terça-feira, 23 de junho de 2009

318 Buddha Ladrão


318
“Era o alegre tempo...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre em Jetavana, sobre um Irmão que foi tentado por pensar na esposa que deixara. - As circunstâncias que levaram à história serão dadas no Jataka 423 ( // também aos Jatakas 13, 191). - O Mestre dirigindo-se a este Irmão, disse, “Antes, certa vez, por causa dela, tiveste a cabeça cortada.” E então ele relatou uma lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma vila de Kasi na casa de um ladrão, sob o fado de ladrão. Crescendo ganhava a vida como ladrão, e sua fama espalhou-se no mundo como corajoso e forte como um elefante. E ninguém podia pegá-lo. Certo dia invadiu a casa de um rico mercador e levou muitos tesouros. O povo veio ao rei e disse: “Senhor, um poderoso ladrão está assaltando a cidade: prenda-o.” O rei ordenou o prefeito da cidade de prendê-lo. O prefeito espalhando pessoas aqui e lá consegue capturá-lo, ainda com o dinheiro, e manda relatar ao rei. O rei ordena ao prefeito que corte a cabeça do ladrão. Então o prefeito tendo seus braços amarrados fortemente com corda de flor de kanavera vermelha passando pelo pescoço e jogando pó de tijolo na sua cabeça, o açoitou em cada esquina da cidade que passava e então o levou para o lugar de execução ao som duro do tambor. As pessoas diziam: “Este ladrão voraz que roubou nossa cidade está preso,” e toda a cidade estava alvoroçada.
Nesta época vivia em Benares uma cortesã chamada Sāmā, cujo preço era mil peças de dinheiro. Ela era a favorita do rei e tinha uma corte de quinhentas mulheres. E enquanto ela estava na janela aberta do último andar do palácio, ela viu este ladrão sendo levado. Ele era belo e bom de ficar olhando, e elevava-se acima de todos os homens, glorioso e de aparência divina. E quando ela assim o viu passando, ficou apaixonada por ele e pensou consigo mesma,”Por qual artifício posso assegurar este homem como meu esposo ?”. “Deste jeito,” ela disse e enviou por uma empregada, mil dinheiros ao prefeito, e “Diga a ele,” ela falou, “que este ladrão é irmão de Sama e que ele não tem nenhum outro refúgio a não ser em Sama. Peça a ele que aceite o dinheiro e deixe o prisioneiro escapar.” A empregada fez como ela pediu. Mas o governador disse, “Este é um ladrão notório, não posso libertá-lo desse jeito. Mas se encontrar outro homem que o substitua, coloco o ladrão numa carruagem coberta e o envio para ti.” A empregada retornou relatando isto para a sua senhora.
Bem, naquela época um certo jovem mercador rico, que era apaixonado por Sama, a presenteava todo dia com mil dinheiros. E naquele mesmo dia ao crepúsculo seu amante veio como costumava, até a casa dela com o dinheiro. E Sama pegou o dinheiro e colocou-o no colo e sentou chorando. E quando questionada qual era a causa do sofrimento, ela disse, “Meu senhor, este ladrão é meu irmão, apesr de nunca ter vindo me ver, porque as pessoas dizem que minha profissão é vil : quando enviei mensagem ao prefeito ele me respondeu que se ele recebesse mil dinheiros, deixaria o prisioneiro livre. E agora não encontro ninguém que vá e leve este dinheiro ao prefeito.” O jovem devido ao amor que tinha por ela, disse, “Eu irei.” “Vá então,” ela disse, “e leve contigo o dinheiro que me trouxeste.” Assim ele pegou o dinheiro e foi até a casa do prefeito. O prefeito escondeu o jovem mercador em um lugar secreto e fez com que se levasse o ladrão em uma carruagem coberta para Sama. Então ele pensou, “Este ladrão é conhecido no país. Primeiro tem que anoitecer bem. Depois, quando todas as pessoas se retirarem para dormir, executarei o homem.” E assim, arranjando alguma desculpa para atrasar a execução, quando o povo já tinha se retirado para descansar, enviou o jovem mercador com uma larga escolta para o lugar da execução e cortando a cabeça dele com uma espada, impalou o corpo e retornou para a cidade.
Daí em diante Sama não aceitou mais nada de nenhum outro homem mas passava todo seu tempo, tendo prazer com seu ladrão apenas. Ocorreu um pensamento ao ladrão : “Se esta mulher se apaixonar por um outro qualquer, ela me mandará matar e terá prazer com este outro. Ela é muito traiçoeira com seus amigos. Não devo mais morar aqui mas apressar-me em fugir.” Quando saía, pensou, “Não irei de mãos vazias mas pegarei alguns dos ornamentos dela.” Então um dia ele disse a ela, “Minha querida, sempre ficamos dentro de casa como pássaros domesticados em uma gaiola. Vamos um dia nos divertir no jardim.” Ela logo consente e prepara todo tipo de comida, quente e fria, e ornamentando-se toda com todos os ornamentos, dirigiu-se para o jardim / parque, com ele sentado, em carruagem coberta. Enquanto ele se divertia com ela, pensou, “Agora é a hora de escapar.” Então numa amostra de afeição violenta por ela, entraram numa moita de kanavera e fingindo beijá-la, a espreme até que ela desmaia. Soltando-a ele a espolia de todos os seus ornamentos, embrulhando-os numa roupa dela e colocando o embrulho no ombro, pula o muro do jardim e foge.
Quando ela recobra a consciência, levantando-se pergunta sobre seu jovem senhor aos empregados. “Não sabemos, senhora.” “Ele pensa,” ela disse, “que morri e deve ter fugido assustado.” E ficando triste com o pensamento, volta para casa e diz, “Até que eu veja novamente meu querido senhor, não mais deitarei em cama suntuosa,” e ela deitava no chão. E a partir daquele dia não mais coloca roupas bonitas, nem come mais que uma refeição, nem coloca perfumes, guirlandas e coisas semelhantes. E resolvida a buscar e trazer de volta seu amado através de todos os meios possíveis, chama uma trupe de atores e dá a eles mil dinheiros. E eles perguntam, “Que faremos em troca disto, senhora ?” Ela diz, “Não há lugares que vocês não visitam. Vão então em cada arraial, vila e cidade, e reunindo turbas ao redor de vocês, cantem primeiro esta canção no meio do povo,” - ensinando aos atores a primeira estrofe, - “E se,” disse ela, “quando cantares esta canção, meu marido for um da multidão, ele falará com vocês. Então vocês devem falar a ele que estou muito bem e trazê-lo de volta com vocês. E se recusar vir, enviem-me uma mensagem.” E dando a eles o dinheiro das despesas de viagem, fez com que partissem. Eles começaram em Benares e reunindo o povo aqui e lá, por fim chegaram numa vila fronteiriça. Bem, o ladrão desde a sua fuga vivia aí. E os atores reunindo a multidão a redor deles, cantaram a primeira estrofe :-

Era o alegre tempo da primavera
Brilhante em cada flor de árvore e arbusto
Do desmaio despertada
Sāmā vive, e vive para ti.

O ladrão escutando, aproximou-se do ator e disse, “Tu dizes que Sāmā vive, mas eu não acredito.” E dirigindo-se a ele repetiu a segunda estrofe :-

Pode uma montanha ser balançada por ventos ferozes ?
Podem eles chacoalharem a firme terra ?
Contudo, viva ver a morta,
Maravilha mais estranha seria !

O ator escutando estas palavras pronunciou a terceira estrofe :

Sāmā certamente não está morta,
Nem com outro senhor casaria.
Jejuando de todos os pratos, a não ser um,
Ela te ama e a ti apenas.

O ladrão escutando isto diz, “Esteja ela viva ou morta, não a quero,” e com estas palavras ele repetiu a quarta estrofe :-

A imaginação de Sāmā vagabundeia
De confiança testada para amores mais leves :
Eu também a Sāmā trairia
Não fosse, eu iria.

Os atores voltaram e contaram a Sāmā o diálogo com ele. E ela, cheia de pesar, retornou a seu curso anterior de vida.
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O Mestre, quando sua lição estava terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka : Na conclusão das Verdades o Irmão de mente mundana atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo este Irmão era o filho do rico mercador, a esposa que ele deixou era Sama e eu mesmo era o ladrão.”

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