quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

474 Buddha e o milagre da mangueira




( “ na imagem em pedra de Sañchi vemos a representação do grande prodígio de Sravasti no sermão junto da mangueira carregada miraculosamente debaixo do parassol real e acima do trono do Buddha invisível. As quatro pessoas sentadas em almofadas na frente são sem dúvida o Rei Prasenajit no canto direito ( esquerda do trono ) seu vicerei no canto esquerdo e dois cortesãos no meio vistos de costas. As quatro personagens de pé acima deles cujos pés tocam o chão são os Quatro Reis Guardiães do Mundo ( Lokapalas ) sendo que acima estão os deuses em fileiras nos céus com Indra e seu vicerei à direita na primeira fila e Brahma acima na segunda com os deuses das puras moradas. Os dois tambores acima anunciam para todo o universo o milagre em que Buddha faz a mangueira crescer e dar mangas diante do rei e dos seis mestres heréticos “. sir John Marshall, The Monuments of Sañchi, Swati Publications, Delhi, 1983. )

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Jovens estudantes quando...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre Devadatra. Devadatra repudiou seu professor, dizendo, “Serei o Buddha eu mesmo e Gautama o asceta não é meu professor nem monitor !” Então, levantando de sua meditação mística, causou uma brecha na Ordem. Depois passo ante passo dirigiu-se para Savatthi e do lado de fora de Jetavana a terra escancarou-se e ele desceu para o ínfero de Avici.
Então todos falavam sobre isto no Salão da Verdade : - “Irmão, Devadatra abandonou seu Professor e teve destruição medonha, nascendo na outra vida no profundo ínfero Avici !” O Mestre, entrando, perguntou o que eles falavam e eles disseram. Ele falou, - “Não apenas agora mas em dias anteriores também Devadatra abandonou seu professor e teve destruição medonha.” Assim falando ele contou uma história do passado.
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Certa vez, quando Brahmadatra era Rei de Benares, o capelão de sua família foi destruído pela malária. Um filho apenas arrebentou a parede e escapou ( ver jataka 178 ). Ele veio para Takkasila ( Taxila ) e sob um professor renomado mundialmente aprendeu todas as artes e realizações. Depois deu adeus a seu professor e partiu com a intenção de viajar para diferentes regiões ; e em sua viagens chegou a uma cidade da fronteira. Próxima dela havia um grande cidade de Candalas de casta baixa ( casta misturada como a pukkusa e portanto desprezada igual à sudra ) . Neste tempo o Bodhisatva morava nesta cidade, era um sábio letrado. Conhecia um encanto que podia fazer colher fruto fora da estação. Cedo de manhã ele pega sua vara de transporte e sai da cidade até alcançar uma mangueira que crescia na floresta ; e permanecendo sete pés de distância, ele recita o encanto e joga uma mão cheia de água que atinge àrvore. Em um instante cae a sequência de folhas, brota novas, as flores se abrem e as flores caem, as mangas crescem : e em um momento – estão maduras, são doces e suculentas, crescem qual frutos divinos e caem d'árvore ! O Grande Ser escolhe e come as que quer e depois enche as cestas que pendura na vara e vae para casa, vende a fruta e assim encontra meio de vida para a esposa e criança.
Bem, o jovem brahmin viu o Grande Ser oferecer mangas maduras para vender fora da estação. “Sem dúvida”, pensou ele, “deve ser em virtude de algum encanto que elas crescem. Este homem pode me ensinar o encanto que não tem preço.” Ele vigiou para saber o modo como o Grande Ser conseguia as frutas e descobriu exatamente. Então foi para a casa do Grande Ser no momento em que não havia retornado da floresta e fingindo que não sabia de nada, perguntou à esposa do sábio, “Onde está o Professor ?” Ela respondeu, “Foi para a floresta.” Ele permaneceu esperando até vê-lo vir e então foi até ele e pegando a vara e as cestas, carregou-as até a casa e lá as deixou. O Grande Ser olhou para ele e disse para sua esposa, “Senhora, este jovem veio para pegar o encanto ; mas nenhum encanto permanecerá com ele, pois não é pessoa boa.” Mas o jovem pensava, “Pegarei o encanto sendo empregado do meu professor “ ; e assim a partir daquele momento ele fez tudo que devia ser feito na casa : trouxe lenha, bateu o arroz, cozinhou, trouxe todo o necessário para lavar o rosto, lavar os pés.
Um dia quando o Grande Ser disse a ele, “Meu filho, traga-me um banquinho para colocar os pés” , o jovem, não vendo outro jeito, manteve os pés do Grande Ser em sua própria coxa por toda a noite. Quando em uma estação posterior a esposa do Grande Ser deu à luz um filho, ele fez todo o serviço necessário para o parto. A esposa disse um dia ao Grande Ser :- “Marido, este jovem, apesar de bem nascido, para ganhar o encanto realiza trabalhos servis para nós. Deixe-o ter o encanto, apesar de permanecer com ele ou não.” Ele concordou com isto. Ensinou o encanto e falou deste modo : “Meu filho, este é um encanto sem preço ; e você vae conseguir grande ganho e honra a partir daí. Mas quando o rei, ou seu grande ministro, perguntarem a você que foi seu professor, não esconda meu nome ; pois se você tiver vergonha que um casta baixa ensine a você um encanto e disser que seu professor era um grande magnata de brahmins, você não terá mais nenhum fruto do encanto.” “Por quê eu deveria esconder teu nome ?” respondeu o rapaz. “Sempre que perguntado direi que é você.” Ele saudou então o professor e partiu da cidade de castas baixas, ponderando sobre o encanto e no tempo devido chegou a Benares. Lá ele vendeu mangas e ganhou muita riqueza.
Bem, um dia o guardador do parque apresentou ao rei uma manga que tinha trazido dele. O rei, tendo comido ela, perguntou onde encontrara fruta tão boa. “Meu senhor,” foi a resposta, “há um jovem que traz mangas fora da estação e as vende : consegui com ele.” “Diga-lhe,” disse o rei, “para de agora em diante trazer mangas aqui para mim.” O homem fez isto ; e a partir daquele momento o jovem levou mangas para a residência do rei. O rei, convidando-o a entrar a seu serviço, tornou-se um empregado do rei ; e ganhando grande riqueza, gradualmente cresceu na confiança do rei.
Um dia o rei questionou-o e disse : - “Jovem, onde você consegue estas mangas fora da estação, tão doces, fragrantes e de belas cores ? Alguma serpente ou garula ( pássaro ) as dá para você ou um deus ou é poder mágico ?” “Ninguém as dá para mim, Ó poderoso rei !” respondeu o jovem, “mas tenho um encanto sem preço e isto é poder do encanto.” “Bem, o quê me diz de mostrar-me o poder do encanto um dia destes ?” “Sem dúvida, meu senhor, mostrarei,” respondeu ele. Dia seguinte o rei foi com ele para o parque e pediu para mostrar o encanto. O jovem estava disposto e aproximando-se da mangueira permaneceu a uma distância de sete passos dela e repetiu o encanto jogando água n'árvore. Em um instante a mangueira produziu frutos da maneira descrita acima : uma chuva de mangas caiu, uma verdadeira tempestade ; o séquito mostrou grande alegria balançando os lenços ; o rei comeu do fruto e deu a ele uma grande recompensa dizendo, “Jovem, quem te ensinou este encanto tão maravilhoso ?” Agora, pensou o jovem, se eu disser que um candala casta baixa me ensinou, serei envergonhado e zombarão de mim ; sei o encanto de cor(ação) e agora nunca poderei perdê-lo ; direi que foi um professor renomado. Então ele mentiu e disse, “Aprendi em Taxila de um professor renomado mundialmente.” Enquanto ele dizia estas palavras, negando seu professor, naquele mesmo instante o encanto foi embora. Mas o rei, grandemente agradecido, retornou com ele para a cidade.
Um outro dia o rei desejou comer mangas ; e indo até o parque sentando num banco de pedra, usado em ocasiões de estado, pediu ao jovem que pegasse mangas para ele. O jovem, propenso para tanto, foi até a mangueira e permanecendo a uma distância de sete pés d'árvore, ficou repetindo o encanto ; mas o encanto não se realizou . Então ele soube que o tinha perdido e ficou envergonhado. Mas o rei pensou, “Anteriormente este sujeito me deu mangas mesmo no meio de uma multidão e o fruto choveu qual tempestade pesada. Agora ele permanece lá igual a um poste : qual será a razão ?” O que ele inquiriu repetindo a primeira estrofe :

Jovem estudante, quanto te pedi antes
Me trouxeste manga grande e pequena :
Agora nenhum fruto, brahmin, aparece n'árvore,
Apesar do mesmo encanto reiterar !

Quando escutou isto, o jovem pensou consigo mesmo, s'eu disser que ho-je nenhum fruto haverá, o rei se encolerizará ; portanto pensou em enganá-lo com uma mentira e repetiu a segunda estrofe :

A hora e o momento não são adequados : portanto espere
A junção dos planetas no céu.
A devida conjugação e o momento se aproximam,
Então trarei mangas em abundância.

O que é isto ?” o rei cogitou. “O sujeito não disse nada de conjunção planetária antes !” Para resolver a questão, repetiu duas estrofes :

Você não disse nenhuma palavra de tempos e estações, nem
Conjunções planetárias antes disso :
Contudo mangas, fragrantes, delicadas em paladar,
De belas cores, me trouxeste em abundante estoque.

Anteriormente, brahmin, produziste tanta
Fruta n'árvore pronunciando teu encanto :
Ho-je não consegues, apesar de murmurares.
O quê significa esta conduta, vais me dizer ?

Escutando isto, o jovem pensou, “Não há como enganar o rei com mentiras. Se, quando a verdade for dita, ele me punir, que ele me puna : mas direi a verdade.” Então ele recitou duas estrofes :

Um homem de casta baixa foi meu professor, que me ensinou
Bem e devidamente o encanto e como funcionava :
Dizendo, 'Se te perguntarem meu nome e nascimento,
Nada esconda ou o encanto se desfará'.

Questionado pelo Senhor dos Homens, apesar de bem saber,
Em engano disse o quê não era verdade ;
'Encanto de um brahmin', disse mentindo ; e agora,
Encanto perdido, de minha loucura amargamente me arrependo.

Escutando isto, o rei pensou consigo mesmo, “O pecador não teve nenhum cuidado com o tal tesouro ! Quando se tem um tesouro tão precioso o que tem casta a ver com isto ?” E irado ele repetiu as seguintes estrofes :

Cânhamo, mamona ou espatódea, qualquer que seja a árvore
Onde o que procura colmeias encontra mel, é a melhor das árvores, pensa.

Seja Kshatria, Brahmin, Vaiça, aquele de quem se aprende o certo -
Sudra, Candala, Pukkusa – se mostra o principal a seus olhos.

Que se puna o mal educado sem valor, ou mesmo o mate,
Portanto arrastem-no pelo pescoço sem demora,
A quem tendo ganho um tesouro com grande esforço,
O joga fora com orgulho arrogante !

Os homens do rei fizeram isto, dizendo, “Volte a teu professor e ganho o perdão dele ; então, se conseguires ganhar o encanto outra vez podes voltar aqui de novo mas se não,
nunca mais coloque os olhos nesta terra.” Assim o baniram.
O homem era todo desespero. “Não há refúgio para mim,” ele pensou, “a não ser com meu professor. Irei até ele, ganharei seu perdão e aprenderei o encanto de novo.” Assim se lamentando seguiu seu caminho para a cidade. O Grande Ser percebendo sua chegada o apontou para a esposa dizendo, “Veja, senhora, lá vem aquele patife novamente com seu encanto perdido e saído !” O homem se aproximou do Grande Ser e o saudou sentando em um dos lados. “Por quê estais aqui ?” perguntou o outro. “Ó meu professor !” o sujeito disse, “pronunciei uma mentira e neguei meu mestre e estou completamente arruinado e defeito !” Então recitou sua transgressão em estrofe, pedindo novamente por encantos :

Frequentemente aquele que pensa em baixo nível pisa em falso,
Cae num poço, charco ou precipício, tropeça em raiz podre ;
Outro caminha no que parece corda e descobre ser serpente preta ;
Um terceiro anda no fogo porque seus olhos estão cegos :
Assim pequei e perdi meu encanto ; mas tu, mestre sábio,
Perdoe ! E deixe-me novamente encontrar favor a teus olhos !

Seu professor então respondeu, “O quê dizes, meu filho ? Dê apenas um sinal ao cego e ele se afasta de poços e semelhantes ; mas te disse uma vez e o quê queres aqui de novo ?” Então repetiu as seguintes estrofes :

A ti de modo devido contei,
A ti de modo devido ensinei, o encanto,
De boa vontade sua natureza expliquei :
Nunca teria te deixado, tivesses agido direito.

Quem com muito esforço, Ó tolo ! aprende um encanto
Difícil para aqueles que agora moram no mundo,
Então, tolo ! Ganhando por fim um meio de vida,
O joga fora porque fala mentiras,

A tal tolo, estúpido, ansioso em mentir,
Ingrato, que não consegue se conter,-
Encantos, realmente ! Encantos poderosos não se dá a este :
Saia daqui e não me peça novamente !

Assim enxotado pelo professor o sujeito pensou, “O quê é a vida para mim ?” e afundando na floresta, morreu sem esperança.
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O Mestre tendo terminado este discurso, disse, “Não apenas agora, Irmão, Devadatra negou seu professor e teve destruição medonha” ; e assim falando, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o homem ingrato, Ananda era o rei e eu mesmo o homem de casta baixa.”

  

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