segunda-feira, 1 de junho de 2009

302 Os presentes dados...etc.


302
“Os presentes dados...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre o Ancião Ananda. As circunstâncias que sugerem a história já foram dadas. “Em dias anteriores também,” disse o Mestre, “homens sábios agiram com o princípio de que um gesto de bondade merece outro em troca.” E com isso ele contou a eles uma história dos tempos antigos.
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Certa vez quando o Bodhisatva reinava em Benares e exercia sua legislação com justiça e equidade, ele fazia ofertas e guardava a lei moral.
Estando preocupado em por fim a alguns distúrbios na fronteira ele partiu com um largo exército mas sendo derrotado ele montou em seu cavalo e fugiu até alcançar uma certa vila na fronteira. Bem, lá moravam trinta súditos leais que reuniam-se muito cedo, no meio da cidade, para transações comerciais na praça. E neste momento o rei montado em seu cavalo coberto com carapaça e esplendidamente equipado, adentrou na praça pelo portão da vila. O povo ficou aterrorizado e dissendo, “O quê pode ser isto ?” todomundo fugiu para sua casa. Mas havia um homem que sem fugir para sua própria casa, veio dar boas vindas ao rei. E dizendo ao estranho que o rei, ele escutara, veio para a fronteira, inquiriu quem era e se realista ou rebelde. “Sou a favor do rei, Senhor,” ele respondeu. “Então venha comigo,” ele disse e levou o rei para sua própria casa e o fez sentar em sua cadeira. Então o homem disse para sua esposa, “Minha querida, lave os pés deste nosso amigo ;” e quando ela já tinha isto feito, ele ofereceu a melhor comida que pode e preparou-lhe uma cama, pedindo que descansasse um pouco. Assim o rei deitou. Então seu hospedeiro tirou àrmadura do cavalo, soltou-o, deu-lhe água para beber e grama para comer e esfregou óleo nele. Deste jeito cuidou do rei por três ou quatro dias e o rei disse, “Amigo, agora eu vou partir,” e novamente fez todo o serviço necessário para o rei e para o cavalo. O rei depoisque se alimentou, ao partir disse, “Sou chamado Grande Cavaleiro. Nossa casa é no centro da cidade. Se fores lá para qualquer negócio, entre pela porta da direita e pergunte ao porteiro onde mora o Grande Cavaleiro e acompanhe-o e venha em nossa casa.” Com estas palavras ele partiu.
Bem, o exército, não encontrando orei, permaneceu acampado fora da cidade mas quando o viram, saíram para encontrá-lo e o escoltaram até sua casa. O rei entrando na cidade parou na entrada do portão e chamando o porteiro ordenou à multidão que se afastasse e disse, “Amigo, um certo homem que vive numa vila da fronteira virá aqui, ansioso por nos ver, e perguntará onde fica a casa do Grande Cavaleiro. Pegue-o pela mão e traga-o à nossa presença e assim receberás mil dinheiros.”
Mas como o homem não vinha, o rei aumentou o imposto da vila em que morava. Contudo apesar do imposto estar elevado, ainda assim ele não veio. Então o rei aumentou os impostos uma segunda e uma terceira vez, e ainda assim ele não veio. Os habitantes da vila então reuniram-se e disseram ao homem : “Senhor, desde quando o Cavaleiro veio até aqui, somos tão oprimidos com impostos que não podemos nem levantar a cabeça. Vá ver o Grande Cavaleiro e convença-o a liberar um pouco a carga.”
“Está certo, eu irei,” ele respondeu, “mas não posso ir de mãos vazias. Meu amigo tem dois filhos : então aprontem ornamentos e arranjem roupas para eles e para a esposa dele e para meu amigo também.”
“Muito bem,” eles disseram e arrumaram tudo como um presente.
Então ele pegou ambos, este presente e um bolo feito em sua casa. E quando chegou na porta da direita perguntou ao porteiro onde ficava a casa do Grande Cavaleiro. O porteiro respondeu, “Venha comigo e eu te mostrarei,” e tomando-o pela mão e chegando na porta do rei enviou uma mensagem, “O porteiro chegou e trouxe com ele o homem que mora na vila na fronteira.” O rei escutando isto, levantou-se de seu assento e disse, “Deixem meu amigo e todos que vieram com ele entrar.” Então ele seguiu na direção dele para recebê-lo e abraçá-lo e depois de perguntar se sua esposa e filhos estavam bens, tomou pela mão, subiu no alambrado e o sentou no trono real debaixo do parassol branco. E chamou sua esposa principal e disse, “Lave os pés de meu amigo.” E ela lavou os pés dele. O rei aspergia água de uma tigela dourada, enquanto a rainha lavava os pés dele e os ungia com óleo de essências. Então o rei perguntou, “Você nos trouxe algo de comer ?” E ele respondeu, “Sim, meu senhor,” e tirou os bolos da bolsa. O rei colocou-os em um prato dourado e mostrando grande favor para com ele disse, “Comam o quê meu amigo trouxe,” e deu um pouco para a rainha e para os ministros, e ele mesmo também comeu. O estranho então entregou o outro presente. E o rei para mostrar que o aceitava, retirou suas vestes de seda e colocou o conjunto de roupas que o outro trouxera para ele. A rainha também, tirou seu vestido de seda e ornamentos e colocou o vestido e os ornamentos que ele trouxera para ela. O rei depois ofereceu comida própria de rei e ordenou a um dos conselheiros, dizendo, “Vá e veja que a barba dele seja aparada como a minha e que ele seja banhado em água perfumada. Depois vista-o em roupa de seda válida cem mil dinheiros e adornando-o em estilo real, traga-o aqui.” Isto foi feito. E o rei com o toque do tambor através de toda a cidade reuniu seus conselheiros e colocando uma tira / corda vermelha pura através do parassol branco, deu a ele metade do seu reino. A partir daquele dia eles comeram, beberam e moraram juntos e tornaram-se amigos firmes e inseparáveis.
O rei então mandou chamar a família e a esposa do homem e fez com que se construísse uma casa para eles na cidade e legislaram o reino em perfeita harmonia. Os cortesãos então ficaram irados e disseram ao filho do rei, “Ó príncipe, o rei deu metade do reino para um certo dono de casa. Ele come e bebe e mora com ele, e nos ordena que saudemos os filhos dele. Que serviço ele prestou ao rei, não sabemos. O quê o rei pensa ? Nos sentimos envergonhados. Fale com o rei.” Ele prontamente concordou em fazer tal e falou as mesmas palavras para o rei e disse, “Ó grande rei, não aja assim.”
“Meu filho,” ele respondeu, “sabes onde fiquei depois que fui derrotado em batalha ?”
“Não sei meu senhor,” ele disse.
“Fiquei morando,” disse o rei, “na casa deste homem e quando recuperei a saúde, retornei e reinei novamente. Como portanto não deveria conceder honra ao meu benfeitor ?”
E então o Bodhisatva continuou dizendo, “Meu filho, quem quer que dê presente a um que não o valha e ao que merece nada dê, este homem quando cai em infortúnio não encontra ninguém que o ajude.” E para indicar a moral, pronunciou estes versos :-

Os presentes dados a um tolo ou a um ladrão,
Na aflita necessidade não trará amigo para salvação :
Mas graça e delicadeza mostrada ao bom
Na aflita necessidade te trará ajuda oportuna.
Dons às almas que nada valem são gastos em vão,
Teu serviço, o menor que seja, ao bom, é ganho :
Uma nobre ação ainda que solitária,
Rende ao doador o valor de um trono :
Como fruto abundante de uma pequena semente,
Fama eterna brota de um ato de boa mente.

Escutando isto nem os conselheiros nem o jovem príncipe tiveram o quê responder.
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O Mestre seu discurso terminado, assim identificou o Jataka : “Naquele tempo Ananda é que morava na vila na fronteira, enquanto eu mesmo era o rei de Benares.” Cf. Jataka 157.

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