segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

62 Buddha rei de Benares





  ( Pintura de teto de Ajanta vihara buddhista construída por Arhat Acharya )


62
Vendado, tocando violão...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre outra pessoa apaixonada.
Disse o Mestre, “É vero o relato que estais apaixonado, Irmão?”
“Bem verdadeiro,” foi a resposta.
“Irmão, mulheres não podem ser vigiadas ; em dias passados o sábio que vigiava uma mulher desde do momento que ela nasceu, falhou contudo em guardá-la.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como filho da Rainha. Quando estava crescido, era mestre em todas as realizações ; e quando, com a morte de seu pai, veio a ser rei, mostrou-se rei reto. Bem, ele usava jogar dados com o capelão,e, quando atirava os dados dourados na mesa de prata, cantava esta canção para dar sorte:-

É da natureza da lei que os rios serpenteiem ;
Árvores crescem em florestas pela lei da espécie ;
E, dada oportunidade,
Todas as mulheres erram.

Como estas linhas sempre faziam o rei ganhar o jogo, o capelão estava em no caminho de perder todo centavo que tinha no mundo. E, de modo a salvar-se da ruína próxima, ele resolveu arranjar uma empregada que nunca houvesse visto outro homem, e mantê-la fechada à chave em sua casa. “Pois,” ele pensou, “não daria certo arranjar uma mulher que já houvesse visto outro homem. Então devo arranjar uma menina bebê, e mantê-la guardada enquanto cresce, vigiada, de modo que ninguém dela aproxime-se e que ela seja só de um homem. Então vencerei do rei, e ficarei rico.” Bem, ele era hábil em prognósticos ; e vendo uma mulher pobre que ia se tornar mãe, e sabendo que a criança seria menina, ele pagou à mulher que viesse e ficasse em sua casa, e mandou-a embora com presente depois. A criança foi educada por mulheres apenas, e nenhum homem – a não ser ele mesmo – foi permitido colocar os olhos nela. Quando a garota cresceu, era sujeita a ele e ele era mestre dela.

Bem, enquanto a garota crescia, o capelão evitou jogar com o rei ; mas quando ela já estava crescida e no controle dele, desafiou o rei para um jogo. O rei aceitou, e o jogo começou. Mas, quando ao jogar os dados o rei cantou sua canção da sorte, o capelão adicionou, - “todas a não ser minha garota.” E então a sorte mudou, e era agora o capelão que ganhava, enquanto o rei perdia.

Meditando na matéria, o Bodhisatva suspeitou que o capelão tinha uma garota virtuosa fechada em sua casa ; e inquirindo mostrou-se verdadeira a suspeita. Então, para fazê-la cair, chamou um patife inteligente, e perguntou se ele pensava poder seduzir a garota. “Certamente, senhor,” disse o sujeito. Então o rei deu dinheiro a ele, e o enviou com ordens de não perder tempo.

Com o dinheiro do rei o sujeito comprou perfumes, incenso e aromas de todo tipo, e abriu uma loja ‘de perfumaria’ junto da casa do capelão. Bem, a casa do capelão tinha sete andares, e tinha sete portões, e em cada um tinha um guarda, - guarda feminina apenas,- e nenhum homem apenas o brahmin mesmo era permitido entrar. Até as cestas de lixo eram examinadas antes de passar. Apenas o capelão podia ver a moça, e ela tinha apenas uma empregada. Esta empregada recebia dinheiro para comprar flores e perfumes para sua senhora, e no caminho começou a passar pela loja que o patife tinha aberto. E ele, sabendo muito bem que era a empregada da garota, esperou um dia em que ela vinha, e, correndo para fora da loja, caiu aos pés dela, apertando seus joelhos com ambas as mãos e chorando, “Ó minha mãe! onde estiveste todo este tempo?”

E seus companheiros, que estavam do lado, gritaram, “Que semelhança! Pés e mãos, rosto e postura ( face & figure), até mesmo o jeito de vestir são idênticos!” Como todos ficaram falando da maravilhosa semelhança, a pobre mulher perdeu a cabeça. Chorando que devia ser seu menino, ela também explodiu em lágrimas. E com lamentos e choros os dois ficaram abraçados um ao outro. Então disse o homem, “Onde moras, mãe?”

“Lá em cima na casa do capelão, meu filho. Ele tem uma jovem esposa de beleza incomparável, uma deusa mesmo graciosa ; e eu sou a empregada dela.” “E onde ias agora, mãe?” “Comprar para ela perfumes e flores.” “Por quê ir em outro lugar então? Compre aqui no futuro,” disse o sujeito. E deu à mulher betel, bdellium, e semelhantes, e todos os tipos de flores, recusando todo pagamento. Surpresa com a quantidade de flores e perfumes que a empregada trouxe para casa, a garota perguntou por quê o brahmin estava tão feliz com ela aquele dia. “Por quê dizes isto minha querida?” perguntou a velha mulher. “Por causa da quantidade de coisas que trouxeste para casa.” “Não, o brahmin não abriu mão do seu dinheiro,” disse a velha mulher ; “peguei isto com meu filho.” E a partir daquele dia ela guardava o dinheiro que o brahmin dava a ela, e apanhava as flores e outras coisas sem pagar nada na loja do patife.

E ele, poucos dias depois, fingiu estar doente e ficou na cama. Então quando a velha mulher veio comprar e perguntou por seu filho, ouviu que ele estava doente. Correndo para o lado dele, ela com carinho bateu em seus ombros, e perguntou o que o afligia. Mas ele não respondeu. “Por quê não me dizes, meu filho?” “Nem mesmo s’eu estivesse morrendo eu poderia te dizer, mãe.” “Mas, se você não me contar, a quem contarás?” “Bem, então, mãe, minha doença está apenas nisto, que, escutando os louvores da beleza de sua jovem patroa, cai de amor por ela. S’eu a ganhar, viverei; se não, esta será minha cama mortuária.” “Deixe isto comigo, meu garoto,” disse a velha mulher alegremente ; “e não se preocupe com isto.” Então – com uma pesada carga de flores e perfumes consigo – ela voltou para casa, e disse para a jovem esposa do brahmin, “Ai! Meu filho daqui está apaixonado por você, meramente porque contei a ele como és bela! Que farei?”
“Se você puder trazer ele escondido até aqui,” respondeu a garota, “tem minha permissão.”

Com isto a velha mulher passou a varrer todo o lixo da casa de cima abaixo ; este lixo todo ele põem numa cesta grande de flores e tenta passar para fora com ele. Quando a revista usual foi feita, ela esvaziou a cesta na guarda, que fugiu sendo assim maltratada. Do mesmo modo lidou com as outras guardas, confundindo com lixo cada uma que se virava para falar qualquer coisa com ela. E então deste dia em diante aconteceu que não importava o quê a velha mulher carregasse ninguém tinha coragem de revistá-la. Agora é a hora ! A velha mulher passa o patife escondido para dentro da casa numa cesta de flores, e leva-o até a jovem senhora. Ele teve sucesso em destruir a virtude da garota, e na realidade ficou um dia ou dois no andar superior, - escondendo-se quando o capelão estava em casa, e desfrutando da companhia de sua amada quando o capelão estava fora do prédio. Um dia ou dois passados e a garota disse a seu amante, “Querido, deves partir agora.” “Muito bem; só que antes devo socar o brahmin.” “Com certeza,” ela disse e escondeu o patife. Então, quando o brahmin veio novamente, ela exclamou, “Oh, meu querido esposo, eu gostaria de dançar se você tocasse o violão para mim.” “Dance, minha querida,” disse o capelão, e começou a tocar. “Mas fico com vergonha de você ficar olhando. Deixe-me esconder sua bela face com um pano; e então dançarei.” “’Tá bem,” disse ele ; “se você tem vergonha de dançar do outro jeito.” Então ela pegou um pano grosso e amarrou no rosto do brahmin de modo a vendá-lo. E, vendado como estava, o brahmin passou a tocar o violão. Depois de dançar um pouco, ela gritou, “Meu querido, gostaria de bater na sua cabeça uma vez.” “Bata,” disse sem suspeitar o velho caduco. Fez então um sinal a garota para o amante ; e este furtou-se levemente por trás do brahmin e o atingiu na cabeça. Tal foi a força do golpe, que os olhos do brahmin quase saem das órbitas, e levantou-se um galo no local. Pungido pela dor, ele chamou a garota e pediu a mão dela ; e ela colocou a dela na dele. “Ah! é macia a mão,” ele disse ; “mas bate pesado !”

Bem, logo que o patife atingiu o brahmin, escondeu-se ; e quando estava escondido, a garota tirou a venda dos olhos do capelão e passou óleo no galo da cabeça. No momento em que o brahmin saiu, o patife foi escondido na cesta novamente pela velha mulher, e então levado para fora da casa. Indo direto até o rei, contou a ele toda ‘ aventura.

Conformemente, quando o brahmin era o próximo no atendimento, o rei propôs um jogo de dados ; o brahmin queria ; e a mesa de dados foi trazida. Quando o rei fez sua jogada, ele cantou sua velha canção, e o brahmin – ignorante da malícia da garota – “todas a não ser minha garota,” – e apesar disto, perdeu !

Então o rei, que sabia o que acontecera, disse a seu capelão, “Por quê a não ser ela? A virtude dela foi desfeita. Ah, você sonhou de que tomando uma menina na hora do nascimento e colocando-a vigiada atrás de sete guardas, poderia tê-la segura. Pois, não podes estar certo de uma mulher mesmo que ela fique dentro de você e sempre andes ao redor dela. Nenhuma mulher é sempre fiel a um homem apenas. Quanto àquela sua garota, ela te contou que queria dançar, e tendo primeiro te vendado enquanto tocavas o violão para ela, ela deixou o amante dela te bater na cabeça, e depois o tirou escondido da casa. Onde então está tua exceção?” E assim falando o rei repetiu esta estrofe:-

Vendado, tocando violão, enganado por sua esposa,
O brahmin senta, - ele que tenta erigir
Um modelo de virtude imaculada !
Aprenda daí a ter respeito pelo sexo.

Com tal sabedoria o Bodhisatva expôs a Verdade ao brahmin. E o brahmin foi para casa e taxou a garota com a vilania de que era acusada. “Meu querido esposo, quem poderia ter dito tal coisa de mim ?” disse ela. “Na verdade sou inocente ; na realidade foi minha própria mão que te atingiu, não a de outra pessoa ; e se não acredita em mim, arrostarei o ordálio do fogo para provar que nenhuma mão de homem me tocou a não ser a sua ; e assim farei você acreditar em mim.” Assim seja,” disse o brahmin. E ele fez com que trouxessem lenha e acendeu-a. A garota então foi chamada. “Agora,” disse ele, “se acreditas na sua história, arroste estas chamas !”

Bem, antes disso a garota, instruiu a empregada assim:- “Diga a seu filho, mãe, para estar lá e segurar minha mão justo quando estiver colocando no fogo.” E a velha mulher fez como foi ordenado a ela ; e o sujeito veio e ficou no meio da multidão. Então, para iludir o brahmin, a garota, em pé diante de todo o povo, exclamou com fervor, “Nenhuma mão de homem a não ser a tua brahmin já me tocou ; e, pela verdade da minha afirmação peço a este fogo que não me queime.” Assim dizendo, ela avançou para a pilha que queimava,- quando levanta-se seu amante, que a segura pela mão, gritando contra o brahmin que forçava tão bela dama a entrar na chama ! Sacudindo para soltar a mão, a garota gritou para o brahmin que
agora estava desfeito o que asseverara, e que agora não podia arrostar o ordálio do fogo. “Por quê não ?” disse o brahmin. “Porque,” ela respondeu, “minha afirmação era que nenhuma mão de homem me tocara a não ser a sua ; e agora aí está um homem que segurou minha mão !” Mas o brahmin, sabendo que ela iludia-o, afastou ela dele com tapas.

Tal, aprendemos, é a fraqueza das mulheres. Que crime não cometeriam ; e então para enganarem seus maridos, que juras não fariam – sim, à luz do dia – . Tão falsas que são ! Daí é dito:-

Um sexo feito de fraqueza e engano,
Inconhecível, incerto como o caminho
Dos peixes n’água,- mulheres
Mantêm a verdade como mentira e mentira como verdade!
Gananciosas como vacas em busca de pasto novo,
Mulheres, insaciáveis, anseiam por parceiro atrás de parceiro.
Instáveis como a areia, cruéis como as serpentes,
Mulheres sabem de tudo ; nada delas se esconde !

“Assim é impossível vigiar mulheres,” disse o Mestre. Sua lição terminada, ele pregou as Verdades, ao final das quais o Irmão apaixonado ganhou o Fruto do Primeiro Caminho. Também mostrou o Mestre a conexão e identificou o Jātaka dizendo:- “Naqueles dias eu era o Rei de Benares.”



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