terça-feira, 25 de agosto de 2009

346 Buddha asceta Kappa



346
“Tu que antes habitastes...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana relativa ao Banquete da Irmandade.
Na casa do Alimentador do Povo [Sudattha], dizem, que quinhentos Irmãos eram constantemente alimentados. A casa ficava continuamente como um lugar de recreio para a assembléia dos Irmãos, brilhante com o esplendor de suas roupas amarelas e insuflada de santos odores. Um dia o rei fazendo uma procissão solene pela cidade, viu a assembléia dos Irmãos na casa do Tesoureiro, e pensando, “Eu também darei ofertas perpétuas àssembléia dos santos,” foi ao mosteiro e depois de cumprimentar o Mestre instituiu ofertas perpétuas para quinhentos Irmãos. A partir daí passa a haver oferta perpétua na casa do rei e mesmo comida refinada como arroz com perfume de chuva, mas ninguém que a ofertasse com as próprias mãos, com marcas de afeição e amor, mas os ministros do rei davam a comida e os Irmãos não preocupavam-se em sentar e comer, mas tomando as comidas refinadas, ia cada um para as casas de seus clientes, e dando-lhes as comidas, eles mesmos comiam do que lhes punham à frente, fosse comida fina ou tosca.
Um dia foi trazida muita fruta para o rei. O rei disse, “Dê à Ordem dos Irmãos.”
Eles foram ao refeitório e voltaram e falaram ao rei, “Não nenhum único Irmão lá.”
“O quê, não é hora ainda?” disse o rei.
“Sim, ‘tá na hora,” eles disseram, “mas os Irmãos pegam a comida na sua casa e vão para a morada dos fiéis servidores, e dão-lhes as comidas, e eles mesmos comem do que lhes servem, seja fina ou tosca a comida.”
O rei disse, “Nossa comida é fina. Por que eles a largam e comem outra ?” E pensando, “Perguntarei ao Mestre,” ele foi ao mosteiro e perguntou a ele.
O Mestre disse, “A melhor comida é aquela que é dada com amor. Devido a ausência daqueles que ao oferecerem com amor estabelecem sentimentos de amizade, os Irmãos pegam a comida e a comem em algum lugar amigável deles. Não há sabor, Senhor, igual ao do amor. Aquilo que é dado sem amor, apesar de composto das quatro coisas doces, não vale tanto quanto arroz dado com amor. Sábios antigos, quando doença levantou-se entre eles, apesar do rei providenciar cinco famílias de médicos com remédios, não teve a doença mitigada, voltaram para seus amigos íntimos e comendo caldo de arroz com milho, sem sal, ou mesmo folhas sem sal, polvilhadas d’água apenas, foram curados de suas doenças.” E com estas palavras ao pedido dele contou uma história do passado.”
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin no reino de Kāsi, e o chamavam jovem Kappa. Quando amadureceu, adquiriu todas as artes em Takkasillā ( Taxila ) e depois adotou a vida religiosa. Naquela época um asceta de nome Kesava que assistia quinhentos outros ascetas tornou-se professor de um bando de discípulos e habitava nos Himālaias. O Bodhisatva foi até ele e tornou-se o discípulo mais velho dos quinhentos pupilos, morando lá e mostrando sentimentos de amizade e afeição por Kesava. E tornaram-se íntimos um do outro.
Logo Kesava acompanhado por estes ascetas foram a Benares em busca de sal e vinagre e instalaram-se no jardim real. No dia seguinte ele foi para a cidade e para a porta do palácio real. Quando o rei viu o bando de homens santos, convidou-os a entrarem e os alimentou em sua própria casa, e extraindo a promessa usual deles, instalou-os no jardim. E asssim quando a estação chuvosa acabou, Kesava pediu ao rei para partir. O rei disse, “Senhor Santo, és velho. More aqui agora e mande os ascetas jovens para os Himālaias.” Ele concordou e os enviou com o discípulo principal chefiando, para os Himālaias e ele foi deixado só. Kappa foi para os Himālaias e morava lá com os ascetas. Kesava estava infeliz e sendo privado da sociedade de Kappa, e com desejo de vê-lo, não conseguia dormir, e em conseqüência de perder o sono, sua comida não era digerida apropriadamente. Um fluxo sanguíneo começou, seguido de fortes dores. O rei com suas cinco famílias de médicos e remédios tratou o asceta, mas a doença não mitigou.
O asceta perguntou ao rei, “Queres que eu morra ou me recupere ?”
“Que recupere, senhor,” ele respondeu.
“Então mande-me para os Himālaias,” ele disse.
“Concordo,” disse o rei, e enviou um ministro chamado Nārada, e o encarregou de com uns mateiros levar o homem santo para os Himālaias. Nārada levou-o lá e retornou para casa. Mas com a mera vista de Kappa, a desordem mental de Kesava cessou e sua infelicidade amainou. Então Kappa deu-lhe caldo de arroz e milho junto com folhas borrifadas d’água, sem sal e temperos, e naquele mesmo instante a disenteria foi mitigada. O rei novamente mandou Nārada dizendo, “Vá e saiba notícias do ascético Kesava.” Ele foi e encontrando-o recuperado disse, “Reverendo Senhor, o rei de Benares tratando-o com suas cinco famílias de remédios não curou sua doença. Como Kappa te tratou ?” E daí pronunciou a primeira estrofe:

Tu que antes habitaste com o senhor dos homens,
Um rei preparado para satisfazer os desejos do teu coração
Qual o encanto da cela eremítica de Kappa
Para que o abençoado Kesava aqui deva retirar-se?

Kesava escutando repetiu a segunda estrofe :-

Tudo aqui é encanto: mesmo as árvores
Ó Nārada, tomam minha fantasia,
E as palavras de Kappa que nunca falham em agradar
Um eco gratificante em meu coração levanta.

Depois destas palavras ele disse : “Kappa querendo me agradar, deu-me para beber caldo de milho e arroz selvagem misturados com folhas borrifadas d'água e sem sal e sem temperos, e com isto minha doença corporal parou e fui curado.” Nārada escutando falou a terceira estrofe :-

Tu que não de agora comia o mais puro arroz
Cozido com tempero de carne delicado,
Como podes saber tal insípido alimento
E arroz com milho partilhar com eremitas?

Escutando isto Kesava pronunciou a quarta estrofe:

A comida pode ser tosca ou fina,
Pode ser escassa ou abundante,
Mas se a comida é abençoada com amor,
Amor o melhor tempero de longe é que se encontra.

Nārada escutando estas palavras retornou ao rei e disse a ele, “Kesava falou isto e isto.”
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo o rei era Ananda, Nārada era Sāriputra, Kesava era Bakabrahmā, Kappa era eu mesmo.”

[ No jātaka 405 veremos quem era este Baka, brahma, celeste, a quem Gautama visita, no céu, e conta-lhe , inclusive deste jātaka, quando dele foi discípulo e médico. Aqui novamente a proximidade com o Hinduísmo nos nomes Narada e Kesava. Kesava é Vishnu mesmo e Narada, representado com um instrumento de corda na mão, é um grande Rishi do Panteão Hindu. Como Indra / Sakra, que sempre aparece aqui nos Jatakas. Acho que Narada é filho de Brahma.]

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