terça-feira, 1 de janeiro de 2008
12 "Permaneça com Cervo Banian..."
( Imagem de Rajagaha atualmente )
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“Permaneça só com o Cervo Banian, etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre a mãe do Ancião chamado Príncipe Kassapa. A garota, como aprendemos, filha de um rico mercador de Rājagaha estava profundamente enraizada no bem e desprezava todas as coisas temporais ; ela atingiu sua última existência, e dentro do peito, como uma lâmpada em um cântaro, fulgia sua certa esperança de ganhar Arahat(idade). Logo que alcançou consciência de si, não tinha prazer na vida mundana mas aspirava a renúncia ao mundo. Com este objetivo, disse a seus, pai e mãe, “Meus queridos pais, meu coração não alegra-se em coisas do mundo; de bom grado abraçaria a doutrina salvadora do Buddha. Permitam-me tomar os votos.”
“O quê, minha querida? Nossa família é próspera, e és filha única. Não podes tomar os votos.”
Tendo falhado em ter o consentimento dos pais, apesar de pedir de novo e de novo, ela pensou consigo mesma, “Que seja então; quando tiver casada em outra família, ganharei o consentimento do marido e tomarei os votos.” E quando, tendo crescido, ela entrou em outra família, mostrou-se uma esposa devota e vivia vida virtuosa e de bondade em sua nova casa. O que acontece é que ela fica grávida, sem perceber.
Um festival foi proclamado naquela cidade, e todos guardaram o feriado, a cidade adornada como um cidade dos deuses. Ela contudo, mesmo na elevação da festa, nem ungiu-se nem colocou qualquer jóia, andando com sua roupa diária. Então o marido disse a ela, “Minha querida esposa, todos curtem a festa feriado; mas você não se colocou em esplendor.”
“Meu senhor e mestre,” ela respondeu, “o corpo é preenchido de trinta e duas partes componentes. Portanto por quê adorná-lo? Esta estrutura corporal não é de molde angélico ou arcangélico ; não é feita de ouro, jóias, ou de madeira de sândalo amarelo; não nasce do útero da flor de lótus, branca ou vermelha ou azul; não está cheio de nenhum bálsamo imortal. Não, é alimentada de corrupção, e nascida de pais mortais ; as qualidades que a marcam são gastar e desgastar, o decaimento e a destruição do meramente transiente ; está fadada a enfunar-se num túmulo, e dedica-se a luxúrias ; ela é a fonte do sofrer, e ocasiões de lamentações ; ela é o domicílio de todas as doenças, e o repositório dos trabalhos do Karma. Suja dentro, - está sempre excretando. Sim, como todo o mundo pode ver, seu fim é morte, passando para o cemitério, para lá ser de vermes domicílio (N. do Tr.: uma longa lista de estrofes repulsivas sobre anatomia humana é omitida aqui.). O quê conseguirei, meu esposo, com bijuterias pelo corpo? Não seria como adornar por fora uma privada de banheiro?”
“Minha querida esposa,” respondeu o jovem mercador, “se vês este corpo como tão ruim, por quê não te tornas uma Irmã?”
“S’eu for aceita, meu esposo, tomo os votos hoje mesmo.” “Muito bem,” ele disse, “farei com que sejas admitida à Ordem .” E depois de mostrar caridade e hospitalidade à Ordem, a escoltou com muitas seguidoras ao convento feminino e foi admitida como Irmã, - mas dos seguidores de Devadatra. Grande foi a alegria dela ao realizar o desejo de tornar-se Irmã.
Quando os dias do parto aproximavam-se, as Irmãs notaram a mudança na aparência, o inchar das mãos e dos pés e do corpo todo, e disseram, “Senhora, pareces prestes a tornar-se mãe; o que significa isto?”
“Não sei senhoras; só sei que levo vida virtuosa.”
Então as Irmãs a trouxeram para diante de Devadatra, dizendo, “Senhor, esta jovem mulher, que foi admitida como Irmã com a relutância do marido, mostra-se agora prestes a parir ; mas se isto foi antes da admissão à Ordem ou não, não sabemos. Que faremos?”
Não sendo Buddha, e não tendo qualquer caridade, amor, ou piedade, Devadatra pensou assim: - “Seria uma reportagem danosa
espalhada se uma de minhas Irmãs estivesse grávida, e que eu perdoei a ofensa. Claro é meu curso; - devo expulsar esta mulher da Ordem.” Sem qualquer questionamento, como se afastando uma pedra, ele disse, “Fora com esta mulher, expulsem-na!”
Recebendo esta resposta, elas levantaram e com reverente saudação saíram para seu próprio convento. Mas a garota falou para as Irmãs, “Senhoras, Devadatra o Ancião não é o Buddha. Tomei votos não sob Devadatra mas sob o Buddha, o Antes de tudo do mundo. Não me roubem minha vocação que ganhei com tanta dificuldade; levem-me contudo ao Mestre de Jetavana.” Então com ela partiram para Jetavana, e viajando sessenta quilômetros até lá de Rājagaha, chegaram no tempo devido ao destino, onde com saudação reverente ao Mestre, colocaram o problema para ele.
Pensou o Mestre, “Embora a criança tenha sido gerada enquanto ainda leiga, ainda assim será ocasião para os heréticos dizerem que o asceta Gautama aceitou uma Irmã expulsa por Devadatra. Portanto, para encurtar a conversa, este caso deve ser exposto diante do rei e da corte.” Então de manhã mandou chamar Pasenadi rei de Kosala, o Anātha-pindika mais velho e mais novo, a senhora Visākhā a grande discípula leiga, e outros personagens conhecidos; e à tarde quando as quatro classes de fiéis estavam em assembléia – Irmãos, Irmãs, leigos e leigas – ele disse ao Ancião Upāli, “Vá e esclareça este problema da jovem Irmã na presença das quatro classes de discípulos.”
“Será feito, reverendo senhor,” disse o Ancião, e foi para a assembléia ; e lá, sentando-se no seu lugar, ele chamou Visākhā a discípula leiga à vista do rei, e colocou nas mãso dela a condução do inquérito, dizendo, “Primeiro veja o dia preciso e o mês preciso em que este garota juntou-se à Ordem, Visākhā ; e em seguida compute se concebeu antes ou depois desta data.” Concordemente a senhora fez com que se colocasse uma cortina como tela, atrás da qual ficou a garota. ‘Spectatis manibus, pedibus, umbilico, ipso ventre puellae’, a senhora descobriu, computando dias e meses, que a concepção aconteceu antes da garota tornar-se Irmã. Ela contou isto ao Ancião, que proclamou a Irmã inocente, diante de toda a assembléia. E ela, agora que sua inocência foi estabelecida, reverencialmente saudou o Mestre e a Ordem, e com as Irmãs retornou para seu convento.
Quando chegou a hora do parto, deu a luz um filho de espírito forte, por quem pedira aos pés do Buddha Padumuttara em idades anteriores. Um dia, quando o rei passava pelo convento, ele escutou o choro de criança e perguntou aos cortesãos o quê significava aquilo. Eles, sabendo dos acontecimentos, contaram a sua majestade que o choro vinha da criança que nasceu da jovem Irmã. “Senhores,” disse o rei, “o cuidado de crianças é um estorvo para as Irmãs em vida religiosa; deixe que nós tomamos conta dele.” Assim a criança foi cedida com ordem do rei às mulheres da sua família, e cresceu como príncipe. Quando chegou o dia de ser nomeado, foi chamado Kassapa, mas ficou conhecido como Príncipe Kassapa porque cresceu como príncipe.
Na idade de sete anos foi admitido como noviço sob o Mestre, e pleno Irmão quando tinha idade suficiente. Com o passar do tempo, ficou famoso entre os expositores da Verdade. Então o Mestre deu a ele precedência, dizendo, “Irmãos, o primeiro em eloqüência entre meus discípulos é Príncipe Kassapa.” Após o que em virtude do Vammika Sutta, ganhou Arahat(idade). Também sua mãe, a Irmã, cresceu na clara visão e ganhou o Supremo Fruto. Príncipe Kassapa o Ancião brilhou na fé do Buddha como a lua cheia mesmo no meio do céu. Um dia à tarde quando o Tathāgata voltou da coleta de ofertas, falou com os Irmãos e passou para sua câmara perfumada. Depois desta fala os Irmãos gastaram o resto de dia nos aposentos diurnos ou noturnos até que ao crepúsculo reúnem-se no salão da Verdade e falam como segue: - “Irmãos, Devadatra, porque não era um Buddha e porque não tinha caridade, amor e piedade, quase foi a ruína do Ancião Príncipe Kassapa e de sua reverenda mãe. Mas o Buddha todo iluminado, sendo o Senhor da Verdade e sendo perfeito em caridade, amor e piedade, mostrou-se a salvação deles.” E enquanto lá sentados louvavam o Buddha, ele entrou no salão com toda sua graça de Buddha, e perguntou, enquanto sentava, do que conversavam sentados juntos.
“De suas próprias virtudes, senhor,” eles disseram, e contaram tudo a ele.
“Esta não é a primeira vez, Irmãos,” ele disse, “que o Tathāgata mostrou-se refúgio e salvação destes dois : o mesmo aconteceu no passado também.”
Então, com os Irmãos pedindo que contasse a história, ele revelou o que estava escondido pelo re-nascer.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como cervo. Quando nasceu era de cor dourada; seus olhos eram redondos como jóias; o brilho de seus chifres era como o da prata; sua boca era vermelha como um punhado de pano escarlate; seus quatro cascos eram como que laqueados; sua cauda era como a do yak; e era tão grande quanto um jovem potro. Ajudado por quinhentos cervos, habitava na floresta com o nome de Cervo Rei Banian [Figueira de Bengala]. E junto dele habitava outro cervo também com quinhentos seguidores cervos de horda, chamado Cervo Dissidência [Ramo], que era de cor dourada como o Bodhisatva.
Naqueles dias o rei de Benares era adicto apaixonado da caça, e sempre comia carne nas refeições. Todo dia reunia todos os cidadãos, do campo e da cidade, apesar de terem trabalho para fazer, e ia para a caça. Pensou este povo, “Este nosso rei, atrapalha todo nosso trabalho. Suponha que semeemos comida e supramos água para os cervos em seu próprio jardim, e, tendo conduzido um sem número de cervos, fechássemos eles e entregássemos ao rei!” Então semearam grama para os cervos comerem e supriram de água para beberem, abrindo bem os portões. Então chamaram os camponeses e entraram na floresta armados com paus e armas de todos os tipos para encontrarem cervos. Cercaram dois quilômetros de floresta de modo a pegar cervos dentro do círculo, e assim fazendo tomaram o espaço do cervo Banian e de Dissidência. Logo que perceberam os cervos, começaram a bater nas árvores, arbustos e chão com os paus até que os cervos saíssem das covas; então fizeram um barulho tão grande com espadas lanças e arcos que conduziram todos os cervos para o jardim e fecharam o portão. Depois foram ao rei e falaram, “Senhor, tu páras sempre nosso trabalho indo à caça; portanto trouxemos cervos suficientes da floresta para dentro do jardim. De agora em diante alimente-se deles.”
Daí em diante o rei dirigiu-se ao jardim, e olhando a horda viu um cervo dourado, a quem deu imunidade. Algumas vezes ia por conta própria e acertava um cervo e trazia para casa; outras, seu cozinheiro ia e acertava um. Ao verem o arco, os cervos saem correndo tremendo pelas suas vidas, mas depois que recebem duas ou três flechadas, enfraquecem caem e são mortos. A horda de cervos contou isto ao Bodhisatva, que chamou Dissidência e disse, “Amigo, os cervos são destruídos em grande número; e apesar de não poderem escapar da morte, pelo menos não sejam feridos sem necessidade. Que os cervos dirijam-se à pedra (dharmagandikā) em turnos, um dia um da minha horda, outro dia um da sua horda, - os cervos em que caírem a sorte vão para o lugar de execução e deitam com a cabeça na pedra. Deste jeito os cervos escaparam de serem feridos à toa.” O outro concordou ; e daí em diante o cervo em que caía a vez, usava ir e deitando, colocar o pescoço na pedra. O cozinheiro ia e pegava só a vítima que já o esperava.
Bem, um dia a sorte caiu para uma cerva prenhe da horda de Dissidência e ela foi até Dissidência e disse, “Senhor, estou prenhe. Depois que tiver parido haverão dois para tirar a sorte. Ordene que passem a minha vez.” “Não, não posso passar a sua vez para outro,” ele disse; “deves suportar as conseqüências de tua própria sorte. Vá!” Sem obter dele favor, a cerva foi para o Bodhisatva e contou a ele sua história. E ele respondeu, “Muito bem; não vá, farei com que passem a sua vez.” E daí ele mesmo foi para o lugar de execução e colocou o pescoço na pedra. Ao vê-lo o cozinheiro gritou, “Por quê aí está o rei dos cervos a quem é dada imunidade! O quê isto significa ?” E correu para avisar o rei. No momento que escutou, o rei montou na charrete e chegou com largo séqüito. “Meu amigo rei dos cervos,” disse ele olhando o Bodhisatva, “não te prometi a vida? Por quê estais deitado aí?”
“Senhor, veio a mim uma cerva prenhe, que pediu p’ra passar a vez; e, como não podia passar o fado para um ou outro, eu, dando a vida por ela e tomando para mim seu fado, deito aqui. Não pense que haja qualquer outra coisa além disto, sua majestade.”
“Meu senhor rei dourado dos cervos,” disse o rei, “nunca antes tinha visto, nem entre as pessoas, alguém com tanta caridade, amor e piedade. Estou contente contigo. Levante! Poupo a vida dela e tua.”
“Apesar de dois serem poupados, o que farão o resto, ó rei das pessoas?” “Poupo a vida deles também, meu senhor.” “Senhor, só os cervos do jardim ganharão imunidade; o que será de todo o resto?” “Poupo a vida deles também, meu senhor.” “Senhor, cervos serão salvos; mas o que será de todas as outras criaturas de quatro patas?” “Poupo a vida deles também, meu senhor.” “Senhor, as criaturas de quatro patas estão salvas; mas o que será dos bandos de pássaros?” “Eles também serão poupados, meu senhor.” “Senhor, pássaros estão salvos; mas o que será dos peixes que vivem nas águas?” “Poupo a vida deles também, meu senhor.”
Após pedir ao rei pela vida de todas as criaturas, o Grande Ser levantou-se, estabelecendo o rei nos Cinco Preceitos, dizendo, “Ande na retidão, grande rei. Ande em retidão e justiça com os pais, crianças, camponeses, citadinos, para que quando o corpo terreno dissolver-se, entrares na benção celeste.” Assim, com a graça e o encanto que marca um Buddha, ele ensinou a Verdade ao rei. Uns dias ainda instruiu o rei no jardim e então com sua horda passou novamente para a floresta.
E aquela cerva pariu um corço belo como o botão do lótus, que usava brincar com o cervo Dissidência. Vendo isto sua mãe disse a ele, “Minha criança, não vá com ele, só vá com a horda do cervo Banian.” E à guisa de exortação, falou a estrofe:-
"Fique somente com o cervo Banian, e evite
a manada da Dissidência; é muito mais bem vinda
a morte, minha criança, na companhia de Banian
do que a vida mais longa com a Dissidência."
Daí em diante, os cervos, agora gozando de imunidade, usavam comer as colheitas das pessoas, e as pessoas lembrando da imunidade garantida a eles, não ousavam atingir ou afastar os cervos. Então reuniram-se na corte real e colocaram o problema ao rei. Ele disse, “Quando o cervo Banian ganhou meu favor, prometi-lhe um dom. Antes abandonar o reino do que uma promessa. Saiam! Ninguém em meu reino ferirá cervos.”
Quando o caso chegou aos ouvidos do cervo Banian, ele chamou sua horda e disse, “De agora em diante não deveis comer os frutos dos outros.” E tendo assim os proibido, enviou mensageiros às pessoas, dizendo, “A partir deste dia, que nenhum pai de família cerque seu campo, mas meramente indique com folhas amarradas ao redor.” E assim, escutamos [shruti], a idéia de amarrar folhas para indicar os campos; e nunca mais soube-se de cervo que ultrapassasse campo marcado. Para isto foram instruídos pelo Bodhisatva.
Assim o Bodhisatva exortou os cervos da sua horda, e assim agiu por toda a longa vida, ao encerrar da qual passou sendo tratado de acordo com seus méritos. O rei também permaneceu nas instruções do Bodhisatva, e após a vida gasta em boas obras passou sendo tratado de acordo com seus méritos.
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Ao final da lição, quando o Mestre repetiu, como agora, também em dias passados foi a salvação do par, pregou as Quatro Verdades. Ele mostrou a conexão, juntando as duas histórias contadas, e identificando o Jātaka dizendo,- “Devadatra era Cervo Dissidência naqueles dias, e seus seguidores a horda daquele cervo; a freira era a cerva, e Príncipe Kassapa seu filhote; Ānanda era o rei; e eu mesmo era Cervo Rei Banian.”
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