quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

477 Buddha Brahma e o filho Narada



                 ( Imagem em pedra de Sañchi do Vessantara Jataka, 547, o último, em que o rei a rainha e o casal de filhos abandonam a cidade grande e vão para a floresta viver de raízes e frutos. A direita eles chegando na floresta  com a criança ainda no colo e à esquerda já sentados com as crianças debaixo da mangueira comendo manga na margem do rio que passa ; junto há animais soltos . Na extrema esquerda um ornamento de cavaleiros parece indicar que as cenas são duas )

477
           “Nenhuma lenha cortada...etc.” - A história inicial está contada no Jataka 348 que se repete no 435 e neste aqui.
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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família brâhmane de grande riqueza e após sua educação ter terminado administrava os bens. Então sua esposa deu à luz um filho e morreu. Ele pensou, “Como com minha esposa amada, também comigo a morte não terá vergonha ; o que é uma casa para mim ? Me tornarei um asceta.” Assim abandonando suas luxúrias, foi com seu filho para o Himalaia ; e lá com ele entrou para a vida ascética, desenvolveu o Transe místico e o Conhecimento transcendente e vivendo nas florestas e se alimentando de raízes e frutos.
Naquele tempo pessoas das fronteiras assolavam o campo ; e tendo assaltado uma vila e feito prisioneiros, carregado de espólios retornaram para a fronteira. Entre eles havia um garota, bonita, mas dotada com toda a esperteza da falsidade. Esta garota pensou consigo mesma, “Estes homens, quando tiverem nos levado para suas casas nos usarão como escravos ; devo encontrar um jeito de escapar.” Então ela disse, “Meu senhor, preciso me retirar um instante ; deixe-me sair um momento.” Assim enganou os ladrões e fugiu.
Bem, o Bodhisatva havia saído para catar frutas e semelhantes, deixando seu filho na cabana. Enquanto ele estava fora, esta garota, enquanto vagava sozinha pela floresta, chegou no eremitério, de manhã ; e tentando o filho do asceta com o desejo do amor, destruiu as virtudes dele e o colocou sob seu poder. Ela disse a ele, “Por quê viver aqui na floresta ? Venha vamos para a cidade e façamos uma casa para nós mesmos. Lá é fácil gozar de todos os prazeres e paixões dos sentidos.” Ele consentiu e disse, “Meu pai está agora fora na floresta procurando frutos selvagens. Quando o tivermos visto, vamos juntos embora.” Então a garota pensou, “Este jovem inocente não sabe de nada ; mas seu pai deve ter se tornado asceta em sua velhice. Quando ele chegar, vae querer saber o que faço aqui e vae me bater e me arrastar para fora pelos pés e me jogar na floresta. Vou desaparecer antes que ele chegue.” Então ela disse ao rapaz, “Eu vou primeiro e você me segue” ; anotando então os pontos de referência, ela partiu. Após ela ter ido, o rapaz ficou triste e não fez nenhuma de suas tarefas como era de costume ; mas se cobriu da cabeça aos pés e deitou dentro da cabana atormentado.
Quando o Grande Ser chegou com seus frutos selvagens, notou as pegadas da garota. “Isto é uma pegada de mulher,” pensou ele ; “a virtude do meu filho deve estar perdida.” Então ele entrou na cabana, largou as frutas selvagens e questionou seu filho repetindo a primeira estrofe :

Nenhuma lenha cortada e não trouxeste água do poço,
Nenhum fogo acesso : por que estás deitado devaneando como um louco ?

Escutando a voz de seu pai, o rapaz levantou-se e o saudou ; e com todo o respeito o fez saber que ele não podia suportar a vida na floresta, repetindo um par de estrofes :

Não posso viver na floresta : isto, Ó Kassapa, juro ;
É dura a vida na floresta : vou voltar para o Reino.

Me ensine, Ó brahmin, quando eu partir, para onde ir,
Os costumes do país devo saber inteiramente.

Muito bem, meu filho,” disse o Grande Ser, “Te direi os costumes do país.” E ele repetiu este par de estrofes :

Se tua mente quer deixar para trás as frutas e raízes da floresta
E morar na cidade, escute o ensino o caminho que se adequa àquela vida :

Mantenha-se afastado de todo precipício, e de veneno distante,
Não sente na lama e ande com cuidado onde estão as serpentes.

O filho do asceta, não entendendo este conselho profundo, perguntou :

O que tem teu precipício a ver com o caminho religioso,
Tua lama, teu veneno e tua cobra ? Vamos, prego, me diga.

O outro explicou :

Há uma bebida no mundo, meu filho, que as pessoas chamam vinho,
Fragrante, deliciosa, melíflua e barata, de sabor fino :
Isto, Narada, para homens santos é veneno, diz o sábio.

E mulheres no mundo podem fazer o entendimento dos tolos rodopiarem,
Elas capturam jovens corações, como furacões pegam algodão do chão :
O precipício significa isto antes que o homem bom caia.

Altas honras feitas por outros homens, respeito, fama e ganho,
Isto é lama, Ó Narada, que a homens santos pode manchar.

Grandes monarcas com seus séquitos residem neste mundo,
E eles são grandes, Ó Narada, cada um, um rei poderoso :

Diante dos pés de senhores e monarcas soberanos não andes tu,
Pois, Narada, estes são as serpentes as quais falei justo agora.

A casa que você for para comer, quando as pessoas sentarem,
Se vires bondade dentro da casa, lá pegue o suficiente e coma.

Quando entretido por outro para comer e beber, faça isto :
Não coma muito, nem beba muito, e evite luxúrias da carne.

De fofoca, bebida, companhia lasciva e lojas de artigos de ouro,
Fiques afastado como aqueles que andam em caminhos acidentados.

Enquanto seu pai seguia falando e falando, o rapaz voltou aos seus sentidos e disse, “Basta de mundo para mim, querido pai !” Então seu pai o instruiu como desenvolver gentileza e outros bons sentimentos. O filho seguiu as instruções do pai e não muito tempo depois fez o ênstase da meditação mística brotar de dentro de si. E ambos, pai e filho, sem quebrar o transe, nasceram novamente no mundo de Brahma.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo a garota tosca era a jovem mulher, o Irmão descontente era o filho do asceta e eu era o pai.”

[ n. do tr. : Narada é filho de Brahma, da trindade hindu Brahma, Vishnu, Shiva ]


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