sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

20 No lago de Veluvana





               (  O lugar atual da história contada, Veluvana, Índia )


20
Encontrei as pegadas...etc.” – Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vagava em coleta de oferta por Kosala, quando chegou na vila de Nalaka-pāna (Caldo de cana) e morava em Ketaka-vana perto do lago de Nalaka-pāna, sobre bambu. Naqueles dias os Irmãos, depois de banharem-se no Lago de Nalaka-pāna, fizeram os noviços catarem bambu para fazerem caixas de agulhas, mas, descobrindo-as furadas por inteiro, foram ao Mestre e perguntaram, “Senhor, pegamos taquara para fazer caixas de agulhas; mas estão complemente  furadas. Como pode ser isto?”
“Irmãos,” disse o Mestre, “foi ordem minha em tempos passados.” E, assim dizendo, contou uma história do passado.

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Em tempos passados, nos é contado, havia uma espessa floresta neste lugar. E neste lago aqui habitava um ogro da água que costumava devorar todos que entravam na água. Naqueles dias o Bodhisatva veio à vida como o rei dos Macacos, e era tão grande quanto um corço de cervo vermelho; ele vivia na floresta como chefe de uma tropa de não menos que oitenta mil Macacos aos quais defendia de dano. Assim aconselhava os seus:- “Meus amigos, nesta floresta existem árvores que são venenosas e lagos que são assombrados por ogros. Lembrem-se de me perguntarem primeiro antes de comerem qualquer fruto que não tenham comido antes, ou de beber qualquer água onde antes não bebestes.” “Com certeza,” eles disseram prontamente.
Um dia chegaram num lugar onde não estiveram antes. Enquanto buscavam água, depois de um dia de vagância, chegaram a este lago. Mas não beberam; ao contrário eles sentaram olhando a chegada do Bodhisatva.

Quando ele chegou, disse, “Bem, meus amigos, por quê não bebem?” “Nós esperamos você chegar.” “Muito bem, meus amigos,” disse o Bodhisatva. Então ele fez o circuito do lago, e investigando as pegadas ao redor, com o resultado que encontrou todas as pegadas levando para dentro d’água e nenhuma saindo de volta. “Sem dúvida,” pensou consigo mesmo, “está infestado com um ogro.” E então disse aos companheiros, “Vocês estavam bem certos, meus amigos, em não beber desta água; pois o lago é freqüentado por um ogro.”

Quando o ogro da água percebeu que eles não entrariam em seu domínio, ele assume a forma de um horrível monstro de barriga azul, face branca, e mãos e pés vermelhos brilhantes; nesta forma ele saiu da água, e disse, “Por quê estão sentados aí? Desçam ao lago e bebam.” Mas o Bodhisatva disse a ele, “Não é você o ogro desta água?” “Sim, eu sou,” foi a resposta. “Você toma como presa todos aqueles que descem na água?” “Sim, tomo; de pássaros pequenos para cima, nunca deixo nada sair, que tenha entrado na minha água. Vou comer um lote de vocês também.” “Mas nós não deixaremos você nos comer.” “Apenas beba a água.” “Sim, beberemos a água, e ainda assim não cairemos em seu poder.” “Como pretendem beber a água então?” “Ah, você pensa que temos que descer até a água para beber; enquanto que não entraremos na água de modo algum, mas nós todos, oitenta mil, pegaremos um bambu cada e beberemos com ele do seu lago tão facilmente como se por um caule de lótus furado. E assim não serás capaz de nos comer.” E ele fala a última metade da estrofe seguinte (a primeira metade sendo adicionada pelo Mestre quando, como Buddha, relembrava o incidente):-

Encontrei as pegadas todas descendo, nenhuma voltando.
Com bambus beberemos; não tirarás minha vida.

Assim dizendo, o Bodhisatva pegou um bambu. Então, relembrando as Dez Perfeições por ele mostradas, recitou-as em um ato de verdade solene, e soprou o bambu. Logo o canudo furou todo, sem um único nó ser deixado em toda sua extensão. Deste modo tomou outro e outro e soprou-os. (Mas se fosse assim, ele nunca teria terminado; e concordemente a última sentença não deve ser entendida no sentido literal.) Depois o Bodhisatva fez o circuito do lago, e ordenou, dizendo, “Que os bambus todos daqui cresçam furados por inteiro.” Bem, graças as grandes virtudes da bondade salvadora dos Bodhisatvas, suas ordens são sempre realizadas. E portanto todo bambu que cresce ao redor do lago é todo furado.

(Neste Kalpa, ou Era [Éon], existem quatro milagres que perduram por toda a Era. Quais são os quatro? Bem, eles são – primeiro, a marca da lebre na lua (Cf. Jātaka  316) que durará por toda a Era ; segundo, o lugar onde o fogo ficou de fora como contado no Jātaka  35, que permanecerá intocado pelo fogo por toda a Era; terceiro, o lugar da casa de Ghatikāra nenhuma chuva cairá enquanto durar a Era; e por último, as taquaras que crescem ao redor deste lago devem ser todas furadas por toda a Era. Tais são os quatro milagres-Era, como são chamados.)

Após dar a ordem, o Bodhisatva sentou-se com o canudo nas mãos. Todos os outros oitenta mil Macacos também sentaram-se ao redor do lago, cada um com um canudo na mão. E ao mesmo momento em que o Bodhisatva sugava água pelo canudo, todos bebiam também da mesma maneira, enquanto sentados às margens. Deste jeito beberam, e o ogro não pode pegar nenhum deles; e assim ele saiu com raiva para seu próprio domicílio. O Bodhisatva, também, com seus seguidores voltou para a floresta.

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Quando o Mestre terminou a lição e repetiu o que dissera que os furos das taquaras era resultado de uma ordem dele mesmo anterior, ele mostrou a conexão, e identificou o Jātaka dizendo, “Devadatra era o ogro d’água daqueles dias; meus discípulos eram os oitenta mil Macacos; e eu mesmo era o rei Macaco, de férteis recursos.”


Um comentário:

ze disse...

Aqui a origem do adágio popular sobre macaco beber água de canudinho.