quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

16 Sobre Rahula



           ( pintura de Yasodhara e Rahula diante do Buddha ; Ajanta, construída por acharya Achara )


16
Em todas as três posturas...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto residia no Mosteiro de Badarika em Kosambi, sobre o Ancião Rāhula ( Seu filho ) cujo coração estava colocado na observância das regras da Irmandade.

Certa vez quando o Mestre morava no Templo Aggālava junto da cidade de Ālavi, muitas mulheres leigas e Irmãs aglomeravam-se lá para escutar a Verdade pregada. A pregação era de dia mas com o passar gradual das horas as mulheres não permaneciam e ficavam apenas Irmãos e homens presentes. Então a pregação passou a ser de tarde; e ao final os Anciãos Irmãos retiravam-se para suas celas. Mas os mais jovens com os leigos deitavam para descansar no Salão de serviço. Quando eles dormiram, alto foram os roncos e ranger de dentes enquanto dormiam. Após uma pequena soneca alguns se levantaram e relataram ao Abençoado a impropriedade que testemunhavam. Disse ele, “Se um Irmão dorme na companhia de Noviços, é um pecado Pācittiya (que requer confissão e absolvição.)” E após determinar este preceito ele saiu para Kosambi.

Em cima disto os Irmãos disseram ao Reverendo Rāhula, “Senhor, o abençoado deu este preceito, e agora, por favor, encontre um lugar para você.” Bem, antes disso, os Irmãos, além do respeito pelo pai e porque o filho muito desejava observar as regras da Irmandade, tinham bem recebido o jovem, como se o lugar fosse dele; - arrumaram uma cama pequena e pano para ele fazer um travesseiro. Mas no dia da nossa história eles nem lhe deram moradia, tão temerosos estavam de transgredir. O excelente Rāhula não foi nem ao Buddha, sendo este seu pai, nem a Sāriputra, Capitão da Fé, que era seu preceptor, nem ao Grande Mooggaallāna que era seu professor, nem ao Ancião Ānanda seu tio; mas ficou na lado de fora da câmara de Buddha e dormiu como que numa mansão celeste. Bem, no lado de fora a câmara estava sempre fechada: o chão elevado era de terra perfumada; flores e guirlandas penduravam-se ao redor das paredes; e por toda a noite uma lâmpada lá queimava. Mas não foi este esplendor que fez Rāhula dormir aí. Não, foi simplesmente porque os Irmãos falaram para ele achar um lugar por si mesmo, e porque reverenciava as instruções e anelava as regras da Ordem. Na realidade, de tempos em tempos, os Irmãos o testavam, vendo-o vindo a certa distância, usavam atirar ao chão escovas e vassouras, e então perguntavam quem jogou no chão depois que Rāhula passava. “Bem, Rāhula passou por aqui,” era ressaltado, mas nunca o futuro Ancião disse nada saber sobre o assunto. Ao contrário, usava remover o lixo e humildemente pedir perdão ao Irmão, sem sair até estar certo de que foi perdoado; - tão adicto estava da observância das regras. E foi apenas esta adição que o fez dormir do lado de fora.

Bem, enquanto naquele dia a aurora ainda não chegara, o Mestre parou na porta de fora e tossiu ‘Aham.’ ‘Aham,’ respondeu o Reverendo Rāhula. “Quem está aí?” disse Buddha. “Sou eu, Rāhula,” foi a resposta; e o jovem apareceu e se prostrou. “Por quê você estava dormindo aqui Rāhula?” “Porque não tinha nenhum lugar para ir. Até hoje, senhor, os Irmãos foram muito gentis comigo; mas tal é o medo deles em errar atualmente que não me darão mais abrigo. Conseqüentemente dormi aqui, porque pensei que era um lugar onde não entraria em contato com ninguém.”
Então o Mestre pensou consigo mesmo, “Se eles até a Rāhula tratam assim, o quê não farão com os outros jovens que entram para a Ordem ?” E seu coração foi movido com ele para a Verdade. Assim, cedo de manhã reuniu os Irmãos, e perguntou ao Capitão da Fé , “Suponho que saibas, Sāriputra, onde Rāhula está dormindo?”
“Não, senhor, não sei.”
“Sāriputra, Rāhula dormiu hoje no lado de fora. Sāriputra, se você trata Rāhula desse jeito, como não será o tratamento que você dá aos outros jovens admitidos à Ordem? Tal tratamento não manterá aqui aqueles que se juntam. No futuro, mantenha os Noviços no seu próprio quarto por um dia ou dois, e só no terceiro dia deixe-os buscar alojamento fora, cuidando você mesmo disto.” Com esta orientação, o Mestre, estabeleceu o preceito.
Reunidos no Salão da Verdade, os Irmãos falaram da bondade de Rāhula. “Veja, senhores, como anela Rāhula as regras. Quando a ele foi dito para encontrar alojamento por si mesmo, ele não disse, ‘Sou filho do Buddha; o que vocês tem a ver com alojamento? Saiam!’
Não; nem a um único Irmão desalojou, mas dormiu na rua.”
Enquanto assim falavam, o Mestre veio ao Salão e sentou-se no seu trono, dizendo, “Qual o assunto da conversa, Irmãos?”
“Senhor,” foi a resposta, “estávamos falando da vontade de Rāhula em manter as regras, nada mais.”
Então disse o Mestre, “Esta vontade Rāhula mostrou não apenas agora mas também no passado, quando nasceu bicho.” E assim falando, contou uma história do passado.

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Certa vez um certo rei de Magadha reinava em Rājagaha; nestes dias o Bodhisatva, nasceu como cervo, vivendo numa floresta liderando uma horda de cervos. Bem, sua irmã traz a ele o filho dela, dizendo, “Irmão, ensine seu sobrinho os truques de cervo.” “Com certeza,” disse o Bodhisatva; “pode ir agora, meu jovem, e volte em tal e tal hora para a aula.” Pontualmente na hora mencionada pelo tio, o jovem cervo apareceu e recebeu a aula de truques de cervo.
Um dia quando vagava na floresta foi pego numa armadilha e gritou o choro dos cativos. Foge a horda e conta a mãe da captura do filho. Ela vem até o irmão e pergunta a ele se o sobrinho dele aprendeu os truques de cervo. “Não tema; seu filho não teve nenhuma falta,” disse o Bodhisatva. “Ele aprendeu todos os truques de cervo, e voltará logo para sua grande alegria.” E assim dizendo, repetiu esta estrofe:-

Em todas as três posturas – nas costas e nos lados-
Seu filho é versado; está treinado em usar os oito cascos,
E a não ser a meia-noite, nunca sacia a sede;
E deita espalhado no chão, parecendo sem vida,
Respirando só muito sutilmente.
Seis truques sabe meu sobrinho para enganar os inimigos.

Assim o Bodhisatva consolou a irmã mostrando a ela como o filho dela era versado nos truques do cervo. Enquanto isto o jovem cervo pego na armadilha não lutou, deitou esticando-se todo de lado, com as pernas retas e duras. Ele escava o chão ao redor com as patas para mostrar a terra ao redor; releva a dor; deixa a cabeça cair; enrola a língua para fora; baba o corpo todo; infla-se tomando vento; gira os olhos; respira muito sutilmente; e fica tão duro e rígido que parece um cadáver. Varejeiras enxamearam ao redor; e aqui e lá corvos aparecem.
O caçador veio e cutucou o cervo na barriga com a mão, falando, “Ele deve ter sido pego de manhã; ele já ‘tá apodrecendo.” Assim dizendo, o homem solta o cervo dos laços, dizendo a si mesmo, “Vou cortá-lo aqui mesmo onde jaz, e levar a carne comigo para casa.” Mas logo que o homem ingênuo passa a catar graveto e folha (para fazer fogo), o cervo jovem levanta-se nas patas, sacode-se, estica o pescoço, e, como uma pequeno nuvem escudada por poderoso vento, rapidamente volta para sua mãe.

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Após repetir o que dissera de Rāhula ter mostrado o mesmo anela as regras no passado como no presente, o Mestre fez a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Rāhula era o jovem cervo daqueles dias, Uppala-vannā sua mãe, e eu o cervo seu tio.”


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