[
Primeira cena : “Não devemos nos surpreender
do próximo painel noos trazer de volta após um longo
intervalo a Kapilavastu e nos mostrar de seu modo o 'Buddha
perfeitamente realizado' retornar para sua cidade nativa pregando sua
doutrina na Nyagrodha-arama.
A árvore central apenas não seria suficiente para
identificar a cena em que o Abençoado prega em uma assembleia
de nobres Sakya com seu pai Suddhodana de chefe; o que finalmente a
determina para nós é o carácter aristocrático
e particularmente a atitude reverente da numerosa audiência. É
claro que todos estes grandes personagens, sentados à maneira
indiana em almofadas, estão escutando muito devotamente uma
homilia. Podemos adicionar que o desenho de cima do mesmo modo
acontece em Kapilavastu assim como o proximo painel com a mesma
nyagrodha, a mesmo
trono no topo do qual esta o Abençoado.”
Segunda
cena : “o retorno a Kapilavastu ; a identificação
parece certa ; atrás do Rei Suddhodana pode-se ver mulheres
carregando o parassol e o abanador, uma terceira mulher ajudando e as
cabeças de dois cortesãos. Acima, um dos três
veneradores sobrenaturais, diferente dos usuais kinnaras,
parece ser um Devaputra
ou Yaksha
em forma humana, montado em um leão alado. A cankrama
( trave horizontal ) simboliza a ponte entre o céu e a
terra.” sir John
Marshall, The monuments of Sañchi,
Swati Publications, Delhi, 1983.
475
“Ó homem,
que estás...etc.” - Esta história o Mestre contou às
margens do rio Rohini, sobre uma briga de família. As
circunstâncias serão descritas largamente no Jataka 536.
Nesta ocasião o Mestre dirigiu-se aos seus parentes e disse :
___________________
Certa
vez, quando Brahmadatra era rei de Benares, havia fora da cidade uma
vila de carpinteiros. Nela havia um carpinteiro brahmin, que ganhava
a vida trazendo madeira da floresta e construindo carroças.
Naquele
tempo havia uma grande árvore espatódea na região
do Himalaia. Um Leão negro costumava ir e deitar nas suas
raízes quando caçando para comer. Um dia um vento
atingiu a árvore e um galho seco caiu e atingiu seu ombro. O
choque doeu e rapidamente, temeroso, levantou e afastou-se ; então
virando, olhou o caminho pelo qual viera e não vendo nada
pensou, “Não há nenhum outro leão ou tigre,
nem ninguém perseguindo. Bem, me parece, que a deidade daquela
árvore não me quer deitado lá. Descobrirei se é
isto.” Assim pensando, ele ficou irado fora da hora, e bateu
n'árvore e gritou - “Não comi nenhuma folha da tua
árvore, nem quebrei nenhum galho ; você pode aguentar
outras criaturas morando aqui e não pode me aguentar ! O quê
há de errado comigo ? Espere alguns dias e te cortarei pela
raiz e pelos galhos, te picando em pedaços pequenos !”
Assim ele repreendeu a deidade da árvore e partiu em busca de
um homem.
Naquele
tempo o carpinteiro brahmin falado acima com outros dois ou três
homens, veio com uma carroça para aquela vizinhança
para conseguir madeira para seu comércio de carroças.
Ele deixou sua carroça em certo lugar e com enxó e
machadinha nas mãos foi em busca de árvores. Aconteceu
de aproximar-se desta espatódea. O Leão vendo-o, foi e
ficou debaixo d'árvore pois pensava, “Ho-je devo ver as
costas do meu inimigo !” Mas o artesão olhando para um lado
e outro fugiu da vizinhança da árvore. “Falarei com
ele antes que se afaste demais,” pensou o Leão e repetiu a
primeira estrofe :
Ó
homem, que estás com machado nas mãos, rondando nesta
floresta,
Venha
diga-me a verdade, te pergunto, que árvore queres ?
“Olhem, um milagre !”
respondeu o homem, escutando esta fala, “Juro nunca tinha visto
ainda qualquer animal que pudesse falar como ser humano. Claro que
ele sabe que tipo de madeira é boa para construção
de carroça. Perguntarei a ele.” Assim pensando, repetiu a
segunda estrofe :
Acima na montanha,
abaixo no vale, pela planície, um rei você percorre a
floresta :
Vamos diga-me a
verdade que te pergunto – que árvore é boa para rodas
?
O Leão
escutou e disse para si mesmo, “Agora conquistarei o desejo do meu
coração !” e repetiu a terceiro estrofe :
Nem salgueiro,
nem acácia, nem 'orelha de égua', muito menos arbusto é
bom ;
Há uma
árvore que chamam espatódea e aquela é a melhor
madeira de roda.
O homem ficou
feliz de escutar isto e pensou, “Um feliz dia me trouxe para a
floresta. Aqui está uma criatura na forma de um animal me
dizendo qual a melhor madeira para construir carroça ! Isto é
bom !” Então questionou o Leão com a quarta estrofe
:
Qual a
forma das folhas, e o tronco de que tipo parece,
Vamos, diga-me a
verdade, te pergunto, para que possa conhecer àrvore ?
Em resposta o Leão
repetiu duas estrofes :
Esta é
a árvore cujos ramos você vê curvar, dobrar mas
nunca quebrar ;
Esta
espatódea em cujas raízes fiz meu lugar de parada.
Para raios
e aro, eixo do carro ou roda ou qualquer parte,
Esta
espatódea fará para ti na construção de
carroça.
Após esta
declaração, o Leão afastou-se, alegre de
coração. O artesão começou a derrubar
àrvore. Então a deidade d'árvore pensou, “Nunca
joguei nada naquele animal ; ele ficou irado no momento errado e
agora está fazendo com que destruam minha casa e eu também
serei destruído. Devo descobrir um jeito de destruir sua
majestade.” Então assumindo a forma de um madeireiro,
aproximou-se do artesão e disse para ele, “Ó cara !
É uma bela árvore que você tem aí ! O quê
fará com ela quando estiver derrubada ?” - “Farei uma roda
de carroça.” - “O quê?! Alguém te disse que
esta árvore é boa para roda ?” “Sim, um Leão
preto.” -”Muito bom, falou bem o Leão preto. Você
pode fazer uma carroça boa com esta árvore disse ele.
Mas te digo que se você esfolar a pele do pescoço de um
leão preto e colocá-la ao redor da borda exterior da
roda, como um revestimento de ferro, apenas uma tira de quatro dedos
de largura, a roda ficará muito forte e você fará
um grande negócio com isto.” -”Mas onde conseguirei uma
pele de leão preto ?” -”Como és estúpido !
Àrvore permanecerá na floresta e não fugirá.
Vá e encontre o leão que te falou sobre esta árvore
e pergunte a ele em que parte da árvore deves cortar e traga-o
aqui. Então enquanto ele não suspeita de nada e aponta
um lugar ou outro, espere até ele esticar as mandíbulas
e atinja-o enquanto ele fala com o machado mais afiado , mate-o, tire
a pele, coma o melhor da carne e derrube a árvore quando
oportuno.” Assim ele deu vazão à sua cólera.
____________________
Para
explicar o assunto, o Mestre repetiu as seguintes estrofes :
Assim certa
vez a espatódea tornou clara sua vontade e desejo :
Também
tenho uma mensagem para falar : escute Ó Bharadvaja !
Do ombro do rei
dos animais corte fora uma pele de quatro dedos de largura,
E coloque na
borda da roda, para ela ficar mais forte.
Assim em um
instante a espatódea, indulgindo em sua ira,
Trouxe
destruição medonha para leões nascidos e não
nascidos.
______________________
O artesão
de carroças escutando as orientações da deidade
d'árvore, gritou, “Ah, este é um dia de sorte para
mim !” Ele matou o Leão, cortou àrvore e foi embora.
_______________________
O
Mestre explicou a matéria recitando :
Então a
espatódea brigou com a besta e a besta brigou com a espatódea,
E cada um
em disputa mútua enviou o outro à morte.
Do mesmo modo
entre as pessoas, onde quer que rixa ou querela surja,
Como a besta e
àrvore fizeram agora, cortem a dança qual pavão
inteligente.
[n. do
tr.: alusão ao Jataka 32 ]
Digo isto a
vocês : que sempre estão bem os que estão unidos
:
Sejam
concordes e não briguem, qual besta e árvore fizeram.
Aprendam a viver
em paz com todas as pessoas ; todos os sábios louvam isto
E quem
deseja paz e justiça, certamente atingirá a paz final.
Quando escutaram o
discurso real do Buddha, se reconciliaram.
____________________
O Mestre,
tendo terminado este discurso, identificou o Jataka : “Naquele
tempo, eu era a deidade que vivia na floresta e viu todo o negócio.”
[ n. do tr.: procurando
as fábulas de Esopo referentes a este Jataka encontramos as de
números 85 e 86 :
85 O lavrador
e a árvore
Nos
campos de um lavrador, havia uma árvore que não tinha
frutos mas servia apenas como refugiu de pardais e de cigarras
barulhentas. O lavrador, como a árvore era estéril,
resolveu cortá-la. E então, tendo pego o machado, deu o
primeiro golpe. As cigarras e os pardais puseram-se a suplicar que
não abatesse o seu abrigo mas que o deixasse para que pudesse
nele cantar e distrair o lavrador. O lavrador, sem se preocupar com
eles, aplicou o golpe uma segunda e uma terceira vez. Como fizessem
um buraco n'árvore, encontrou um enxame de abelhas e mel.
Experimentou-o, atirou o machado fora e passou a honrar àrvore,
como se fosse sagrada, e a tomar conta dela.
86 Os
filhos do lavrador desunidos
Os
filhos de um lavrador viviam brigando. E ele, apesar de muito tentar,
com suas palavras não conseguia persuadi-los a mudarem. Sentiu
que era preciso fazer isto por meio de atitudes e pediu-lhes que
trouxessem um feixe de varas. Então primeiro lhes deu as varas
reunidas e ordenou que as quebrassem. Apesar de todo o esforço,
eles não conseguiram. Em seguida, tendo desatado os feixes
deu-lhes as varas uma a uma. Como ele as quebrassem facilmente, disse
: 'Pois bem, vocês também, filhos, se ficarem unidos,
serão invencíveis aos inimigos mas se se dividirem,
serão facilmente vencidos'. ]
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