quinta-feira, 7 de maio de 2009

285 A história de Sundari


285
“Para o inferno irá ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o assassino de Sundari. Naquele tempo aprendemos que o Bodhisatva era honrado e respeitado. As circunstâncias são as mesmas que no Kandhaka [?] ; este é um resumo delas. A irmandade do Abençoado recebia ganho e honra como cinco rios que se derramam em uma forte correnteza ; os heréticos, descobrindo que estes ganhos e honras não mais vinham para eles , tornaram-se ofuscados como mariposas àurora, e reuniram-se em conselho : “Desde que o sacerdote Gautama apareceu, nosso ganho e glória saiu de nós. Nenhuma alma sabe mais que existimos. Quem nos ajudará a trazer reprovação a Gautama e impedí-lo de conseguir tudo isto ?” Então uma ideia ocorreu a eles. “Sundari nos fará capaz de fazer isto.” Então um dia quando Sundari visitou o bosque dos heréticos, eles a saudaram mas não disseram mais nada. Ela se dirigia a eles repetidamente mas não recebia nenhuma resposta. “Algo aborrece os santos padres ?” ela perguntou. “Pois, irmã,” disseram eles, “não vês como o sacerdote Gautama nos aborrece, privando-nos de ofertas e honras ?” “Que posso fazer quanto a isto ?” ela disse. “Você, irmã, é bela e amável. Você pode trazer desgraça para Gautama e tuas palavras influenciarão muitos e assim podes restaurar nossos ganhos e boa reputação.” Ela concordou e saiu. Após isto ela costumava pegar flores, essências, perfumes, cânfora, condimentos e frutas e à tardinha, quando uma grande multidão entrava na cidade após ter escutado o discurso do Mestre, e voltava seu rosto em direção à Jetavana. Se alguém perguntasse aonde ela estava indo ela dizia, “Até o Sacerdote Gautama ; vivo com ele em uma câmara perfumada.” Então ela passava a noite em um estabelecimento herético e de manhã entrava na estrada que ia de Jetavana para a cidade. Se alguém perguntasse aonde ela ia, replicava, “Estive com sacerdote Gautama em uma câmara perfumada e ele fez amor comigo.” Após o lapso de alguns dias, contrataram alguns bandidos para matar Sundari diante da câmara de Gautama e atirar o corpo dela em um monte de lixo. E assim fizeram. Os heréticos então fizeram um clamor público em busca de Sundari e informaram o rei. Ele perguntou sobre quem recaía as suspeitas. Eles responderam que ela fora nos últimos dias à Jetavana mas o que aconteceu em seguida eles não sabem. Ele os enviou em busca dela. Agindo com esta permissão, chamaram seus próprios empregados e foram à Jetavana, onde procuraram ao redor até encontrarem-na num monte de lixo. Chamando uma liteira, trouxeram o corpo dela para a cidade e contaram ao rei que discípulos de Gautama mataram Sundari e a atiraram num monte de lixo de modo a esconder o pecado de seu Mestre. O rei mandou que eles percorressem a cidade. Foram através de todas as ruas, gritando, “Venham e vejam o quê foi feito pelos sacerdotes do príncipe Sakya !” e depois voltaram para a porta do palácio. O rei colocou o corpo de Sundari em uma plataforma e ele/ela foi velado/a no cemitério. Todo o povo, exceto os discípulos santos, seguiam dentro da cidade, fora da cidade, nos parques e nas matas, xingando os Irmãos e gritando, “Venham e vejam o quê os sacerdotes do príncipe Sakya fizeram !” Os Irmãos contaram tudo isto ao Buddha. Disse o Mestre, “Bem, vão e censurem este povo com estas palavras:

Para o inferno irá aquele que se delicia em mentir,
E aquele que tendo feito algo, nega :
Ambos, quando a morte os levar,
Como pessoas de ações más, surgirão em outro lugar.

[N. do tr.: Dhammapada, v.306 ; Sutta Nipata, v. 661.]

O rei mandou alguns homens descobrirem se Sundari foi assassinada por outra pessoa. Bem, os bandidos beberam o dinheiro do crime e discutiam entre si. Disse um para outro, “Você matou Sundari com um golpe e depois atirou o corpo dela num monte de lixo e aí está você comprando bebida com o dinheiro do crime !” “Tudo certo, tudo certo,” disseram os mensageiros ; e prenderam os bandidos e os arrastaram para diante do rei. “Vocês mataram ela ?” perguntou o rei. Eles disseram, si, matamos. “Quem mandou ?” “Os heréticos, meu senhor.” O rei chamou os heréticos. “Levantem Sundari,” disse ele, “e a carreguem ao redor da cidade, gritando enquanto andam : 'Esta mulher Sundari quis trazer desgraça para o sacerdote Gautama ; nós a assassinamos ; a culpa não é de Gautama nem de seus discípulos ; a culpa é nossa !' “ Eles fizeram isto. A multidão de inconversos acreditou e os heréticos mantidos à distância de mais dano, recebendo punição pelo assassinato. Daí em diante a reputação de Buddha cresceu mais e mais. Então um dia começaram a fofocar no Salão da Verdade : “Amigo, os heréticos pensaram em manchar o Buddha e só mancharam a eles mesmos ; desde então nossos ganhos e glórias só têm aumentado !” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam. Eles disseram. “Irmãos,” disse ele, “é impossível tornar o Buddha impuro. Tentar manchar o Buddha, é como tentar manchar uma gema preciosa. Em eras passadas , um povo desejava manchar uma joia fina e apesar de muito tentarem, falharam em conseguir.” E ele contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família Brahmin. Quando ele cresceu, percebendo o sofrimento que surge do desejo, saiu fora, e atravessou três cordilheiras do Himalaia, onde se tornou eremita e viveu em uma cabana de folhas.

Próximo a esta cabana havia uma gruta de cristal onde viviam trinta Javalis. Nas proximidades também, um Leão costumava vagar. A sombra dele costumava se refletir no cristal. Os Javalis viam este reflexo e aterrorizados, ficavam magros e fracos. Eles pensaram, “Vemos este reflexo porque o cristal é claro. Vamos sujá-lo e descolori-lo.” Então pegaram lama de um lago perto e esfregaram repetidamente no cristal. Mas o cristal sendo constantemente polido pelas cerdas (pelos das costas dos porcos) dos javalis, ficava mais brilhante ainda.

Eles não sabiam como lidar com a situação ; então decidiram perguntar ao eremita como podiam sujar o cristal. Foram portanto até ele e após saudação respeitável, sentaram do lado dele, e pronunciaram estes dois versos :-

Sete verões estamos aqui
Trinta em uma gruta de cristal.
Agora obscurecer o brilho tentamos -
Mas obscurecê-lo não conseguimos.

Apesar de tentarmos com toda a nossa força
Obscurecer seu brilho,
Mais ainda a luz resplandece,
Qual será a causa ?

O Bodhisatva escutou. Então repetiu a terceira estrofe :-

Este precioso cristal, sem sujeira, brilhante, e puro,
Nenhum vidro - com seu brilho com certeza
Pode-se comparar na terra ao brilho deste.
Javalis, é melhor procurarem outro lugar.

E assim eles fizeram, escutando esta resposta. O Bodhisatva perdeu-se em rapto enstático e tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Após o término deste discurso, o Mestre identificou o Jataka : “Naquele tempo eu era o eremita.”










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