quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

55 Buddha e o Ogro


55
Quando não se está apegado...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão que desistiu de todo esforço em perseverar.

Disse o Mestre a ele, “É verdade, Irmão, que desvias?” “Sim, Abençoado.”

“Em dias passados, Irmão,” disse o Mestre, “o sábio e bom ganhou um trono por sua corajosa perseverança na hora da necessidade.”

E assim dizendo, ele contou uma história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), foi como filho da rainha que o Bodhisatva veio à vida mais uma vez. No dia do seu batismo, os pais perguntaram para oitocentos brahmins o fado, o destino da criança, e deram a eles todos os prazeres dos sentidos desejados de coração. Marcando a promessa que apresentaram de um destino glorioso, estes inteligentes brahmins predisseram que, chegando ao trono com a morte do rei, a criança seria rei poderoso dotado de toda virtude; famoso e renomado por suas façanhas com as cinco armas, ele seria inigualável em todo Jambudipa ( n. do tr. : esta era uma das quatro ilhas, ou dipā, que supunha-se constituía a terra; incluía a Índia, e representava o mundo habitado na mente Indiana e a árvore sagrada no centro, o jambo). E devido a esta profecia dos brahmins, os pais chamaram seu filho de Príncipe Cinco-Armas.

Bem, quando o príncipe chegava na idade da discrição, aos dezesseis anos, o rei enviou ele para fora para estudar.
“Com quem, senhor, estudarei?” perguntou o príncipe.
“Com o famoso professor na cidade de Takkasilā ( Taxila ) no país Gandhāra. Aqui está o pagamento dele,” disse o rei, entregando a seu filho mil dinheiros.

Assim foi o príncipe para Takkasilā e lá ensinado. Quando de lá partia, seu mestre deu-lhe um conjunto de cinco armas, armado com as quais após dizer adeus ao velho mestre, o príncipe deixou Takkasilā em direção a Benares.

No caminho chegou num floresta assombrada por um ogro chamado Pegada-cabeluda ; e, à entrada da floresta, homens que encontram com ele tentam pará-lo, dizendo:- “Jovem brahmin, não atravesse a floresta; é antro, refúgio do ogro Pegada-cabeluda, e ele mata quem encontra.” Mas, corajoso como um leão, o auto-confiante, Bodhisatva, prosseguiu, até encontrar o ogro no coração da floresta. O monstro mostrou-se à estatura do tamanho de uma palmeira, com a cabeça grande como uma latada (pérgula, caramanchão) e grandes olhos como tigelas, com duas presas como cebolões e com bico de gavião; sua barriga era borrada de púrpura ; e as palmas de suas mãos e as solas dos seus pés eram azul-escuro! “Para onde vais?” gritou o monstro. “Pare! És presa minha.” “Ogro,” respondeu o Bodhisatva, “eu sabia o quê fazia ou entrar nesta floresta. Seria um mau-conselho você aproximar-se de mim. Pois com uma flecha envenenada te matarei onde estais.” E com este desafio, ele colocou uma flecha no arco embebida em veneno mortal e atirou no ogro. Mas ela apenas cravou na pele felpuda do monstro. Então ele atirou outro e mais outra, até ter gasto cinqüenta, e todas apenas cravaram na pele felpuda do ogro. Daí o ogro, sacudindo as flechas fora, de modo que todas caíram a seus pés, aproximou-se do Bodhisatva; e este último, novamente berrou desafiadoramente, tirou a espada e atingiu o ogro. Mas, como com as flechas, a espada, que era comprida trinta e três polegadas, meramente cravava na pele felpuda. O Bodhisatva então atirou sua lança, e esta cravou firme também. Vendo isto atingiu com firmeza o ogro com seu porrete ; mas, como com as outras armas esta apenas grudou. E então o Bodhisatva gritou, “Ogro, nunca ouviste falar de mim, Príncipe Cinco-Armas. Quando me aventurei nesta floresta, pus minha crença não no arco ou outras armas, mas em mim mesmo ! Agora vou te dar um golpe que te reduzirá a cinzas.” Assim dizendo, o Bodhisatva bateu no ogro com sua mão direita; mas a mão grudou no cabelo. Então, seguidamente, com a mão esquerda e com o pé esquerdo e direito, atingiu o monstro, contudo mãos e pés do mesmo modo aderiram ao couro. Novamente gritando “Esmagarei você até virar pó!” ele atinge o ogro com a cabeça mas está também fica grudada.

Então mesmo assim pego e amarrado de cinco modos diferentes, o Bodhisatva, enquanto pendurava-se ao ogro, ainda assim sem medo, ainda estava corajoso. E o monstro pensou consigo mesmo, “Este é um verdadeiro leão entre as pessoas, um herói sem par, e não apenas um homem. Apesar de pego nas garras peludas de um ogro como eu, ainda assim não treme. Nunca, desde que comecei a matar viajantes nesta estrada, vi um homem igual a este. Por quê não está com medo ?” Não ousando devorar o Bodhisatva de uma vez, ele disse, “Por quê, jovem brahmin, não tens medo da morte?”

“Por quê deveria ?” respondeu o Bodhisatva. “Cada vida deve ter com certeza a morte destinada. Além do que, dentro do meu corpo existe uma espada de diamante, a qual você nunca digeriria, se me comesse. Cortaria você por dentro em pedaços, e minha morte envolveria você também. Por isto que não tenho medo.” (Por ela, é dito, o Bodhisatva queria significar a Espada do Conhecimento, que existia dentro dele [cf. s. Paulo, o Verbo enquanto espada afiada separando alma de espírito ] ).

A partir daí o ogro caiu pensativo. “Este brahmin jovem fala a verdade, nada mais que a verdade,” pensou ele. “Nem um pedaço do tamanho de uma ervilha poderia digerir deste herói. Vou deixá-lo ir.” E assim temendo por sua vida, ele deixou o Bodhisatva ficar livre, dizendo, “Brahmin jovem, és um leão entre as pessoas ; não te comerei. Saia das minhas garras, como a lua mesma das mandíbulas de Rāhu, e retorne para alegrar os corações dos seus pais, amigos, e do seu povo.”

“Quanto a mim mesmo, ogro,” respondeu o Bodhisatva, “eu irei. Quanto a você, foram seus pecados em dias passados que causaram seu renascimento como um ogro comedor de carne, assassino e devorador ; e, se você continuar em pecado nesta existência, você continuará de escuridão em escuridão. Mas, tendo me visto, serás incapaz de agora em diante de mais pecar. Saiba que destruir a vida é assegurar re-nascer seja nos ínferos ou em estado bruto ou como fantasma ou entre os espíritos decaídos. Ou, se o re-nascer for no mundo das pessoas, então tal pecado corta curto os dias de vida de uma pessoa.”

Deste e de outros modos o Bodhisatva mostrou as conseqüências dos cinco cursos ruins, e das bênçãos que vinham dos cinco cursos bons : e então obrou de diversos modos com os temores do ogro que com seu ensinamento ele converteu o monstro, imbuindo-o com auto-censura e o estabelecendo nos Cinco Mandamentos. Então fazendo do ogro, a fada ( fado) daquela floresta, com direito a taxas devidas (n. do tr. : ou, talvez, ‘a quem sacrifícios deviam ser oferecidos.’ A tradução do texto sugere uma teoria popular da evolução do coletor de impostos ; ver tb Jātaka 155 ), e incitando-o a permanecer constante o Bodhisatva seguiu seu caminho, fazendo saber na saída da floresta a mudança no temperamento do ogro. E por fim ele chegou, armado com as cinco armas, à cidade de Benares, e apresentou-se aos pais. Em dias posteriores, quando rei, foi legislador correto ; e após vida gasta em caridade e outras obras boas ele passou sendo tratado depois de acordo com seus méritos.

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Esta lição terminada, o Mestre, como Buddha, recitou esta estrofe:-

Quando não se está apegado a nada, coração e mente
Quando a retidão é exercício de ganhar a paz
Aquele que assim anda, ganhará a vitória
E todas as Correntes completamente destrói.

( Cf. Jātakas 56 e 156)

Quando assim levou seus ensinamentos até a Arahat(idade) como seu ponto culminante, o Mestre seguiu pregando as Quatro Verdades, ao final das quais o Irmão ganhou Arahat(idade). Também mostrou a conexão o Mestre, e identificou o Jātaka dizendo, “Angulimāla ( n. do tr. : Angulimāla, um bandido que usava um colar de dedos de suas vítimas, foi convertido pelo Buddha e tornou-se um Arahat. Cf. Majjhima Nikāya n.o 86) era o ogro naqueles dias, e eu mesmo o Príncipe Cinco-Armas.”









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