terça-feira, 28 de janeiro de 2014

475 Buddha Árvore





[ Primeira cena : “Não devemos nos surpreender do próximo painel noos trazer de volta após um longo intervalo a Kapilavastu e nos mostrar de seu modo o 'Buddha perfeitamente realizado' retornar para sua cidade nativa pregando sua doutrina na Nyagrodha-arama. A árvore central apenas não seria suficiente para identificar a cena em que o Abençoado prega em uma assembleia de nobres Sakya com seu pai Suddhodana de chefe; o que finalmente a determina para nós é o carácter aristocrático e particularmente a atitude reverente da numerosa audiência. É claro que todos estes grandes personagens, sentados à maneira indiana em almofadas, estão escutando muito devotamente uma homilia. Podemos adicionar que o desenho de cima do mesmo modo acontece em Kapilavastu assim como o proximo painel com a mesma nyagrodha, a mesmo trono no topo do qual esta o Abençoado.”
Segunda cena : “o retorno a Kapilavastu ; a identificação parece certa ; atrás do Rei Suddhodana pode-se ver mulheres carregando o parassol e o abanador, uma terceira mulher ajudando e as cabeças de dois cortesãos. Acima, um dos três veneradores sobrenaturais, diferente dos usuais kinnaras, parece ser um Devaputra ou Yaksha em forma humana, montado em um leão alado. A cankrama ( trave horizontal ) simboliza a ponte entre o céu e a terra.” sir John Marshall, The monuments of Sañchi, Swati Publications, Delhi, 1983.

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        “Ó homem, que estás...etc.” - Esta história o Mestre contou às margens do rio Rohini, sobre uma briga de família. As circunstâncias serão descritas largamente no Jataka 536. Nesta ocasião o Mestre dirigiu-se aos seus parentes e disse :
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Certa vez, quando Brahmadatra era rei de Benares, havia fora da cidade uma vila de carpinteiros. Nela havia um carpinteiro brahmin, que ganhava a vida trazendo madeira da floresta e construindo carroças.
Naquele tempo havia uma grande árvore espatódea na região do Himalaia. Um Leão negro costumava ir e deitar nas suas raízes quando caçando para comer. Um dia um vento atingiu a árvore e um galho seco caiu e atingiu seu ombro. O choque doeu e rapidamente, temeroso, levantou e afastou-se ; então virando, olhou o caminho pelo qual viera e não vendo nada pensou, “Não há nenhum outro leão ou tigre, nem ninguém perseguindo. Bem, me parece, que a deidade daquela árvore não me quer deitado lá. Descobrirei se é isto.” Assim pensando, ele ficou irado fora da hora, e bateu n'árvore e gritou - “Não comi nenhuma folha da tua árvore, nem quebrei nenhum galho ; você pode aguentar outras criaturas morando aqui e não pode me aguentar ! O quê há de errado comigo ? Espere alguns dias e te cortarei pela raiz e pelos galhos, te picando em pedaços pequenos !” Assim ele repreendeu a deidade da árvore e partiu em busca de um homem.
Naquele tempo o carpinteiro brahmin falado acima com outros dois ou três homens, veio com uma carroça para aquela vizinhança para conseguir madeira para seu comércio de carroças. Ele deixou sua carroça em certo lugar e com enxó e machadinha nas mãos foi em busca de árvores. Aconteceu de aproximar-se desta espatódea. O Leão vendo-o, foi e ficou debaixo d'árvore pois pensava, “Ho-je devo ver as costas do meu inimigo !” Mas o artesão olhando para um lado e outro fugiu da vizinhança da árvore. “Falarei com ele antes que se afaste demais,” pensou o Leão e repetiu a primeira estrofe :
Ó homem, que estás com machado nas mãos, rondando nesta floresta,
Venha diga-me a verdade, te pergunto, que árvore queres ?

Olhem, um milagre !” respondeu o homem, escutando esta fala, “Juro nunca tinha visto ainda qualquer animal que pudesse falar como ser humano. Claro que ele sabe que tipo de madeira é boa para construção de carroça. Perguntarei a ele.” Assim pensando, repetiu a segunda estrofe :

Acima na montanha, abaixo no vale, pela planície, um rei você percorre a floresta :
Vamos diga-me a verdade que te pergunto – que árvore é boa para rodas ?

O Leão escutou e disse para si mesmo, “Agora conquistarei o desejo do meu coração !” e repetiu a terceiro estrofe :

Nem salgueiro, nem acácia, nem 'orelha de égua', muito menos arbusto é bom ;
Há uma árvore que chamam espatódea e aquela é a melhor madeira de roda.

O homem ficou feliz de escutar isto e pensou, “Um feliz dia me trouxe para a floresta. Aqui está uma criatura na forma de um animal me dizendo qual a melhor madeira para construir carroça ! Isto é bom !” Então questionou o Leão com a quarta estrofe :

Qual a forma das folhas, e o tronco de que tipo parece,
Vamos, diga-me a verdade, te pergunto, para que possa conhecer àrvore ?

Em resposta o Leão repetiu duas estrofes :

Esta é a árvore cujos ramos você vê curvar, dobrar mas nunca quebrar ;
Esta espatódea em cujas raízes fiz meu lugar de parada.

Para raios e aro, eixo do carro ou roda ou qualquer parte,
Esta espatódea fará para ti na construção de carroça.

Após esta declaração, o Leão afastou-se, alegre de coração. O artesão começou a derrubar àrvore. Então a deidade d'árvore pensou, “Nunca joguei nada naquele animal ; ele ficou irado no momento errado e agora está fazendo com que destruam minha casa e eu também serei destruído. Devo descobrir um jeito de destruir sua majestade.” Então assumindo a forma de um madeireiro, aproximou-se do artesão e disse para ele, “Ó cara ! É uma bela árvore que você tem aí ! O quê fará com ela quando estiver derrubada ?” - “Farei uma roda de carroça.” - “O quê?! Alguém te disse que esta árvore é boa para roda ?” “Sim, um Leão preto.” -”Muito bom, falou bem o Leão preto. Você pode fazer uma carroça boa com esta árvore disse ele. Mas te digo que se você esfolar a pele do pescoço de um leão preto e colocá-la ao redor da borda exterior da roda, como um revestimento de ferro, apenas uma tira de quatro dedos de largura, a roda ficará muito forte e você fará um grande negócio com isto.” -”Mas onde conseguirei uma pele de leão preto ?” -”Como és estúpido ! Àrvore permanecerá na floresta e não fugirá. Vá e encontre o leão que te falou sobre esta árvore e pergunte a ele em que parte da árvore deves cortar e traga-o aqui. Então enquanto ele não suspeita de nada e aponta um lugar ou outro, espere até ele esticar as mandíbulas e atinja-o enquanto ele fala com o machado mais afiado , mate-o, tire a pele, coma o melhor da carne e derrube a árvore quando oportuno.” Assim ele deu vazão à sua cólera.
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Para explicar o assunto, o Mestre repetiu as seguintes estrofes :

Assim certa vez a espatódea tornou clara sua vontade e desejo :
Também tenho uma mensagem para falar : escute Ó Bharadvaja !

Do ombro do rei dos animais corte fora uma pele de quatro dedos de largura,
E coloque na borda da roda, para ela ficar mais forte.

Assim em um instante a espatódea, indulgindo em sua ira,
Trouxe destruição medonha para leões nascidos e não nascidos.

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O artesão de carroças escutando as orientações da deidade d'árvore, gritou, “Ah, este é um dia de sorte para mim !” Ele matou o Leão, cortou àrvore e foi embora.

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O Mestre explicou a matéria recitando :

Então a espatódea brigou com a besta e a besta brigou com a espatódea,
E cada um em disputa mútua enviou o outro à morte.

Do mesmo modo entre as pessoas, onde quer que rixa ou querela surja,
Como a besta e àrvore fizeram agora, cortem a dança qual pavão inteligente.
[n. do tr.: alusão ao Jataka 32 ]

Digo isto a vocês : que sempre estão bem os que estão unidos :
Sejam concordes e não briguem, qual besta e árvore fizeram.

Aprendam a viver em paz com todas as pessoas ; todos os sábios louvam isto
E quem deseja paz e justiça, certamente atingirá a paz final.

Quando escutaram o discurso real do Buddha, se reconciliaram.

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O Mestre, tendo terminado este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo, eu era a deidade que vivia na floresta e viu todo o negócio.”

[ n. do tr.: procurando as fábulas de Esopo referentes a este Jataka encontramos as de números 85 e 86 :
85 O lavrador e a árvore
Nos campos de um lavrador, havia uma árvore que não tinha frutos mas servia apenas como refugiu de pardais e de cigarras barulhentas. O lavrador, como a árvore era estéril, resolveu cortá-la. E então, tendo pego o machado, deu o primeiro golpe. As cigarras e os pardais puseram-se a suplicar que não abatesse o seu abrigo mas que o deixasse para que pudesse nele cantar e distrair o lavrador. O lavrador, sem se preocupar com eles, aplicou o golpe uma segunda e uma terceira vez. Como fizessem um buraco n'árvore, encontrou um enxame de abelhas e mel. Experimentou-o, atirou o machado fora e passou a honrar àrvore, como se fosse sagrada, e a tomar conta dela.

86 Os filhos do lavrador desunidos
Os filhos de um lavrador viviam brigando. E ele, apesar de muito tentar, com suas palavras não conseguia persuadi-los a mudarem. Sentiu que era preciso fazer isto por meio de atitudes e pediu-lhes que trouxessem um feixe de varas. Então primeiro lhes deu as varas reunidas e ordenou que as quebrassem. Apesar de todo o esforço, eles não conseguiram. Em seguida, tendo desatado os feixes deu-lhes as varas uma a uma. Como ele as quebrassem facilmente, disse : 'Pois bem, vocês também, filhos, se ficarem unidos, serão invencíveis aos inimigos mas se se dividirem, serão facilmente vencidos'. ] 
 

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