segunda-feira, 15 de junho de 2009

313 Buddha Kundara-kumara, o pregador da paciência



313
“Aquele que cortou...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um Irmão colérico. O incidente que deu origem à história, já foi relatado. O Mestre questionou aquele Irmão dizendo, “Por quê após tomar ordens sob a dispensa do Buddha que não conhece o quê seja ira, mostras raiva ? Sábios em dias idos, apesar de sofrerem mil chibatadas e terem as mãos e os pés e as orelhas e o nariz cortados, não mostraram raiva contra o outro.” E ele então contou uma história dos tempos antigos.
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Certa vez um rei de Kasi chamado Kalabu reinou em Benares. Naquele tempo o Bodhisatva veio à vida em uma família brahmin dotada com tesouro de oitenta 'crores' (oitocentos milhões), na forma de um jovem chamado Kundaka-kumara. E quando estava com idade, alcançou o conhecimento de todas as ciências em Takkasila (Taxila) e depois se estabeleceu como dono de casa.
Com a morte de seus pais, olhando para a pilha do seu tesouro, ele pensou : “Meus parentes que acumularam este tesouro, todos já foram sem levá-lo com eles : agora é a mim que ele pertence e minha vez de partir.” Então ele cuidadosamente selecionou as pessoas, que por virtude de suas ofertas o mereciam, e doou toda esta riqueza a elas, e entrando na região do Himālaia, adotou a vida ascética. Lá morou por um longo tempo, vivendo de frutos do campo. E descendo às partes habitadas devido à busca por sal e vinagre, ele gradualmente fez seu caminho para Benares, onde ficou residência no parque real. Dia seguinte seguiu em ronda à cidade em coleta de ofertas, até chegar à porta do comandante-em-chefe. E ele agraciado com o asceta pela propriedade de sua conduta, o trouxe para dentro da casa e o alimentou com a comida preparada para ele mesmo.E tendo ganho seu consentimento, conseguiu dele fixar moradia no parque real.
Bem, um dia este rei Kalabu estando inflamado de bebida forte foi ao parque em grande pompa, rodeado de uma companhia de dançarinas. Então espalhou uma esteira no assento de pedra real e colocou sua cabeça no colo da favorita do harém, enquanto as coreográficas dançarinas indianas habilidosas em músicas instrumental e vocal dançavam propiciando divertimento – tão grande era sua pompa, como de Sakra, Senhor do céu – E o rei dormiu. Então as mulheres disseram, “Aquele por quem fazemos música caiu no sono. Que necessidade há de cantarmos ?” E largando seus violões e outros instrumentos aqui e ali, dispersando-se no parque, foram tentadas pelas flores e arbustos carregados de frutas a se divertirem.
Neste momento o Bodhisatva estava sentado no jardim, como um elefante real no esplendor do seu vigor, ao pé de um Salgueiro florido, gozando a benção do afastamento do mundo. Então estas mulheres, vagando, o cercam e dizem, “Venham aqui, senhoras, sentemos e escutemos algo do sacerdote que descansa aos pés desta árvore, até que o rei acorde.” Elas foram então e saudando-o e sentando ao redor, falaram, “Fale algo que valha ser escutado.” O Bodhisatva então pregou a doutrina a elas.
Enquanto isto a favorita do rei com um movimento do seu corpo acordou o rei. E o rei acordando e não vendo as mulheres, perguntou, “Onde aquelas vilãs foram ?” “Sua Alteza,” ela disse, “elas foram passear e estão sentadas escutando um certo asceta.” O rei com raiva pegou sua espada e partiu rapidamente, falando, “Darei a este falso asceta uma lição.” Então as mulheres que eram as mais favorecidas, quando viram o rei vindo encolerizado, foram e tomaram a espada da mão dele e o pacificaram. Ele então permaneceu ao lado do Bodhisatva e perguntou, “Que doutrina pregas, Monge ?” “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “O quê é esta paciência ?” disse o rei. “Não irar-se quando alguém abusa ou bate em você ou insulta. ” Disse o rei, “Veremos a realidade da sua paciência,” e mandou chamar seu executor. E este no caminho do seu ofício toma um machado e um açoite com espinhos e vestido de amarelo e com guirlanda vermelha, vem e sauda o rei e diz, “O que queres, Senhor ?” “Pegue e arraste este tratande vil asceta,” disse o rei, “e atirando-o no chão, com seu chicote de espinhos, açoite-o atrás e na frente e em ambos os lados, e dê nele duas mil chibatadas.” Isto foi feito. E as peles do Bodhisatva por dentro e por fora foram cortadas na carne e o sangue fluía. O rei perguntou novamente, “Que doutrina pregas, Monge ?” “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “Imaginas que minha paciência está somente a flor da pele. Não está à flor da pele, mas está fixa profundamente dentro do coração, onde não pode ser vista por ti, Senhor.” Novamente o executor perguntou, “O que queres, Senhor ?” O rei disse, “Corte ambas as mãos deste falso asceta.” Então ele pegou o machado e colocando a vítima dentro de um círculo fatal, corte-lhe ambas as mãos. Disse depois o rei, “Corte os pés,” e os pés foram cortados. E o sangue fluia das extremidades das mãos e dos pés como sumo de um vaso furado. De novo o rei perguntou que doutrina ele pregava. “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “Pensas que minha paciência está nas extremidades das minhas mãos e pés. Não está mas está assenta profundamente em outro lugar.” O rei disse, “Corte fora o nariz e as orelhas.” O executor fez isto. Todo o corpo dele estava agora coberto de sangue. Novamente o rei perguntou da doutrina. E o asceta disse, “Não pense que minha paciência está colocada nas pontas do meu nariz e orelhas : minha paciência situa-se profundamente dentro do meu coração.” O rei falou, “Descanse falso Monge e agora exalte sua paciência.” E assim falando, chutou o Bodhisatva acima do coração e saiu.
Quando ele estava saindo, o comandande-em-chefe limpou o sangue do corpo do Bodhisatva, colocando bandagens nas extremidades das mãos e dos pés, nariz e orelhas e então gentilmente colocando-o na cadeira, o saúda e sentando do lado diz, “Se, Reverendo Senhor, ficares com raiva de alguém que pecou contra ti, encolerizes com o rei, com ninguém mais.” E fazendo este pedido, repete a primeira estrofe :-

Aquele que cortou seu nariz e ouvidos e arrancou pés e mãos,
Com ele fiques irado, alma heróica, mas poupes, pedimos, esta terra.

Ouvindo isto o Bodhisatva pronunciou a segunda estrofe :-

Longa vida ao rei, cuja mão cruel desfigurou meu corpo,
Almas puras como a minha tais atos nunca olha com ira.

E justo quando o rei saía do parque e naquele momento mesmo em que saía da visão do Bodhisatva, a poderosa terra que tem 240.000 léguas de espessura, dividiu-se em duas, como uma forte roupa grossa e chamas saindo de Avici tomaram o rei, envolvendo-o como um manto de lã vermelha real. Assim o rei afundou na terra justo no portão do parque e foi para o grande Inferno de Avici. E o Bodhisatva morreu naquele mesmo dia. E os empregados do rei e os cidadãos vieram com perfumes e grinaldas e incensos nas mãos e realizaram as exéquias do Bodhisatva. E alguns disseram que o Bodhisatva foi direto para os Himalaias. Mas nisto dizem algo que não é.

Um santo antigo, como falaram as pessoas,
Mostrou grande coragem:
Aquele santo forte em agüentar o erro
O rei de Kāsi matou.

Ai ! A dívida do vão arrependimento
Aquele rei terá de pagar ;
Quando condenado a habitar no mais baixo Inferno,
O seu dia de arrependimento será longo.

Estas duas estrofes foram inspiradas por Perfeita Sabedoria.
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O Mestre sua lição terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão colérico atingiu a fruição do Segundo Caminho enquanto muitos outros atingiram a fruição do Primeiro caminho :- “Naquele tempo Devadatra era Kalabu rei de Kasi, Sariputra era o Comandante-em-Chefe e eu mesmo era o Asceta, Pregador da Paciência.”

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