quarta-feira, 17 de setembro de 2008

193 Ananda Iguana


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193
Sou eu – não outro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana sobre um irmão que errava. As circunstâncias serão explicadas no Jataka 527. Quando este irmão foi questionado pelo Mestre se realmente errava, ele respondeu que sim. “Quem,” perguntou o Mestre, “fez com que você desviasse ?” Ele disse que viu vestida lindamente uma mulher, e tomado de paixão, se desviou. Então o Mestre disse, “Irmão, mulheres são todas ingratas e traiçoeiras ; sábios velhos foram tão estúpidos a ponto de oferecerem sangue do próprio joelho direito para mulheres beberem e ofertou presentes durante toda a vida e ainda assim não ganharam os corações delas.” E ele contou uma história do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu como filho da sua rainha. No dia do batismo, o chamaram de Príncipe Paduma, Príncipe Lótus. Depois dele ainda vieram seis irmãos mais novos. Um após outro estes sete chegaram à idade adulta e casaram e se estabeleceram, vivendo como companhia do rei.

Um dia o rei olhava as cortes no palácio e enquanto olhava, via estes homens (os filhos) com grande séqüito em sua direção se dirigindo. Ele suspeitou que planejavam matá-lo e tomar o seu reino. Então mandou chamá-los e falou-lhes deste jeito.
Meus filhos, vocês não devem morar nesta cidade. Devem ir para outro lugar e quando eu morrer vocês retornam e tomam o reino que pertence a sua família.”

Eles concordam com as palavras do pai ; e saem de casa lamentando e chorando. “Não importa para onde iremos !” gritavam; e tomando as esposas, deixaram a cidade e viajaram pelas estradas. Logo logo chegam num bosque , onde nada encontram para comer ou beber. Incapazes de suportar as ânsias da fome, decidiram salvar suas vidas ao custo das mulheres. Apanharam a esposa do irmão mais jovem e mataram ela ; cortaram o corpo em treze partes e a comeram. Mas o Bodhisatva e sua esposa deixaram de lado uma parte e dividiram a outra entre eles.

Assim fizeram por seis dias e mataram e comeram seis mulheres; e em cada dia o Bodhisatva deixava uma parte de lado de modo que salvou seis porções. No sétimo dia os outros teriam tomado e matado a esposa do Bodhisatva ; mas ao invés disto ele deu a eles as seis porções que guardara. “Comam estas,” disse ele; “a-manhã a gente se arranja.” Eles todos comeram a carne ; e quando chegou na hora que dormiram, o Bodhisatva e sua esposa fugiram juntos.

Quando tinham percorrido um pouco do caminho, a mulher disse, “Marido, não posso ir adiante.” Então o Bodhisatva tomou ela nos ombros e àurora saíam do bosque. Quando o sol se levantou, ela disse - “Marido, estou sedenta !”
Não há água, cara esposa!” disse ele.
Mas ela pedia, e pedia, até que ele cortou seus joelho direito com a espada e disse,
Água não há nenhuma ; mas sente e beba sangue aqui do meu joelho.” E assim ela fez.
Logo logo chegaram no poderoso Ganges. Beberam e banharam-se, comeram todo tipo de fruta e descansaram em um lugar agradável. E lá numa praia do rio fizeram uma cabana de eremita e lá habitaram.

Aconteceu de um ladrão das regiões do Alto Ganges ser culpado de alta traição. Suas mãos, seus pés, seu nariz e suas orelhas foram cortados e ele foi colocado em uma canoa e deixado a descer o rio. Até esta praia ele boiou, gemendo alto de dor. O Bodhisatva escutou seu chorar lastimável.

Enquanto estou vivo,” disse ele, “nenhuma pobre criatura morrerá por minha causa!” e foi à praia e salvou o homem. Ele o trouxe para a cabana e tratou seus ferimentos com óleos e loções cicatrizantes.

E a esposa disse para si mesma, “Aí está um belo incapaz tomado do Ganges para cuidar !” e saiu cuspindo desgosto pelo sujeito.

Bem, quando os ferimentos do ladrão estavam sãos, o Bodhisatva o deixou morar lá na cabana junto com a esposa e trazia frutos de todos os tipos da floresta para alimentar a ele e a mulher. E enquanto moravam juntos, a mulher caiu de amor pelo sujeito e pecou. Então passou a desejar matar o Bodhisatva e disse a ele, “Marido, enquanto estava sentada nos seus ombros saindo do bosque, vi um monte lá, e fiz voto de que se nos salvássemos sem nos machucarmos, faria oferta ao espírito santo daquele monte. Agora este espírito me assombra : desejo pagar minha oferta !”

Muito bom,” disse o Bodhisatva, sem saber do engano dela. Ele preparou uma oferta e entregando a ela o vaso da oferta, subiu ao topo do morro. Então sua esposa disse a ele,Marido, não o espírito do monte mas você é meu chefe dos deuses ! Então em sua honra primeiro de todos, oferecerei flores silvestres e andarei reverencialmente ao seu redor, mantendo você à direita e saudando-o : e depois disto oferecerei ao espírito do monte.”

 Assim falando, ela o colocou diante do precipício, fingindo que estava ansiosa em saudá-lo de modo reverente. Ficando assim às costas dele, ela o empurra por trás e o atira para baixo do precipício. Grita então de alegria, “Vi as costas do meu inimigo !” e desce da montanha e vai para junto de seu amante.

Bem, o Bodhisatva tombou descendo a escarpa ; mas ficou preso num galho de folhas de figueira onde não havia espinhos. Mesmo assim não podia descer da montanha, então lá ficou sentado nos galhos, comendo figos. Acontece que um grande Iguana usava subir o monte a partir do sopé, para ir comer os figos. Naquele dia, ele viu o Bodhisatva e fugiu. No dia seguinte, ele veio e comeu alguns frutos em um lado dela. Outro dia ele veio, e outro, até que estabeleceu amizade com o Bodhisatva.

Como chegaste a este lugar ?” ele perguntou ; e o Bodhisatva disse a ele como.

Bem, nada temas,” disse o Iguana ; e levando-o em suas próprias costas, desceu com ele da montanha e o trouxe para fora da floresta. Lá colocou-o na auto-estrada e mostrou a ele o caminho a seguir e voltou para a floresta.

O outro prosseguiu até uma certa cidade e lá morou até que escutou falar da morte de seu pai. Com isto dirigiu-se para Benares. Lá herdou o reino que pertencia a sua família e tomou o nome de Rei Lótus, não transgredindo as dez regras de retidão dos reis e legislou retamente. Construiu seis Salas de Munificência, uma em cada um dos quatro portões, uma no meio da cidade e uma diante do palácio ; e todo dia distribuía de presente seiscentas mil moedas de dinheiro.

Bem, a má esposa tomou o amante nos ombros e saiu com ele de de dentro da floresta ; e ela saiu mendicante no meio do povo e ganhou arroz e mingau para alimentá-los por enquanto. Se fosse questionada o quê era o homem para ela, ela respondia, “A mãe dele era irmã do meu pai, ele é meu primo ; me deram ele. Mesmo se um meu marido estivesse destinado à morte, eu o levaria nos ombros e cuidaria dele e colheria oferta para ele viver !”
Que esposa devota !” disse todo o povo. E com isto davam a ela mais comida do que nunca. Alguns também deram conselho, dizendo, “Não viva deste jeito. Rei Lótus é senhor de Benares ; ele agita toda a Índia com sua munificência. Ele ficará deliciado de te ver ; tão deliciado ficará, que te dará riquezas. Ponha seu marido numa cesta e vá até ele.” Assim falando, a persuadiram e deram a ela uma cesta de vime.

A má mulher colocou o amante na cesta e levando-o foi para Benares e vivia do que conseguia nas Salas de Munificência. Bem, o Bodhisatva usava dirigir até a sala de ofertas em cima de um elefante esplêndido, enfeitado; e após fazer ofertas a oito ou dez pessoas, ele volta de novo para casa. Então a mulher má coloca o amante na cesta e levando-o, lá espera pela passagem do rei. O rei a viu. “Quem é esta ?” ele perguntou. “Uma esposa devota,” foi a resposta. Ele manda chamá-la e reconhece quem ela era. Ele faz com que desçam o sujeito da cesta e a pergunta, “O quê é este homem para você ?” - “Ele é filho da irmã do meu pai, que me foi dado por minha família, meu próprio marido,” ela respondeu.
Ah, que esposa devota !” gritaram todos : pois não sabiam dos foras e dentros dela ; e louvaram a má mulher.
O quê – é este tratante teu primo? Sua família te deu ele?” perguntou o rei; “é ele seu marido ?”
Ela não reconheceu o rei ; e “Sim, meu senhor !” ela disse, com toda a coragem.

E é este o filho do rei de Benares? Não és a esposa do príncipe Lótus, e filha de tal e tal rei, seu nome tal e tal? Não bebeste o sangue do meu joelho ? Não caíste de paixão por este tratante e me atiraste para baixo de um precipício? Ah, pensastes que eu estava morto e aí estais com a morte escrita em tua própria testa – e aqui estou, vivo !” Então ele se dirigiu a seus cortesãos. “Vocês lembram o que lhes contei quando me questionastes ? Meus seis irmãos mais novos mataram as seis esposas e as comeram ; mas eu mantive minha esposa salva, e a trouxe às margens do Ganges, onde morávamos em cabana de eremita : retirei um condenado criminoso para fora do rio e cuidei dele ; esta mulher se apaixonou por ele e me atirou para baixo do precipício mas salvei minha vida mostrando gentileza. Esta não é outra que a mulher má que me atirou no precipício : este e não outro é o desgraçado do condenado !” E então pronunciou os versos seguintes:

Sou eu – não outro, e esta quenga é ela;
O ladrão sem mãos, nenhum outro, lá vês;
Diz ela – 'Este é o marido da minha juventude.'
Mulheres merecem morte ; não têm verdade.
Com um grande porrete batam para fora a vida do farsante
Que descansa a espera de roubar a esposa de outro.
Peguem logo então a fiel meretriz,
E cortem fora orelhas e nariz antes que ela morra.

Apesar do Bodhisatva não engulir sua raiva e ordenar esta punição para eles, ele não fez assim ; mas amansou sua ira e fixou a cesta na cabeça dela, tão firme que ela não poderia tirar fora ; colocou o vilão dentro e foram dirigidos para fora do reino.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : - na conclusão das Verdades o Irmão desviante entrou no Fruto do Primeiro Caminho : - “Naqueles dias certos anciãos eram os seis irmãos, a jovem senhora Ciñca era a esposa, Devadatra o criminoso, Ānanda era o Iguana e Rei Lótus era eu mesmo. “







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