quinta-feira, 5 de junho de 2008

125 Buddha e Katahaka


125
Se ele entre estranhos...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão fanfarrão. A história introdutória sobre ele é como aquela relata no Jataka 80.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um Tesoureiro rico e sua esposa deu à luz um filho seu. E no mesmo dia uma mulher escrava na casa dele pariu um menino e as duas crianças cresceram juntas. E quando o filho do homem rico era ensinado a escrever, o jovem escravo costumava ir levando o material de seu jovem mestre e então aprendeu ele também a escrever. Depois aprendeu dois ou três ofícios e cresceu tornando-se um jovem belo e bem-falante ; e seu nome era Katahaka. Sendo empregado como secretário particular, ele pensou consigo mesmo, “Não ficarei para sempre neste trabalho. Com a menor falta, baterão em mim, me prenderão, marcarão a ferro e me alimentarão com comida de escravo. Lá na fronteira vive um mercador, amigo de meu mestre. Por quê não ir até ele com uma carta parecendo vir de meu mestre, e me passando pelo filho do meu mestre, casar com a filha do mercador e viver feliz para sempre ?”

Então ele escreveu uma carta, dizendo, “O portador desta é meu filho. Seria conveniente que nossas casas se unissem em casamento, e que você oferecesse sua filha a este meu filho e mantivesse o jovem casal junto de ti no momento. Logo que eu puder ir, irei até você.” Esta carta ele selou com o selo particular de seu mestre, e foi para o mercador da fronteira com bolsa cheia, belas roupas, perfumes e semelhantes. E com um arco ficou de pé diante do mercador. “De onde vens ?” disse o mercador. “De Benares.” “Quem é seu pai ?” “O Tesoureiro de Benares.” “E o quê o traz aqui ?” “Esta carta te dirá,” disse Katahaka, entregando-a às mãos dele. O mercador leu a carta e exclamou, “Isto me dá nova vida.” E em sua alegria ofereceu a filha para Katahaka e estabeleceu o jovem casal, que vivia em grande estilo. Mas Katahaka se deu ares, e costumava encontrar defeito nas comidas e nas roupas que a ele eram trazidas, chamando-as de 'provincianas'. “Estes provincianos desorientados,” ele dizia, “não sabem como se vestir. E quanto ao gosto em aromas e guirlandas, eles simplesmente não têm.”

Dando falta do seu escravo, o Bodhisatva disse, “Não vejo Katahaka. Onde ele foi? Encontrem-no.” E saiu o pessoal do Bodhisatva em busca dele, e procuraram para todo lado até que o encontraram. Eles então voltaram, sem Katahaka tê-los reconhecido, e contaram ao Bodhisatva.

Isto não dará certo,” disse o Bodhisatva escutando as novidades. “Irei lá e o trarei de volta.”

 Então ele pediu permissão ao Rei e partiu com grande séqüito. E as notícias se espalharam para todo lado que o Tesoureiro estava caminhando para a fronteira. Escutando as novas Katahaka ficou pensativo sobre como agiria. Ele sabia que ele mesmo era a única razão para a vinda do Tesoureiro e viu que fugir no momento destruiria toda a chance de retorno. Então decidiu sair para encontrar o Tesoureiro e se conciliar com ele comportando-se como escravo dos velhos tempos. Agindo conforme seu plano , fez que se proclamasse (publicamente) em todas as ocasiões sua desaprovação da lamentável decadência do respeito em relação aos pais que se apresentava com as crianças sentando para comer junto dos pais ao invés de esperarem ao lado deles. “Quando meus pais tomam refeição,” disse Katahaka, “eu trago as tigelas e pratos, a cuspideira, e abano os leques para eles. Tal é minha prática invariavelmente.” E explicou cuidadosamente o dever do escravo para com o mestre, tal como trazer água e servi-lo quando se retira. E tendo então assim instruído o povo em geral, disse a seu sogro um pouco antes da chegada do Bodhisatva, “Escutei que meu pai está vindo para vê-lo. É melhor você se aprontar para recebê-lo enquanto eu vou encontrá-lo na estrada com um presente.” “Faça isto, meu caro garoto,” disse o sogro.

Então Katahaka pegou um presente magnífico e saiu com largo séqüito para encontrar o Bodhisatva, a quem entregou o presente com obediência humilde. O Bodhisatva aceitou o presente de modo gentil e no café-da-manhã tendo feito acampamento retirou-se para fazer suas necessidades. Parando seu séqüito, Katahaka tomou água e aproximou-se do Bodhisatva. O jovem então caiu aos pés do Bodhisatva e gritou, “Oh, senhor, pago qualquer soma que quiseres mas não me exponha.”

Não tema ser exposto por mim,” disse o Bodhisatva, agraciado com sua conduta obediente e entrou na cidade, onde foi festejado com grande magnificência. E Katahaka permaneceu agindo como seu escravo.

Enquanto o Tesoureiro estava sentado, o mercador da fronteira disse, “Meu Senhor, com o recebimento de sua carta obedientemente dei minha filha em casamento a seu filho.” E o Tesoureiro deu uma resposta adequada sobre 'seu filho' de um jeito tão gentil que o mercador deliciou-se além da conta. Mas a partir daquele momento o Bodhisatva não podia nem olhar para Katahaka.

Um dia o Grande Ser mandou chamar a filha do mercador e disse, “Minha cara, por favor me arranje uma almofada para a cabeça.” Ela fez isto, e ele a agradeceu pelos seus serviços tão necessários, adicionando, “E agora me diga, minha cara, se meu filho é razoável 'in weal & woe' ( na alegria e na tristeza ) e se você está se dando bem com ele.”

Meu marido tem só um defeito. Ele reclama da comida.”

Ele sempre teve seus defeitos, minha cara ; mas te direi como parar a língua dele. Te direi um texto que deves aprender com cuidado e repetir para teu marido quando ele reclamar da comida de novo.” E ele a ensinou os versos e logo depois partiu para Benares. Katahaka o acompanhou em parte do caminho, e o deixou após a oferta de presentes valiosos ao Tesoureiro. Do dia da partida do Bodhisatva, Katahaka já passou a ficar mais orgulhoso ainda. Um dia sua esposa preparou um belo jantar e começou a ajudá-lo com uma colher mas foi só colocar a comida na boca que Katahaka começou a resmungar. Aí a filha do mercador lembrou sua lição, repetindo a seguinte estrofe:-

Se ele entre estranhos longe de casa falar grosso,
Voltará seu visitante para retirar tudo dele.
- Venha, coma seu jantar então, Katahaka.

[N. do Tr.: O escoliasta explica que a esposa não entende o significado do verso mas só repete as palavras a ela ensinadas. Quer dizer os gatha (versos canônicos) não são em vernáculo mas em língua culta inteligível apenas ao educado Katahaka e não à mulher, que as repete apenas.]

Meu caro.” pensou Katahaka, “o Tesoureiro deve ter informado a ela meu nome e contado toda a história.” E a partir daquele dia ele não teve mais ares mas humildemente comeu o quê se colocava diante dele e à sua morte passou, sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Este Irmão fanfarrão era o Katahaka daqueles dias, e eu o Tesoureiro de Benares.”


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