quarta-feira, 20 de maio de 2009

294 Buddha Espírito d'árvore do Jambo



                             
                                ( Veluvana, Bosque de Bambus, Índia )

294
“Quem está sentado...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambus sobre Devadatra e Kokalika. Naquele tempo quando Devadatra começou a perder seus benefícios e reputação, Kokalika passava de casa em casa, dizendo, “Ancião Devadatra é nascido na linhagem do Primeiro Grande rei, do tronco real de Okkaka (Ikshvaku), por nobre descendência ininterrupta, versado em todas as escrituras, cheio de santidade enstática, de fala doce, pregador da lei. Ofertem ao Ancião, ajudem-no !” Com estas palavras ele louvava Devadatra. Por outro lado, Devadatra louvava Kokalika, com palavras tais como estas : “Kokalika veio de uma família brahmin do norte ; ele segue a vida religiosa ; ele é entendido na doutrina, um pregador da lei. Ofertem a Kokalika, ajudem-no !” Assim eles seguiam, louvando um ao outro e alimentando-se em diferentes casas. Um dia os Irmãos começaram a falar sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo, Devadatra e Kokalika vão louvando um ao outro virtudes que não possuem e deste modo conseguem se alimentar.” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam, lá sentados. Eles disseram. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez que estes homens conseguem comida louvando um ao outro. Muito tempo atrás eles fizeram o mesmo.” E ele então contou um conto do mundo antigo.
____________________

Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se um espírito d'árvore em um certo bosque de jambos. Um Corvo pousado num galho de um ramo desta árvore, começou a comer o fruto. Então veio o Chacal, olhou e espreitou o Corvo. Ele pensou, “S'eu bajular esta criatura, talvez eu consiga um pouco de fruto para comer !” Assim, bajulando, repetiu a primeira estrofe:-

Quem está sentado n'árvore jambo -
Doce cantor ! Cuja voz soa gentil para mim ?
Como um pavão jovem ele pia com graça doce,
E senta-se quieto em seu lugar.

O Corvo, em louvor do outro, respondeu com a segunda :-

Aquele que é de nobre nascimento e linhagem
Pode louvar a origem de outros, sabendo o quanto valem.
Como um jovem tigre tu me pareces :
Venha, coma, Senhor, o quê te dou !

Com estas palavras ele balançou o galho e fez alguns frutos caírem. Então o espírito d'árvore, vendo estes dois comerem, após engambelarem-se um ao outro, repetiu a terceira estrofe :-

Mentirosos congregam-se, eu bem sei.
Aqui, por exemplo, um Corvo carniceiro,
E um Chacal comedor de carcaça, em infantil estardalhaço,
Seguem bajulando um ao outro !

Após repetir esta estrofe, o espírito d'árvore, assumindo uma forma assustadora, espantou ambos dali.
___________________

Quando o Mestre terminou este discurso, ele resumiu o Jataka ; “Naquele tempo o Chacal era Devadatra, o Corvo era Kokalika mas o Espírito d'Árvore era eu mesmo.”

[ Esopo Buddhista coloca a Raposa no lugar do Chacal em várias fábulas debaixo d'árvore esperando o fruto, como na famosa 32 com as uvas verdes ; 160 o gaio e a raposa, 165 a raposa e o corvo, 335 a cigarra e a raposa repetem a imagem ; imagem que é a dos frutos espirituais que vemos recorrentemente nos Jatakas ligados aos Caminhos respectivos justamente nesta parte conclusiva do texto. Obviamente são os frutos d'árvore da ciência do bem/mal do pardes bíblico, frutos proibidos mas que, se pensarmos que Adam/Eva levam com eles a muda, ramo, semente, d'árvore proibida  quando expulsos e reconstroem de novo o pardes com responsabilidade própria, livres, senhores de si mesmos, deixam de o ser, proibidos, e passam a lícitos. ]


Nenhum comentário: