terça-feira, 12 de agosto de 2008

163 Buddha e o lore do Elefante


                    
           ( Taxila / Takkasila, Paquistão, onde foi escrito, colocado no papel o Mahabharata )

163
Cinco grupos de elefantes negros...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre a obrigação de fazer ofertas.

Escutamos que em Savatthi, uma família costumava algumas vezes fazer ofertas ao Buddha e seus amigos, algumas davam aos heréticos, ou então os doadores juntavam-se em companhias ou o Povo de uma rua reunia-se, ou o conjunto dos habitantes coletavam voluntariamente as ofertas e apresentavam a eles.

Nesta ocasião os habitantes todos fizeram um conjunto com as coisas necessárias ; mas as opiniões ficaram divididas, alguns pedindo que isto fosse dado aos heréticos, alguns falando por aqueles que seguiam o Buddha. Cada partido agarrado a seu ponto, os discípulos dos heréticos votando nos heréticos e os discípulos do Buddha na companhia do Buddha. Então se propôs que votassem a questão e conformemente eles votaram ; aqueles que eram pelo Buddha eram maioria.

Seguindo o combinado os discípulos dos heréticos não conseguiram evitar que os presentes fossem dados ao Buddha e seus seguidores.

Os cidadãos convidaram a companhia do Buddha ; e por sete dias eles colocaram ricas ofertas diante deles e no sétimo entregaram todos os artigos coletados. O Mestre agradeceu, após o que instruiu uma hoste de pessoas na fruição dos Caminhos. Depois ele voltou para Jetavana ; e quando seus seguidores tinham já cumprido suas obrigações , ele fez um discurso de Buddha em pé diante de sua câmara perfumada, dentro da qual então se retirou.

À tardinha os Irmãos falavam sobre o assunto no Salão da Verdade : “Amigo, como que os discípulos dos heréticos quiseram evitar que isto viesse para os santos! Ainda assim não conseguiram ; toda a coleção de artigos foi depositada diante dos pés dos santos mesmos. Ah, como é grande o poder do Buddha !” “O quê é que vocês estão conversando ?” perguntou o Mestre entrando. Eles disseram. “Irmãos,” falou ele, “esta não é a primeira vez que os discípulos dos heréticos tentam dividir as ofertas que deviam ser dadas a mim. Eles agiram igual anteriormente ; mas sempre os artigos no final eram depositados aos meus pés.” Assim falando, ele contou-lhes um conto(a) de muito tempo atrás.

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Certa vez viveu em Benares ( Varanasi ) um rei Susima ; e o Bodhisatva era filho da senhora do capelão. Quando ele tinha dezesseis anos de idade o pai dele morreu. O pai enquanto vivia era Mestre de Cerimônias nos festivais do elefante do rei. Ele apenas tinha direito sobre todos os arreios e petrechos dos elefantes que vinham para o lugar do festival. Deste jeito ele ganhava o equivalente a dez milhões para cada festival.

No momento da nossa história aproximava-se a época para o festival do elefante. E os Brahmins todos afluíram ao rei, falando estas palavras: “Ó grande rei ! Está chegando a estação do festival do elefante e um festival deve ser feito. Mas este seu filho do capelão é muito jovem ; não sabe nem os três Vedas nem o lore ( tradição) dos elefantes ( n. do tr.: um manual de treinador de elefante, os hastisutram ou hastiçiksa, cf. Mallinatha, Raghuv. VI, 27.) Podemos conduzir a cerimônia ?” Com isto o rei consentiu.

Saíram os Brahmins felizes. “Aha,” eles falaram, “impedimos o garoto de realizar o festival. Faremo-lo nós mesmos e ficaremos com os ganhos !”

Mas a mãe do Bodhisatva escutou que em quatro dias haveria um festival do elefante. “Por sete gerações,” ela pensou, “nós cuidamos dos festivais de elefante de pai para filho. O velho costume sairá de nós e nossos bens irão todos desvanecer !” Ela chorou e se lamentou. “Por quê estais chorando ?” perguntou o filho dela. Ela contou a ele. Ele falou - “Bem, mãe, devo conduzir o festival ?” “Como você, filhinho ? Não sabes os três Vedas ou o lore de elefante ; como farás isto ?” “Quando eles farão o festival, mãe ?” “De agora daqui há quatro dias, meu filho.” “Onde passo encontrar professores que saibam os três Vedas de cor(ação), e todo o lore de elefante ?” “Tal famoso justo professor, meu filho, vive em Takkasila ( Taxila ), no reino de Gandhara, duas mil léguas de distância.” “Mãe,” ele disse, “nosso direito hereditário não perderemos. Um dia me levará até Takkasila ; uma noite será o suficiente para me ensinarem os três Vedas e o lore de elefante ; de manhã viajo de volta para casa ; e no quarto dia arrumo o festival do elefante. Não chore mais !” Com estas palavras ele confortou a mãe.

Cedo na manhã seguinte ele quebrou seu jejum, e partiu só para Takkasila, onde chegou em um único dia. Procurando então o professor, saudou-o e sentou de um lado.
De onde você vem?” perguntou o professor.
De Benares, Professor.”
Qual finalidade ?”
Aprender de ti os três Vedas e o lore de elefante.”
Certamente, meu filho, o aprenderás.”
Mas, Senhor,” disse o Bodhisatva, “meu caso é urgente.” Ele então recontou toda a história, adicionando, “Em um único dia atravessei uma distância de duas mil léguas. Me dê teu tempo apenas por esta noite. Três dias a partir de agora haverá um festival do Elefante ; aprenderei tudo com apenas uma aula.”

O Professor consentiu. Então o garoto lavou os pés do mestre e depositou diante dele uma taxa de mil dinheiros ; ele sentou de um lado e aprendeu sua lição de cor(ação) ; quando nasceu o dia, justo n'aurora, ele terminou os três Vedas e o Lore do Elefante. “Senhor,” ele continuou, “em tal livro tal verso está adiantado, tal outro está extraviado no texto. Ensine seus pupilos deste jeito no futuro,” e corrigiu o ensino do professor para ele.

Após leve refeição disse adeus e em um único dia estava de volta de novo em Benares e saudou sua mãe. “Aprendeste tua lição, meu menino ?” ela falou. Ele respondeu, sim ; e ela ficou deliciada ao escutar isto. [ n. do tr.: não há como não imaginar o menino correndo, em cima de um elefante, numa auto-estrada de elefante, no percurso destas duas mil léguas ida e volta ; o que sacraliza uma estrada que vemos tão percorrida nestes Jatakas : Varanasi - Taxila ].  

Dia seguinte, o festival de elefantes estava preparado. Cem elefantes foram colocados em arreio, dourados, como as bandeiras, tudo coberto com fino artesanato em ouro ; e todo o jardim do palácio estava decorado. Lá estava os Brahmins, em toda sua veste de gala fina, pensando neles mesmos, “Agora faremos a cerimônia, nós a faremos!” Apresentou-se o rei em todo seu esplendor e com ele seus ornamentos e outras coisas que eram usadas.

O Bodhisatva, aparelhado como um príncipe, à frente de seu séqüito, aproximou-se do rei com estas palavras.

É vero realmente, Ó grande rei, que me irás roubar do meu direito ? Irás dar aos brahmins a condução desta cerimônia ? Dissestes que irás dar a eles os vários ornamentos e vasos que são usados ?” e ele repetiu a primeira estrofe como segue:

Cinco grupos de elefantes negros, com presas todas brancas
São teus, adornados em jaezes de ouro.
'Para ti e a ti lhes dou' – tu dizes,
Relembra meu velho direito ancestral ?

Rei Susima, assim dirigiu-se, repetindo então a segunda estrofe:-

Cinco grupos de elefantes negros, com presas todas brancas,
São meus, adornados em jaezes de ouro.
'Para ti e a ti lhes dou' – eu digo,
Meu garoto, relembrando teu direito ancestral.

Um pensamento aí atingiu o Bodhisatva ; e ele disse, “Senhor, se realmente lembras meu antigo direito e seu costume antigo, por quê me negligenciaste e fizeste de outro os mestres do seu festival ?” “Pois me foi dito que não sabias os três Vedas ou o Lore do Elefante e foi por isto que fiz o festival ser conduzido por outros.” “Muito bem, Senhor. Se houver um entre todos estes brahmins que possa recitar uma parte dos Vedas ou do Lore dos Elefantes contra mim, que ele levante-se ! Nem em toda a Índia haverá alguém a não ser eu mesmo que saiba os três Vedas e o Lore do Elefante para ordenar um festival de Elefante !” Orgulhosa como um rugido de leão ressoou a resposta ! Nem um brahmin ousou levantar-se e competir com ele. Assim o Bodhisatva manteve seu direito ancestral e conduziu a cerimônia ; e carregado de riquezas retornou à sua casa.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : - alguns entraram no Primeiro Caminho, alguns no Segundo, alguns no Terceiro e alguns no Quarto : - “Mahamaya era naquele tempo minha mãe, rei Suddhodana era meu pai, Ananda era rei Susima, Sariputra o famoso Professor e eu mesmo o jovem Brahmin.”




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