quinta-feira, 21 de agosto de 2008

170 Buddha Mah'Osadha


      ( Pintura de Ajanta, Mah'Osadha conversando com Senaka e os outros três )

170
          (continuação da história de Maha [Grande] Osadha e Amara, Jatakas 110, 111, 112 na qual entramos direto na questão 19)

19. Agora o rei desejava testar o sábio. Naquele tempo havia uma joia preciosa em um ninho de corvo numa palmeira que elevava-se às margens de um lago próximo ao portão Sul e a imagem desta joia estava sendo vista refletida no lago. Disseram ao rei que havia uma joia no lago. Ele manda chamar Senaka dizendo, “Estão me dizendo que há uma joia no lago ; como vamos pegá-la ?” Disse Senaka, “O melhor modo é drenar fora àgua.” O rei instruiu-os a fazer assim ; ele juntou alguns homens e drenou para fora àgua e lama e cavou o solo no fundo – porém nenhuma joia pode ser encontrada. Mas, quando o lago ficou cheio novamente, lá estava o reflexo da joia para ser visto de novo. Senaka repete o procedimento e não encontra joia nenhuma. O rei então manda chamar o sábio, e fala, “Uma joia é vista no lago e Senaka retirou àgua e a lama e cavou a terra sem achar ela contudo logo que o lago está cheio novamente, ela aparece. Você conseguiria apanhá-la ?” Ele respondeu, “Esta não é nenhuma tarefa difícil, senhor, vou apanhá-la para ti.” O rei ficou agraciado com a promessa e com grande séquito seguiu para o lago, pronto para contemplar o poder do conhecimento do sábio. O Grande Ser ficou de pé na margem e olhou. Percebeu que a joia não estava no lago mas que devia estar n'árvore e falou alto, “Senhor, não há joia nenhuma no tanque.” “O quê! Não está visível n'água ?” Aí ele pediu que trouxessem uma caçamba d'água e disse, “Agora meu senhor, veja – não está a joia visível em ambos na caçamba e no lago ?” “Então onde que pode estar esta joia ?” “Senhor, é o reflexo [a reflexão] que é visto em ambos no lago e na caçamba mas a joia está em um ninho de corvo nesta palmeira : envie uma pessoa e traga ela para baixo.” O rei fez isto : um indivíduo trouxe para baixo a joia e o sábio a colocou nas mãos do rei. Todo o povo aplaudiu o sábio e zombou de Senaka - “Aí está uma joia preciosa em um ninho de corvo no alto de um'árvore e Senaka fazendo homens fortes cavarem o lago ! Certamente uma pessoa sábia deve ser como Mah' Osadha.” Assim louvavam o Grande Ser ; e o rei estando deliciado com ele, deu lhe um colar de pérolas retirando do seu pescoço mesmo e cordões de pérolas para os mil garotos, e para ele e sua comitiva agraciou com o direito de ficar diante dele sem cerimônias ( n. do tr.: aqui termina os Dezenove Problemas).

Novamente, um dia o rei foi com o sábio para o parque, jardim ; quando um camaleão, que vivia no topo do arco do portão, viu o rei aproximar-se e desceu e deitou esticado no chão. O rei vendo isto perguntou, “O quê ele está fazendo, sábio senhor ?” “Prestando consideração a ti, senhor.” “Se é assim, não deixe o serviço dele ficar sem recompensa ; dê a ele um presente.” “Senhor, um presente para ele não é de nenhuma utilidade ; tudo o quê ele quer é algo para comer.” “E o quê ele come ?” “Carne, senhor.” “Quanto ele deve ter ?” “O valor de um quarto de centavo, senhor.” “Um quarto de centavo não é presente de rei,” falou o rei, e indicou uma pessoa com ordens de trazer regularmente e dar ao camaleão o valor de metade de um aná (centavo hindu) em carne. A partir daí isto foi feito. Mas em um dia de jejum, quando não há abate, o sujeito não pôde encontrar carne ; este indivíduo então faz um furo na peça de meio centavo, aná, e amarra ela numa linha, e coloca no pescoço do camaleão. Isto fez a criatura ficar orgulhosa. Naquele dia o rei novamente foi ao parque ; mas o camaleão quando viu o rei , aproximou-se, com orgulho da riqueza fez-se igual ao rei, pensando consigo mesmo - “Você pode ser muito rico, Videha, mas também o sou.” Deste modo ele não desceu mas permaneceu deitado no arco, cofiando a cabeça. O rei vendo isto disse, “Sábio senhor, esta criatura não desceu ho-je como usualmente ; qual a razão ?” e recitou a primeira estrofe:

Aquele camaleão lá não usa subir no arco : explique, Mah' Osadha, por quê o camaleão tornou-se teimoso.

O sábio entendeu que o sujeito deve ter sido incapaz de encontrar carne em dia de jejum quando não há abate e que a criatura tornara-se orgulhosa por causa da moeda pendurada no pescoço ; e recitou esta estrofe:

O camaleão conseguiu o que não conseguira antes, uma peça de meio centavo ;
daí ele desprezar Vedeha senhor de Mithilā.

O rei manda chamar o encarregado e o questiona e este conta a ele tudo com verdade. Então ele fica mais do que nunca agraciado com o sábio, que (parece) conhecia a mente do camaleão, sem nada perguntar, com a sabedoria semelhante a sabedoria do supremo Buddha ; e deste modo deu a ele a receita coleta nos quatro portões. Ficando irado com o camaleão, ele pensou em suspender o presente mas o sábio disse a ele que seria inadequado e o dissuadiu.

(fim da Questão do Camaleão. Continua no Jataka 192.)





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