terça-feira, 9 de setembro de 2008

186 Buddha e o rei Gerador de Coalhadas


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           ( Pintura de teto de Ajanta, Índia )  

186
Doce já foi o sabor da manga...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto morava em Jetavana, sobre manter má companhia. As circunstâncias são as mesmas que as de cima. Novamente o Mestre disse: “Irmãos, má companhia é ruim e deletéria ; por quê deve-se falar dos efeitos danosos da má companhia em seres humanos ? Em dias há muito idos, vegetais mesmos, uma mangueira, cujas doces frutas eram um prato adequado aos deuses, ficou amarga e ácida devido à influência de uma árvore parasita e amarga nimb.” Então ele contou uma história.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), quatro brahmins, irmãos, da terra de Kasi, deixaram o mundo e tornaram-se eremitas ; construíram para si mesmo quatro cabanas em fila nos planaltos do Himalaia e lá eles viveram.

O irmão mais velho morreu e nasceu como Sakra. Sabendo quem fora, ele usava visitar os outros toda semana e dar-lhes uma ajuda.

Um dia, ele visitou o mais velho dos anchoritas e após a saudação usual, tomou seu lugar em um dos lados. “Bem, Senhor, como posso servi-lo ?” ele perguntou. O eremita, que sofria de icterícia, respondeu, “Fogo é o quê quero.” E Sakra deu a ele a machadinha-navalha. (A machadinha-navalha é assim chamada porque serve como navalha e como machadinha de acordo com o jeito que você segura na empunhadura.) “Pra quê,” disse o eremita, “quem consegue arranjar lenha com isto ?” “Se quiseres fogo, Senhor,” respondeu Sakra, “tudo que tens a fazer é bater com a mão em cima do machado e dizer - 'Cate lenha e faça um fogo !' O machado juntará a lenha e fará para ti um fogo.”

Após dar a este a machadinha-navalha, visitou depois o segundo irmão, e fez a ele a mesma pergunta - “Como posso servi-lo, Senhor ?” Bem, havia um caminho de elefante ao lado da cabana dele e as criaturas o importunavam. Então contou a Sakra que era perturbado pelos elefantes e queria poder afastá-los para longe. Sakra deu a ele um tambor. “Se você bater deste lado, Senhor,” ele explicou, “seus inimigos vão fugir ; mas se bateres do outro lado, eles se tornaram seus amigos fiéis e ficaram a seu redor como num exército em formação quádrupla.” Então passa para as mãos dele o tambor.

Por fim, prestou visita ao mais jovem e perguntou como antes como poderia servi-lo. Este também tinha doença ictérica e o quê disse foi - “Por favor me arranje coalhada.” Sakra deu a ele uma tigela de leite, com estas palavras : “Dê uma reviravolta nisto se quiseres algo e um grande rio se derramará para fora dele e inundará todo local, e será mesmo capaz de ganhar um reino para ti.” Com estas palavras ele partiu.

Após o quê o machado usava fazer fogo para o irmão mais velho, o segundo usava bater o tambor de um lado para afastar os elefantes e o mais jovem tinha coalhada para comer.

Neste tempo, um javali selvagem que vivia numa cidade arruinada, iluminava-se com uma gema que possuía poder mágico. Pegando a gema com a boca, ele se eleva no ar com a mágica dela. De longe podia ver uma ilha no meio do oceano e lá resolve morar. Descendo nela, escolhe um lugar agradável debaixo de uma mangueira e lá fixa residência.

Um dia ele adormece debaixo da árvore, com a joia largada na frente dele. Bem, um certo homem do país Kasi que foi expulso de casa pelos pais como bagunceiro, direciona-se para a marina, cais, onde embarca como servente de marinheiro num navio. No meio do mar o barco naufragou e ele flutuou numa prancha para esta ilha.

Enquanto vagava atrás de fruto espreitou nosso javali pregado no sono. Calmamente ele rastejou, apanhou a gema, e descobre-se por mágica elevado nos ares ! Ele pousa na mangueira e pondera. “A mágica desta gema,” ele pensa, “ensinou aquele javali lá a ser um andarilho do céu ; foi como ele chegou aqui suponho. Bem ! Devo matá-lo e me alimentar dele primeiro ; e depois irei embora.” Então ele quebra um galho e joga na cabeça do javali. O javali acorda e não vendo a gema, corre tremendo para cima e para baixo. O homem acima na árvore ri. O javali olha para cima e vendo-o, corre com a cabeça contra a árvore e se mata.
O homem desce, acende um fogo, cozinha o javali e faz uma refeição. Depois eleva-se nos ares e começa sua jornada.

Quando ele passava por cima do Himalaia, ele viu um estabelecimento de eremitas. E aí desceu e passou dois ou três dias na cabana do irmão mais velho, conversando e entretendo-se, ele descobre a virtude do machado. Ele decide-se a tê-lo para si. Então mostra a nosso eremita a virtude da gema e a oferece em troca do machado. O eremita ansiava em ser capaz de andar pelos ares, e fisga a barganha. O homem apanha o machado e vai embora ; mas antes de ter se afastado muito, coloca-o na mão, bate no machado e diz - “Machado! Esmague o crânio daquele eremita e traga-me a gema !” Saiu voando o machado, clivou o crânio do eremita e trouxe a gema de volta.

Então o homem escondeu o machado e prestou visita ao segundo irmão. Com ele o visitante ficou uns dias e logo descobriu o poder do tambor. Então ele troca a gema pelo tambor, como antes, e como antes faz o machado clivar o crânio do dono. Após o quê ele se dirige ao mais jovem dos três eremitas, descobre o poder da tigela de leite, dá sua joia em troca dela, e como antes envia o machado para clivar o crânio do homem. Assim agora ele possuía a joia, machado, tambor e tigela de leite, todos os quatro.

Agora ele eleva-se nos ares. Parando próximo a Benares, escreve uma carta que envia por mãos de mensageiros dizendo que o rei deve ou brigar ou se render. Ao receber a mensagem o rei projeta-se para fora para “prender o tratante.” Mas ele bateu de um lado de seu tambor e estava prontamente cercado por um exército em divisão quádrupla. Quando ele viu que o rei dispôs suas forças, revirou a tigela de leite e um grande rio dela se derramou ; multidões foram no rio de coalhada, afogadas. Depois ele bate no seu machado. “Traga-me a cabeça do rei !” grita ele ; saiu fora o machado e voltou e largou a cabeça aos pés dele. Ninguém conseguiu levantar a mão contra ele.

Assim, cercado por larga hoste, ele entra na cidade e se faz ser ungido rei com o título de rei Dadhi-vahana, ou Gerador de Coalhadas e legislou com retidão.

Um dia, enquanto o rei divertia-se jogando rede num rio, apanhou um fruto de manga, adequado aos deuses, que flutuará descendo do Lago Kannamunda. Quando a rede foi arrastada para fora, apareceu a manga, e a mostraram ao rei. Era um fruto pesado, grande como uma bacia, redondo, e dourado de cor. O rei perguntou que fruto era : Manga, disseram os mateiros. Ele come dela e planta a semente no seu parque e aguava com água leitosa.

A árvore brota e em três anos já carrega frutos. Grande foi a veneração prestada a esta árvore ; água leitosa era colocada nela ; guirlandas de cinco raios ( n. do tr.: em forma de mão ) perfumadas, eram penduradas ; coroas engrinaldavam ao redor ; uma lâmpada era mantida acessa e alimentada com óleo perfumado ; e circundando tudo havia uma tela de pano. O fruto era doce e tinha a cor de ouro fino. Rei Dadhi-vahana, antes de enviar presentes destas mangas para os outros reis, usava espetar com um prego o lugar em que a semente brotaria, temendo que crescesse de modo semelhante se plantado. Quando comiam a fruta, usavam plantar o caroço; mas não conseguiam que brotasse. Eles questionaram a razão e entenderam qual era o problema.

Um rei pergunta a seu jardineiro se ele poderia estragar o sabor desta fruta e torná-la amarga na árvore. Sim, o homem disse que poderia ; então seu rei deu a ele mil dinheiros e o enviou com este propósito.

Assim que chega em Benares, o sujeito envia mensagem ao rei que um jardineiro chegou. O rei o admite a sua presença. Após o homem tê-lo saudado, o rei perguntou, “És jardineiro ?” “Sim, Senhor,” disse o homem e passou a falar de suas virtudes. “Muito bem,” disse o rei, “podes ir e ajudar meu jardineiro.” Após o quê ambos passam a cuidar do jardim real.

O recém chegado manejou para tornar o parque mais bonito, forçando flores e frutos a saírem fora da estação. Isto agradou o rei, de modo que ele demite o jardineiro antigo e entrega o parque aos cuidados unicamente do recém chegado. Assim que este homem pegou o parque em suas próprias mãos, planta trepadeiras e nimbs ao redor da mangueira única. Logo brotam as nimbs. Para baixo e para cima, raiz com raiz, ramo a ramo, enredavam na mangueira. Por isto esta árvore, de doces frutos, ficou amarga como a folha amarga da nimb, pela companhia desta nociva e ácida planta. Logo que o jardineiro entendeu que os frutos estavam amargos, 'deu sebo às canelas'.

Rei Dadhi-vahana saiu andando por seu jardim e pegou um naco, tasco de manga. O sumo em sua boca sabia como a desagradável nimb ; engulir não podia, então tossiu e cuspiu fora. Bem naquele momento o Bodhisatva era seu conselheiro temporal e espiritual. O rei virou para ele. “Sábio Senhor, esta árvore tem sido bem cuidada desde sempre e ainda assim seu fruto está amargo. Qual será a causa disto ?” e perguntando esta pergunta, repetiu a primeira estrofe:-

Doce já foi o sabor da manga, doce seu cheiro, sua cor dourada :
O quê causa este sabor amargo ? Pois cuidamos dela há muito tempo.

O Bodhisatva explicou a razão na segunda estrofe:-

Ao redor do tronco entrelaçando, ramo com ramo, raiz com raiz,
Veja a trepadeira amarga subindo ; isto é que estraga teu fruto ;
E assim você vê que má companhia faz o bom seguir junto.

Escutando isto o Bodhisatva faz com que todas as trepadeiras e nimbs sejam removidas e suas raízes arrancadas também ; o solo nocivo foi todo retirado e terra doce colocada em seu lugar ; e àrvore foi cuidadosamente alimentada com doce água, água leitosa, água cheirosa. Então absorvendo toda esta doçura, seus frutos cresceram doces novamente. O rei coloca o jardineiro antigo encarregado novamente do parque e após vida feita passou, sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Depois que este discurso estava terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “Naqueles dias eu era o conselheiro sábio.”