quinta-feira, 13 de agosto de 2009

338 Buddha professor de Taxila



                                          Buddha de Taxila, Paquistão.


338
“Com sentido aguçado...etc.”- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia no Bosque de Bambu, sobre o príncipe Ajātasatru. No tempo da sua concepção surgiu na mãe dele, a filha do rei de Kosala, uma vontade crônica de beber sangue do joelho direito do rei Bimbisāra (seu marido). Sendo questionada pelas mulheres ajudantes, ela lhes contou o que acontecia. O rei também, escutando chamou seus astrólogos e disse, “A rainha está possuída de tal e tal desejo. Qual será a conseqüência dele?” Os astrólogos disseram, “A criança concebida no útero da rainha, te matará e tomará teu reino.” “Se o meu filho,” disse o rei, “deve me matar e tomar meu reino, qual será o dano disto?” E então ele teve seu joelho direito aberto com uma espada e deixando o sangue cair num prato de ouro deu-o a rainha para beber. Ela pensou, “Se o filho que nasce de mim deve matar o pai, que cuidado devo ter com ele?” e tentou abortá-lo. O rei ouvindo falar disto chamou a ela e disse, “Minha querida, é dito, meu filho matar-me-á e tomará meu reino. Mas não estou isento da velhice e da morte: permita-me contemplar a face do meu filho. Não aja desta maneira. Mas ela ainda assim continuou indo ao jardim e agindo como antes. O rei escutando isto, proibiu as idas ao jardim e quando cumpriu-se o tempo ela deu a luz a um filho. E batizou-se, porque era inimigo do pai, enquanto ainda não nascido, como príncipe Ajātasatru. Enquanto ele crescia na corte, um dia o Mestre acompanhado de quinhentos Irmãos com o Buddha à sua cabeça foi recebido pelo rei com comida escolhida macia e dura. E após saudar o Mestre o rei sentou e escutou a lei. Naquele momento vestiram o jovem príncipe e o trouxeram para o rei. O rei recebeu a criança com uma forte apresentação de afeto e o colocou no colo, e recebeu ternamente o garoto com o amor natural do pai por sua criança, deixando assim de escutar a lei. O Mestre observando sua inatenção disse, “Grande Rei, antes reis quando suspeitos dos filhos mantinha-os em lugar secreto, e davam ordens para quando morressem , fossem trazidos e colocados no trono.” Ao pedido do rei ele contou uma lenda de tempos antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um famoso professor em Takkasilā ( Taxila ) e treinava muitos príncipes jovens e filhos de brahmins nas artes. Bem, o filho do rei de Benares, quando tinha dezesseis anos, veio a ele e depois de ter entendido os Três Vedas e todas as artes liberais e terminou o aprendizado, ele deixou seu mestre. O professor ao vê-lo, por seu dom de prognóstico, pensou, “Há um perigo que virá a este homem através do seu filho. Por meu poder mágico eu o libertarei dele.” E compondo quatro estrofes deu-as ao jovem príncipe e falou como segue: “Meu filho, depois que sentares no trono, quando seu filho tiver dezesseis anos, pronuncie a primeira estrofe enquanto comendo arroz; repita a segunda quando do grande café da manhã ; o terceiro, quando tiveres subindo para a cobertura do palácio, parado no topo da escada, e o quarto quando entrando na câmara real, você parado na soleira.”
O príncipe prontamente aceitou os versos e saudando o professor, foi-se. E depois de ter sido vice-rei, com a morte do pai subiu ao trono. Seu filho, quando com dezesseis, quando o rei saía para divertir-se no jardim, observando a majestade e poder do pai, encheu-se do desejo de matá-lo e tomar seu reino, e falou aos seus ajudantes sobre isto. Eles disseram, “Certo, Senhor, para quer ter o poder quando velho? Deves de algum modo matar o rei e ganhar o reino.” O príncipe disse, “Mata-lo-ei com veneno na comida.” E assim tomou veneno e sentou para jantar com seu pai. O rei, quando o arroz estava sendo servido na tigela, falou a primeira estrofe:

Com o sentido aguçado, as cascas do arroz
Ratos inteligentes discriminam:
Eles não ligam muito para as cascas, tocar,
Mas grão a grão o arroz comem.

“Fui descoberto,” pensou o príncipe, e não ousando administrar o veneno na tigela de arroz, levantou-se e cumprimentando o rei, saiu. Contou a história a seus ajudantes e disse, “Ho-je fui descoberto. Como agora o matarei?” Deste dia em diante escondiam-se no jardim e murmuravam um com o outro, “Há ainda um expediente. Quando chegar o café da manhã, empunhem espadas, e fiquem entre os conselheiros, quando virem o rei afastado da guarda, matem-no com a espada.” Arranjaram assim. O príncipe logo concordou e quando do caféda manhã, ele empunhou sua espada, e movimentando-se de um lado para outro procurava uma oportunidade de matar o rei. Neste momento o rei pronunciou a segunda estrofe:

O conselho secreto entre as árvores
Foi entendido por mim:
O levante da vila em murmúrios macios no ouvido
Isto também escutei.

Pensou o príncipe, “Meu pai sabe que sou seu inimigo,” e fugiu e contou aos ajudantes. Depois do lapso de sete ou oito dias a eles disseram, “Príncipe, seu pai é ignorante do que pretendes com ele. Apenas fantasiaste na mente. Mate-o.” Assim um dia ele tomou a espada e nas escadas do quarto real , permaneceu. O rei no alto da escadaria falou a terceira estrofe:

Um macaco certa vez medidas cruéis tomou
Para seu tenro rebento impotente fazer.

Pensou o príncipe, “Meu pai quer me pegar,” e fugiu apavorado e falou aos assistentes que foi ameaçado pelo pai. Depois de quinze dias, eles disseram, “Príncipe, se o rei soubesse não teria esperado tanto. É tua imaginação que lhe sugeriu isto. Mate-o.” Assim um dia ele tomou sua espada e entrando na câmara real no andar superior do palácio deitou debaixo da cama, pretendendo matar o rei, logo que viesse. Depois do jantar, o rei manda os acompanhantes embora, desejando deitar, e entrando na câmara real, ainda na soleira, falou a quarta estrofe:

Teus prudentes caminhos rastejantes
Como bode extraviado de um olho só em campo de mostarda
E quem és que esconde-se aí debaixo,
Isto também eu sei.

Pensou o Príncipe, “Meu pai me descobriu. Agora ele me mata.” E tomado de medo, saiu debaixo da cama, e largando a espada, disse, “Perdoe-me, meu senhor,” jazendo rastejante diante dele. O rei disse, “Você pensa, ninguém sabe quem sou.” E depois de repreendê-lo ordenou que o colocassem em cadeias na prisão, e botou guarda para vigiá-lo. Então o rei meditou nas virtudes do Bodhisatva. E logo depois morreu. Então celebraram seus ritos fúnebres e tiraram o jovem príncipe da prisão e o colocaram no trono.
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O Mestre terminou aqui a lição e disse, “Assim, Senhores, reis antigos suspeitaram em casos de suspeita justificada,” e relatou esta história mas o rei não deu ouvidos a suas palavras. O Mestre assim identificou o Jataka : “Naquele tempo o afamado professor em Takkasila (Taxila) era eu mesmo.”



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