugar peculiar de Buddha,
ilustrando a natureza do que faz a vida, mostrou-a ser transitória
e fraca e atingiu com temor extremo Irmãos e inconversos
semelhantemente. Oh, o poder de um Buddha !” O Mestre entrando
questionou sobre o que conversavam. Eles disseram ; e ele falou, “Não
é nenhuma maravilha, Irmãos, se em minha omnisciência
alerto os Irmãos com meu ensino e mostro como transitórios
são os elementos da vida. Mesmo eu, quando sem causa natural
fui concebido como um Ganso, mostrei a natureza transitória
dos elementos da vida e com meu ensino alertei toda a corte de um
rei, junto com o rei de Benares mesmo.” Assim falando, ele contou
uma história do passado.
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Certa
vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Grande Ser nasceu como
um rápido Ganso, que viveu no Monte Cittakuta em um bando de
noventa mil outros tais Gansos. Um dia, tendo, junto com seu bando,
comido arroz selvagem que crescia em um certo lago nas planícies
da Índia, voou pelos ares ( e foi como se uma esteira dourada
houvesse se espalhado de uma extremidade a outra da cidade de Benares
) e voou lentamente por esporte para Cittakuta. Bem, o rei de Benares
o viu ; e disse a seus cortesãos, “Aquele pássaro lá
deve ser rei como eu sou.” Ele gostou do pássaro e pegando
guirlandas, perfumes e unguentos, saiu em busca do do Grande Ser ; e
com ele fez com que fosse junto todo tipo de música. Quando o
Grande ser o viu fazendo honra desta maneira, perguntou aos outros
Gansos, “Quando um rei faz tal honra para mim, o quê será
que ele quer ?” “Ele quer fazer amizade contigo, meu senhor.”
“Bem, que eu seja amigo do rei,” respondeu ; e fez amizade com o
rei e retornou.
Um dia
depois disso, quando o rei estava no parque e foi para o Lago
Anotatta, o pássaro voou até o rei, tendo água
numa asa e pó de sândalo na outra ; com àgua
aspergiu o rei e jogou o pó sobre ele, e então
enquanto a companhia olhava, voou para Cittakuta com seu bando. A
partir daquele momento o rei passou a ter saudade do Grande Ser ;
demorava-se olhando o caminho pelo qual ele veio e pensava - “Ho-je
meu camarada virá.”
Bem os dois
Gansos mais jovens pertencentes ao bando do Grande Ser, resolveram
apostar uma corrida de vôo com o Sol. “Meus jovens,”
cotejou ele, “a velocidade do sol é rápida e vocês
nunca serão capazes de apostar corrida com ele. Vocês
vão perecer durante o percurso portanto não vão.”
Uma segunda vez eles pediram e uma terceira ; mas o Bodhisatva os
conteve até a terceira vez que pediram. Mas eles teimaram não
conhecendo a própria força e estavam resolvidos de, sem
falar com o rei, voar até o sol. Assim, antes do sol nascer,
eles tomaram seus lugares no pico do Monte Yugandhara ( n. do tr. :
uma das sete grandes cordilheiras que circunda o Monte Meru ). O
Grande Ser perdeu-os de vista e perguntou onde teriam ido. Quando
escutou o quê tinha acontecido, pensou, “Nunca serão
capazes de voar com o sol
e vão perecer no percurso. Salvarei a vida deles.” Assim
ele também foi para o pico do Yugandhara e sentou do lado
deles. Quando o círculo do sol se apresentou acima do
horizonte, os jovens Gansos levantaram-se e arremessaram-se na
direção do sol ; o Grande Ser voou junto com eles. O
mais novo voou na direção de antes do meio dia, e então
foi ficando fraco ; nas juntas das suas asas sentiu como se um fogo
tivesse sido acesso. Então fez um sinal para o Grande Ser :
“Irmão, não vou conseguir !” “Nada tema,”
disse o Grande Ser, “vou te salvar;” e tomando-o em suas asas
abertas, o acalmou e transportou para o Monte Cittakuta e o colocou
no meio dos Gansos. Partiu então novamente e alcançando
o sol, voou lado a lado com o outro. Até próximo ao
meio dia o outro voou junto com o sol e então ficou fraco e
sentiu como se um fogo estivesse acesso nas juntas das suas asas.
Fazendo um sinal para o Grande Ser, ele gritou, “Irmão, não
vou conseguir !” A ele também o Grande Ser confortou do
mesmo modo e tomando-o em suas asas abertas, o carregou até
Cittakuta. Naquele momento o sol estava no prumo acima da cabeça.
O Grande Ser pensou, “Ho-je vou testar a força do sol ;”
e arremessando-se em um mergulho, pendurou-se no Yugandhara. Então
com uma investida alcançou o sol e voando na frente e atrás,
pensou consigo mesmo, “Para mim voar com o sol não tem
nenhum ganho mas é apenas loucura : o quê ele significa
para mim ? Vou até Benares, e lá, falar para meu
camarada o rei uma mensagem de verdade e retidão.” Girando
então, antes que o sol se movesse do meio do céu, ele
atravessou todo o mundo de uma extremidade à outra ; depois
diminundo a velocidade, atravessou de
uma extremidade a outra, toda a Índia e chegou por fim à
Benares. Toda a cidade , doze léguas de circunferência,
estava como se sob a sombra do pássaro, não havendo
quebra ou fresta ; diminuindo então gradativamente a
velocidade, buracos e frestas apareceram. O Grande Ser indo mais
devagar e descendo dos ares, pousou em frente a uma janela. “Meu
camarada veio !” gritou o rei com grande alegria ; e pegando um
assento dourado para o pássaro se pendurar, disse, “Venha
amigo, sente aqui,” e recitou a primeira estrofe :
Venha,
nobre Ganso, sente aqui ; ver você é um prazer ;
Agora você
é o senhor deste lugar ; escolha o que quiseres.
O Grande Ser
pendurou-se no assento dourado. O rei o ungiu debaixo das asas com
unguentos refinados cem vezes, não, mil vezes, deu a ele arroz
doce e água açucarada em um prato dourado e conversou
com ele numa voz melíflua - “Bom amigo, vieste sozinho ; de
onde estás vindo ?” O pássaro contou para ele toda a
história, largamente. Disse o rei então para ele :
“Amigo, mostre-me também tua velocidade contra a do sol.”
- “Ó poderoso rei, esta velocidade não pode ser
mostrada.” - “Então mostre algo parecido.” - “Muito
bem, Ó rei, mostrarei algo parecido. Reúna seus
arqueiros que podem atirar rápido como um relâmpago.”
O rei mandou chamá-los. O Grande Ser escolheu quatro destes
e com eles desceu do palácio para o paço. Lá
fez com que erguesse no chão uma coluna de pedra e se
amarrasse no seu próprio pescoço um sino. Ele então
pendurou-se no topo do pilar de pedra e colocou os quatro arqueiros
nos pontos cardiais a partir do pilar no centro e disse, “Ó
rei, que estes quatro homens atirem quatro flechas ao mesmo tempo em
quatro direções diferentes e eu apanharei estas flechas
antes que toquem no chão e as colocarei aos pés dos
atiradores. Você saberá quando eu tiver ido pegar as
flechas, pelo tilintar deste sino mas eu não serei visto.”
Então todos os homens ao mesmo tempo atiraram as quatro
flechas ; ele as pegou e as colocou aos pés deles e foi visto
sentando-se sobre o pilar. “Viu minha velocidade, Ó rei ?”
ele perguntou ; então continuou - “esta velocidade, Ó
grande rei, não é a minha mais rápida nem minha
velocidade mediana, é a mais lenta das lentas : e isto mostra
para você como sou rápido .” Então o rei
perguntou, “Bem, amigo, há alguma velocidade mais rápida
do que esta sua ?” “Há, meu amigo. Mais rápida
cem vezes que a minha mais rápida, mil vezes, não, cem
mil vezes, é o decaimento dos elementos da vida nos seres
vivos : assim eles se desmoronam, assim se destroem.” Deste modo
tornou claro, como o mundo das formas se desmorona, se desfazendo
momento a momento. O rei escutando isto ficou com medo da morte, não
conseguiu manter os sentidos e caiu desmaiado. A multidão se
desesperou ; aspergiram água na face do rei e deram uma volta
com ele. Então o Grande Ser disse, “Ó grande rei,
nada tema ; mas lembre da morte. Ande retamente, faça ofertas
e atos de bondade, cuide-se.” Respondendo o rei disse, “Meu
senhor, sem um professor sábio como você não
posso viver, não retorne para o monte Cittakuta mas fique
aqui, me instrua, seja meu professor a me ensinar !” e colocou em
duas estrofes seu pedido :
Escutando
o amado, o amor é alimentado,
Pela
vista o anseio pelo perdido, cae morto :
Já
que vista e ouvido tornam as pessoas felizes e queridas,
Com a
vista tua deixe-me ser favorecido.
Cara é
tua voz e mais querida ainda tua presença quando a vejo :
Já
então que amo te ver, Ó Ganso, more comigo !
O Bodhisatva disse :
Para
sempre moraria contigo, com honra assim conferida;
Mas tu poderias
dizer, bêbado, um dia – 'Assem para mim aquele Pássaro
real' !
“Não,”
disse o rei, “então nunca tocarei em vinho nem em bebida
forte,” e ele fez esta promessa na estrofe seguinte :
Amaldiçoada
a comida e bebida qu'eu ame mais que a ti ;
Não
provarei nem uma gota nem um gole enquanto estiveres comigo !
Após isto o
Bodhisatva recitou seis estrofes :
O grito
dos chacais ou dos pássaros é entendido com facilidade
;
Sim, mas a palavra
dos homens, Ó rei, é muito mais escura do que a destes
!
Um homem pode
pensar, 'este é meu amigo, meu camarada, meu parente,'
Mas amizade vae
e frequentemente ódio e inimizade começam.
Quem está
em teu coração, está próximo de ti,
contigo, onde quer que esteja ;
Mas quem mora
contigo, e é estranho a teu coração, longe está.
Quem em tua
casa for de coração gentil
É
gentil ainda que do outro lado do mar :
Quem em tua
casa for hostil de coração,
Hostil
será como se um oceano distante.
Teus inimigos, Ó
senhor de carruagens ! apesar de próximos de ti, estão
distantes :
Mas, Ó
cuidador de teu reino ! os bons de coração estão
unidos juntos.
Quem fica muito
tempo, descobre geralmente que amizade muda para inimizade ;
Então
antes qu'eu perca tua amizade, peço licença e vou.
O rei então
disse para ele :
Ainda
que de mãos postas suplique, você não me dará
ouvidos ;
Não
economizaste nenhuma palavra conosco, para quem teu serviço
seria caro :
Anelo um
favor : volte novamente e nos visite aqui.
O Bodhisatva disse
:
Se nada
vier interromper nossas vidas, Ó rei ! Se você e eu
Ainda
vivermos, Ó cuidador de teu povo, talvez para cá voe,
E
podemos nos ver novamente, enquanto os dias e noites passam.
Com esta fala ao rei,
o Grande Ser partiu para Cittakuta.
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Quando o Mestre
terminou seu discurso, disse : “Assim, Irmãos, muito tempo
atrás, mesmo quando nasci qual um dos animais, mostrei a
fragilidade de todos os elementos da vida e declarei a Verdade.”
Assim falando, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Ānanda
era o rei, Moggaallāna era o
pássaro mais jovem, Sāriputra
o segundo, os seguidores do Buddha eram todos os outros Gansos do
bando e eu mesmo era o rápido Ganso.”
[ n. do tr. : o pássaro pode ser imagem do fogo do sacrifício, o quê explica sua velocidade e centralidade assim como a impermanência dos elementos do mundo desenvolvida como tema. ]
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