terça-feira, 22 de setembro de 2009

359 Buddha Cervo real




359
“Ó Pata dourada...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre quando morava em Jetavana, sobre uma donzela nobre de Sāvatthi. Ela era, dizem, filha de um servidor dos dois discípulos chefes em Sāvatthi, e crente fiel, ternamente unida a Buddha, Dharma, Sangha, cheia de bons trabalhos, sabendo sobre salvação, e devota de oferta e atos piedosos assim. Outra família de Sāvatthi de rank igual mas de visões heréticas, escolheu ela para casar. Então seus pais disseram, “Nossa filha é crente fiel, devota dos Três Tesouros, dada a ofertas e outros bons trabalhos mas vocês sustentam crenças heréticas. E como vocês não permitirão que ela faça ofertas, ou escute a Verdade, ou visite o mosteiro, ou guarde a lei moral, ou observe dias santos, como lhe agrade, não a daremos em casamento a vocês. Escolham uma donzela de uma família de crenças heréticas como a de vocês.” Quando a oferta foi rejeitada, eles disseram, “Que sua filha quando vier para nossa casa, faça todas estas coisas, que a agradem. Não a impediremos. Aceitem.” “Então podem tomá-la,” eles responderam. Então festejaram num casamento em estação auspícia e a levaram para casa. Ela se mostrou fiel no cumprimento das obrigações, e esposa dedicada, e prestou serviços ao sogro e a sogra. Um dia ela disse ao esposo, “Desejo fazer ofertas aos sacerdotes de nossa família.” “Muito bem, querida, pode oferecer o que quiser.” Então um dia ela convidou estes sacerdotes, e fazendo um grande encontro, alimentou-os com comida requintada, e ela tomando um lugar disse-lhes, “Senhores santos, esta família é herética e descrente. Eles são ignorantes do valor dos Três Tesouros. Então, Senhores, até que esta família entenda o valor dos Três Tesouros, continuem a receber a comida aqui.” Os padres aceitaram e continuaram a fazer as refeições lá. Então ela falou para o marido, “Senhor, os padres vêm constantemente aqui. Por quê você não os vê ?” Escutando isto ele disse, “Muito bem, eu os verei.” De manhã ela o chamou quando os padres já tinham acabado a refeição. Ele veio e sentou-se respeitosamente de um lado, conversando afavelmente com os padres. Então o Capitão da Fé pregou a Lei para ele. Ele ficou tão encantado com a exposição da fé, e com o comportamento dos padres, que depois daquele dia passou a preparar esteiras para os anciãos sentarem, e a filtrar a água para eles, e durante a refeição escutava a exposição da fé. Aos poucos sua visão herética acabou. Assim um dia o ancião na exposição da fé declarou as Verdades ao marido e a esposa, e quando o sermão já estava terminado, ambos estavam estabelecidos na fruição do Primeiro Caminho. Daí em diante todos eles, dos pais aos empregados, desistiram das visões heréticas, e tornaram-se devotas ao Buddha, Dharma, Sangha. Então um dia esta jovem disse a seu marido, “O quê, Senhor, tenho a ver com a vida de dona de casa? Quero adotar a vida religiosa.” “Muito bem, querida,” ele disse, “eu também quero ser asceta.” E ele a conduziu com grande pompa à irmandade feminina, e ela foi admitida como noviça, e ele mesmo foi ao Mestre e pediu para ser ordenado. O Mestre admitiu-o primeiro no diaconato e depois no sacerdócio. Ambos receberam clara visão espiritual, e logo atingiram a Santidade. Um dia levantaram discussão no Salão da Verdade, “Senhores, uma certa mulher por causa de sua fé e da de seu marido tornou-se noviça. E ambos tendo adotado a vida religiosa, e ganho clara visão espiritual, atingiram a Santidade.” O Mestre, quando veio, inquirindo qual o tópico que os Irmãos sentados em conselho discutiam, e escutando qual era, disse, “Irmãos, não apenas agora, ela libertou o marido dos laços da paixão. Antes também ela libertou sábios antigos mesmos do laço da morte.” E com estas palavras ele calou mas sendo pressionado por eles, contou uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio a vida como um jovem cervo, e cresceu belo e gracioso, da cor do ouro. Suas patas dianteiras e traseiras eram como que cobertas por tinta. Seus chifres como uma trança de prata, seus olhos pareciam jóias redondas, e sua boca como uma bola de lã carmin. A cerva sua companheira também era bela criatura e eles viviam felizes e em harmonia juntos. Oito miríades de cervos malhados seguiam os passos do Bodhisatva. Enquanto assim viviam, um certo caçador colocou armadilha em trilha de cervos. E assim um dia o Bodhisatva, enquanto liderava a horda, pisou na armadilha, e tentando soltar o nó, corta a pele. Novamente puxa e corta a carne, e uma terceira vez e fere o tendão. E o laço penetrou até o osso. Sem ser capaz de quebrar a armadilha, o cervo assustado com o medo da morte, gritou gritos. E escutando-os a horda de cervos fugiu em pânico. A cerva contudo, enquanto fugia, olhando entre os cervos, não viu o Bodhisatva, e pensou, “Este pânico deve certamente ter a ver com meu senhor,” e correndo até ele, com lágrimas e lamentos ela disse, “Senhor, és muito forte. Por quê não sais da armadilha? Ponha para fora sua força e quebre-a.” E assim animando-o a fazer uma força pronunciou a primeira estrofe:-

Ó Pata dourada, não poupe esforço
Para soltar-se da armadilha de couro.
Como posso alegrar-me, privada de ti,
Em vagar livre na floresta ?

O Bodhisatva, escutando isto, respondeu numa segunda estrofe:-

Não poupo esforço, mas é vão,
Minha liberdade não ganho.
Quanto mais luto para soltar-me,
Mais me aperta o laço de couro.

Então a cerva disse: “Meu senhor, não tema. Pelo meu próprio poder solicitarei ao caçador, e desistindo da minha vida, ganharei a sua em troca.” E assim confortando o Grande Ser, ela continuou abraçada ao ensangüentado Bodhisatva. Mas o caçador aproximou-se, com espada e lança na mão, como a chama destruidora no começo de um ciclo. Vendo-o, a cerva disse, “Meu senhor, o caçador está vindo. Com meu próprio poder o resgatarei. Não tema.” E assim consolando o cervo, ela foi ao encontro do caçador, e permanecendo a uma distância respeitosa, o saudou e disse, “Meu senhor, meu marido é da cor do ouro, e dotado de todas as virtudes, rei de oito miríades de cervos.” E assim louvando as virtudes do Bodhisatva, suplicou que matasse a ela mesma, para que o rei da horda se salvasse, e falou a terceira estrofe:-

Que na terra uma cama de folha,
Caçador, onde possamos cair, seja espalhada:
E tirando da bainha tua espada,
Mate-me e depois a meu senhor.

O caçador, escutando isto, foi tomado de assombro e disse, “Nem os seres humanos dão suas vidas pelos reis; muito menos as bestas. O quê isto significa? Esta criatura fala com voz doce na linguagem das pessoas. Ho-je lhe darei a vida e a de seu companheiro.” E bastante encantado com ela, o caçador falou a quarta estrofe:-

Uma besta que fala com voz de gente,
Nunca apareceu diante da minha percepção.
Descanse em paz, gentil cerva,
E largue, Ó Pata dourada, o temor.

A cerva vendo o Bodhisatva livre, ficou altamente deliciada e retornando agradecida ao caçador, falou a quinta estrofe:-

Como ho-je alegro-me em ver
Este animal poderoso em liberdade,
Do mesmo modo, caçador que soltaste àrmadilha,
Alegre-se com todos os seus.

E o Bodhisatva pensou, “Este caçador deu-nos a vida a mim e a esta cerva, e a oito miríades de cervos. Ele foi meu refúgio, e devo ser um refúgio para ele.” E com o caráter de alguém supremamente virtuoso ele pensou, “Deve-se retornar propriamente um benefício,” e deu ao caçador uma jóia mágica que ele tinha achado na sua área de alimentação e disse: “Amigo, de agora em diante não tire a vida de nenhuma criatura mas com esta jóia estabeleça uma casa e mantenha esposa e filhos, e faça ofertas e outros bons trabalhos.” E assim o advertindo, o cervo desapareceu na floresta.
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O Mestre aqui terminou sua lição e identificou o Jātaka: “Naquele tempo Channa (um Irmão suspenso por ficar do lado dos heréticos) era o caçador, esta mulher noviça era a cerva, e eu mesmo era o cervo real.”