quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

61 Buddha Brahmin





( Pintura de teto de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya )

61
Na luxúria desbridada...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um Irmão apaixonado. A história introdutória será relatada no Jātaka 527. Mas a este Irmão o Mestre disse, “Mulheres, Irmão, são luxurientas, profliguentas (briguentas), vis e baixas. Por quê apaixonar-se por uma mulher qualquer?” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um brahmin na cidade de Takkasilā ( Taxila ) no país Gandhāra ; e quando já estava crescido, tal era sua proficiência, competência, nos Três Vedas e suas realizações, que sua fama como professor espalhou-se por todo mundo.

Naqueles dias havia uma família brahmin em Benares, na qual nasceu um filho; e no dia de seu nascimento, pegaram fogo e o mantiveram sempre aceso, queimando, até o garoto ter dezesseis. Então seus pais lhe disseram como o fogo, aceso no dia de seu nascimento, nunca foi deixado apagar-se ; e pediram ao filho que fizesse sua escolha. Se, seu coração estiver instigado a ganhar entrada no Reino de Brahma, então deixe-o pegar o fogo e retire-se com ele para a floresta, para lá realizar seu desejo através de uma veneração incessante ao Senhor do Fogo. Mas, se ele preferisse as alegrias da casa, pediram a seu filho que fosse para Takkasilā ( Taxila ) e lá estudasse com o afamado professor visando acalmar o manuseio da propriedade. “Certamente falharei na veneração ao Deus-Fogo,” disse o jovem brahmin ; “Serei um escudeiro.” Deu adeus então ao pai e à mãe, e, com mil dinheiros como pagamento ao professor, foi para Takkasilā. Lá estudou até que sua educação estava completa, e então voltou para casa.

Bem, seus pais cresceram desejando que ele abandonasse o mundo e venerasse o Deus-Fogo na floresta. Conformemente sua mãe, no desejo de enviá-lo a floresta fazendo-o entender a fraqueza das mulheres, estava confiante que seu sábio e entendido professor seria capaz de desnudar a fraqueza do sexo para seu filho, e assim ela perguntou a ele se terminara completamente sua educação. “Ah, sim,” disse o jovem.
“Então com certeza aprendeste os Textos Dolorosos?” “Não aprendi estes, mãe.” “Como então podes dizer que tua educação está terminada ? Volte já, meu filho, para seu mestre, e retorne para nós quando tiveres aprendido estes,” disse a mãe.
“Muito bem,” disse o jovem, e partiu uma vez mais para Takkasilā ( Taxila ).

Bem, seu mestre também tinha uma mãe,- uma velha mulher de cento e vinte anos de idade,- a quem com suas próprias mãos usava lavar, alimentar e cuidar. E era escarnecido por fazer isto por seus vizinhos,- realmente tanto que ele resolveu partir para a floresta e lá morar com sua mãe. Conformemente, na solidão da floresta fez uma cabana ser construída em um lugar aprazível, onde havia água em abundância, e após guardar um estoque de ghee e arroz e outras provisões, levou sua mãe para a nova casa e lá viveu acalentando sua velha idade.

Não achando seu Mestre em Takkasilā ( Taxila ), o jovem brahmin verificou e descobrindo o quê acontecera, partiu para a floresta, e apresentou-se respeitosamente diante de seu mestre. “O quê o traz de volta tão cedo, meu garoto?” disse este último. “Não penso, senhor, tenha aprendido os Textos Dolorosos quando estava com você,” disse o jovem. “Mas quem te disse que tens que aprender os Textos Dolorosos?” “Minha mãe, mestre,” foi a resposta. Daí o Bodhisatva refletiu que não haviam tais textos como estes, e concluiu que a mãe de seu pupilo queria-o ensinado em como é fraco o sexo das mulheres. Assim disse ao jovem que estava certo, e que no tempo devido ele aprenderia os Textos em questão. “A partir de ho-je,” disse a ele, “deves tomar meu lugar do lado de minha mãe, e com suas próprias mãos lavá-la e alimentá-la e cuidar dela. Quando esfregares as mãos dela, pés, cabeça e costas, sejas cuidadoso em exclamar, ‘Ah, Madame! se és tão amável agora que estais velha, como não terás sido no apogeu da sua juventude!’ E enquanto lavas e perfumas suas mãos e pés, exploda em elogios à beleza deles. Depois, diga-me sem timidez ou reserva cada palavra que minha mãe tiver te dito. Obedeça-me nisto, e te tornarás mestre nos Textos Dolorosos; desobedeça-me, e permanecerás ignorante deles para sempre.”

Obediente às ordens de seu mestre, o jovem fez todo o ordenado, e assim tão persistentemente louvou a beleza da velha mulher que ela pensou que ele caíra de paixão por ela; e, apesar de estar cega e decrépita , a paixão acendeu nela. Então um dia ela o interrompeu em seus elogios perguntando, “Tu me desejas?” “Realmente, madame,” respondeu o jovem ; “Mas meu mestre é muito rígido.” “Se me desejas,” ela disse, “mate meu filho!” “Mas como eu, que aprendi tanto com ele,- como por causa de uma paixão matar meu mestre?” “Bem, então, se fores fiel a mim, matarei ele eu mesmo.” (Tão luxurienta, vil e baixo é o sexo das mulheres que, dando rédea à luxúria, uma bruxa como esta, e velha como era, na realidade estava seca pelo sangue de um filho tão zeloso !)

Bem o jovem brahmin contou tudo ao Bodhisatva, que, confiando nele para relatar a matéria, estudou quanto tempo mais sua mãe estava destinada a viver. Achando que o destino dela era morrer naquele dia mesmo, ele disse, “Venha, jovem brahmin; a colocarei em teste.” Então botou abaixo uma figueira e escavou uma figura de madeira mais ou menos do seu tamanho, que ele embrulhou, com a cabeça e tudo, em uma roupa e deitou na sua cama mesma, - com uma corda amarrada nela. “Bem agora vá com um machado até minha mãe,” disse ele; “e dê a ela esta corda como guia para seus pés.”

Saiu então o jovem atrás da velha mulher, e disse, “Madame, o mestre está deitado na cama dentro de casa; amarrei esta corda para te guiar ; tome este machado e mate-o, se podes.” “Mas você não vai me abandonar, vai ?” disse ela. “Por quê iria?” foi a resposta. Então ela pegou o machado, e, levantando-o com membros trêmulos, tateou seu caminho com a corda, até ter pensado ter encontrado seu filho. Então descobriu a cabeça da figura, e – pensando em matar seu filho com um único golpe – desceu o machado direto na garganta da figura,- só para dar-se conta com o baque que era madeira ! “O quê estais fazendo, mãe?” disse o Bodhisatva. Com um guincho de que fora traída, a velha mulher caiu morta no chão.
Pois, diz a tradição, estava fadada a morrer naquele momento mesmo e debaixo de seu próprio teto.

Vendo-a morta, seu filho queimou seu corpo, e, quando as chamas da pira estavam apagadas, adornou as cinzas com flores do campo. Então com o jovem brahmin sentou à porta da cabana e disse, “Meu filho, não há tais estudos separados do ‘Texto Doloroso". São as mulheres que são a depravação incarnada. E quando sua mãe mandou você de volta para mim para aprender os Textos Dolorosos, o objetivo dela era que você aprendesse como é fraco o sexo das mulheres. Você agora testemunhou com seus próprios olhos a fraqueza de minha mãe, e daí verás como são luxurientas e vis as mulheres.” E com esta lição, mandou o jovem partir.

Dando adeus ao mestre, o jovem brahmin foi para a casa de seus pais. Disse sua mãe a ele, “Aprendeste agora os Textos Dolorosos?”
“Sim, mãe.”
“E qual,” ela perguntou, “é sua escolha final ? deixarás o mundo para venerar o Senhor do Fogo, ou escolherás uma vida de família?” “Não,” respondeu o jovem brahmin ; “com meus próprios olhos vi a fraqueza do sexo das mulheres ; não tenho nada a ver com a vida familiar. Renunciarei ao mundo.” E seu achado convicto foi expresso nesta estrofe:-

Na luxúria desbridada, como fogo devorador
Estão as mulheres, - excitadas na paixão.
Renunciando o sexo, contente me retiro
Para encontrar paz no eremitério.

Com esta invectiva contra o sexo das mulheres, o jovem brahmin pediu licença a seus pais, e renunciou ao mundo pela vida de eremita,- onde ganhou a paz desejada, assegurando para si admissão após aquela vida, no Reino de Brahma.

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“Então você veja, Irmão,” disse o Mestre, “como luxurienta, vil e danosas são as mulheres.” E após declarar a fraqueza das mulheres, ele pregou as Quatro Verdades, ao final das quais aquele Irmão ganhou o Fruto do Primeiro Caminho. Por fim, o Mestre mostrou a conexão e identificou o Jātaka dizendo, “Kāpilāni (n. do tr.: sua história é dada em J. R. A. S. Ceylon, 1893, pg. 786) era a mãe daqueles dias, Mahā-kassapa era o pai, Ānanda o pupilo, e eu mesmo o professor.”

 [  Cf o fogo de nascença e seu cuidado brahmânico com a história de Piritôo na mitologia grega e com o fogo na liturgia em geral ]


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