sexta-feira, 29 de maio de 2009

301 Sariputra Nandisena



301
“Abram os portões...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana sobre àdmissão de quatro mulheres ascetas na vida religiosa.
Tradição diz que os Licchavis da família governanteque somavam sete mil setecentos e sete viviam em Vesali. E todos eles eram dados a argumentar e disputar.
Bem, um certo Jain, hábil em manter quinhentas teses diferentes, chegou em Vesali e teve uma recepção gentil lá. Uma mulher Jain também de caráter semelhante chegou em Vesali. E os chefes Licchavi levantaram uma disputa entre este casal. E quando se mostraram aptos como polemistas, aos Licchavis ocorreu a idéia que um tal casal certamente teria filhos inteligentes. Então arranjaram o casamento entre os dois e como fruto desta união nasceram no devido tempo quatro filhas e um filho. As filhas eram chamadas Saccā, Lolā, Avavādakā e Patācārā e o filho chamava-se Saccaka. Estas cinco crianças quando alcançaram a idade da discrição aprenderam mil teses diferentes, quinhentas da mãe e quinhentas do pai. E os pais instruíram suas filhas deste jeito: "Se um leigo refutar vossas teses, tornem-se esposas dele, se um sacerdote refutar-vos, vos deveis tomar as ordens das mãos dele.”
Depois de um tempo os pais morreram. E quando já estavam mortos, o Jain Saccaka continuou vivendo no mesmo lugar em Vesali, estudando a doutrina dos Liccavis. Mas as irmãs tomaram em suas mãos um ramo de jambo, e no curso de suas viagens de cidade em cidade com o propósito de disputa, por fim chegaram a Savatthi. Lá, plantaram o ramo de jambo, na porta da cidade e dizeram a alguns meninos que estavam lá: "Se algum homem, seja leigo ou sacerdote, estiver em igualdade de disputar uma tese conosco, deixe-o pisar debaixo de seus pés este ramo”. Com estas palavras entraram na cidade em coleta de ofertas.
O venerável Sariputta depois de varrer onde era necessário, e colocar água nos potes vazios e tratar dos doentes, tarde do dia entrou na cidade para coleta de ofertas. E quando soube e viu o ramo de jambo, ordenou os garotos de destruí-lo e pisá-lo. “Que aqueles,” disse ele, “por quem este ramo foi plantado, assim que tenham terminado sua refeição, venham me ver na câmara oitanada, acima do portão de Jetavana.”
Assim ele entrou na cidade e quando havia terminado sua refeição, permaneceu esperando na câmara acima do portão do mosteiro. As mulheres ascetas também, depois de sua ronda de coleta de ofertas, retornaram e encontraram o ramo pisado. E quando questionaram quem havia feito isto, os garotos disseram a elas que foi Sariputra e que se estavam ansiosas por uma disputa, elas fossem à câmara acima do portão do mosteiro.
Assim elas voltaram e seguiram, com uma grande multidão, para a torre do portão do mosteiro e propuseram ao sacerdote mil teses diferentes. O sacerdote resolveu todas as dificuldades delas e então perguntou se conheciam mais alguma.
Elas responderam, “Não, meu Senhor.”
“Então eu,” disse ele, “perguntarei algo para vocês.”
“Pergunte, meu Senhor,” elas disseram, “e se soubermos te responderemos.”
Assim o sacerdote propôs apenas apenas uma questão a elas e quando elas tiveram que desistir, o sacerdote contou a elas a resposta.
Elas disseram, “Fomos vencidas, a vitória ficou contigo.”
“O quê vocês farão agora ?” ele perguntou.
“Nossos pais,” elas responderam, “nos aconselharam assim : 'se fores refutadas numa disputa por um leigo, tornem-se esposas dele, mas se por um sacerdote, recebam as ordens das mãos dele'. - Portanto nos admita na vida religiosa.”
O sacerdote prontamente consentiu e as ordenou na casa da Irmã ( Freira ) chamada Uppalavanna. E todas elas logo atingiram a Santidade.
Então um dia eles falavam deste assunto no Salão da Verdade, como Sariputra se mostrou um refúgio para as quatro mulheres ascetas e como através dele elas todas atingiram Santidade. Quando o Mestre veio e escutou a natureza do que falavam, disse, “Não apenas agora mas em tempos anteriores também, Sariputra mostrou-se um refúgio para estas mulheres. Na ocasião de agora ele as dedicou à vida religiosa mas anteriormente elevou-as à dignidade de rainhas.” Então ele contou uma história do mundo antigo.
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Certa vez quando Kalinga reinava na cidade de Dantapura no reino de Kalinga (na costa Coromandel), Assaka reinava em Potali no país Assaka. Bem, Kalinga tinha um poderoso exército e ele mesmo era forte como um elefante mas não encontrava ninguém que lutasse com ele. Estando então ávido por uma briga, ele disse a seus ministros : “Desejo brigar mas não encontro ninguém para guerrear comigo.”
Seus ministros disseram, “Senhor, há um caminho aberto para ti. Tens quatro filhas de beleza extraordinária. Mande-as se adornarem com jóias e, sentadas numa carruagem coberta, leve-as em cada lugarejo, vila e cidade real com um exército de escolta. E se algum rei desejar tomá-las para seu harém, conseguiremos uma briga com ele.”
O rei seguiu o conselho deles. Mas os reis dos vários países, onde quer que chegassem, temiam deixá-los entrar em suas cidades e enviando presentes, designavam onde poderiam ficar fora dos muros da cidade. Assim atravessaram a largura e o comprimento de toda a Índia até alcançarem Potali no país Assaka. Mas Assaka também fechou seus portões diante deles e apenas mandou presentes. Bem, este rei tinha um ministro hábil e sábio, chamado Nandisena, fértil em expedientes. Ele pensou consigo mesmo : “Estas princesas, dizem as pessoas, atravessaram toda a extensão da Índiia sem encontrarem ninguém que guerreasse pela posse delas. Neste caso, Índia é apenas um nome vazio. Eu mesmo farei guerra à Kalinga.”
Então ele foi e mandou os guardas abrirem o portão da cidade, falando a primeira estrofe :

Abram os portões a estas mulheres : por Nandisena poderoso,
O sábio leão do rei Aruna, é guardada, com retidão, nossa cidade.

[N. do tr.: A glosa diz que Aruna era o nome verdadeiro do rei Assaka.]

Com estas palavras ele fez abrirem as portas e trouxe as donzelas à presença do rei Assaka e disse a ele, “Nada tema. Se houver uma luta, eu cuidarei dela. Faça destas belas princesas suas rainhas principais.” Ele então as instalou como rainhas aspergindo-as com água santificada e despachou os ajudantes delas, pedindo-os que fossem e contassem a Kalinga que as filhas dele foram elevadas à dignidade de rainhas. Assim eles foram e contaram a ele, e Kalinga disse, “Presumo que ele não saiba como sou poderoso,” e imediatamente partiu com um grande exército. Nandisena escutou sobre sua aproximação e enviou uma mensagem quanto a isto : “Que Kalinga permaneça dentro de seus próprios pântanos e não ultrapasse os limites sobre os nossos, e que a batalha seja na fronteira dos dois países.” Recebendo esta mensagem, Kalinga estacionou dentro dos limites de seu próprio território e Assaka também manteve-se no seu.
Neste tempo o Bodhisatva seguia a vida ascética e vivia num eremitério que se situava entre os dois reinos. Disse Kalinga, “Estes monges são gente sabida. Quem pode dizer qual de nós ganhará a vitória e qual será derrotado ? Perguntarei a este asceta.” Então ele veio até ao Bodhisatva disfarçado e sentou respeitosamente em um dos lados, após as saudações usuais disse, “Vossa Reverência, Kalinga e Assaka arrastaram cada um suas forças dentro de seu próprio território, ansiosos por uma luta. Qual deles será vitorioso e qual será derrotado ?”
“Vossa Excelência,” ele respondeu, “um conquistará e òutro será derrotado. Não posso te dizer mais. Contudo Sakra, o Rei do Céu, está vindo para cá. Perguntarei a ele e te direi se voltares a-manhã.”
Então quando Sakra veio pagar respeitos ao Bodhisatva, ele colocou esta pergunta, e Sakra respondeu, “Reverendo Senhor, Kalinga vencerá, Assaka será derrotado e tais e tais presságios serão percebidos antes.” Dia seguinte Kalinga veio, repetiu sua pergunta e o Bodhisatva deu a resposta de Sakra. E Kalinga, sem perguntar quais seriam os presságios, pensou consigo mesmo : “Me disseram que vencerei,” e saiu fora todo satisfeito. Este relato espalhou-se. E quando Assaka o escutou, chamou Nandisena e disse, “Kalinga, eles dizem, sairá vitorioso e nós seremos derrotados. Que faremos ?”
“Senhor,” ele respondeu, “quem saberá disso ? Não se preocupe em quem ganhará a vitória e em quem sofrerá a derrota.”
Com estas palavras ele confortou o rei. Então ele foi ver e saudar o Bodhisatva e sentando respeitosamente em um dos lados, perguntou, “Quem, Reverendo Senhor, vencerá e quem será derrotado ?”
“Kalinga,” ele respondeu, “ganhará o dia e Assaka será batido.”
“E qual, Reverendo Senhor,” ele perguntou, “será o presságio daqule que vence e qual será o daquele que perde ?”
“Vossa Excelência,” ele respondeu, “a deidade tutelar do que vence será um touro branco sem manchas e aquela do outro rei um touro perfeitamente negro, e os deuses tutelares dos dois reis lutarão eles mesmos e serão rigorosamente vitoriosos ou derrotados.”
Escutando isto Nandisena levantou-se e reuniu os aliadosdo rei – eles eram ao redor de mil em número e todos eles grandes guerreiros – e levando-os ao alto de uma montanha próxima perguntou-os, “Vocês sacrificariam suas vidas pelo nosso rei ?”
“Sim, Senhor, sacrificaríamos,” eles responderam.
“Então atirem-se deste precipício,” ele falou.
Eles ensaiaram o fazer quando ele os parou dizendo, “Chega disso. Mostrem-se amigos leais de nosso rei e guerreiem galantemente por ele.”
Todos fizeram voto disto. E quando a batalha era agora iminente, Kalinga concluia em sua própria mente que seria vitorioso e seu exército também pensava “A vitória será nossa.” E deste modo colocaram suas armaduras e ordenados em destacamentos separados, avançaram justo até onde consideravam adequado, e chegado o momento para um grande esforço, falharam em o fazer.
Ambos os reis, montados em seus cavalos, aproximaram-se com a intenção de lutar. E seus dois deuses tutelares moviam-se diante deles, o de Kalinga na forma de um touro branco e o do outro rei na de um touro negro. E quando estes aproximaram-se um do outro, eles também demonstravam que lutariam. Mas estes dois touros eram visíveis apenas aos dois reis e para mais ninguém. E Nandisena perguntou a Assaka, “Sua Alteza, estão os deuses tutelares visíveis para ti ?”
“Sim,” ele respondeu, “eles estão.”
“Em qual aspecto ?” perguntou.
“O deus guardião de Kalinga aparece na forma de um touro branco, enquanto o nosso na forma de um touro negro e parece aflito.”
“Nada tema, Senhor, venceremos e Kalinga será derrotado. Apenas desmonte de seu bem treinado cavalo Sindh e apanhando uma lança, com sua mão esquerda atinja-o com um golpe no flanco e então com este corpo de mil homens avance rapidamente para com um golpe de sua arma derrubar no chão este deus de Kalinga, enquanto nós com mil lanças o atingiremos e assim perecerá a deidade tutelar de Kalinga, sendo Kalinga derrotado e nós vitoriosos.”
“Bom,” disse o rei e ao sinal dado por Nandisena, ele o atingiu com sua lança e seus cortesãos o atingiram com suas mil lanças e a deidade tutelar de Kalinga morreu lá e então.
Enquanto isto Kalinga era derrotado e fugia. E vendo isto todos os mil conselheiros levantaram um alto grito, dizendo, “Kalinga foge.” Kalinga então com medo de morrer, enquanto fugia, reprovou aquele asceta e pronunciou a segunda estrofe :-

“Corajoso Kalinga clamará a vitória,
Derrotando o povo de Assaka vergonhosamente.”
Assim profetizou vossa reverência,
E gente honesta nunca mente.

Deste jeito Kalinga, enquanto fugia, xingava aquele asceta. E na fuga para sua própria cidade ele nem ousou olhar para trás uma única vez. E uns poucos dias depois Sakra veio visitar o eremita. E o eremita conversando com ele pronunciou a terceira estrofe :-

Os deuses de palavras mentirosas são livres,
Verdade seu tesouro principal deve ser.
Aqui, grande Sakra, mentiste ;
Diga-me, prego, a razão por quê.

Escutando isto, Sakra falou a quarta estrofe :-

A ti nunca foi dito, Ó brahmin,
Que os deuses zelam pela coragem do herói ?
A determinação de não submeter-se,
A intrépida proeza no campo,
A alta coragem e a força aventurosa
Para Assaka deram a vitória.

E na fuga de Kalinga, rei Assaka voltou com seus espólios para sua cidade. E Nandisena enviou uma mensagem a Kalinga,que ele devia transmitir uma porção pelo dote das quatro donzelas reais. “De outro modo,” adicionou, “saberei como lidar contigo.” E Kalinga, escutando esta mensagem, ficou tão alarmado que enviou uma porção adequada por elas. E deste dia em diante os dois reis viveram juntos amigavelmente.
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Seu discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “Naqueles dias estas jovens mulheres ascetas eram as filhas do rei Kalinga, Sariputra era Nandisena e eu mesmo era o eremita.”

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