segunda-feira, 31 de agosto de 2009

As sete semanas



Os quarenta e nove dias, sete semanas. Cenas da vida de Buddha : parte do sat satiya, ou sete semanas de jejum. (Parte de um MS Sinhalese, escrito em 1811 A. D., que estava em posse de um monge chamado Velivita, de Malvatte Pansaal, a quem desceu em sucessão pupilar no começo do séc. XX. Coomaraswamy, A. K., Mediaeval Sinhalese Art, 1956, pl. XVIII. Medida original 9 x 9 polegadas.) . Clique na imagem para vê-la ampliada.
Acima a esquerda, quarta semana, Buddha sentado no pavilhão dourado que os Deuses (Devas) erigiram, refletindo sobre o Dharma.
Acima a direita, quinta semana, Buddha debaixo da árvore Ajapala, tentado pelas filhas de Mara.
Abaixo a esquerda, sexta semana, Buddha protegido pela Naga Mucalinda.
Abaixo a direita, sétima semana, Buddha recebendo as ofertas de mingau de arroz dos dois Brahmins mercadores e as tigelas dos regentes dos quatro-Quartos. (Aparecem cinco posto que o meio é contado).
“Gautama, que agora era Buddha, o Iluminado, permaneceu sentado e imóvel por sete dias entendendo a benção do Nirvana ; e depois levantando, permaneceu em pé por mais sete dias, incansavelmente olhando o lugar onde ganhou o fruto de atos incontáveis de virtude heróica realizados em vidas passadas : então por mais sete dias ele andou para cá e para lá ao longo de um caminho de claustro do Oeste para Leste, que estendia-se do trono debaixo da Árvore da Sabedoria até o lugar da Contemplação Constante ; e novamente por sete dias ele ficou sentado em um pavilhão obra dos deuses próximo do mesmo lugar e lá reviu em detalhe, livro a livro, tudo que é ensinado no Abhidharma Pitaka, assim como toda a doutrina da causalidade ; então por sete dias mais ele sentou debaixo da árvore Nigrodha da oferta de Sujata, meditando na doutrina e na doçura do Nirvana – e de acordo com alguns livros foi nesta hora que a tentação das filhas de Mara aconteceu ; e então por mais sete dias durante um terrível temporal, o rei serpente Mucalinda o protegeu com suas sete cristas ; e por mais sete dias ele sentou debaixo da árvore Rajayatana, ainda gozando da doçura da liberação. ... Só no último dia das sete semanas ele quis se lavar e comer e recebendo água e escova de dentes do deus Sakra, Buddha lavou a face e sentou-se ao pé da árvore. Bem naquela hora dois mercadores brahmins viajavam com uma caravana vindos de Orissa para o país do meio e um Deva, que fora parente dos mercadores em vida anterior, parou os carros deles e moveu seus corações a fazer ofertas de arroz e pão de mel para o Senhor, chamavam-se Tapussa e Bhallika. Foram até ele e falaram : “Ó Abençoado, tenha piedade de nós e aceite esta comida.” Bem, o Buddha não mais possuía tigela e como Buddhas nunca recebem ofertas nas mãos, ele refletiu em como as aceitaria. Imediatamente os Quatro Grandes Reis, os Regentes dos Quartos, dos Quatro Cantos, da Rosa / Lótus dos Ventos, Dhatarattha, Virulhaka, Virupakka e Vessavana (ou Kuvera), apareceram diante dele, cada um com uma tigela ; e de modo a que nenhum ficasse desapontado, o Buddha pegou as quatro tigelas e colocando uma acima da outra, tornou-as uma, mostrando apenas as quatro linhas ao redor da boca e nesta tigela o abençoado recebeu a comida e comeu e agradeceu. ... “
( Coomaraswamy, A. K., Buddha and the Gospel of Buddhism, p. 35s, revised edition by Dona Luisa Coomaraswamy, NY, 1964. )
Ho-je é lugar de peregrinação, Bodh Gaya (Buddha Gaya) no estado de Bihar ao norte da Índia, o lugar destes acontecimentos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

347 Anuruddha Sakra



347
“Por quê posado nos ares...etc.” - Um dia, diz-se, os Irmãos sentados no Salão da Verdade, conversavam. “Senhores,” um teria dito, “o Mestre, sempre amigo da multidão das pessoas, abandonou agradável moradia e viveu apenas para o bem do mundo. Ele atingiu sabedoria suprema e de próprio proceder, tomou tigela e hábito, e saiu numa jornada de trinta quilômetros ou mais. Para os Cinco Anciãos (os cinco que acompanharam Buddha quando ele começou sua vida ascética: Aññakondañña, Bhaddiya, Vappa, Assaji, Mahā Nāma) ele girou a Roda da Lei; no quinto dia dos idos do mês recitou as Escrituras Anattalakkhana, e outorgou santidade a eles todos; foi até Uruvela (lá pregou aos adoradores do Jataveda, o fogo do lar) e aos ascetas de tranças no cabelo mostrou três mil e quinhentos milagres, e os persuadiu a juntarem-se à Ordem; em Gayāsisa (agora Brahmāyoni, uma montanha perto de Gayā) recitou o Discurso sobre o Fogo, e outorgou santidade a milhares destes ascetas; para Mahā Kasyapa, quando locomoveu-se cinco quilômetros para encontrar com ele, depois de três discursos ele deu as mais altas Ordens; sozinho apenas, depois do almoço, começou uma jornada de setenta quilômetros, e então estabeleceu Pukkusa no Fruto do Terceiro Caminho (um jovem muito nobre); para encontrar Mahā Kappina ele locomoveu-se três mil quilômetros e outorgou santidade a ele; só, à tarde, saiu numa jornada de quarenta quilômetros e estabeleceu em santidade o cruel e terrível Angulimāla; quarenta quilômetros também atravessou para estabelecer Alavaka (este era um demônio-árvore, que clamava sacrifício de uma vítima por dia. O próprio filho do rei estava para ser comido, quando Buddha o salvou) no Fruto do Primeiro Caminho, e salvar o príncipe; no Céu dos Trinta e Três habitou três meses e ensinou a compreensão integral da Lei a oitocentos milhões de deidades; foi ao mundo de Brahma, e destruiu a falsa doutrina de Baka Brahma ( cf. Jātaka anterior e o 405 ) e outorgou santidade a dez mil Brahmas; todo ano saía em peregrinação em três distritos, e às pessoas capazes de receber, ele dava os Refúgios, as Virtudes, e os frutos das diferentes etapas; ele até agia em benefício das cobras, dos pássaros e semelhantes, de muitos modos.” Com tais palavras eles louvavam a bondade e o valor da vida de Dasabala pelo bem do mundo. O Mestre entrou e perguntou o quê conversavam lá sentados. Eles disseram. “Não é surpresa, Irmãos,” disse ele. “Eu que agora em minha sabedoria perfeita vivo para o bem do mundo, posto que no passado, em dias apaixonados, vivi para o bem do mundo.” Assim falando ele contou uma história do passado. (Esta circunstância inicial é do Jataka 469).
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatava veio à vida como o filho da rainha principal. E quando estava com idade, foi instruído em todas as artes e com a morte de seu pai foi estabelecido no reino e governou com retidão.
Naqueles dias as pessoas eram devotas à veneração dos deuses e faziam ofertas religiosas a eles através da matança de muitos bodes, carneiros e semelhantes. O Bodhisatva proclamou pela batida do tambor, “Nenhuma criatura viva será morta.” Os Yakshas ficaram irados contra o Bodhisatva por perderem suas ofertas, e fazendo uma assembléia da família de Yakshas nos Himālaias, enviaram um certo Yaksha selvagem para matar o Bodhisatva. Ele tomou uma massa de ferro pesada e ardente, grande como o domo de uma casa, e pensando em dar um golpe mortal, imediatamente após a vigília da meia noite, veio e permaneceu na cabeceira da cama do Bodhisatva. Naquele instante o trono de Sakra (Indra) manifestou sinais de calor. Depois de considerar os fatos, o deus descobriu a causa, e pegando seu trovão na mão, veio e permaneceu acima do Yaksha. O Bodhisatva vendo o Yaksha pensou, “Por que está este sujeito aqui? É para proteger-me, ou deseja me matar?” E enquanto falava com ele, repetiu a primeira estrofe:

Por que pousado nos ares, Ó Yaksha, permaneces
Com esta pesada peça de ferro na mão?
Intentas guardar-me de todo dano,
Ou aqui fostes ho-je enviado para minha destruição?

Bem, o Bodhisatva via apenas o Yaksha. Ele não via Sakra. O Yaksha com medo de Sakra não ousou atingir o Bodhisatva. Ouvindo estas palavras do Bodhisatva o Yaksha disse, “Grande rei, não estou parado aqui para guardá-lo; vim com a intenção de atingí-lo com esta massa de ferro em brasas mas com medo de Sakra não ouso atingí-lo.” E para explicar fala a segunda estrofe:

Como mensageiros de Rakshasas, olhe ! aqui
Apareci para obter tua destruição,
Mas porto a feroz peça em vão
Contra a cabeça que Indra mesmo escuda.

Escutando isto o Bodhisatva repetiu duas estrofes mais:

Se Indra, marido de Sujā, no reino do céu,
Grande rei dos deuses, digna-se defender minha causa,
Com aulidos horrendos que os duendes jogam aos céus
Nenhuma espécie de demônio terá poder de aterrorizar.
Que os espíritos imundos dos demônios tagarelem como queiram,
Não são páreos para tão implacável briga.

Assim Sakra botou o Yaksha para correr. E exortando o Grande Ser, disse, “Grande rei, não tema. Daqui em diante protegerei-o. Não tema.” E assim dizendo retornou direto para sua própria morada.”
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O Mestre aqui terminou sua lição e identificou o Jataka : “Naqueles dias Anuruddha era Sakra, e eu mesmo era o rei de Benares.”

[ Novamente vemos uma unidade Buddhismo / Hinduísmo.]



terça-feira, 25 de agosto de 2009

346 Buddha asceta Kappa



346
“Tu que antes habitastes...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana relativa ao Banquete da Irmandade.
Na casa do Alimentador do Povo [Sudattha], dizem, que quinhentos Irmãos eram constantemente alimentados. A casa ficava continuamente como um lugar de recreio para a assembléia dos Irmãos, brilhante com o esplendor de suas roupas amarelas e insuflada de santos odores. Um dia o rei fazendo uma procissão solene pela cidade, viu a assembléia dos Irmãos na casa do Tesoureiro, e pensando, “Eu também darei ofertas perpétuas àssembléia dos santos,” foi ao mosteiro e depois de cumprimentar o Mestre instituiu ofertas perpétuas para quinhentos Irmãos. A partir daí passa a haver oferta perpétua na casa do rei e mesmo comida refinada como arroz com perfume de chuva, mas ninguém que a ofertasse com as próprias mãos, com marcas de afeição e amor, mas os ministros do rei davam a comida e os Irmãos não preocupavam-se em sentar e comer, mas tomando as comidas refinadas, ia cada um para as casas de seus clientes, e dando-lhes as comidas, eles mesmos comiam do que lhes punham à frente, fosse comida fina ou tosca.
Um dia foi trazida muita fruta para o rei. O rei disse, “Dê à Ordem dos Irmãos.”
Eles foram ao refeitório e voltaram e falaram ao rei, “Não nenhum único Irmão lá.”
“O quê, não é hora ainda?” disse o rei.
“Sim, ‘tá na hora,” eles disseram, “mas os Irmãos pegam a comida na sua casa e vão para a morada dos fiéis servidores, e dão-lhes as comidas, e eles mesmos comem do que lhes servem, seja fina ou tosca a comida.”
O rei disse, “Nossa comida é fina. Por que eles a largam e comem outra ?” E pensando, “Perguntarei ao Mestre,” ele foi ao mosteiro e perguntou a ele.
O Mestre disse, “A melhor comida é aquela que é dada com amor. Devido a ausência daqueles que ao oferecerem com amor estabelecem sentimentos de amizade, os Irmãos pegam a comida e a comem em algum lugar amigável deles. Não há sabor, Senhor, igual ao do amor. Aquilo que é dado sem amor, apesar de composto das quatro coisas doces, não vale tanto quanto arroz dado com amor. Sábios antigos, quando doença levantou-se entre eles, apesar do rei providenciar cinco famílias de médicos com remédios, não teve a doença mitigada, voltaram para seus amigos íntimos e comendo caldo de arroz com milho, sem sal, ou mesmo folhas sem sal, polvilhadas d’água apenas, foram curados de suas doenças.” E com estas palavras ao pedido dele contou uma história do passado.”
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin no reino de Kāsi, e o chamavam jovem Kappa. Quando amadureceu, adquiriu todas as artes em Takkasillā ( Taxila ) e depois adotou a vida religiosa. Naquela época um asceta de nome Kesava que assistia quinhentos outros ascetas tornou-se professor de um bando de discípulos e habitava nos Himālaias. O Bodhisatva foi até ele e tornou-se o discípulo mais velho dos quinhentos pupilos, morando lá e mostrando sentimentos de amizade e afeição por Kesava. E tornaram-se íntimos um do outro.
Logo Kesava acompanhado por estes ascetas foram a Benares em busca de sal e vinagre e instalaram-se no jardim real. No dia seguinte ele foi para a cidade e para a porta do palácio real. Quando o rei viu o bando de homens santos, convidou-os a entrarem e os alimentou em sua própria casa, e extraindo a promessa usual deles, instalou-os no jardim. E asssim quando a estação chuvosa acabou, Kesava pediu ao rei para partir. O rei disse, “Senhor Santo, és velho. More aqui agora e mande os ascetas jovens para os Himālaias.” Ele concordou e os enviou com o discípulo principal chefiando, para os Himālaias e ele foi deixado só. Kappa foi para os Himālaias e morava lá com os ascetas. Kesava estava infeliz e sendo privado da sociedade de Kappa, e com desejo de vê-lo, não conseguia dormir, e em conseqüência de perder o sono, sua comida não era digerida apropriadamente. Um fluxo sanguíneo começou, seguido de fortes dores. O rei com suas cinco famílias de médicos e remédios tratou o asceta, mas a doença não mitigou.
O asceta perguntou ao rei, “Queres que eu morra ou me recupere ?”
“Que recupere, senhor,” ele respondeu.
“Então mande-me para os Himālaias,” ele disse.
“Concordo,” disse o rei, e enviou um ministro chamado Nārada, e o encarregou de com uns mateiros levar o homem santo para os Himālaias. Nārada levou-o lá e retornou para casa. Mas com a mera vista de Kappa, a desordem mental de Kesava cessou e sua infelicidade amainou. Então Kappa deu-lhe caldo de arroz e milho junto com folhas borrifadas d’água, sem sal e temperos, e naquele mesmo instante a disenteria foi mitigada. O rei novamente mandou Nārada dizendo, “Vá e saiba notícias do ascético Kesava.” Ele foi e encontrando-o recuperado disse, “Reverendo Senhor, o rei de Benares tratando-o com suas cinco famílias de remédios não curou sua doença. Como Kappa te tratou ?” E daí pronunciou a primeira estrofe:

Tu que antes habitaste com o senhor dos homens,
Um rei preparado para satisfazer os desejos do teu coração
Qual o encanto da cela eremítica de Kappa
Para que o abençoado Kesava aqui deva retirar-se?

Kesava escutando repetiu a segunda estrofe :-

Tudo aqui é encanto: mesmo as árvores
Ó Nārada, tomam minha fantasia,
E as palavras de Kappa que nunca falham em agradar
Um eco gratificante em meu coração levanta.

Depois destas palavras ele disse : “Kappa querendo me agradar, deu-me para beber caldo de milho e arroz selvagem misturados com folhas borrifadas d'água e sem sal e sem temperos, e com isto minha doença corporal parou e fui curado.” Nārada escutando falou a terceira estrofe :-

Tu que não de agora comia o mais puro arroz
Cozido com tempero de carne delicado,
Como podes saber tal insípido alimento
E arroz com milho partilhar com eremitas?

Escutando isto Kesava pronunciou a quarta estrofe:

A comida pode ser tosca ou fina,
Pode ser escassa ou abundante,
Mas se a comida é abençoada com amor,
Amor o melhor tempero de longe é que se encontra.

Nārada escutando estas palavras retornou ao rei e disse a ele, “Kesava falou isto e isto.”
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo o rei era Ananda, Nārada era Sāriputra, Kesava era Bakabrahmā, Kappa era eu mesmo.”

[ No jātaka 405 veremos quem era este Baka, brahma, celeste, a quem Gautama visita, no céu, e conta-lhe , inclusive deste jātaka, quando dele foi discípulo e médico. Aqui novamente a proximidade com o Hinduísmo nos nomes Narada e Kesava. Kesava é Vishnu mesmo e Narada, representado com um instrumento de corda na mão, é um grande Rishi do Panteão Hindu. Como Indra / Sakra, que sempre aparece aqui nos Jatakas. Acho que Narada é filho de Brahma.]

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

345 Buddha e a Tartaruga



345
“Se uma chama correr...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre em Jetavana, relativa a um indolente Irmão. Ele era, como foi dito, da nobreza e vivia em Sāvatthi. E depois de aceitar com o coração a doutrina e tomar ordens, ele tornou-se preguiçoso, e em relação à repetição da Lei, catequese, iluminação devota e o giro das obrigações sacerdotais, não entrou integralmente nelas, sendo envolvido por seus pecados, e encontrando-se sempre em lugares públicos de passeio e descanso. Os Irmãos discutiam a preguiça dele no Salão da Verdade dizendo, “Tal irmão, senhores, após tomar ordens numa fé tão excelente, que leva à Salvação, ainda é preguiçoso e indolente e dominado por pecados que o envolvem.” Quando o Mestre veio e perguntou o quê os Irmãos discutiam juntos, entendendo o quê era, disse, “Não apenas agora, Irmãos, mas antes também ele foi preguiçoso.” E assim falando contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era seu valoroso ministro. O rei de Benares era preguiçoso e o Bodhisatava considerava algum jeito de levantar o rei. Um dia o rei foi para o jardim, acompanhado de seus ministros, enquanto vagava passou a espiar uma preguiçosa tartaruga. Criaturas indolentes como estas, dizem, apesar de moverem-se um dia todo, deslocam-se apenas duas ou três polegadas.
O rei vendo, perguntou qual o nome deste bicho. O Bodhisatva respondeu, “A criatura chama tartaruga, grande rei; e é tão preguiçosa e apesar de mover-se um dia todo, só desloca-se duas polegadas.” E dirigindo-se à tartaruga, disse o Bodhisatva, “Oi, senhora tartaruga! Seu movimento é lento. Suponha que conflagre-se uma floresta, que farias?” E falou a primeira estrofe:

Se uma chama correr pelo bosque,
Deixando um caminho de cinzas atrás,
Como, Senhor Malandro, lento em locomover-se,
Caminho seguro encontrarias ?

A tartaruga escutando repetiu a segunda estrofe:

Buracos abundam em todo lado,
Frestas hão em toda árvore,
Aqui encontrarias um refúgio
Ou nosso fim seria.

Escutando isto o Bodhisatava falou duas estrofes:

Aquele que corre quando deve descansar,
Ou demora-se quando a maior velocidade exige-se,
Destrói o leve material de seus bens,
Como folha seca é esmagada debaixo de calcanhar.
Mas aqueles que esperam o tempo, nem correm precipitados,
Consumam seus propósitos, como a sua órbita a lua.

O rei escutando estas palavras do Bodhisatva, daí em diante deixou de ser indolente.
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O Mesrte, tendo terminado sua lição, ientificou o Jataka : “Naquele tempo o Irmão preguiçoso era a tartaruga e eu mesmo era o sábio conselheiro.”

sábado, 22 de agosto de 2009

344 Buddha Sakra


344
“Aquela que comeu tua manga...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, relativa a um ancião que guardava uma mangueira. Quando já velho, dizem, tornou-se um asceta e construiu cabana de folhas num pomar de mangas nas cercanias de Jetavana e não apenas ele comia das mangas maduras que caíam das mangueiras mas dava também para os parentes. Quando ele saiu para colher ofertas, alguns ladrões bateram nas mangueiras, comendo alguns frutos e levando outros. Neste momento quatro filhas de um rico mercador, depois de banharem-se no rio Aciravati, passeando ao redor, acabaram no pomar de mangas. E quando o velho tendo retornado, as encontra lá , acusou-as de terem comido as mangas.
“Senhor,” eles disseram, “acabamos de chegar; nós não comemos as mangas.”
“Então jurem,” ele disse.
“Juraremos, Senhor,” elas disseram, e juraram. O velho tendo envergonhado-as, fazendo-as jurarem, deixou-as ir.
Os Irmãos, escutando o quê acontecera, levantaram uma discussão no Salão da Verdade, sobre como um velho fez com que as filhas do mercador jurassem, posto que entraram no jardim das mangueiras onde ele mesmo vivia e após envergonhá-las fazendo que jurassem, as deixou ir. Quando o Mestre veio e perguntou qual o tema que lá sentados em concílio discutiam, escutando qual era, disse, “Não apenas agora, Irmãos, mas anteriormente também este velho homem, quando guardava as mangas, fez certas filhas de um rico mercador jurarem, e após envergonhá-las, as deixou ir.” E assim falando contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva tornou-se Sakra. Naqueles dias um asceta ladrão construiu um eremitério de folhas num pomar de mangueiras numa praia de rio junto a Benares, e guardando as mangueiras, comia dos frutos maduros que caía e também dava aos parentes e morava lá ganhando a vida com várias práticas falsas.
Neste momento Sakra, rei dos céus, pensou, “Quem, imagino, neste mundo das pessoas ajuda os pais, presta honras aos mais velhos da sua família, faz ofertas, permanece na lei moral, e jejua? Quem tendo adotado a vida religiosa, continuamente dedica-se as tarefas próprias de padres e quem destes é culpado de errar?” E vendo o mundo espia este fraco asceta que guarda mangas, e disse, “Este falso asceta, abandonando suas tarefas de padre, tais como o processo pelo qual o ênstase religioso pode ser induzido e semelhantes, fica vigiando um pomar de mangas. Assustarei-o sonoramente.” E quando ele foi para a cidade para as ofertas, Sakra com seu poder sobrenatural bateu nas mangueiras e fez que ladrões a pilhassem. Naquele momento quatro filhas de um mercador de Benares entraram no pomar, e o falso asceta vendo-as parou-as e disse, “Vocês comeram minhas mangas.”
Elas disseram, “Senhor, acabamos de chegar. Não comemos as mangas.”
“Então jurem,” ele disse.
“Neste caso poderemos ir?” elas perguntaram. “Certamente, vocês poderão.”
“Muito bem, Senhor,” elas disseram, e a mais velha delas jurou, pronunciando a primeira estrofe :-

Aquela que comeu suas mangas,
Terá como esposo um grosseirão,
Ele a iludirá com cabelos grisalhos
E cachos como em pinças enroscados

O asceta disse, “Vem você para este lado,” e fez a segunda filha do mercador jurar, e ela repetiu a segunda estrofe :-

Que a moça que roubou tua árvore
Suspire por um marido em vão,
Passando assim a juventude
Até beirar os trinta.

E depois foi para o lado e a terceira pronunciou a terceira estrofe :-

Aquela que comeu suas maduras mangas
Pesado caminho trilhará só
E no local de encontro atrasada
Chorará, tendo partido o amado.

E a quarta donzela a quarta estrofe :-

Aquela que pilhou tua árvore
Belamente vestida, com coroa na cabeça,
E orvalhada com óleo de sândalo
Ainda buscará uma cama imaculada.

O asceta disse, “Este juramento solene que fizeram, diz que outros comeram as mangas. Podem ir.” E assim dizendo elas foram. Sakra então apresentou-se numa forma horrorosa, e expulsou o falso asceta do lugar.”
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo o falso asceta era o velho homem que guardava as mangas. As quatro filhas do mercador mantiveram o mesmo lugar antes como agora. Mas eu mesmo era Sakra.”



quinta-feira, 20 de agosto de 2009

343 Por muito tempo...etc.



343
“Por muito tempo...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre em Jetavana, relativa à garça que vivia na casa do rei de Kosala. Ela levava mensagens, dizem, para o rei, e tinha dois filhotes. O rei enviou este pássaro com uma carta a um outro rei. Quando ela foi embora, garotos da família real esmagaram com as mãos os filhotes da pássara. A pássara voltou e sentindo a falta dos filhotes perguntou quem os matou. Disseram, “Tal e tal.” Naquele tempo havia um tigre feroz e selvagem amarrado em fortes cadeias no palácio. Quando estes garotos foram ver o tigre, a garça foi junto, pensando, “Do mesmo jeito que meus filhotes foram mortos por estes garotos, farei com eles,” e pegou-os e atirou-os lá embaixo aos pés do tigre. E com um rosnado esmagou-os ruidosamente. A pássara disse, “Agora está satisfeito o desejo do meu coração,” e voando aos ares foi direto aos Himālaias.” Escutando o que aconteceu eles começaram uma discussão no Salão da Verdade e Gautama contou uma lenda do passado.
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Certa vez o Bodhisatva reinava em Benares com justiça e eqüidade. Uma certa garça em sua casa levava mensagens para ele. E segue como antes. Mas o ponto diferente aqui é que neste caso a pássara, tendo deixado o tigre matar os garotos, pensou, “Não posso mais permanecer aqui. Sairei mas apesar de estar indo embora não irei sem falar com o rei, e logo que tiver falado sairei.” E então ela aproximou-se e saudou o rei, e estando um pouco afastada disse, “Meu senhor, foi por sua omissão que os garotos mataram os meus filhotes, e sob a influência da paixão vingei-me causando a morte deles. Não posso mais viver aqui.” E falou o primeiro verso:

Por muito tempo tive esta casa por minha
Honra grande realmente recebi,
Devido a um ato teu
Sou agora obrigada a sair.

O rei escutando isto falou a segunda estrofe:

Deve-se retaliar,
Pagando o erro com errado,
Então sua raiva abata ;
Assim, boa garça, fique por favor!

Escutando isto a pássara falou a terceira estrofe:

Erro com errado nunca podem
Como sempre foi, serem feitos um:
Nada, Ó rei, manter-me-á aqui,
Vejam! Estou indo.

O rei escutando, falou a quarta estrofe:

Devem ser sábios, não tolos,
Erro e errado podem
Viver em paz e harmonia :
Assim, boa garça, fique por favor!

A pássara disse, “As coisas como estão não posso permanecer, meu senhor,” e saudando o rei voou para dentro dos ares direto ao Himālaias.
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O Mestre, sua lição terminada, assim identificou o Jataka : “A garça é a mesma garça de antes mas o rei de Benares era eu mesmo.”

[ N. do tr.: Este Jataka aparece no Mahabharata com um diálogo maior entre os dois : Santi parva, seção CXXXIX. Como acontece com o papagaio na árvore seca, o rato no fim da fila, Pingala, e outros. Portanto há união íntima entre os textos canônicos do Buddhismo e do Hinduísmo. E das duas religiões também. Talvez também como entre Hebreus, Cristãos e Muçulmanos. Como bem mostra A. Coomaraswamy em seu livro 'Hinduísmo e Buddhismo'. ]

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

342 Buddha Macaco

         

  342
“Atravessei àgua...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre quando residia no Bosque de Bambu, relativa a tentativa de Devadatra em matar o Buddha. O incidente que leva à história já foi dado em detalhe.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um jovem macaco na região do Himālaia. E quando já adulto vivia nas margens do Ganges. Bem, uma certa crocodila no Ganges concebeu o desejo pela carne do coração do Bodhisatva e disse para seu crocodilo esposo. Ele pensou, “Matarei o Bodhisatva afundando-o na água e tomarei seu coração e darei à minha esposa.” Então ele disse ao Bodhisatva, “Venha meu amigo, vamos e comeremos frutos daquela ilha distante.”
“Como chegarei lá?” ele perguntou.
“Eu o colocarei nas minhas costas e o levarei até lá,” respondeu o crocodilo.
Inocente do propósito do crocodilo ele pulou em suas costas e sentou. O crocodilo depois de nadar um pouco começou a afundar. Então o macaco disse, “Por que senhor, afundas na água?”
“Vou matá-lo,” disse o crocodilo, “e dar a carne do seu coração para minha esposa.”
“Camarada tolo!” disse o macaco, ”achas que meu coração está dentro de mim?”
“Então onde você o colocou?”
“Não o vês pendurado lá na figueira distante?”
“O vejo,” disse por fim o crocodilo. “Mas você o dará para mim?”
“Sim, darei,” disse o macaco.
Então o crocodilo – tolo como era – levou-o e nadou até a figueira distante na praia do rio. O Bodhisatva saltando das costas do crocodilo pendurou-se na figueira e repetiu as estrofes:

Atravessei àgua, peixes e passei para a terra
Só para no fim cair em teu poder ?
Chega de jaca e jambo,
Melhor pegar figos que mangas distantes.
Aquele que em grandes ocasiões falha de sair
Debaixo dos pés dos inimigos, jaz no solo prostrado :
Aquele pronto a saber uma crise em seu fado
Não teme nunca a opressão do inimigo.

Assim o Bodhisatva nestas quatro estrofes diz como ter sucesso nos afazeres do mundo e então desapareceu na densa floresta.
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O Mestre tendo levado a lição ao fim, identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o crocodilo e eu mesmo era o macaco.”

// jātaka 208.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

341 Buddha Pássaro




341
A história deste Jataka será contada inteira no Jataka 536.
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Certa vez em Benares houve um rei chamado Kandari que era muito bonito; e seus conselheiros traziam-lhe todo dia milhares de caixas de perfumes, e faziam a casa ficar limpa e arrumada e com madeiras perfumadas acendiam o fogo e cozinhavam. Bem, sua esposa era àmável mulher chamada Kinnarā, e seu capelão Pañcālacanda era sábio e cheio de visão [era o pássaro Kunāla que em uma vida passada, jātaka, conta esta história a um pássaro amigo, conta histórias de pássaro para pássaro, de mulheres, histórias de mulheres que ‘vão onde o vento as leva’ ]. E na parede perto do palácio do rei crescia um jambo cujos ramos penduravam-se nas paredes, e à sombra dele morava um estropiado deformado nojento. Bem, um dia a rainha Kinnarā olhando pela janela viu o estropiado e caiu de paixão por ele. E a noite, após gozar dos favores do rei com seus encantos, depois que ele dormiu, ela levantou-se silenciosamente e colocando comida gostosa nuns potes dourados e amarrando na cintura, ela teria descido pela janela através de uma corda de panos, e subindo no jambeiro desceu por um galho e deu a comida gostosa para o estropiado deformado nojento, e teve seu prazer com ele, e depois de subir para o palácio do mesmo jeito que desceu e perfumar-se, deitou ao lado do rei. Deste jeito ela prevaricava constantemente com o estropiado deformado nojento e o rei não sabia de nada. Um dia após uma procissão solene ao redor da cidade, o rei entrando em seu palácio viu o estropiado, um sujeito lamentável, deitado debaixo do jambeiro, e disse ao capelão, “Apenas olhe para este espectro de gente.” “Sim, senhor?” “É possível meu amigo que alguma mulher movida pela luxúria chegaria perto desta nojenta criatura?” Ouvindo o que ele disse, o estropiado deformado envaidecendo-se de orgulho, pensou, “O que este rei disse? Parece que ele não sabe que sua rainha vem me visitar.” E esticando as mãos dobradas em direção ao jambeiro gritou, “Ó meu senhor, tu guardião desta árvore, a não ser você ninguém sabe sobre isto.” O capelão notando a ação pensou, “De verdade a esposa principal do rei, com ajuda desta árvore, vem e prevarica com ele.” E então disse ao rei, “Senhor, à noite, como é o contacto com a rainha?” “Nada noto de mais,” ele disse, “mas no meio da noitre o corpo dela fica frio.” “Bem, senhor, a não ser que seja outra mulher, sua rainha Kinnarā prevarica com ele.” “O que é isto que dizes, meu amigo ? Por que uma mulher tão encantadora teria prazer com esta criatura desagradável ?” “Bem, então senhor, ponha à prova.”
“Certo,” disse o rei e depois do jantar deitou com ela, para testá-la.E no momento de praxe, fingiu dormir, e ela agiu como antes. O rei seguindo seus passos ficou à sombra da árvore. O estropiado estava com raiva da rainha e disse, “Estais atrasada,” e deu um soco na orelha dela. E ela disse, “Não fiques com raiva, meu senhor; esperava o rei dormir,” e assim falando agia como se esposa da casa dele. Porém quando acertou-a, o brinco, que era a imagem de uma cabeça de leão, caindo da orelha foi parar aos pés do rei. O rei pensou, “Justo isto será do que preciso,” e levou com ele. E depois de prevaricar com seu amante ela retornou como antes e deitou do lado do rei. O rei a rejeita e no dia seguinte dá ordens dizendo , ”Que a rainha Kinnarā venha com todos os ornamentos que lhe dei.” Ela disse, “Meu brinco de leão está com o joalheiro,” e recusou-se a ir. Quando foi chamada uma segunda vez, foi só com um brinco. O rei perguntou, “Onde está seu brinco?” “Com o joalheiro.” Chamou o joalheiro e disse, “Por que não deixas a rainha usar o brinco?” “Não estou com ele, senhor.” O rei com raiva disse, “Você fraca e vil mulher, seu joalheiro deve ser uma pessoa como eu,” e assim dizendo atirou nela o brinco e dize ao capelão, “Amigo, falaste a verdade; vá e corte a cabeça dela.” Então ele manteve ela em um quarto do palácio e veio e falou ao rei, “Senhor, não fiques irado com a rainha Kinnarā : com todas as mulheres é justo a mesma coisa. Se estais ansioso em saber como imorais são as mulheres lhe mostrarei sua fraqueza e ilusão. Vamos, disfarcemo-nos e vamos ao campo.” O rei logo concordou e deixando o reino com a mãe, foi viajar com o capelão. Em dois quilômetros de viagem no campo, sentados na auto-estrada, um nobre proprietário, que dava uma festa de casamento para seu filho, colocou a noiva em uma carruagem fechada e ela era acompanhada de uma escolta grande. Vendo isto o capelão falou, “Se você quiser podes fazer esta garota prevaricar contigo.” “O que dizes meu amigo? Com esta escolta, a coisa seria impossível.” “Bem, então veja isto.” E ele armou uma tenda não longe da estrada e colocou o rei dentro, sentando do lado da estrada, chorando. Então o nobre, vendo, perguntou, “Por que choras amigo?” “Minha esposa,” ele disse, “está com criança e viajava para levá-la para casa, e ainda no caminho ela sentiu as dores e está em trabalho de parto dentro da tenda e não tem nenhuma mulher com ela e eu não posso ir lá. Não sei o que acontecerá.” “Ela deve ter uma mulher com ela: não chore, há numerosas mulheres aqui; uma delas irá com ela.” Bem então deixe a noiva ir; seria um feliz presságio para a garota.” Ele pensou, “O que ele diz é verdade: seria auspicioso para minha nora. Ela seria abençoada com inúmeros filhos e filhas,” e levou ela para lá. [Lembremos que o rei era muito bonito] Passando para dentro da tenda ela cai apaixonada à primeira vista pelo rei e prevarica com ele e o rei dá a ela o seu anel-selo. Então quando estava tudo consumado ela saiu da tenda e perguntaram a ela, “Qual o sexo?” “Um menino dourado?” Assim o nobre foi embora com a nora. O capelão veio ao rei e disse, “Viu, senhor, mesmo uma jovem noiva é fraca. Quanto mais não seriam as outras mulheres ? Por favor, senhor, deste algo a ela?” “Sim, dei meu anel-selo.” “Não deixarei ela mantê-lo.” E ele saiu correndo atrás e chegou na carruagem, e quando eles disseram, “O que significa isto?” ele disse, “Esta garota levou embora um anel que minha esposa brahmin deixou no seu travesseiro: devolva o anel senhora.” Ao devolvê-lo ela arranhou a mão do brahmin, dizendo, “Leve-o farsante.” Assim o brahmin em variedade de modos mostrou que muitas outras mulheres são culpadas de má-conduta e disse, “Até qui está bom, vamos a outro lugar, Senhor.” E o rei atravessou toda a Índia, e eles disserram, “Com todas as mulheres será o mesmo. O que elas são para nós? Voltemos.” E então voltaram direto para Benares. O capelão disse, “É assim, Senhor, com todas as mulheres; tão delicadas por natureza.” Perdoe rainha Kinnarā.” E com o pedido do capelão ele a perdoou mas a tirou do palácio. E depois que a tirou escolheu outra rainha, e retirou também o estropiado deformado nojento e ordenou que o jambeiro fosse cortado.” Versos canônicos:

É contado este tanto na história de Kandari e Kinnarā:
Todas as mulheres falham em encontrar prazer na própria casa.
Assim uma esposa deixa seu senhor, apesar de belo e forte
E irá com qualquer outro homem, até deformado nojento, errar.

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536 é o jātaka dos pássaros falando mal das pássaras. O jātaka 327 da história de Kākāti também é contada nele. E outras. Gautama conta estas histórias no alto do Himālaia a quinhentos Irmãos, duzentos e cinquenta de Kailavatsu e duzentos e cinquenta de Koliya, cidades que brigavam por causa de água e que ele pacificou: os quinhentos foram voando, levados por Buddha, que puxou, carregou, arrastou, a todos, até lá em cima. As mulheres deles estavam reclamando de os maridos estarem longe, no mosteiro. Elas queriam eles de volta. E eles queriam voltar mas chegando voando nos Himālaias, impressionados, desistem.




sábado, 15 de agosto de 2009

340 Buddha Mercador Visaya



                                          Taxila, Paquistão.

340
“Estais velho, Visaya...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre quando em Jetavana sobre Anāthapindika.” O incidente que ocasionou a história já foi contado inteiro no Jātaka 40 quando a fada da casa de Sudata converte-se. Nesta ocasião o Mestre direcionando-se a Anatha pindika disse, “Sábios antigos, caro irmão leigo, faziam ofertas, rejeitando o conselho de Sakra, rei dos céus, quando permaneceu pousado nos ares tentando impedí-los, dizendo, 'Não faça ofertas.' “ E ao pedido dele o Mestre contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era um grande mercador, chamado Visaya, que era muito rico. E dotado das Cinco Virtudes, era generoso e gostava de fazer ofertas. Tinha uma casa de ofertas construída em cada um dos quatro portões da cidade [segundo a velha arquitetura tradicional, apontados aos Quatro Cantos da Rosa dos Ventos], uma no centro da cidade e outra na porta de sua própria casa. Nestes seis pontos estabeleceu-se em ofertas, e a cada dia seissentas mil
pessoas iam lá a pedir, e a comida do Bodhisatva e a dos mendicantes era exatamente a mesma.
E como ele assim sacudiu todo o povo da Índia com dons e ofertas, a residência de Sakra treme com a extraordinária eficácia de sua caridade e o mármore trono amarelo do rei do céu mostrou sinais de calor. Sakra exclamando, “Quem, imagino, me fará sair de meu assento no céu?” E olhando ao redor viu o grande mercador e pensou, “Este Visaya faz ofertas e espalhando presentes por todo lado está agitando a Índia. Por meio destas ofertas, parece-me, me destronará e ele tornar-se-á Sakra. Eu destruirei seus bens e o farei pobre e assim fazer com que ele não possa mais ofertar.” Então Sakka fez o óleo, mel, melado e coisas assim e também os grãos todos desaparecer e os escravos e trabalhadores. Os que estavam sem ofertas vieram e disseram, “Senhor, a casa de ofertas desapareceu. Não encontramos nenhuma daquelas que construíste. “Leve dinheiro então,” ele disse. “Não pare as ofertas.” E chamando sua esposa, solicitou-a que não parasse com a caridade. Ela procurou por toda a casa, e não encontrando nenhuma moeda, ela disse, “Senhor, a não ser as roupas de vestir nada vejo. A casa toda ‘tá vazia.” Abrindo os tesouros das sete jóias nada encontraram, e a não ser o mercador e sua esposa , ninguém mais era visto, nem escravos, nem empregados. O Bodhisatva novamente dirigindo-se a mulher disse, “Minha querida, não podemos parar com a caridade. Busque na casa toda até encontrar algo.”
Naquele momento um foiceiro passando largou na varanda da porta da casa uma foice, uma vara e uma corda para amarrar palha, largou e foi embora. A esposa do mercador achou tudo e disse, “Meu senhor, isto é tudo que vejo,” e trouxe e deu tudo para ele. Disse o Bodhisatva, “Minha querida, todos estes anos nunca foicei palha , mas ho-je vou foiçar palha e e pegá-la e vendê-la e assim fazer ofertas.” Então temendo ter de parar de fazer caridade, ele tomou a foice e a vara e a corda, e saindo da cidade chegou num lugar com muita palha, e foiçando, amarrou-a em duas cargas, dizendo, “Uma deve ser nossa e a outra, oferta.” E segurando a palha na vara levou-a e vendeu-a no portão da cidade, e recebendo duas pequenas moedas deu metade do dinheiro aos mendicantes. Então haviam muitos mendicantes, e estes querendo também acabaram por levar a outra metade, a outra moeda, e passou o dia em jejum com sua esposa. Deste jeito seis dias passaram, e no sétimo dia, enquanto ele foiçava a palha, como era naturalmente delicado e jejuava por sete dias, logo que o calor do sol bateu em sua cabeça, seus olhos giraram , e ele desmaiou e caiu, espalhando a palha. Sakra estava por ali, observando o que Visaya fazia. E naquele instante o deus veio, e pousado no ar pronunciou a primeira estrofe:

Estais velho, Visaya, de fazer ofertas
E a caridade deves a perda de teus bens.
De agora em diante mostre auto controle, evite dar,
E entre alegrias duráveis viverás para sempre.

O Bodhisatva escutando estas palavras perguntou, “Quem és tu?” “Sou Sakra,” ele disse. O Bodhisatva respondeu, “O próprio Sakra, ofertando e tomando as obrigações morais, e jejuando e preenchendo os sete votos atinge o ofício de Sakra [Indra]. Mas agora proíbes o ofertar, aquilo que ocasionou tua própria grandeza. Verdadeiramente és culpado de um ato inútil.” E assim dizendo, falou três estrofes:

Não é certo, dizem as pessoas, que um ato vergonhoso
Manche a honra de um nobre nome.
Ó tu que possuis mil olhos
Poupe-nos disto mesmo no triste stress.
Não deixe nossos bens serem gastos de modo infiel
Para nosso próprio prazer e grandeza,
Mas como antes nossos estoques abençoe em crescimento.
Por aquela mesma estrada, que uma carroça antes passou
Uma segunda pode também ir. Assim daremos
Enquanto tivermos meios para viver,
Sem na pior reprimir pensamento generoso.

Sakra incapaz de pará-lo no seu objetivo perguntou por que ofertava. “Desejo,” ele disse, “não Sakkidade, nem Brahmidez mas buscando omnisciência, oferto.” Sakra em sinal do prazer em escutar tais palavras deu-lhe um tapa nas costas com suas mãos. Naquele mesmo instante, o Bodhisatva gozou do seu favor, todo seu ser preenchendo-se de alegria. Pelo poder sobrenatural de Sakra todos seus bens são-lhe restaurados. “Grande mercador,” disse Sakra, “de agora em diante todo dia ofertes comida para um milhão e duzentas mil pessoas.” E gerando em sua casa bens sem fins, Sakra despede-se dele e volta direto para sua própria residência.
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O Mestre tendo terminado sua lição, assim identificou o Jataka : ”Naquele tempo a mãe de Rahula era a esposa do mercador e eu mesmo era Visaya.”

[ N. do tr.: Nesta economia primeira não há troca financeira, idade dourada em que o povo alimenta-se gratuitamente. A mesma teimosia em mercantilizar a economia acontece no outro extremo do cabo de guerra com aqueles que insistem em dar, ofertar, no caso aqui seria o Estado enquanto do povo, pelo povo e para o povo. Há uma economia-política não moderna, existe mais no Oriente, ela é tradicional. Esta economia política primitiva / primeira funciona com o conceito religioso de dom / contra dom. Existem desde sempre as terras comuns que salvam o Povo da sanha, cobiça mercantil, a maior doença atual sendo o 1% sintoma claro, que quer transformar tudo em mercadoria, e a Terra mesma enquanto Mãe, oferta seus produtos como em dom ao Povo : cai a chuva de graça sem nada cobrar e enche todos os reservatórios, nada custa, brilha e aquece o Sol também de graça gerando tudo com seu calor e brilho, o vento, ar, sopra e roda todas as turbinas eóleas, sem pedir nada em troca, de graça, a terra faz tudo crescer e a tudo dá vida, nada cobra, ou melhor, cobra a gratuidade mesma, o dom/contradom : a roda dos elementos é a verdadeira economia, a roda da economia natural. A vida é de graça. Toda refeição é dom de Deus. O dinheiro destruiu a economia ( a indústria financeira fez com que o trabalho apenas gere, produza, crie, um terço, sim, a terça parte, do dinheiro que circula, existe, roda na roda financeira, ficção financeira, a existência enquanto bolha ), o dragão financeiro que extorque os Povos, a grande prostituta mercado que quer mercantilizar tudo e a besta máquina que destruiu o rio Doce : ex voto = de promessa, promessa = voto : foram destruídos, junto com a cidadania laica, quando condenaram a presidenta inocenta : o mercado destruindo a Promessa, o dragão financeiro destruindo a Promessa : a luta contra o mal ]. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

339 Buddha Pavão, Mahavira Corvo



                                  asceta Jain, jaina,

339
“Antes do pavão de crista...etc.”- Esta história o Mestre contou quando em Jetavana sobre certos heréticos que perderam ganhos e glória anteriores. Pois os heréticos que antes do Nascer do Buddha recebiam ganhos e honras, perderam estas coisas quando do seu Nascimento, o que os tornaram como pirilampos ao pôr do sol. O fado destes heréticos foi discutido no Salão da Verdade. Quando o Mestre veio e perguntou qual tema conversavam em assembleia, tendo sido dito a ele qual era, disse, “Irmãos, não apenas agora, mas antes também, precedendo o aparecimento daqueles dotados de virtude, os que eram sem virtude atingiram ao maiores ganhos e glórias porém quando os dotados de virtude apareceram, aqueles dela destituídos , perderam seus ganhos e glórias.” E assim contou-lhes um lenda dos tempos passados.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à existência como um jovem pavão. E quando estava crescido, era extremamente bonito e vivia na floresta. Naquele tempo alguns mercadores chegaram ao reino de Bāveru, trazendo a bordo do barco com eles um corvo. Naquele tempo, é dito, não havia pássaros em Bāveru. Os nativos que aos poucos vieram e viram o pássaro empoleirado no topo do mastro, disseram, “Olhem a cor das penas deste pássaro. Olhem seu bico e seu pescoço, e seus olhos como de jóias.” Assim, louvando o corvo disseram a estes mercadores, “Senhores, dê-nos este pássaro. Precisamos dele, e vocês podem pegar outro no seu país.”
“Então pegue-o por um preço,” eles disseram.
“Dê-nos por um dinheiro.”
“Não venderemos por isto,” disseram os mercadores.
Gradualmente aumentando sua oferta o povo disse, “Dê-nos por cem dinheiros.”
“Isto será útil,” responderam por fim, “para nós e que haja amizade entre nós e vocês.” E venderam por cem dinheiros.
Os nativos pegaram o corvo e colocaram numa gaiola dourada e o alimentaram com vários tipos de peixe e carne e frutas selvagens. Num lugar que não existia pássaros, um corvo dotado das dez qualidades más, atingiu os mais altos ganhos e honra. Numa outra vez que os mercadores vieram para o reino de Bāveru, trouxeram um pavão real que treinaram para piar quando estalassem os dedos e a dançar quando batiam palmas. Quando a multidão se juntou, o pássaro na proa do barco e batendo as asas, dançou e cantou uma doce melodia.
O povo que viu encantou-se e disse, “Este rei dos pássaros é belo e bem treinado. Dê-nos.”
Os mercadores disseram, “Primeiro trouxemos um corvo. Vocês levaram. Agora trazemos um pavão real e vocês pedem também. Está se tornando impossível, vir e mesmo mencionar o nome de qualquer pássaro aqui neste país!”
“Não chorem, Senhores,” eles disseram, “dê-nos este pássaro e peguem outro na sua terra.”
E subindo o preço da oferta por fim compraram por mil dinheiros. E colocaram-no numa gaiola ornada com as sete jóias e alimentaram-no com peixe, carne e frutas, também com mel, milho frito, caldo de cana, e coisas assim. Então o pavão real recebeu as mais altas honras e ganhos. A partir do dia de sua chegada, os ganhos e honras dos corvos caíram. E ninguém queria nem mesmo olhar para ele. O corvo sem poder conseguir comida de nenhum tipo, gritando “caw, caw”, foi-se e estabeleceu-se, no lixão.
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O Mestre depois de fazer a conexão entre as duas histórias, em sua Sabedoria Perfeita pronunciou estas estrofes:

Antes do pavão de crista aparecer,
Corvos eram reverenciados com presentes de frutas e carne:
A Bāveru chega o pavão de fala doce,
O corvo logo foi despojado de presentes e fama.

Assim as pessoas a diversos sacerdotes prestam a honra devida
Até Buddha apresentar a luz total da Verdade:
e quando o Buddha de voz melíflua pregou a lei,
dos heréticos todos os presentes e louvor, as pessoas retiraram.

Depois de falar estas estrofes, ele identificou o Jātaka: “Naqueles dias o Jain Nāthaputra era o corvo e, eu mesmo, o pavão real.”


[ N. do tr.: Mahavira sendo o Jain Nāthaputra, a história mostra a envergadura deste santo indiano, sendo então o termo ‘herético’ relativizado. Os Jains têm seus templos nos conjuntos sagrados Hindus de templos espalhados pela Índia. Hindus, Buddhistas e Jains. Thirtankaras são como que seu Buddha, em várias encarnações. Houveram vinte e quatro Thirtankaras. Nigantha Nathaputra seria o vigésimo quarto, contemporâneo de Siddartha Gautama. ]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

338 Buddha professor de Taxila



                                          Buddha de Taxila, Paquistão.


338
“Com sentido aguçado...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia no Bosque de Bambu, sobre o príncipe Ajātasatru. No tempo da sua concepção surgiu na mãe dele, a filha do rei de Kosala, uma vontade crônica de beber sangue do joelho direito do rei Bimbisāra (seu marido). Sendo questionada pelas mulheres ajudantes, ela lhes contou o que acontecia. O rei também, escutando chamou seus astrólogos e disse, “A rainha está possuída de tal e tal desejo. Qual será a conseqüência dele?” Os astrólogos disseram, “A criança concebida no útero da rainha, te matará e tomará teu reino.” “Se o meu filho,” disse o rei, “deve me matar e tomar meu reino, qual será o dano disto?” E então ele teve seu joelho direito aberto com uma espada e deixando o sangue cair num prato de ouro deu-o a rainha para beber. Ela pensou, “Se o filho que nasce de mim deve matar o pai, que cuidado devo ter com ele?” e tentou abortá-lo. O rei ouvindo falar disto chamou a ela e disse, “Minha querida, é dito, meu filho matar-me-á e tomará meu reino. Mas não estou isento da velhice e da morte: permita-me contemplar a face do meu filho. Não aja desta maneira. Mas ela ainda assim continuou indo ao jardim e agindo como antes. O rei escutando isto, proibiu as idas ao jardim e quando cumpriu-se o tempo ela deu a luz a um filho. E batizou-se, porque era inimigo do pai, enquanto ainda não nascido, como príncipe Ajātasatru. Enquanto ele crescia na corte, um dia o Mestre acompanhado de quinhentos Irmãos com o Buddha à sua cabeça foi recebido pelo rei com comida escolhida macia e dura. E após saudar o Mestre o rei sentou e escutou a lei. Naquele momento vestiram o jovem príncipe e o trouxeram para o rei. O rei recebeu a criança com uma forte apresentação de afeto e o colocou no colo, e recebeu ternamente o garoto com o amor natural do pai por sua criança, deixando assim de escutar a lei. O Mestre observando sua inatenção disse, “Grande Rei, antes reis quando suspeitos dos filhos mantinha-os em lugar secreto, e davam ordens para quando morressem , fossem trazidos e colocados no trono.” Ao pedido do rei ele contou uma lenda de tempos antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um famoso professor em Takkasilā ( Taxila ) e treinava muitos príncipes jovens e filhos de brahmins nas artes. Bem, o filho do rei de Benares, quando tinha dezesseis anos, veio a ele e depois de ter entendido os Três Vedas e todas as artes liberais e terminou o aprendizado, ele deixou seu mestre. O professor ao vê-lo, por seu dom de prognóstico, pensou, “Há um perigo que virá a este homem através do seu filho. Por meu poder mágico eu o libertarei dele.” E compondo quatro estrofes deu-as ao jovem príncipe e falou como segue: “Meu filho, depois que sentares no trono, quando seu filho tiver dezesseis anos, pronuncie a primeira estrofe enquanto comendo arroz; repita a segunda quando do grande café da manhã ; o terceiro, quando tiveres subindo para a cobertura do palácio, parado no topo da escada, e o quarto quando entrando na câmara real, você parado na soleira.”
O príncipe prontamente aceitou os versos e saudando o professor, foi-se. E depois de ter sido vice-rei, com a morte do pai subiu ao trono. Seu filho, quando com dezesseis, quando o rei saía para divertir-se no jardim, observando a majestade e poder do pai, encheu-se do desejo de matá-lo e tomar seu reino, e falou aos seus ajudantes sobre isto. Eles disseram, “Certo, Senhor, para quer ter o poder quando velho? Deves de algum modo matar o rei e ganhar o reino.” O príncipe disse, “Mata-lo-ei com veneno na comida.” E assim tomou veneno e sentou para jantar com seu pai. O rei, quando o arroz estava sendo servido na tigela, falou a primeira estrofe:

Com o sentido aguçado, as cascas do arroz
Ratos inteligentes discriminam:
Eles não ligam muito para as cascas, tocar,
Mas grão a grão o arroz comem.

“Fui descoberto,” pensou o príncipe, e não ousando administrar o veneno na tigela de arroz, levantou-se e cumprimentando o rei, saiu. Contou a história a seus ajudantes e disse, “Ho-je fui descoberto. Como agora o matarei?” Deste dia em diante escondiam-se no jardim e murmuravam um com o outro, “Há ainda um expediente. Quando chegar o café da manhã, empunhem espadas, e fiquem entre os conselheiros, quando virem o rei afastado da guarda, matem-no com a espada.” Arranjaram assim. O príncipe logo concordou e quando do caféda manhã, ele empunhou sua espada, e movimentando-se de um lado para outro procurava uma oportunidade de matar o rei. Neste momento o rei pronunciou a segunda estrofe:

O conselho secreto entre as árvores
Foi entendido por mim:
O levante da vila em murmúrios macios no ouvido
Isto também escutei.

Pensou o príncipe, “Meu pai sabe que sou seu inimigo,” e fugiu e contou aos ajudantes. Depois do lapso de sete ou oito dias a eles disseram, “Príncipe, seu pai é ignorante do que pretendes com ele. Apenas fantasiaste na mente. Mate-o.” Assim um dia ele tomou a espada e nas escadas do quarto real , permaneceu. O rei no alto da escadaria falou a terceira estrofe:

Um macaco certa vez medidas cruéis tomou
Para seu tenro rebento impotente fazer.

Pensou o príncipe, “Meu pai quer me pegar,” e fugiu apavorado e falou aos assistentes que foi ameaçado pelo pai. Depois de quinze dias, eles disseram, “Príncipe, se o rei soubesse não teria esperado tanto. É tua imaginação que lhe sugeriu isto. Mate-o.” Assim um dia ele tomou sua espada e entrando na câmara real no andar superior do palácio deitou debaixo da cama, pretendendo matar o rei, logo que viesse. Depois do jantar, o rei manda os acompanhantes embora, desejando deitar, e entrando na câmara real, ainda na soleira, falou a quarta estrofe:

Teus prudentes caminhos rastejantes
Como bode extraviado de um olho só em campo de mostarda
E quem és que esconde-se aí debaixo,
Isto também eu sei.

Pensou o Príncipe, “Meu pai me descobriu. Agora ele me mata.” E tomado de medo, saiu debaixo da cama, e largando a espada, disse, “Perdoe-me, meu senhor,” jazendo rastejante diante dele. O rei disse, “Você pensa, ninguém sabe quem sou.” E depois de repreendê-lo ordenou que o colocassem em cadeias na prisão, e botou guarda para vigiá-lo. Então o rei meditou nas virtudes do Bodhisatva. E logo depois morreu. Então celebraram seus ritos fúnebres e tiraram o jovem príncipe da prisão e o colocaram no trono.
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O Mestre terminou aqui a lição e disse, “Assim, Senhores, reis antigos suspeitaram em casos de suspeita justificada,” e relatou esta história mas o rei não deu ouvidos a suas palavras. O Mestre assim identificou o Jataka : “Naquele tempo o afamado professor em Takkasila (Taxila) era eu mesmo.”



quarta-feira, 12 de agosto de 2009

337 Buddha Asceta



337
“Ai ! Não te oferecemos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um certo Irmão. Ele veio, é dito, do campo para Jetavana e após largar o manto e a tigela, saudou o Mestre e perguntou aos noviços, falando, “Senhores, quem cuida dos Irmãos desconhecidos que chegam em Savatthi ?” “O Tesoureiro Anatha pindika,” eles disseram, “ e a grande e santa irmã leiga Visākhā cuidam da ordem e estão no lugar de pai e mãe dela.” “Muito bom,” ele disse, e dia seguinte bem cedo, antes que um único irmão tivesse entrado na casa, ele veio até a porta de Anatha pindika. Pelo fato de ter chegado em hora inoportuna não havia ninguém para recebê-lo. Sem nada conseguir aí ele saiu e foi para a porta da casa de Visākhā. Lá também por ter chegado muito cedo, nada conseguiu. Após vagar por aqui e lá, voltou e descobrindo que terminara todo o mingau de arroz, partiu. Novamente vaga para lá e para cá e voltando, encontra o arroz já terminado, volta para o mosteiro e diz, “Os irmãos aqui falam destas duas famílias como crentes fiéis mas ambas realmente são sem fé e descrentes.” E assim ficou xingando estas famílias. Então um dia começou uma discussão no Salão da Verdade, como um certo irmão veio do campo e até a porta de certos proprietários muito cedo e falhando em conseguir ofertas prosseguiu xingando estas famílias. Quando o Mestre veio e perguntou qual era o tópico que os Irmãos ali sentados conversavam, escutando qual era, chamou o Irmão e questionou-o se era verdade. Quando o Irmão disse, “Sim, sua Reverência, é verdade,” o Mestre perguntou, “Por quê estais irado, Irmão ? Antigamente, antes de Buddhas surgirem no mundo, mesmo ascetas quando visitavam uma residência e não recebiam ofertas, não ficavam irados.” E com isto ele contou uma história dos dias antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin, e quando na idade estudou todas as artes em Takkasilā ( Taxila ), e depois adotou a vida religiosa de um asceta. Após um longo tempo morando nos Himālaias, foi a Benares buscando sal e vinagre, e habitando num jardim, no dia seguinte entrou na cidade em coleta de ofertas. Lá havia na época um mercador em Benares, crente leal. O Bodhisatva perguntou onde era a casa do crente, e ouvindo sobre a família do mercador, foi para a porta da sua casa. Naquele momento o mercador fora prestar respeito ao rei, e nenhum dos seus empregados, o viu. Assim ele deu meia volta e foi embora.
Mas, quando o mercador esta voltando do palácio , o viu, e saudando-o, tomou sua tigela e o levou para sua casa. Lá ofereceu-o um lugar e confortou-o com a lavagem e unção dos pés, e com arroz, bolos e outras comidas, e no curso da refeição perguntou-lhe sobre as coisas e depois de acabar de comer, saudou-o e sentando do lado com respeito, disse, “Senhor Reverendo, estrangeiros que venham a nossa porta, sejam mendicantes ou clérigos santos ou brahmins, nunca foram embora sem receber sinais de honra e respeito, mas ho-je devido a não teres sido visto pelos empregados, foste embora sem ter recebido um assento, ou água para beber, e sem ter seu pé lavado, ou arroz e mingau comido. Isto foi falta nossa. Deves perdoar-nos nisto.” E com estas palavras pronunciou a primeira estrofe:

Ai! Não te oferecemos assento,
Nem água trouxemos, nem nada para comer:
Aqui confessamos nosso pecado,
E humilde perdão, Senhor Santo, rogamos.

O Bodhisatva ouvindo isto falou a segunda estrofe:

Nada tenho a condenar,
Nenhuma raiva sinto,
O pensamento que uma vez tive
Furta-se através da minha mente,
“Hábitos das pessoas aqui
São como ninharias estranhas.”

O mercador escutando respondeu em mais dois versos:

O costume em nossa família – é assim
Recebido por nós há longos anos atrás –
É fornecer ao estrangeiro, assento,
Suprimentos na necessidade, água para seus pés
E todo hóspede como parente querido tratar.

E o Bodhisatva depois de ficar lá alguns dias e ensinar o dharma (dever) ao mercador de Benares, voltou direto para os Himālaias, onde desenvolveu as Faculdades e as Consecuções.
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O Mestre, tendo terminado sua lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão atingiu a fruição do Primeiro caminho :- “Naquele tempo Ānanda era o mercador de Benares e eu mesmo era o asceta.”

[ N. do tr.: Markandeya disse, ‘Havia, ó Bharata, um asceta virtuoso de nome Kausika e dotado dos bens do ascetismo e devoto aos estudos dos Vedas, era um Brahmana superior e este melhor dos Brahmanas estudava todos os Vedas com os Upanishads e um dia estava recitando os Vedas ao pé de uma árvore e naquele momento sentou no topo da árvore uma siriema e aconteceu desta siriema sujar o corpo do Brahmana e vendo a siriema o brahmana ficou muito irado e pensou em fazer mal à siriema e enquanto o Brahmana olhava com ira a siriema e pensava também em fazer-lhe mal, ela caiu no chão e vendo a siriema caída assim da árvore e morta insensível, o Brahmana foi movido de remorso e o regenerado começou a lamentar-se da morte da siriema dizendo, ‘Ai, fiz mal levado pela ira e pelo mal!’ “ Mahābharatha, Vana parva, seção CCV.
Este Kausika acaba entrando numa vila e é atendido por uma bela mulher. Esta, enquanto o atendia, é obrigado a pedí-lo que esperasse posto que o marido chegara. Kausika fica com raiva, ira-se, com a mulher porque esperou muito! E ela diz para ele que não é siriema não! Que, primeiro, o marido! Kausika novamente se arrepende e espanta-se dela saber sobre a siriema. Ela manda ele procurar o caçador de pássaros em Mithila. Quando ele chega fica mais espantado ainda: o caçador o esperava e mais, também sabia da siriema. A passagem toda refere-se a como com todo estudo o brahmin ainda estava sujeito as emoções. Markandeya é um Santo Rishi. ]


terça-feira, 11 de agosto de 2009

336 Buddha e príncipe Chatra



336
“Grama ainda...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um certo tratante. O incidente que faz surgir a história já foi relato. Cf. Jataka 371.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se seu ministro e conselheiro nas coisas temporais e espirituais. O rei de Benares saiu contra o rei de Kosala com um grande exército, e chegando em Savatthi, após a batalha entrou na cidade e tornou o rei prisioneiro. O rei de Kosala então tinha um filho, príncipe Chatra, chamava-se. Este, escapou disfarçado, e foi para Takkasilā, onde assimilou os três Vedas e as dezoito artes liberais. Deixou depois Takkasilā, e enquanto ainda estudava os usos práticos das ciências chegou a uma certa vila na borda da fronteira. Em uma floresta perto quinhentos ascetas habitavam em cabanas de folhas. O príncipe aproximou-se deles, e com a idéia de aprender algo com eles, tornou-se asceta, e assim adqüiriu todo o conhecimento que eles tinham para partilhar. Passando o tempo ele torna-se líder do bando de discípulos.
Um dia dirigiu-se a sua companhia de santas pessoas e perguntou-lhes, dizendo, “Senhores, por quê vocês não vão na região central?” “Senhor,” eles disseram, “na região central é dito que vivem sábias pessoas. Eles fazem perguntas, chamam para devolver gentilezas e repetir fórmulas de bençãos, e reprovam o incompetente. E assim tememos lá ir.”
“Não temam,” ele disse, “arranjarei tudo para vocês.”
“Então iremos,” eles disseram. E todos eles tomaram seus vários requisitos e em tempo devido chegaram a Benares. Então o rei de Benares, tendo tomado todo o reino de Kosala em possessão, estabeleceu governadores a ele leais, e ele mesmo, tendo coletado todo o tesouro acessível, retornou com o espólio para Benares. E enchendo potes de ferro com o tesouro, enterrou tudo no jardim real, e então continuou a viver lá. E os ascetas santos passavam a noite no jardim real, e de manhã entraram na cidade para colher ofertas, e chegaram na porta do palácio. O rei ficou tão encantado com o porte deles que os chamou e mandou que sentassem no estrado e deu-lhes arroz e bolos, e enquanto era hora de comer perguntou-lhes perguntas. Chatra ganhou o coração do rei respondendo todas as perguntas, e no concluir da refeição agradeceu-lhe de todos os modos. O rei ainda mais agraciado, recebeu dos ascetas a promessa de que ficariam no jardim.
Chatra sabia um encanto para trazer à luz tesouros enterrados, e enquanto residiam lá ele pensou, “ Onde este sujeito pode ter colocado o dinheiro que pertencia a meu pai?” Assim repetindo o encanto e olhando ao redor, ele descobriu o quê estava enterrado no jardim. E pensando que com este dinheiro recuperaria o reino também, dirigiu-se aos ascetas e disse, “Senhores, eu sou o filho do rei de Kosala. Quando nosso reino foi tomado pelo rei de Benares, escapei disfarçado, e assim salvei minha vida. Mas agora peguei a propriedade que pertence a minha família. Com isto irei recuperar meu reino. O que vocês farão?”
Eles responderam, “Nós iremos com você.”
“Concordo,” ele disse, e fizeram sacos de couro e à noite cavaram um buraco no chão e tiraram os potes de tesouro, e colocando o dinheiro nos sacos, encheram de grama os potes de ferro. Então ordenou que os quinhentos ascetas e outros pegassem o dinheiro e fugissem para Savatthi. Lá, prendeu os governantes leais a Benares, e recuperando o reino restaurou as muralhas, torres de vigias e outros trabalhos, fazendo a cidade inexpugnável a ataques de inimigos hostis, passou a morar lá. Foi dito ao rei de Benares, “Os ascetas carregaram o tesouro do jardim e fugiram.” Ele foi ao jardim e abrindo os potes só encontrou grama neles. E por razão do tesouro perdido grande tristeza abateu-se sobre ele. Foi para a cidade murmurando, “Grama, grama,” e ninguém podia aliviar sua dor. Pensou o Bodhisatva, “O rei está com um problemão. Vaga de um lado para outro, murmurando em vão. A não ser eu, ninguém tem poder de retirar-lhe a dor. O libertarei do problemão.” Assim, um dia enquanto sentado calmamente com ele, quando o rei começou a murmurar, ele repetiu a primeira estrofe:

“Grama” ainda é seu grito constante;
Quem levou sua grama embora?
Qual sua necessidade dela, ou por que
Apenas esta palavra falas?

O rei ouvindo isto, respondeu com a segunda estrofe:

Chatra, santo asceta famoso
Aconteceu de vir por aqui
Ele apenas culpo,
Substituindo ouro por grama.

O Bodhisatva, escutando pronunciou a terceira:

Pessoas astutas fazem sua lei,
“dar pouco e tomar muito [little give and mickle take].”
O que ele tomou era tudo dele próprio,
O que deixou, grama apenas.

Escutando isto o rei pronunciou a quarta estrofe:

Virtude não segue tais leis,
Estas são morais adequadas a tolos.
Com certeza são morais duvidosas ;
Aprendizagem também é vaidade.

Enquanto ele assim culpava Chatra, o rei com estas palavras do Bodhisatva livrou-se de seu sofrer e reinou com retidão.
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O Mestre aqui terminou sua lição e identifico o Jataka : “Naquele tempo o Irmão tratante era o grande Chatra e eu mesmo era o sábio ministro.”


‘many a little makes a mickle’ adágio anglo-saxão, aproveitando a onda.



segunda-feira, 10 de agosto de 2009

335 Buddha Leão




                       Bosque de Bambu, Índia.

335
“Chacal acautele-se...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia no Bosque de Bambu, sobre a tentativa de Devadatra de imitar o Buddha. O incidente que deu origem à história foi contado todo antes no Jataka 204 [ E está contado em Kulla-Vagga VII,4 : Devadatra causa um cisma na Ordem levando para Gaya-sisa, quinhentos noviços. Sariputra e Moggaallana o seguem e sentam no seu convento escutando-o pregrar, até chegar a noite. Então, Devadatra senta e deita para descansar pois muito pregou e passa o abanico para Sariputra deixando-o que pregasse para os noviços. Os Capitães da Fé pregam até todos obterem o puro e imaculável Olho da Verdade –(que é o conhecimento de que) o quê quer que comece, tem inerente também a necessidade de sua dissolução. E voltam todos para Gautama. E Devadatra dormindo acorda com uma joelhada de Kokalika no peito, vendo que os discípulos se foram. Devadatra querendo imitar Gautama como um jovem elefante que come lótus de um lago sem limpá-la, antes de mastigar como fazem os elefantes adultos: metáfora de Gautama ainda no Kulla-Vagga . Neste jātaka a metáfora é outra, para a mesma situação ]. O Mestre disse, “Isto aconteceu a Devadatra antes,” e sendo pressionado pelo Ancião, contou uma lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Bramadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um leão, e habitava uma caverna dos Himālaias, e um dia após matar um búfalo e comer sua carne tomou um gole d’água e voltou para casa. Um chacal o viu e impedido de escapar deitou-se de barriga para cima.
O leão disse, “Qual o significado disto, Sr. Chacal?”
“Senhor,” ele disse, “serei seu empregado.”
O leão disse, “’Tá bem, venha então,” e conduzindo-o ao lugar em que morava, alimentou-o no dia-a-dia. Quando o chacal estava gordo com os restos da comida do leão, um dia o orgulho manifestou-se nele, e aproximando-se do leão disse, “Meu senhor, sou um impedimento. Constantemente tu me traz carne e alimento. Hoje permaneça aqui. Eu irei e matarei um elefante, e depois de comer trarei para ti alguma carne.” Disse o leão, “Amigo chacal, não olhe isto com bons olhos. Não saíste de um ramo que mata e alimenta-se de carne de elefantes. Eu matarei um elefante e trarei a carne para você. O elefante é grande. Não empreenda o que é contrário a tua natureza, mas escute minhas palavras.” E falou a primeira estrofe:-

Chacal, acautele-se!
São longas as presas dele.
Alguém da tua pequena raça
Dificilmente ousaria
Tão pesada e forte
Besta como esta, encarar.

O chacal, apesar de proibido pelo leão, saiu fora da cova e por três vezes deu o grito do chacal. E olhando para a base da montanha, espiou um elefante preto que movia-se embaixo, e pensando em cair em cima da cabeça dele, atirou-se e virando no ar, caiu aos pés do elefante. O elefante levantando a pata e colocando-a na cabeça do chacal esmagou seu crânio em pedaços. O chacal morreu e o elefante saiu trompeteando. O Bodhisatva veio e parado no topo do precipício viu como o chacal encontrou sua morte, e disse, “Pelo orgulho foi morto este chacal,” e pronunciou três estrofes:-

Um chacal certa vez tomou ares de leão
Desafiando como igual adversário um elefante.
Pronado em terra, enquanto o peito grunhe
Aprendeu a arrepender-se do duro encontro.

Quem portanto desafia um de fama sem par,
Sem marcar o vigor de sua estrutura bem ligada,
Partilha do triste fado que teve o chacal.

Mas quem a medida de seu próprio poder conhece,
E boa discrição mostra nas palavras,
Vive, verdadeiro com seu dharma e triunfa sobre os inimigos.

Assim o Bodhisatva nestas estrofes declarou os deveres, dharma, próprios a serem realizados neste mundo.
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o chacal e eu mesmo era o leão.”

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

334 O touro através das inundações...etc.


334
“O touro através das inundações...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre quando em Jetavana relativa a um conselho dado ao rei. A história introdutória será encontrada no Jataka 521. Mas nesta versão dela o Mestre disse, “Reis antigos, Senhor, escutando as palavras do sábio, legislaram com justiça e atingiram o mundo celestial.” E ao pedido do rei ele contou uma história dos tempos antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu numa família brahmin. E quando tornou-se adulto, treinado em todas as artes, adotando a vida ascética desenvolveu todas as Faculdades e Consecuções, e tomou como domicílio um lugar agradável nos Himalaias, vivendo de raízes e frutos. Neste momento da sua vida o rei, ansioso em descobrir seus próprios defeitos, saiu inquirindo, vendo se havia alguém que lhe indicaria suas faltas. E não encontrando ninguém que lhe censurasse, nem dentro nem fora, nem na cidade, nem fora dela, vagou pelo campo disfarçado, pensando, “Como será na roça?” E não achando lá ninguém que o censurasse e encontrando as pessoas apenas falando dos seus méritos, ele pensou, “Como será nos Himalaias?” E entrou na floresta e vagou até achar o eremitério do Bodhisatva, onde após saudá-lo, e de modo amigável falarem sentou do seu lado. Naquele momento o Bodhisatva comia figos maduros que trouxe da mata. Eles eram suculentos e doces, como açúcar. Ele dirigiu-se ao rei e disse, “Sua Excelência, por favor coma este figo maduro e beba um pouco d’água.”
O rei o fez, e perguntou ao Bodhisatva, “Por quê, Senhor Reverendo, está este figo tão excessivamente doce?”
“Sua Excelência,” ele respondeu, “o rei exerce a lei com justiça e eqüidade. Daí estar tão doce.”
“Em um reino de rei injusto, ele perde sua doçura, Senhor?”
“Sim, Sua Excelência, em tempo de reis injustos, óleos, mel, melado, e produtos semelhantes, assim como, raízes e frutos, perdem sua doçura e sabor, e não apenas estes mas todo o reino torna-se mal e sem sabor; mas quando os legisladores são justos, estas coisas tornam-se doces e cheias de sabor e todo o reino cobre-se de seus tons e sabores.”
O rei disse, “Deve ser assim, Senhor Reverendo,” e sem deixá-lo saber que era o rei, saudou o Bodhisatva e retornou à Benares. E pensando em testar as palavras do asceta, ele legislou injustamente, dizendo para si mesmo, “Agora, saberei tudo sobre esta matéria,” e depois de um período curto de tempo ele saiu e foi falar com o Bodhisatva, respeitosamente sentando ao seu lado. O Bodhisatva usando exatamente as mesmas palavras, ofereceu a ele figo maduro, que soube-se amargo ao paladar. Achando o figo amargo, cuspiu-o fora, dizendo, “Está amargo, Senhor.”
Disse o Bodhisatva, “Sua Excelência, o rei deve ser injusto, pois quando legisladores são injustos, tudo, começando com os frutos selvagens no mato, perdem toda sua doçura e sabor.” E daí recitou estas estrofes:-

O touro através das inundações um curso errático tomará,
A manada de gado toda dispersa-se ao seu estímulo :
Então, se um líder, trilhas tortuosas segue,
Para fins errados guiará a multidão simples,
E todo o reino ruirá, num tempo de licensiosidade.

Mas se o touro a um curso direto obedece,
A manada de gado reta, segue às suas costas.
Então deve seu chefe ser leal aos retos caminhos,
O povo comum evitará a injustiça,
E por todo o reino seguir-se-á a santa paz.

O rei após escutar a exposição da Verdade pelo Bodhisatva, deixou-o saber que ele era o rei e disse, “Santo Senhor, anteriormente foi devido a mim apenas que os figos estavam doces e depois amargos, mas agora eu os farei doces novamente.” Então saudou o Bodhisatva e retornou para casa, e regendo retamente restaurou tudo à condição original.
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O Mestre tendo terminado sua lição, identificou o Jataka ; “Naquele tempo Ananda era o rei e eu mesmo era o asceta.”

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

333 Então te conheci...etc.


333
“Então te conheci...etc.” - Esta é uma história que o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre um certo fazendeiro. A história introdutória foi contada toda inteira antes ( Jataka 223 e 320). Desta vez o marido e a esposa estão voltando para casa, após uma cobrança, e no curso da viagem alguns caçadores deram-lhes um lagarto assado, oferecendo para que ambos comessem. O marido mandou a esposa buscar água e comeu o lagarto todo, e quando ela voltou, ele disse, “Minha querida, o lagarto fugiu.” “Bem, meu senhor,” ela disse, “o que pode-se fazer com um lagarto assado que foge ?” Ela bebeu um pouco d’água e depois em Jetavana quando sentada na presença do Mestre, foi perguntada por ele como segue: “Irmã leiga, este homem é amoroso, amante e útil ?” Ela respondeu, “Sou amorosa e amante dele, mas ele não me ama.” O Mestre disse, “Admitamos isto. Não se entristeça. Quando ele relembrar tuas virtudes, te dará poder supremo.” E ao pedido deles, relatou uma história antiga.
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Esta história antiga é justo como a anterior já relata, mas neste caso, quando o marido ea esposa estavam a caminho de casa, alguns caçadores viram como eles estavam cansados e deram um lagarto assado e pediram que dividissem entre os dois. A senhora real amarrou-o com uma trepadeira usada de corda e seguiu seu caminho, levando-o nas mãos. Chegaram em um lago e deixando a auto-estrada, sentaram aos pés de uma árvore Bo. O príncipe disse, “Vá querida e pegue água no lago com uma folha de lótus e depois comeremos esta carne.” Ela pendura o lagarto num galho e vai pegar água. O companheiro dela come o lagarto todo e depois senta com cara virada, segurando um pedaço do rabo, da cauda, em suas mãos. Quando ela volta com àgua, ele diz, “Minha querida, o lagarto desceu do galho e escapou por um cupinzeiro. Corri e o segurei pela ponta da cauda. O lagarto a quebrou em duas e deixou em minhas mãos a parte que segurei, desaparecendo no buraco.”
“Bem, meu senhor,” ela respondeu, “como podemos lidar com lagarto assado que foge ? Venha, vamos.”
E assim, bebendo água, continuaram a jornada para Benares. O príncipe quando chegou ao trono deu a ela o rank de rainha titular mas nenhuma honra ou respeito prestou a ela. O Bodhisatva, desejoso de angariar honras para ela, diante da presença do rei, a questionou, “Senhora, como pode acontecer de não recebermos nada das tuas mãos ? Por quê nos neglige ?”
“Caro senhor,” ela disse, “Nada recebo do rei. Como então daria um presente para ti ? Por quê o rei me daria algo agora ? Quando estávamos viajando pela floresta, ele comeu todo o lagarto assado sozinho.”
“Senhora,” ele disse, “o rei não agiria desta forma. Não fale dele assim.”
Então a senhora disse a ele, “Senhor, não está claro para ti mas está claro o bastante para o rei e para mim,” e falou a primeira estrofe :-

Então te conheci pela primeira vez,
Quando na profunda floresta, Ó rei,
Lagarto assado rompe suas cordas
E foge do galho da árvore Bo.
Apesar de perceber por baixo da roupa de eremita
Espada e cota de malha, à vista.

Assim falou a rainha, tornando conhecido a ofensa do rei no meio dos seus cortesãos. O Bodhisatva, a escutando disse, “Senhora, se desde aquela hora teu marido parou de te amar, por quê continuas vivendo aqui, tornando tudo desagradável para ambos ?” e ele repetiu duas estrofes :-

Àlguém que te honra, honre devidamente
Com retribuição plena de bom serviço prestado:
Sem gentileza conceder a povo mesquinho,
Nem àqueles que parecem evitar tua presença.

Abandone o tratante que te abandonou,
E não ame aquele que não te ama,
Como um pássaro que abandona uma árvore seca,
E lar busca em algum bosque distante.

O rei, enquanto o Bodhisatva ainda falava, relembrou das virtudes dela e disse, “Minha querida, desde então não vejo tuas virtudes mas através das palavras deste sábio homem, as vejo agora. Perdoe minha ofensa. Este reino inteiro meu, te dou.” E daí falou a quarta estrofe :-

Tanta quanta em seu poder pode haver,
Gratidão deve mostrar o rei :
Todo meu reino te dou,
Dons, para quem quiseres, concedas.

Com estas palavras o rei conferiu poder supremo a rainha e pensando, “Foi por causa deste homem que relembrei ds virtudes dela,” também deu grande poder ao sábio.
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O Mestre, tendo levado a lição ao fim, identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades, ambos marido e esposa atingiram a fruição do Primeiro Caminho :- “O marido e a esposa da presente história eram os mesmos na história antiga. Mas eu mesmo era o sábio ministro.”
Jatakas // 223 e 320.




terça-feira, 4 de agosto de 2009

332 Ferindo a outro...etc.



332
“Ferindo a outro ...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre quando em Jetavana, sobre o capelão do rei de Kosala, que, é dito, quando dirigia sua charrete para um vila do lugar defrontou-se com uma caravana estando ele numa rua estreita [engarrafamento budista], e gritava sem parar “Saiam do caminho!”, e foi ficando furioso do caminho não abrir-se a sua frente e atirou o chicote para acertar o motorista da frente. O chicote bateu no jugo da charrete e voltou na testa do brahmin irado e levantou um calo na sua cabeça. O sacerdote voltou e foi falar direto ao rei que tinha sido ferido por carroceiros. Estes foram chamados, e os juízes examinaram o caso e des-cobriram o padre como culpado apenas. Certo dia o assunto discutido no Salão da Verdade, em como o capelão real, que disse ter sido assaltado por carroceiros, indo a julgamento foi derrotado em seu processo. Foi quando o Mestre veio e perguntou o que os Irmãos discutiam sentados em conselho, e escutando o que era disse, “Não apenas agora mas antes também este indivíduo agiu da mesma maneira.” E ele então contou-lhes uma história dos velhos tempos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares o Bodhisatva era seu juiz. O capelão real dirigia para a vila em que era chefe e agiu da mesma maneira como na história anterior mas nesta versão, quando o rei escuta a estória do sacerdote e junta os carroceiros, ele mesmo pronuncia o julgamento, sem examinar a matéria dizendo, “Vocês bateram no meu padre e levantaram um galo na testa dele,” e ordena que todas as propriedades deles fossem tomadas. Então o Bodhisatva diz ao rei, “Senhor, sem nem investigar a matéria você ordena que sejam multados de todos os bens; mas alguns homens depois de ferirem a si mesmos declaram que foram feridos por outros. Assim é errado àquele que leva a lei, agir sem investigar o caso. Ele não deve agir até escutar tudo.” E recitou estes versos:

Ferindo a outro, mostra o próprio ferimento,
ele mesmo golpeador, reclama do golpe.
Pessoas sábias, Ó rei, conscientes de visões parciais,
escutam primeiro ambos os lados, depois declaram juízo verdadeiro.
Detesto o leigo ocioso sensual,
o falso asceta farsante admitido.
Um mau rei decide um caso sem escutar,
Ira no sábio nunca justificar-se-á.
O príncipe guerreiro pronuncia um veredicto bem pesado,
vive a fama para sempre do juízo certeiro.

O rei escutando as palavras do Bodhisatva julgou com retidão e quando o caso foi verificado devidamente , a culpa foi encontrada apenas no brahmin.
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O Mestre, sua lição terminada, identificou o Jataka : “O Brahmin atua do mesmo modo nas duas histórias e eu mesmo era o sábio ministro daqueles dias.”

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Vishnu , Garuda, o Elefante, a Serpente.


Vishnu com Garuda como veículo salva o Elefante que lhe pede socorro com a lótus na tromba, ofertando-a. Vishnu negro, como Krishna mesmo e Rama. A Serpente quer matar o Elefante. Esta reprodução é da coleção de 'Rajput painting' de Ananda Coomaraswamy. Clique na imagem para vê-la ampliada.

331 Garuda e a serpente



331
“Aqueles que com ...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre em Jetavana sobre Kokalika. A história introdutória será contada inteira no Jataka 481, comparar com o 215.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva era seu valoroso ministro. Então, o rei era muito falador. Pensou o Bodhisatva, “Colocarei um fim neste palavrório,” e saiu procurando uma ilustração adequada. Assim, um dia veio o rei para o jardim e sentou na laje pétrea real. Acima de sua cabeça havia uma mangueira e nela num ninho de corvo , onde uma cuco largou seu ovo, e foi embora. A corva zelou pelo ovo da cuco fêmea. Logo dele saiu um jovem pássaro cuco. A corva pensando ser seu próprio trouxe comida para ele no bico. O jovem pássaro ainda sem penas cantava prematuramente seu canto de cuco. A corva pensou, “Este jovem pássaro agora já canta assim, imagina quando grande?” E matou-o bicando e atirando fora do ninho, e ele caiu aos pés do rei. O rei perguntou ao Bodhisatva, “Qual o significado disto, meu amigo?” Pensou o Bodhisatva, “Estava buscando uma ilustração para ensinar ao rei e esta é uma.” Dizendo “Povo dos pássaros, Grande Rei, quando falam fora da hora encontram um destino como este. Este jovem cuco, senhor, tendo sido cuidado pela corva, ainda depenado, cantou prematuramente. Assim a corva soube que não era seu filhote e bicou-o e matou-o e o atirou para fora do ninho. Todos aqueles que são muito faladores, fora de hora, sejam pessoas ou bichos, assim sofrem.” E falou duas estrofes:

Aqueles que com inoportunas palavras ofendem
Como o jovem cuco encontram seu fim prematuramente.
Nem veneno mortal, nem espada afiada
É metade tão fatal como palavra mal falada.

O sábio guia-se com discrição medindo as palavras,
Não precipitadamente ; confia no segundo Si :
Antes de falar prudente conselho tomando,
Seus inimigos capturando, como Garuda à serpente.

O rei, após escutar o ensino religioso do Bodhisatva, a partir daí tornou-se mais comedido no falar, e aumentando a glória do Bodhisatva passou a dar-lhe mais e mais.
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O Mestre, tendo levado sua lição a um fim, identificou o Jataka : “Kokalika naqueles dias era o jovem cuco e eu mesmo o sábio ministro.”


[ A tartaruga que caíra por falar muito no 215, em Esopo Buddhista cai viajando de águia que quer levá-la a festa do céu : daí para o urubu com viola e o jabuti escondido dentro dela, um passo. A tartaruga no caso de Esopo Buddhista diz àguia de Zeus que 'boa romaria faz quem em sua casa está em paz'. Com certeza tem algo a ver com o casco que ela carrega nas costas, casa e mundo ao mesmo tempo. Garuda, veículo de Vishnu, pássaro de modo geral que enfrenta a serpente, tendência ascendente / descendente, inspirar / expirar, sístole / diástole, Mitra / Varuna, fluxo / refluxo, yang / yin, pássaro / serpente ] .