quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

63 Buddha Sábio da Tâmara




  ( Pintura de teto de Ajanta, vihara buddhista construída por Arhat Acharya ; clique na imagem para vê-la ampliada  )

63
Iradas são as mulheres...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre outro Brother apaixonado. Quando sendo questionado o Irmão confessou que estava apaixonado, o Mestre disse, “Mulheres são ingratas e traiçoeiras ; por quê estais apaixonado por uma?” E ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva, que havia escolhido uma vida anacorética, construiu para si-mesmo um eremitério às margens do Ganges, e lá ganhou as Consecuções e os Conhecimentos Altos, e assim habitava na benção do Insight. Naqueles dias o Senhor Alto Tesoureiro de Benares tinha uma filha feroz e cruel, conhecida como Senhora Má, que usava xingar e bater nas suas empregadas e escravas. E um dia elas levaram sua jovem senhora para distrair-se no Ganges ; e as garotas brincavam na água, quando o sol se pôs e caiu uma grande tempestade onde estavam. Daí o povo começou a correr, e os ajudantes da garota exclamaram, “Agora é a hora de dar um fim nesta criatura!” e a atiraram direto no rio e fugiram. Caía a chuva copiosamente, o sol se pôs, e veio a escuridão. E quando as empregadas chegaram em casa sem a jovem patroa, e foram questionadas sobre onde ela estava, responderam que ela saíra do Ganges mas que não sabiam para onde fora. A família fez as buscas , mas não encontraram nenhum rastro da garota perdida.

Enquanto isto ela, gritando alto, era arrastada pela corrente aumentada, e à meia-noite aproximou-se de onde morava o Bodhisatva em seu eremitério. Escutando seus gritos, ele pensou consigo mesmo, “Isto é voz de mulher. Devo salvá-la das águas.” Então ele pegou uma tocha de grama e com a luz dela avistou-a no rio. “Não tema ; não tema !” gritava ele animadamente, e vadeou, e, graças a sua força imensa, como a de um elefante, trouxe- a a salvo para terra. Então ele fez para ela um fogo em seu eremitério e colocou diante dela diversas frutas gostosas. Depois que ela comeu, ele perguntou, “Onde é sua casa, e como você caiu no rio?” E a garota contou a ele tudo que aconteceu. “More aqui um pouco,” disse ele, e a instalou na cela, enquanto por dois ou três dias ele ficou morando a céu aberto. E no final deste tempo ele pediu a ela que partisse, mas ela estava determinada a esperar até fazer o asceta cair de amor por ela ; e não partiu. E com o tempo passando, ela influenciou tanto ele, com seus truques e graças femininas, que ele perdeu o Insight. Com ela ele continuou a viver na floresta. Mas ela não gostava de morar naquela solidão e queria ser levada para entre o povo. Ela importunou tanto que ele acabou levando-a para uma vila da fronteira, onde ele a mantinha vendendo tâmaras, e assim era chamado Sábio das Tâmaras. E os da vila pagavam a ele para ensinar-lhes as estações fastas e nefastas, e deram a ele uma cabana para morar na entrada da cidade.

A fronteira foi assolada por ladrões das montanhas ; e fizeram um ataque um dia na vila onde o casal vivia, e a saquearam. Fizeram os pobres do vilarejo empacotarem os pertences, e carregarem-os – com a filha do Tesoureiro entre o resto – até suas moradas. Lá chegando, deixaram todos saírem livres ; menos a garota, por causa de sua beleza, foi feita esposa do chefe dos ladrões.

E quando o Bodhisatva soube disto, pensou consigo mesmo, “Ela não vai aguentar viver longe de mim. Ela escapará e voltará para mim.” E seguiu vivendo, esperando que ela retornasse. Ela enquanto isto estava muito feliz com os ladrões, e só temia que o Sábio da Tâmara viesse para carregá-la. “Me sentiria mais segura,” pensou ela, “se ele estivesse morto. Devo mandar uma mensagem a ele fingindo amor e assim aqui me certificar da morte dele.” E assim ela envia a ele uma mensagem que ela estava infeliz, e que queria que ele a levasse embora.

E ele, acreditando nela, seguiu adiante, e chegou na entrada da vila dos ladrões, de onde ele mandou uma mensagem a ela. “Fugir agora, meu esposo,” disse ela, “seria apenas para cair nas mãos do chefe dos ladrões que nos mataria. Adiemos até a noite a fuga.” Então ela o pegou e escondeu em um quarto ; e quando o ladrão chegou em casa à noite inflamado de bebida, ela disse a ele, “Diga-me, amor, o quê farias se tivesses seu rival em seu poder?”
E ele disse que faria isto e mais isto com ele.
“Talvez ele não esteja tão longe quanto pensas,” ela disse. “Ele está no quarto do lado.”

Pegando uma tocha, o ladrão correu e prendeu o Bodhisatva e bateu nele na cabeça e no corpo o quanto quis. Com os golpes o Bodhisatva não reclamava, apenas murmurava, “Ingratas cruéis ! traidoras mentirosas !” E isto era tudo que ele dizia. E depois que já havia batido, amarrado e colocado deitado o Bodhisatva, o ladrão terminou de comer, e deitou para descansar. De manhã, quando já tinha acabado a ressaca, e ele estava renovado para bater no Bodhisatva, este ainda assim não reclamou mas continuou repetindo aquelas mesmas quatro palavras. E o ladrão foi tomado por isto e perguntou por quê, mesmo quando apanhava, ele continuava a falar aquilo.

“Escute,” disse o Sábio da Tâmara, “e entenderás. Certa vez eu era um eremita morando na solidão da floresta, e lá ganhei Insight. E resgatei esta mulher do Ganges e a ajudei na necessidade, e com as seduções dela cai do meu alto estado. Então larguei a floresta e a amparei na vila, de onde foi levada por ladrões. E ela me enviou uma mensagem que estava infeliz, rogando-me que viesse e a levasse embora. Bem, ela em fez cair em suas mãos. Por isto fico falando aquilo.”

Isto fez o ladrão meditar de novo, e ele pensou, “Se ela pode gostar tão pouco de alguém que fez tanto e foi bom com ela, que injúria ela não me faria? Ela deve morrer.” Então tendo tranquilizado o Bodhisatva e acordado a mulher, ele saiu com espada na mão, fazendo ela pensar que iria matá-lo fora da vila. Então fazendo-a segurar o Sábio da Tâmara ele lançou a espada, e, fingindo que ia matar o sábio, clivou a mulher em duas. Depois banhou o Sábio da Tâmara da cabeça aos pés e por vários dias o alimentou com comidas finas até sua satisfação.

“Onde pretendes ir agora?” disse o ladrão por fim.
“O mundo,” respondeu o sábio, “não me dá prazer. Me tornarei eremita novamente morando na minha antiga casa da floresta.”
“Eu também me tornarei eremita,” exclamou o ladrão. Então ambos se tornaram eremitas juntos, e moravam no eremitério da floresta, onde ganharam os Altos Conhecimentos e as Consecuções, e qualificaram-se quando a vida terminou para entrarem no Reino de Brahma.

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Depois de contar estas duas histórias, o Mestre mostrou a conexão, recitando como Buddha, esta estrofe:-

Iradas são as mulheres, mentirosas, ingratas,
Semeadoras de dissensões e briga desumana !
Então, Irmão, trilhe o caminho da santidade,
E Benção nela não deixarás de encontrar.

Sua lição terminada, o Mestre pregou as Verdades, no final dos quais o Irmão apaixonado ganhou o Fruto do Primeiro Caminho. Também, o Mestre identificou o Jātaka dizendo, “Ānanda era o chefe dos ladrões naqueles dias, e eu mesmo era o Sábio da Tâmara.”



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