( Imagem em pedra de Sañchi do Vessantara Jataka, 547, o último, em que o rei a rainha e o casal de filhos abandonam a cidade grande e vão para a floresta viver de raízes e frutos. A direita eles chegando na floresta com a criança ainda no colo e à esquerda já sentados com as crianças debaixo da mangueira comendo manga na margem do rio que passa ; junto há animais soltos . Na extrema esquerda um ornamento de cavaleiros parece indicar que as cenas são duas )
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“Nenhuma lenha
cortada...etc.” - A história inicial está contada no
Jataka 348 que se repete no 435 e neste aqui.
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Certa
vez, quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma
família brâhmane de grande riqueza e após sua
educação ter terminado administrava os bens. Então
sua esposa deu à luz um filho e morreu. Ele pensou, “Como
com minha esposa amada, também comigo a morte não terá
vergonha ; o que é uma casa para mim ? Me tornarei um
asceta.” Assim abandonando suas luxúrias, foi com seu filho
para o Himalaia ; e lá com ele entrou para a vida ascética,
desenvolveu o Transe místico e o Conhecimento transcendente e
vivendo nas florestas e se alimentando de raízes e frutos.
Naquele
tempo pessoas das fronteiras assolavam o campo ; e tendo assaltado
uma vila e feito prisioneiros, carregado de espólios
retornaram para a fronteira. Entre eles havia um garota, bonita, mas
dotada com toda a esperteza da falsidade. Esta garota pensou consigo
mesma, “Estes homens, quando tiverem nos levado para suas casas nos
usarão como escravos ; devo encontrar um jeito de escapar.”
Então ela disse, “Meu senhor, preciso me retirar um instante
; deixe-me sair um momento.” Assim enganou os ladrões e
fugiu.
Bem, o
Bodhisatva havia saído para catar frutas e semelhantes,
deixando seu filho na cabana. Enquanto ele estava fora, esta garota,
enquanto vagava sozinha pela floresta, chegou no eremitério,
de manhã ; e tentando o filho do asceta com o desejo do amor,
destruiu as virtudes dele e o colocou sob seu poder. Ela disse a
ele, “Por quê viver aqui na floresta ? Venha vamos para a
cidade e façamos uma casa para nós mesmos. Lá é
fácil gozar de todos os prazeres e paixões dos
sentidos.” Ele consentiu e disse, “Meu pai está agora
fora na floresta procurando frutos selvagens. Quando o tivermos
visto, vamos juntos embora.” Então a garota pensou, “Este
jovem inocente não sabe de nada ; mas seu pai deve ter se
tornado asceta em sua velhice. Quando ele chegar, vae querer saber o
que faço aqui e vae me bater e me arrastar para fora pelos pés
e me jogar na floresta. Vou desaparecer antes que ele chegue.”
Então ela disse ao rapaz, “Eu vou primeiro e você me
segue” ; anotando então os pontos de referência, ela
partiu. Após ela ter ido, o rapaz ficou triste e não
fez nenhuma de suas tarefas como era de costume ; mas se cobriu da
cabeça aos pés e deitou dentro da cabana atormentado.
Quando
o Grande Ser chegou com seus frutos selvagens, notou as pegadas da
garota. “Isto é uma pegada de mulher,” pensou ele ; “a
virtude do meu filho deve estar perdida.” Então ele entrou
na cabana, largou as frutas selvagens e questionou seu filho
repetindo a primeira estrofe :
Nenhuma
lenha cortada e não trouxeste água do poço,
Nenhum fogo
acesso : por que estás deitado devaneando como um louco ?
Escutando a voz de
seu pai, o rapaz levantou-se e o saudou ; e com todo o respeito o fez
saber que ele não podia suportar a vida na floresta, repetindo
um par de estrofes :
Não
posso viver na floresta : isto, Ó Kassapa, juro ;
É dura
a vida na floresta : vou voltar para o Reino.
Me ensine, Ó
brahmin, quando eu partir, para onde ir,
Os costumes do
país devo saber inteiramente.
“Muito bem, meu
filho,” disse o Grande Ser, “Te direi os costumes do país.”
E ele repetiu este par de estrofes :
Se tua mente
quer deixar para trás as frutas e raízes da floresta
E morar na cidade,
escute o ensino o caminho que se adequa àquela vida :
Mantenha-se
afastado de todo precipício, e de veneno distante,
Não
sente na lama e ande com cuidado onde estão as serpentes.
O filho do asceta,
não entendendo este conselho profundo, perguntou :
O que tem
teu precipício a ver com o caminho religioso,
Tua lama,
teu veneno e tua cobra ? Vamos, prego, me diga.
O outro explicou :
Há uma
bebida no mundo, meu filho, que as pessoas chamam vinho,
Fragrante,
deliciosa, melíflua e barata, de sabor fino :
Isto,
Narada, para homens santos é veneno, diz o sábio.
E mulheres no mundo
podem fazer o entendimento dos tolos rodopiarem,
Elas capturam
jovens corações, como furacões pegam algodão
do chão :
O precipício
significa isto antes que o homem bom caia.
Altas honras
feitas por outros homens, respeito, fama e ganho,
Isto é
lama, Ó Narada, que a homens santos pode manchar.
Grandes
monarcas com seus séquitos residem neste mundo,
E eles são
grandes, Ó Narada, cada um, um rei poderoso :
Diante dos
pés de senhores e monarcas soberanos não andes tu,
Pois, Narada,
estes são as serpentes as quais falei justo agora.
A casa que
você for para comer, quando as pessoas sentarem,
Se vires
bondade dentro da casa, lá pegue o suficiente e coma.
Quando
entretido por outro para comer e beber, faça isto :
Não
coma muito, nem beba muito, e evite luxúrias da carne.
De fofoca,
bebida, companhia lasciva e lojas de artigos de ouro,
Fiques
afastado como aqueles que andam em caminhos acidentados.
Enquanto seu pai
seguia falando e falando, o rapaz voltou aos seus sentidos e disse,
“Basta de mundo para mim, querido pai !” Então seu pai o
instruiu como desenvolver gentileza e outros bons sentimentos. O
filho seguiu as instruções do pai e não muito
tempo depois fez o ênstase da meditação mística
brotar de dentro de si. E ambos, pai e filho, sem quebrar o transe,
nasceram novamente no mundo de Brahma.
_________________
Quando o
Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka : “Naquele
tempo a garota tosca era a jovem mulher, o Irmão descontente
era o filho do asceta e eu era o pai.”
[
n. do tr. : Narada é filho de Brahma, da trindade hindu
Brahma, Vishnu, Shiva ]
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