sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

31 Buddha Indra / Sakra




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31
Deixe, ó Matali, ...etc. – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um irmão que bebia água sem filtrá-la.
Tradição diz que dois jovens Irmãos que eram amigos saíram de Sāvatthi para o campo, e tomaram residência num lugar agradável. Depois de ficaram aí tanto tempo quanto desejavam, partiram rumo à Jetavana de modo a ver o Buddha Perfeito.

Um deles carregava filtro; o outro não tinha nenhum; de modo que ambos usavam o mesmo filtro antes de beber. Um dia desaviram-se, brigaram. O dono do filtro não o emprestou ao companheiro, mas filtrou e bebeu sozinho.

Como ao outro não foi permitido filtrar, e como não agüentou a sede, ele bebeu água sem filtrar. No devido tempo ambos chegam em Jetavana e com respeitosa saudação ao Mestre, sentam-se. Após palavras amigáveis de saudação, ele perguntou de onde eles vinham.

“Senhor,” eles disseram, “estávamos vivendo numa aldeia em Kosala, de onde viemos de modo a encontrar contigo.” “Imagino que vocês chegam tão bons amigos quanto partiram?” Disse o irmão sem filtro, “Senhor, ele brigou comigo na estrada e não quis emprestar o filtro.” Disse o outro, “Senhor, ele não filtrou a água, mas – consciente – bebeu sem filtrar todos os seres vivos que ela contém.” “É este relato verdadeiro, Irmão, que tu conscientemente bebeu água com todos os seres vivos que ela contém?” “Sim, senhor, bebi água sem filtrar,” foi a resposta. “Irmão, o sábio e bom em dias passados, quando fugindo em debandada nas profundezas, nos dias de sua soberania na Cidade dos Devas, deixou de matar criaturas vivas de modo a assegurar poder para elas mesmas. Antes, eles giraram para trás o carro, dando em sacrifício, grande glória, de modo a salvar os filhotes dos Garulas (pássaros).” E assim dizendo, ele contou uma história do passado.

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Certa vez havia um rei em Magadha reinando em Rājagaha na terra de Magadha. Justo como aquele que é agora Sakra veio à vida em seu nascimento precedente na aldeia de Macala na terra de Magadha, na mesma aldeia o Bodhisatva veio à vida naqueles dias como um jovem nobre. Quando chegou o dia do batismo, foi chamado ‘Príncipe Magha,’ mas quando cresceu, foi como ‘Magha o jovem Brahmin’ que ficou conhecido. Seus pais arranjaram um esposa para ele de uma família do mesmo rank que o deles; e ele, com uma família de filhos e filhas crescendo ao redor, excedia em caridade, e mantinha os Cinco Mandamentos.
Haviam justo trinta famílias naquela vila, e um dia as pessoas ficaram no meio da vila transando os afazeres. O Bodhisatva bateu a poeira de onde ele estava, e ficou lá confortavelmente, mas quando se levantou, veio outro e tomou seu lugar. Então o Bodhisatva fez para si outro lugar confortável para ficar, - só para ser tomado de novo como o primeiro. Outra e outra vez o Bodhisatva recomeçava até ter feito lugares confortáveis para todos lá. De outra vez colocou um pavilhão,- que depois amarrou em baixo, tendo construindo um salão com bancos e um jarro d’água dentro. De outra vez ainda estes trinta homens foram levados pelo Bodhisatva a tornarem-se como ele; ele os estabelece nos Cinco Mandamentos, e daí em diante passou a sair com eles em obras boas fazendo. Eles também fazendo obras boas, sempre em companhia do Bodhisatva, usavam levantar cedo e sair, com lâminas, machados e tacapes nas mãos. Com as massas usavam rolar as pedras que estavam nas quatro estradas e outros caminhos da vila; as árvores que atingissem os eixos das rodas das carroças na via, eles cortavam; lugares duros tornaram macios; construíram rodovias e diques, cisternas, e construíram um salão; mostraram caridade e mantinham os Mandamentos. Desse jeito o corpo dos cidadãos passou a habitar com os ensinos do Bodhisatva e mantinham os Mandamentos.

Pensou o prefeito consigo mesmo, “Estas pessoas usavam se embebedar , matar e coisa semelhante, e eu usava ganhar muito dinheiro deles não só com o preço da bebida mas com as multas e taxas que eles pagavam. Agora vem este jovem brahmin Magha e os inclina a manter os Mandamentos; isto acabou com as mortes e outros crimes.” E com raiva gritou, “Eu os farei manter os Cinco Mandamentos!” E ele foi ao rei dizendo, “Senhor, há um bando de assaltantes andando saqueando as vilas cometendo vilanias.” Quando o rei escutou isto, pediu que o prefeito fosse e trouxesse estas pessoas diante dele. E foi-se o homem e arrastou como prisioneiros diante do rei todas aquelas trinta pessoas, sendo tidas como bandidas. Sem nada inquirir o rei comanda de antemão que eles deviam ser pisados até a morte pelo elefante. Enquanto isto os mandaram deitar no jardim do rei e foram buscar o elefante. O Bodhisatva os exortou, dizendo, “Carreguem na mente os Mandamentos; amem o que calunia, o rei e o elefante assim como vocês mesmos.” E eles assim fizeram.

Então chegou o elefante para pisá-los até a morte. Apesar de puxarem com toda a força, ele não se aproximaria deles, mas foge trumpeteando alto. Elefante atrás de elefante foi trazido; - mas todos fugiram como o primeiro. Achando que os homens estavam drogados, o rei manda vasculhá-los. Foi feita a busca, e nada foi encontrado; - e disseram assim ao rei. “Eles devem estar balbuciando algum encanto,” disse o rei; “pergunte-os se eles tem algum encanto para repetir.”

A pergunta sendo feita a eles, o Bodhisatva disse que eles tinham um encanto. E o pessoal do rei disse para sua majestade. E assim o rei junta todos diante dele e diz, “Me conta teu encanto.”

O Bodhisatva respondeu, “Senhor, não temos outro encanto que este, que nenhum de nós trinta destrua a vida, ou roube, ou erre, ou minta; não bebemos; abundamos em gentileza; mostramos caridade; fazemos estradas, cisternas e construímos um salão público; - este é nosso encanto, nossa segurança, e nossa força.”
Gostando deles o rei lhes entregou toda a riqueza do caluniador e fez ele escravo deles; e deu-lhes um elefante e uma vila de feudo.

Daí em diante operando boas obras ao agrado do coração, mandaram chamar um carpinteiro e o fizeram construir um grande salão no encontro das quatro estradas; mas como tinham perdido todo desejo sexual, não deixaram as mulheres partilharem das obras boas.

Bem naqueles dias haviam quatro mulheres na casa do Bodhisatva, cujos nomes eram Bondade, Pensadora, Alegria, e Bem-nascida. Destas, Bondade, estando só com o carpinteiro fê-lo um agrado, dizendo, - “Irmão, dá um jeito de me fazer a pessoa principal em relação a este salão.”
“Muito bem,” ele disse. E antes de qualquer outro trabalho na construção, ele pega madeira de pináculo seca, que talha e cava até transformar num pináculo acabado. Isto ele embrulhou num pano e deixou de lado. Quando o salão estava terminado e na hora de colocar o pináculo, ele exclamou, “Ai, mestres, há uma coisa que não foi feita.” “O quê é?” “Pois eis que precisamos de um pináculo.” “Está certo, que um seja pego.” “Mas não pode ser de madeira verde; deve ter sido feito há algum tempo atrás, e talhado e cavado e deixado de lado.” “Bem, o quê faremos agora?” “Pois saiam olhando em volta procurando alguém que tenha tal coisa em casa pronta para vender.” Enquanto procuravam, encontraram um na casa da Bondade, mas dela não conseguiram comprar por nenhum dinheiro. “Se me fizerem parceira nas obras boas,” disse ela, “o darei a ti por nada.” [ cf. para esta questão do pináculo 'O simbolismo do domo' de Ananda Coomaraswamy em post deste blog ]

“Não,” foi a resposta, “não deixamos as mulheres partilharem das obras boas.”
Então disse o carpinteiro a eles, “Mestres, o quê é que vocês estão dizendo? Exceto no Reino de Brahma, não há lugar em que a mulher está excluída. Peguem o pináculo e nosso trabalho se completará.”
Consentindo, eles pegaram o pináculo e completaram o salão. Bancos foram colocados e jarros d’água , tendo também oferta constante de arroz cozido. Ao redor do salão construíram um muro com um portão, espalhando dentro areia e plantando fora uma fileira de palmeiras. Pensadora também fez que fosse construído um jardim fora deste lugar, e não havendo fruta ou flor que pudesse ser nomeada que lá não crescesse. Alegria, também, fez que fosse construído um poço no mesmo lugar, coberto com os cinco tipos de lótus, belo de contemplar. Bem-nascida não fez nada.
O Bodhisatva completou com estas sete injunções,- gostar da mãe, gostar do pai, honrar os avós, valar a verdade, evitar fala dura, abster-se da calúnia, abster-se da avareza:-

Quem quer que ampare pais, honra avós,
É gentil, de fala amiga, não caluniando,
Sem grosseria, verdadeiro, senhor – não escravo - da ira,
- Este mesmo os Trinta e Três aclama como Bom.

Tal foi a condição louvável em que cresceu, e ao fim da vida passou para renascer no reino dos Trinta e três como Sakra, rei dos Devas; e lá também renasceram seus amigos.

Naqueles dias haviam Asuras habitando no Reino dos Trinta e três. Disse Sakra, Rei dos Devas, “Qual o bem de dividir um reino com outros?” Então fez os Asuras beberem o licor dos Devas, e quando estavam bêbados, ele os arremessou com os pés nas escarpas do Monte Sineru. Eles tombaram direto no ‘Reino dos Asuras,’ como é chamado, - uma região nas partes de baixo do Monte Sineru, de igual extensão ao Reino dosTrinta e três. Ai cresce uma árvore, que parece a Árvore Coral dos Devas, que dura por um éon e é chamada Pé de FlorTrumpete.
Os frutos desta árvore mostram logo que não é este o Reino dos Devas, pois lá floresce a Árvore Coral. Então eles gritaram, “Sakra velhaco nos embebedou e nos atirou nas profundezas, tomando-nos nossa cidade celeste.” “Venham,” eles gritaram, “ganhemos de volta nosso próprio reino dele à força dos braços.” E começaram a subir as escarpas do Sineru, como formigas num pilar.
Escutando o alarme dado de que os Asuras estavam subindo, Sakra entrou no grande abismo para lhes dar combate, mas levando a pior na luta virou e fugiu nos picos e cumes das profundezas do sul no seu ‘Carro da Vitória,’ que tinha a extensão de duzentos quilômetros.
Bem, enquanto este carro corria nas profundezas, chegou na Floresta de Paineiras. Diante do caminho de tal carro estas árvores poderosas foram ceifadas como outras palmeiras, e caíram nas profundezas. E quando os filhotes de Garulas (Pássaros) caíram nas profundezas, altos foram seus gritos. Disse Sakra a Mātali, seu auriga, “Mātali, meu amigo, que barulho é este? Como toca este som.” “Senhor, é o coro unido dos filhotes de Garulas em agonia de medo, já que a floresta esta sendo ceifada pelo correr do seu carro.” Disse o Grande Ser, “Que eles não se preocupem por causa de mim, amigo Mātali. Que não ajamos, pelo bem do império, assim de modo a destruir a vida. Antes, pelo bem deles, darei minha vida em sacrifício aos Asuras. Volte o carro.” E assim falando, repetiu a estrofe:-

Deixe, ó Matali, os ninhos todos da floresta,
Escaparem do carro que a tudo devora.
Ofereço uma oblação sacrifical,
Minha vida para os Asuras de baixo; estes pobres pássaros
não devem ser, por minha causa, importunados nos ninhos.

Com a fala, Mātali, o auriga, girou o carro, foi para o Reino dos Devas por outra rota. Mas no momento que os Asuras viram começar a girar o carro, gritaram que Sakras de outros mundos certamente estavam subindo; “deve ser reforço que faz ele virar o carro de volta.” Temendo por suas vidas, eles todos fugiram e não pararam até chegar ao Reino Asura. E Sakra entrando no céu, ficou no meio da sua cidade, cercado por uma hoste angélica sua mesma e dos anjos de Brahmā. E naquele na terra rasgada elevou-se o ‘Palácio da Vitória,’ alto alguns milhares de quilômetros, - assim chamado porque elevou-se na hora da vitória. Então, para prevenir que os Asuras voltassem de novo, Sakra colocou guardas em cinco lugares, - em relação aos quais foi dito:-

Impregnáveis estão as cidades! No meio,
Em guarda quíntupla, vigiada por Nāgas, Garulas,
Demônios, Duendes, e pelos Quatro Grande Reis!

Mas quando Sakra gozava da glória celeste como rei dos Devas, em segurança vigiado pelos sentinelas nestes cinco postos, Bondade morreu e renasceu como ajudante de Sakra mais uma vez. E como conseqüência de ter oferecido o pináculo foi que lá elevou-se para ela uma mansão – chamada ‘Bondade’ – ornada de jóias celestes, alta centenas de quilômetros, onde, sob um pálio branco celeste de estado real , senta Sakra, rei dos Devas, legislando as pessoas e os Devas.
Pensadora também, morreu, e nasceu uma vez mais como ajudante de Sakra; e como conseqüência de sua ação em ter feito um jardim foi tal que lá elevou-se um jardim chamado ‘Bosque de Trepadeiras da Pensadora.’ Alegria também, morreu e renasceu uma vez mais como uma das ajudantes de Sakra; e o fruto de seu poço foi que lá elevou-se um poço chamado ‘Alegria’ por causa dela. Mas Bem-nascida, não tendo realizado nenhum ato de mérito, renasceu como siriema numa gruta da floresta.
“Não há sinal de Bem-nascida,” disse Sakra à si mesmo; “Imagino onde ela terá renascido.” E enquanto considerava o problema, ele descobriu onde ela estava. Então ele foi visitá-la, e a trouxe de volta com ele para o céu mostrando a ela a maravilhosa cidade dos Devas, o Salão da Bondade, o Bosque de Trepadeira da Pensadora, e o Poço da Alegria. “Estas três,” disse Sakra, “renasceram como minhas ajudantes em razão das obras boas que elas fizeram; mas você, não tendo feito obra boa, renasceu na criação bruta. De agora em diante mantenha os Mandamentos.” E tendo assim a exortado, e a confirmado nos Cinco Mandamentos, ele a levou de volta e a deixou livre. E daí em diante ela manteve os Mandamentos.
Pouco tempo depois, curioso em saber se ela realmente era capaz de manter os Mandamentos, Sakra foi e deitou na frente dela na forma de um peixe. Pensando que o peixe estava morto, a siriema pegou-o pela cabeça. O peixe balançou o rabo. “Pois eis que acho que está vivo,” disse a siriema, e deixou o peixe ir. “Muito bem, muito bem,” disse Sakra; “serás capaz de guardar os Mandamentos.” E assim dizendo saiu fora.
Morrendo como siriema, Bem-nascida renasceu numa família de oleiros em Benares. Imaginando onde ela estava, e por fim descobrindo-a, Sakra, disfarçado como um senhor ancião, encheu um carro com pepinos e sentou no meio da vila gritando, “Comprem meus pepinos! Comprem meus pepinos!” Povo veio e pediu por eles. “Só partilho-os a quem mantém os Mandamentos,” ele disse, “vocês os guardam?” “Nós não sabemos o quê você quer dizer por ‘Mandamentos’; venda-nos pepinos.” “Não; não quero dinheiro pelos pepinos. Dou-os de graça – mas só àqueles que guardam os Mandamentos.” “Quem é este palhaço?” disse o povo enquanto saía fora. Escutando sito, Bem-nascida pensou consigo mesma que os pepinos deviam terem sido trazidos para ela, e conformemente foi e pediu um pouco. “Você guarda os Mandamentos, madame?” disse ele. “Sim guardo,” foi a resposta. “Foi só para você que trouxe estes aqui,” disse ele, e deixando pepinos, carro e todo o resto na porta dela, saiu fora.
Continuando por toda a vida a guardar os Mandamentos, Bem-nascida após a sua
morte renasceu filha do rei Asura Vepacittiya, e por sua bondade foi premiada com o dom de grande beleza. Quando cresceu, seu pai reuniu os Asuras para que sua filha escolhesse um
de marido. E Sakra, que a buscava e a encontra lá, dotado da forma de um Asura, e tendo descido, disse a si mesmo, “Se Bem-nascida escolher um marido realmente com o coração, ele deve ser eu.”
Bem-nascida foi adornada e trazida para fora ao lugar da assembléia, onde ela foi indicada que escolhesse um marido com o coração. Olhando ao redor e vendo Sakra, ela foi movida por seu amor a ele em uma existência passada e o escolheu para marido. Sakra a levou para a cidade dos devas e a fez chefe de vinte e cinco milhões de dançarinas. E quando seu fim chegou, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.
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Sua lição terminada, o Mestre censurou aquele Irmão com estas palavras, “Assim, Irmão, o sábio e bom de dias passados quando eram legisladores dos Devas, abstiveram-se, mesmo sacrificando sua própria vida, de serem culpados de morte. E pode tu, que dedicas-te a tal credo salvador, beber água sem filtrar com todas as criaturas vivas que ela contêm?” E ele mostrou a conexão e identificou o Jātaka, dizendo, “Ānanda era então Mātali o auriga, e eu Sakra.”


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