terça-feira, 30 de junho de 2009

321 Buddha Pássaro Singila


                    Rajagaha, Índia.

321
“Macaco, nos pés...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre enquanto residia em Jetavana, sobre um jovem discípulo que botou fogo na cabana de folhas do ancião MahaKassapa. O incidente que dá origem à história aconteceu em Rajagaha. Naquele tempo, dizem, o ancião vivia numa cela na floresta próxima à Rajagaha. Dois jovens noviços eram ministros de suas vontades. Um deles servia ao ancião, òutro comportava-se mal. O que quer que fosse feito pelo seu camarada, ele fazia como se tivesse sido feito por ele mesmo. Por exemplo, quando òutro rapaz já havia colocado água para lavar a boca (e os dentes), ele se dirigia até o ancião, saudava-o, e falava, “Senhor, àgua está pronta. Podes lavar a boca.” E quando seu companheiro levantava cdo e varria a cela do ancião, assim que o ancião aparecia, ele batia as coisas lá e cá, fazendo como se toda a cela houvesse sido arrumada por ele mesmo.
O discípulo cumpridor dos deveres pensou, “Este sujeito ruim proclama o que quer que eu faça, como se ele houvesse feito. Vou expor seu comportamento dissimulado.” Então quando o jovem tratante voltou da cidade e estava descansando após a refeição, ele esquentou àgua para o banho e a escondeu no quarto de trás, e colocou apenas uma pequena quantidade d'água no boiler. Òutro rapaz, acordando, foi e viu o vapor elevando-se e pensou, “Sem dúvida nosso amigo aqueceu àgua e a colocou no banheiro.” Foi então até o ancião e disse, “Senhor, àgua está no banheiro. Podes tomar banho.” O ancião foi com ele tomar banho e não encontrando água no banheiro, perguntou onde àgua estava. O rapaz foi correndo até a câmara de aquecimento e deixou cair um colherão no boiler vazio. O colherão bateu no fundo do recipiente vazio e produziu som estrondoso. (Daí em diante o garoto ficou conhecido pelo nome de “Colherão Estrondoso.” ) Neste momento òutro rapaz trouxe àgua do quarto de trás e disse, “Senhor, por favor tome seu banho.” O ancião tomou seu banho e estando agora ciente do mau comportamento de Colherão Estrondoso, quando o garoto veio à noitinha para ajudá-lo, ele o reprovou e disse, “Quando alguém que está sob votos religiosos faz alguma coisa, somente ele pode dizer 'Fiz isto.' De outro modo é mentira deliberada. Portanto não se condene comportando-se assim.”
O garoto ficou irado com o ancião e no dia seguinte recusou ir com ele à cidade na coleta de oferta. Òutro jovem contudo acompanhou o ancião. E Colherão Estrondoso seguiu ao encontro de uma família que amparava o ancião. Quando perguntaram onde estava o ancião, ele respondeu que ficara em casa, doente. Eles questionaram o quê ele tinha. Ele disse, “Me dêem isto e isto,” e levou tudo e foi para um lugar que ele gostava e comeu tudo e voltou para o eremitério. Dia seguinte o ancião visitou aquela família e sentou com eles. O pessoal disse, “Você não está bem, está ? Ontem ficaste em casa, na tua cela. Te enviamos alguma comida pelas mãos de tal e tal rapaz. Vossa Reverência partilhou dela ?” O ancião manteve a paz e quando terminou sua refeição retornou para o mosteiro.
À noite quando o garoto veio para ajudá-lo, o ancião dirigiu-se assim a ele : “Foste em coleta de oferta, Senhor, em tal e tal família e em tal e tal cidade. E coletaste falando, 'O ancião deve ter tal e tal coisa para comer.' Então, comeste tudo sozinho. Tal coleta é altamente imprópria. Vejas que não sejas condenado por tal má conduta novamente.”
Assim o garoto para sempre alimentou ressentimento contra o ancião, pensando, “Ontem meramente por causa de um pouco d'água ele provocou uma briga comigo. E agora está indignado porque comi um pouco de arroz da casa casa daqueles que o amparam, briga comigo novamente. Vou encontrar o jeito certo de lidar com ele.” e dia seguinte, quando o ancião foi para a cidade em coleta de oferta, ele pegou um martelo e quebrou todos os potes usados para alimentação e colocando fogo na cabana de folhas, saiu correndo. Ainda em vida tornou-se um preta (zumbi, morto vivo) entre as pessoas e definhou até que morreu, re-nascendo no Grande Ínfero de Avici. E a fama de seus atos maus espalhou-se entre o povo.
Então um dia alguns Irmãos vieram de Rajagaha para Savatthi e após largarem seus mantos e tigelas na Sala Comum, foram, saudaram o Mestre e sentaram. O Mestre conversou agradavelmente com eles e perguntou de onde eles vinham. “De Rajagaha, Senhor,” “Quem é o professor que prega lá ?” ele perguntou. “O Grande Kassapa, Senhor.” “Kassapa está bem, Irmãos ?” ele questionou. “Sim, reverendo Senhor, o ancião está bem. Mas um jovem membro da fraternidade ficou tão irado por conta de uma censura dele, que colocou fogo na cabana de folhas do ancião e fugiu.” O Mestre, escutando isto, disse, “Irmãos, solidão / soledad é melhor para Kassapa do que manter a companhia de um tolo como este.” e assim falando ele repetiu a estrofe do Dhammapada:

Viajar com a horda vulgar recuse,
E amizade com gente tola evite ;
Teu par ou um melhor, escolha, como camarada
Ou então siga seu caminho na solitude.

E ainda se dirigindo aos Irmãos disse, “Não apenas agora, Irmãos, este jovem destruiu a cabana e ficou irado com alguém que o censurava. Em dias idos também ele ficou irado.” E então contou a eles uma lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um jovem pássaro singila. E quando cresceu e tornou-se grande pássaro estabeleceu-se no Himalaia e construiu para si um ninho ao seu gosto, que era à prova de chuva. Então um certo macaco na estação chuvosa quando a chuva caía sem parar, sentou-se perto do Bodhisatva, os dentes tremendo por causa do frio excessivo. O Bodhisatva vendo-o assim estressado, baixou para falar com ele, e pronunciou a primeira estrofe :-

Macaco, nos pés, mãos e face
Tão semelhante à forma humana,
Por que não constróis moradia,
Para esconder-se da tempestade ?

O macaco, ouvindo, respondeu com a segunda estrofe :-

Nos pés e mãos e face, Ó pássaro,
Apesar de próximo aos do homem,
Sabedoria, dom principal a ele conferido,
A mim foi negado.

O Bodhisatva escutando ainda pronunciou duas estrofes mais :-

Aquele que mostra inconstância, de mente leve e volúvel,
Instável expondo-se nos seus caminhos, não pode achar felicidade.
Macaco, para distingüir-se em virtude, empenhe-se ao máximo,
E salvo da rajada invernal, resida, vá, planeje uma cabana de folhas.

Pensou o macao, “Esta criatura, morando num lugar que abriga-se da chuva, me despreza. Não deixarei que ele descanse quieto neste ninho.” De acordo com isto, em sua ânsia em apanhar o Bodhisatva, pulou em cima dele. Mas o Bodhisatva voou para os ares e bateu asas para outro lugar. E o macaco, após bater e destruir o ninho, retirou-se.
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O Mestre, tendo terminado esta lição, identificou o Jataka :- “Naquele tempo o jovem que botou fogo na cabana era o macaco e eu mesmo era o pássaro singila.”






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