( Taxila / Takkasila, Paquistão, onde foi escrito, colocado no papel o Mahabharata )
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“Cinco grupos de elefantes negros...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre a obrigação de fazer ofertas.
Escutamos que em Savatthi, uma família costumava algumas vezes fazer ofertas ao Buddha e seus amigos, algumas davam aos heréticos, ou então os doadores juntavam-se em companhias ou o Povo de uma rua reunia-se, ou o conjunto dos habitantes coletavam voluntariamente as ofertas e apresentavam a eles.
Nesta ocasião os habitantes todos fizeram um conjunto com as coisas necessárias ; mas as opiniões ficaram divididas, alguns pedindo que isto fosse dado aos heréticos, alguns falando por aqueles que seguiam o Buddha. Cada partido agarrado a seu ponto, os discípulos dos heréticos votando nos heréticos e os discípulos do Buddha na companhia do Buddha. Então se propôs que votassem a questão e conformemente eles votaram ; aqueles que eram pelo Buddha eram maioria.
Seguindo o combinado os discípulos dos heréticos não conseguiram evitar que os presentes fossem dados ao Buddha e seus seguidores.
Os cidadãos convidaram a companhia do Buddha ; e por sete dias eles colocaram ricas ofertas diante deles e no sétimo entregaram todos os artigos coletados. O Mestre agradeceu, após o que instruiu uma hoste de pessoas na fruição dos Caminhos. Depois ele voltou para Jetavana ; e quando seus seguidores tinham já cumprido suas obrigações , ele fez um discurso de Buddha em pé diante de sua câmara perfumada, dentro da qual então se retirou.
À tardinha os Irmãos falavam sobre o assunto no Salão da Verdade : “Amigo, como que os discípulos dos heréticos quiseram evitar que isto viesse para os santos! Ainda assim não conseguiram ; toda a coleção de artigos foi depositada diante dos pés dos santos mesmos. Ah, como é grande o poder do Buddha !” “O quê é que vocês estão conversando ?” perguntou o Mestre entrando. Eles disseram. “Irmãos,” falou ele, “esta não é a primeira vez que os discípulos dos heréticos tentam dividir as ofertas que deviam ser dadas a mim. Eles agiram igual anteriormente ; mas sempre os artigos no final eram depositados aos meus pés.” Assim falando, ele contou-lhes um conto(a) de muito tempo atrás.
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Certa vez viveu em Benares ( Varanasi ) um rei Susima ; e o Bodhisatva era filho da senhora do capelão. Quando ele tinha dezesseis anos de idade o pai dele morreu. O pai enquanto vivia era Mestre de Cerimônias nos festivais do elefante do rei. Ele apenas tinha direito sobre todos os arreios e petrechos dos elefantes que vinham para o lugar do festival. Deste jeito ele ganhava o equivalente a dez milhões para cada festival.
No momento da nossa história aproximava-se a época para o festival do elefante. E os Brahmins todos afluíram ao rei, falando estas palavras: “Ó grande rei ! Está chegando a estação do festival do elefante e um festival deve ser feito. Mas este seu filho do capelão é muito jovem ; não sabe nem os três Vedas nem o lore ( tradição) dos elefantes ( n. do tr.: um manual de treinador de elefante, os hastisutram ou hastiçiksa, cf. Mallinatha, Raghuv. VI, 27.) Podemos conduzir a cerimônia ?” Com isto o rei consentiu.
Saíram os Brahmins felizes. “Aha,” eles falaram, “impedimos o garoto de realizar o festival. Faremo-lo nós mesmos e ficaremos com os ganhos !”
Mas a mãe do Bodhisatva escutou que em quatro dias haveria um festival do elefante. “Por sete gerações,” ela pensou, “nós cuidamos dos festivais de elefante de pai para filho. O velho costume sairá de nós e nossos bens irão todos desvanecer !” Ela chorou e se lamentou. “Por quê estais chorando ?” perguntou o filho dela. Ela contou a ele. Ele falou - “Bem, mãe, devo conduzir o festival ?” “Como você, filhinho ? Não sabes os três Vedas ou o lore de elefante ; como farás isto ?” “Quando eles farão o festival, mãe ?” “De agora daqui há quatro dias, meu filho.” “Onde passo encontrar professores que saibam os três Vedas de cor(ação), e todo o lore de elefante ?” “Tal famoso justo professor, meu filho, vive em Takkasila ( Taxila ), no reino de Gandhara, duas mil léguas de distância.” “Mãe,” ele disse, “nosso direito hereditário não perderemos. Um dia me levará até Takkasila ; uma noite será o suficiente para me ensinarem os três Vedas e o lore de elefante ; de manhã viajo de volta para casa ; e no quarto dia arrumo o festival do elefante. Não chore mais !” Com estas palavras ele confortou a mãe.
Cedo na manhã seguinte ele quebrou seu jejum, e partiu só para Takkasila, onde chegou em um único dia. Procurando então o professor, saudou-o e sentou de um lado.
“De onde você vem?” perguntou o professor.
“De Benares, Professor.”
“Qual finalidade ?”
“Aprender de ti os três Vedas e o lore de elefante.”
“Certamente, meu filho, o aprenderás.”
“Mas, Senhor,” disse o Bodhisatva, “meu caso é urgente.” Ele então recontou toda a história, adicionando, “Em um único dia atravessei uma distância de duas mil léguas. Me dê teu tempo apenas por esta noite. Três dias a partir de agora haverá um festival do Elefante ; aprenderei tudo com apenas uma aula.”
O Professor consentiu. Então o garoto lavou os pés do mestre e depositou diante dele uma taxa de mil dinheiros ; ele sentou de um lado e aprendeu sua lição de cor(ação) ; quando nasceu o dia, justo n'aurora, ele terminou os três Vedas e o Lore do Elefante. “Senhor,” ele continuou, “em tal livro tal verso está adiantado, tal outro está extraviado no texto. Ensine seus pupilos deste jeito no futuro,” e corrigiu o ensino do professor para ele.
Após leve refeição disse adeus e em um único dia estava de volta de novo em Benares e saudou sua mãe. “Aprendeste tua lição, meu menino ?” ela falou. Ele respondeu, sim ; e ela ficou deliciada ao escutar isto. [ n. do tr.: não há como não imaginar o menino correndo, em cima de um elefante, numa auto-estrada de elefante, no percurso destas duas mil léguas ida e volta ; o que sacraliza uma estrada que vemos tão percorrida nestes Jatakas : Varanasi - Taxila ].
Dia seguinte, o festival de elefantes estava preparado. Cem elefantes foram colocados em arreio, dourados, como as bandeiras, tudo coberto com fino artesanato em ouro ; e todo o jardim do palácio estava decorado. Lá estava os Brahmins, em toda sua veste de gala fina, pensando neles mesmos, “Agora faremos a cerimônia, nós a faremos!” Apresentou-se o rei em todo seu esplendor e com ele seus ornamentos e outras coisas que eram usadas.
O Bodhisatva, aparelhado como um príncipe, à frente de seu séqüito, aproximou-se do rei com estas palavras.
“É vero realmente, Ó grande rei, que me irás roubar do meu direito ? Irás dar aos brahmins a condução desta cerimônia ? Dissestes que irás dar a eles os vários ornamentos e vasos que são usados ?” e ele repetiu a primeira estrofe como segue:
Cinco grupos de elefantes negros, com presas todas brancas
São teus, adornados em jaezes de ouro.
'Para ti e a ti lhes dou' – tu dizes,
Relembra meu velho direito ancestral ?
Rei Susima, assim dirigiu-se, repetindo então a segunda estrofe:-
Cinco grupos de elefantes negros, com presas todas brancas,
São meus, adornados em jaezes de ouro.
'Para ti e a ti lhes dou' – eu digo,
Meu garoto, relembrando teu direito ancestral.
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