quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

14 "Não há nada pior...".



14
Não há nada pior...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre o Ancião Tissa, chamado Diretor de ofertas (coletas) o Menor. A Tradição diz que, quando o Mestre morava no bosque de Bambu perto de Rājagaha, o filho de uma próspera família, chamado Príncipe Tissa, veio um dia ao Bosque de Bambu e lá, escutando o discurso do Mestre, desejou juntar-se à Irmandade, mas, sendo recusado porque seus pais não dariam consentimento, obteve o consentimento seguindo o exemplo de Rattha-pāla, recusando comida por sete dias, e finalmente tomou os votos com o Mestre.

Quinze dias após a admissão deste jovem, o Mestre encaminha-se do bosque de Bambu para Jetavana, onde o jovem comprometeu-se com as Treze Obrigações e passava o tempo na coleta de ofertas de casa em casa sem omitir nenhuma. Com o nome de Ancião Tissa Diretor de coletas o Menor, ele tornou-se uma luz tão brilhante e radiante no Budismo como a lua na abóbada celeste.

Naqueles dias foi proclamado um festival em Rājagaha ; num escrínio (cofre, porta-jóias) de prata, sua mãe e seu pai levaram as bijuterias que usava vestir quando leigo e levando ao coração, choravam assim, - “Em outros festivais nosso filho usava isto ostentar guardando as festas; e, ele, nosso único filho, foi levado pelo sábio Gautama para a cidade de Sāvatthi. Onde agora ele se senta e se levanta?” Bem, uma garota sutta (da última casta, a casta que serve) que veio à casa, notou que a dona da casa chorava, e perguntou por quê chorava; e a senhora contou tudo a ela.
“Do que seu filho gostava, madame?” “De tais e tais coisas,” respondeu a lady. “Bem, se me deres autoridade nesta casa trarei seu filho de volta.” “Muito bem,” disse a senhora assentando, e dando à garota as despesas e despachando com várias pessoas, disse, “Vá e arranje para trazer meu filho de volta.”

Saiu então a garota num palanquin para Sāvatthi, onde fixou residência numa rua que o Ancião usava passar na coleta. Cercando-se apenas de pessoas suas, nunca deixando o Ancião ver as pessoas de seu pai, ela esperou o momento em que o Ancião entrou na rua e logo concedeu-lhe ofertas de comida e bebida. E depois que ela já o enlaçara nos laços dos apetites do paladar, ela o fez eventualmente sentar-se em sua casa, até que ela soube que seus presentes de comidas e ofertas o colocara em seu poder. Então ela fingiu doença e deitou no quarto.

No tempo devido da ronda de coletas, o Ancião veio à porta da casa dela; e seus empregados tomaram a tigela do Ancião e o fizeram sentar.
Quando ele estava sentado, disse, “Onde está a irmã leiga?” “Ela ‘tá mal, senhor; ela adoraria vê-lo!”
Enlaçado como estava pelos laços dos desejos gostosos, quebrou seu voto e obrigação, e foi para onde a mulher jazia.
Então ela lhe disse o porque viera, e trabalhou tanto com ele, tudo porque o enlaçara nos laços dos desejos gostosos, que ela o fez abandonar a Irmandade; já em poder dela, ele voltou de palanquin com um largo séqüito para Rājagaha novamente.

Tudo isto foi propagado. Sentados no Salão da Verdade, o Irmãos discutiram a matéria, dizendo, “Senhores, estão dizendo que uma garota sutta enlaçou em laços de desejos gostosos, e carregou embora, Ancião Tissa o Menor, chamado Diretor de coletas.” Entrando no Salão o Mestre sentou em seu assento cheio de jóias, e disse, “Qual, Irmãos, é o assunto em discussão neste conclave ?” Eles contaram o incidente. “Irmãos,” ele disse, “não é a primeira vez que, em laços de desejos gostosos, ele cai em poder dela; em dias passados também ele caiu em poder dela do mesmo jeito.” E contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ele tinha um jardineiro chamado Sañjaya. Bem, veio para o jardim do rei um Antílope-vento, que voou fugindo à vista de Sañjaya mas este último o deixou ir sem aterrorizar a tímida criatura. Após várias visitas o antílope passou a rondar o jardim. Bem, o jardineiro tinha o hábito de catar flores e frutas e leva-las todo dia ao rei. Disse o rei a ele um dia, “Notou algo diferente, amigo jardineiro, no jardim?” “Senhor, apenas um Antílope-vento desceu ao chão.” “achas que podes pegá-lo?” “Ah, sim; s’eu tivesse um pouco de mel, o traria direto para o palácio de sua majestade.”
O rei ordenou que mel fosse dado ao homem e ele saiu levando-o para o jardim, onde primeiro colocou mel nas gramas do lugar em que o antílope freqüentava, e depois se escondeu. Quando o antílope veio e provou a grama com mel foi tão enlaçado pelo gosto do paladar que só conseguia ir para o jardim do rei. Notando o sucesso de suas iscas, o jardineiro começou lentamente a se mostrar. A aparência de uma pessoa fez o antílope voar fugindo no dia um e dois, mas tornando-se familiar à vista dele, ganhou confiança e gradualmente passou a comer grama na mão do homem. Ele, notando que ganhara a confiança da criatura, primeiro fez um caminho espalhando galhos cortados, como se um tapete; então amarrando um grande favo de mel no ombro e um tufo de grama na cintura, manteve o pingar de mel na grama À frente do antílope até que por fim ele estava dentro do palácio. Logo que o antílope estava dentro, fecharam as portas. À vista das pessoas o antílope, tremendo e temendo pela vida, batia de parede em parede no salão; e o rei descendo de sua câmara acima, e vendo a criatura tremente, disse, “Tão tímido é um Antílope-vento que por uma semana não volta a um lugar em que tenha vista uma pessoa; e se em algum lugar apavorou-se, nunca lá retornará por toda a vida. Ainda assim, enlaçado pela luxúria do paladar, esta coisa selvagem da mata chegou até aqui. Em verdade, meus amigos, nada há mais vil no mundo do que a luxúria do paladar.” E colocou o ensino em estrofe:-

Nada há pior, as pessoas dizem, do que provar isca,
Em casa ou com os amigos. Vejam! Prová-las foi
O que entregou a Sañjaya,
O antílope da selva que não se vê.

E com estas palavras ele deixou o antílope voltar novamente para a floresta.

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Quando o Mestre terminou esta lição, e repetiu como dissera que o Irmão caíra em poder da mulher em dias passados como nos dias de hoje, mostrou a conexão e identificou o Jātaka, dizendo, “Naqueles dias a garota suta era Sañjaya, o Diretor de coletas o Menor era o antílope-vento, e eu mesmo era o Rei de Benares.”

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