sexta-feira, 18 de julho de 2008

154 Buddha Recluso




154
Escondida dentro de uma pedra...etc.” - Esta história foi contada em Jetavana, sobre uma querela entre soldados.

Tradição conta como dois soldados, em serviço ao rei de Kosala, de alto rank, e grandes personalidades na corte, logo que bateram o olho um no outro passaram a se ofender. Nem o rei, nem amigos, nem parentes puderam fazê-los concordarem.

Aconteceu um dia que cedo de manhã o Mestre, olhando ao redor para ver quais de seus amigos estavam maduros para o Livramento, percebeu que estes dois estavam prontos para entrarem no Primeiro Caminho. Dia seguinte ele saiu só em coleta de oferta em Savatthi, e parou diante da porta de um deles, que saiu e pegou a tigela do Mestre ; deixou-o então entrar e o ofereceu um lugar. O Mestre sentou, e depois discorreu longamente a respeito do lucro de cultivar Amabilidade. Quando ele percebeu que a mente do homem estava pronta, declarou as Verdades. Isto feito, o homem foi estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho.

 Vendo isto, o Mestre o persuadiu a tomar a Tigela ; e então levantando-se seguiu para a casa do outro. Saiu o outro e após saudação dada, pede ao Mestre que entre, e dá-lhe assento. Ele também pega a tigela do Mestre e entra junto. A ele o Mestre enaltece as Onze Bençãos da Amabilidade ; e percebendo que o coração dele estava pronto, declara as Verdades. Isto feito, ele também torna-se estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho.

Assim foram ambos conversos (convertidos) ; confessaram suas faltas um ao outro, e pediram perdão ; pacíficos e harmoniosos foram um com o outro. Naquele dia mesmo comeram juntos na presença do Abençoado.

Sua refeição terminada, o Mestre retornou ao mosteiro. Ambos voltaram juntos com ele, carregando um rico presente de flores, perfumes, essências, ghee, mel, e açúcar. O Mestre, tendo pregado a respeito dos deveres diante da Irmandade, e pronunciado conselho de Buddha, retirou-se para sua câmara perfumada.

Manhã seguinte, os Irmãos conversavam sobre o assunto no Salão da Verdade. “Amigo,” dizia um a outro, “nosso Mestre domina o indomável. Pois, aqui estão estas duas grandes personalidades, que disputavam e discutiam todo tempo, e não puderam ser reconciliadas nem mesmo pelo rei, ou amigos ou parentes : e o Mestre os tornou humildes em um único dia !” O Mestre entra. “Sobre que conversam,” ele pergunta, “enquanto estão sentados aí juntos ?” Eles contam a ele. Disse ele, “Irmãos, esta não é a primeira vez que reconcilio estes dois ; em idades passadas reconciliei as mesmas duas pessoas.” E ele contou um estória dos tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), uma grande multidão juntou-se para festejar festival em Benares. Multidões de pessoas, de deuses, de serpentes, e garulas ( n. do tr.: homens com asas, anjos, pássaros em forma de gente que antigamente tinham seu império em Kashmir, assim como os Macacos em Kishkindah e as Nagas nos países do Sul, etc - já fomos bichos, evolvemos ), vieram para ver o encontro.

Aconteceu que em um determinado lugar uma Serpente e um Garula olhavam juntos o que acontecia. A Serpente, sem notar que era um Garula que estava ao lado, colocou a mão no ombro dele. E quando o Garula virou e olhou ao redor para ver de quem era a mão colocada em seu ombro, ele viu a Serpente. A Serpente olhou também, e viu que era um Garula [ n. do tr.: ambos são inimigos mortais, estas duas tendências da existência, yin / yang ] ; e amedrontada mortalmente, ela foge pela superfície de um rio. O Garula a caça, para pegá-la.

Bem, o Bodhisatva era um recluso, e vivia em uma cabana de folha na margem do rio. Naquele momento ele tentava amenizar o calor do sol colocando roupa úmida e deixando de lado sua roupa de casca de árvore ; e banhava-se no rio. “Farei este recluso,” pensou a Serpente, “meio de salvar minha vida.” Saindo de sua própria forma particular, e assumindo a forma de uma joia fina, ela fixa-se na roupa de casca de árvore. O Garula em perseguição desenfreada viu para onde ela foi ; mas por reverência mesma ele não tocaria na roupa ; e então dirigiu-se assim ao Bodhisatva : Senhor, estou faminto. Olhe para sua roupa de casca de árvore:- nela há uma serpente que desejo comer.” E para se fazer entender repetiu a primeira estrofe:

Escondida dentro de uma pedra esta vil serpente
Ancora-se para salvar-se em segurança.
E ainda assim, em reverência a tua santidade
Apesar d'eu estar faminto, ainda assim não a pegarei.

Em pé onde estava n'água, o Bodhisatva disse a segunda estrofe elogiando o rei Garula:

Viva longamente, preservado por Brahma, apesar de importunado,
E possa nunca faltar-te celeste comida.
Não, em reverência a minha santidade,
Devore-a, apesar de em ânimo faminto.

Com estas palavras o Bodhisatva expressou seu parecer, em pé n'água. Depois ele saiu e colocou a roupa de casca de árvore, e levou ambas as criaturas para seu eremitério ; onde enumerou as bençãos da Amabilidade até ambos estarem de bem, concordes. Daí em diante viveram juntos felizes em paz e harmonia.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele identificou o Jataka, dizendo, “Naqueles dias, os dois grandes personagens eram a Serpente e o Garula, e eu mesmo era o recluso.”


[ Como não lembrar do símbolo do Yin & Yang ? ]  



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