sexta-feira, 19 de junho de 2009

316 Buddha Lebre, Ananda Ariranha,...




                    Borobudur, Indonesia, Buddha Lebre. 


316
“Sete peixes vermelhos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre o dom de todos os requisitos Buddhistas ( filtro, agulha, três hábitos, navalha, tigela, cinto) . Um certo proprietário em Savatthi, dizem, fez oferta de todos os requisitos para a Irmandade com Buddha à sua frente e levantando um pavilhão na sua porta, convidou toda a companhia dos sacerdotes com seu chefe Buddha, os sentou em assentos elegantes preparados para eles e ofereceu-lhes uma variedade de comida delicada e escolhida.”Venham a-manhã novamente” disse e os entreteve por uma semana, e no sétimo dia presenteou o Buddha, e os quinhentos sacerdotes sob ele, com todos os requisitos. No final da festa o Mestre, retornando o agradecimento, disse,”Irmão Leigo, estais certo em dar prazer e satisfação com caridade. Pois esta é a tradição de velhos sábios, que sacrificam sua vida por qualquer mendicante que encontram, e lhes dão até sua própria carne.” E à pedido do anfitrião conta esta lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio a vida como uma jovem Lebre que vivia na floresta. De um lado desta floresta estava o sopé da montanha, do outro lado um rio e no terceiro lado uma vila fronteiriça. A lebre tinha três amigos – um macaco, um chacal e uma ariranha. Estas quatro sábias criaturas viviam juntas e cada uma delas pegava seu alimento em área de caça própria, e pela tarde encontravam-se novamente. A lebre em sua sabedoria à guisa de advertência pregava a Verdade a seus três companheiros, ensinando que ofertas devem ser feitas, a lei moral observada, e dias santos guardados. Eles aceitaram estas advertências e cada um foi para sua própria parte da jângal.
Assim no curso do tempo, o Bodhisatva um dia observando o céu, e vendo a lua, soube que o dia seguinte seria de jejum, e dirigindo-se aos três companheiros falou, "A-manhã será dia de jejum. Que vocês três guardem os preceitos morais e observem o dia santo. Àquele que se atem a prática moral, ofertas trazem um grande prêmio. Portanto alimentem qualquer mendicante que venham até vocês dando-lhe comida de sua própria mesa.” Eles logo aceitaram e recolheram-se cada qual para sua própria moradia.
De manhã bem cedo, àurora, a ariranha saiu fora atrás de sua presa e desceu a uma praia do Ganges. Aconteceu de um pescador trazer para terra sete peixes vermelhos, enfileirando-os juntos em um vime, enterrando-os n'areia da praia do rio. Depois descendo a corrente em busca de mais peixe. A ariranha sentindo o cheiro dos peixes enterrados, cava até encontrá-los e pegando-os grita três vezes, “A quem pertence estes peixes ?”. Não identificando nenhum proprietário, ela segura o vime com os dentes e deixa os peixes na jângal onde habitava, com a intenção de comê-los no momento adequado. E então descansou, pensando quão virtuosa era ! O chacal também saiu em busca de alimento e encontrou numa cabana de mateiro vazia, dois espetos, um lagarto e um pote de iogurte. E depois de gritar bem alto três vezes, “A quem pertence estas coisas ?” e não encontrando proprietário, colocou no pescoço uma corda para levar o pote e mordendo os espetos e o lagarto com os dentes, trouxe-os e deixou-os em sua toca, pensando, “Na devida hora vou devorá-los,” e assim descansou refletindo como era virtuoso.
O Macaco também entrando num capão de árvores e reunindo um punhado de mangas, as deixa em sua parte da jângal, com a intenção de comê-las no momento devido e então descansa pensando como era virtuoso. Mas o Bodhisatva saindo no momento devido, com intenção de pastar grama kusa enquanto descansava na jângal, pensou, “É impossível para mim oferecer grama para mendicante que apareça, não tenho óleo nem arroz nem nada semelhante. Se qualquer mendicante aparecer terei que dar a ele minha própria carne para comer.” Com esta esplêndida amostra de virtude, o trono de mármore branco de Sakra manifestou sinais de calor. Sakra refletindo descobriu a causa e resolveu colocar esta lebre real em teste. Primeiro de tudo ele foi e apareceu disfarçado como um brahmin na morada da ariranha e questionado por quê lá estava, respondeu, “Sábio Senhor, se conseguir algo para comer, após guardar o jejum, realizaria todos meus deveres sacerdotais.” A ariranha respondeu, “Muito bem, te darei alguma comida,” e enquanto conversava com ele, repetiu a primeira estrofe :-

Sete peixes vermelhos trouxe para terra com a cheia do Ganges,
Ó brahmin, coma tua parte, prego, e fique na floresta.

O brahmin disse, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” Depois ele foi até o chacal e quando questionado por ele por quê estava lá, deu a mesma resposta. O chacal, também, prontamente prometeu-lhe alguma comida, e falando com ele repetiu a segunda estrofe :-

Um lagarto e um jarro de coalhada, alimento noturno do mateiro,
Dois espetos para tostar a carne toda, erradamente furtei :
Dou a ti o quê tenho : Ó brahmin, coma, prego,
Se condescendes a ficar um pouco conosco nesta mata.

Disse o brahmin, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” Então foi até o macaco e quando questionado por quê estava ali, respondeu justo como antes. O macaco prontamente ofereceu a ele alguma comida, e conversando pronunciou a terceira estrofe :-

Corrente fresca, manga madura e clareira agradável de verde mata,
É tudo teu para gozares, se puderes contente morar em senda de floresta.

Disse o brahmin, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” E foi até a sábia lebre e sendo questionado por ela por quê lá estava, deu a mesma resposta. O Bodhisatva escutando o que ele queria ficou altamente deliciado e disse, “Brahmin, fizeste bem em vir aqui em busca de comida. No dia de ho-je te darei um dom que nunca ofertei antes mas não deves quebrar a lei moral tirando a vida de animal. Vá, amigo, e quando tiveres empilhado pedaços de madeira e acendido um fogo, vneha e me deixe saber e me sacrificarei atirando-me no meio das chamas e quando meu corpo estiver tostado, comerás minha carne e realizarás teus deveres sacerdotais.” E assim dirigindo-se a ele, pronunciou a quarta estrofe :-

Nem gergelim, nem feijão, nem arroz tenho como alimento para ofertar,
Mas entrego minha carne tostada no fogo, se viveres conosco.

Sakra ouvindo o que ela disse com seu poder miraculoso causa que apareça uma fogueira de carvão queimando e vai e fala para o Bodhisatva. Levantando da cama de grama e indo para o lugar, sacudiu-se três vezes para que se houvesse algum inseto em seu pelo escapasse da morte. Então oferecendo seu corpo inteiro como um dom gratuito atirou-se, e como um cisne real, pairando acima de uma moita de lótus, em ênstase de alegria ele caiu na fogueira de carvão em brasa. Mas as chamas não conseguiram nem atingir os poros dos pelos do corpo do Bodhisatva e foi como se entrasse numa região gelada. Então ele se dirigiu à Sakra nestas palavras: “Brahmin, o fogo que acendeste é gelado : falha em esquentar mesmo os poros dos pelos do meu corpo. Qual o significado disto ?” “Sábio senhor,” ele respondeu, “Não sou brahmin. Sou Sakra, vim para testar tua virtude.” O Bodhisatva disse, “Se não apenas você Sakra mas todos os habitantes do mundo testassem-me nesta matéria de ofertas, não encontrariam em mim nenhuma falta de vontade em ofertar,” e assim o Bodhisatva gritou um grito de exultação como um rugido de leão. Então disse Sakra ao Bodhisatva, “Ó sábia lebre, seja tua virtude conhecida por todo um éon.” E espremendo a montanha, com a essência assim extraída emboçou o signo da lebre na órbita da lua. E após depositar a lebre numa cama de grama kusa jovem , na mesma parte florestal da jângal, Sakra retornou para seu lugar no céu. E estas quatro criaturas habitaram felizes e em harmonia juntas, observando a lei moral e guardando os dias santos, até que partiram sendo tratados de acordo com seus atos.
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O Mestre, quando terminou esta lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o dono de casa que fez oferta de todos os requisitos Buddhistas, atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo Ananda era a ariranha, Moggaallana era o chacal, Sariputra o macaco e eu mesmo era a sábia lebre.”

Jatakas 20 do macaco com as canas furadas e 35 da codorna que apaga o fogo, permanecem também por um éon como sinal. Aproximando éon de áion em grego, significaria que o sinal estaria fora do tempo, ex tempore, antes de significar qualquer quantidade hexadecimal. Para os gregos há o tempo e a eternidade (título do livro póstumo de Ananda Coomaraswamy, 'Time and eternity' que disserta justamente sobre esta diferença entre a qualidade e a quantidade do tempo). Kairós é o tempo quantitativamente falando, in-tempore ; áion (éon) o tempo eterno, ex-tempore, de qualidade diferente.

Osamu Tezuka em seu mangá 'Buddha' desenha e reproduz este jataka, tamanha sua importância.

Um comentário:

Mariana disse...

Muito bom , parabéns pelo trabalho!