quarta-feira, 2 de julho de 2008

147 Buddha Espírito do Ar



                           ( Pintura de Ajanta, Índia ) 

147
Como dor não conto...etc”.- Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana sobre um Irmão apaixonado. Sendo questionado pelo Mestre, ele admite sua frivolidade, explicando que ansiava pela esposa da vida mundana, “Pois, oh senhor!” disse ele, “ela é uma mulher tão doce que não posso viver sem ela.”

Irmão,” disse o Mestre, “ela te é danosa. Ela foi em dias idos a razão de teres sido empalado numa estaca ; e por chorares por ela à tua morte renasceste no ínfero. Por quê então agora anseias por ela ?” E assim falando ele contou a seguinte história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu Espírito do Ar. Bem, em Benares celebrava-se o festival noturno de Kattika ; a cidade estava decorada como uma cidade dos deuses, e todo o povo guardava o feriado. E um pobre homem tinha apenas um par de roupas toscas que lavara e passara até ter, cem, não, mil vincos. Mas sua esposa disse, “Meu marido, quero roupa  colorida d'açafrão para vestir uma por fora e outra por dentro, quando for ao festival pendurada no teu pescoço.”

Como povo pobre como nós conseguirá açafrão ?” disse ele. “Coloque tua roupa bela e limpa e me siga.”

S'eu não puder tê-las coloridas com açafrão, não quero ir de jeito nenhum,” disse a esposa. “Arranje outra mulher para ir no festival com você.”

Agora, por quê me atormentas assim ? Como conseguiremos açafrão ?”

Onde há um desejo, há um jeito ( 'Where there's a will, there's a way' ),” respondeu a mulher. “Não há açafrão na despensa do rei ?”

Esposa,” disse ele, “a despensa real é como um lago infestado por um ogro. Não há como entrar lá, com guarda reforçada na vigilância. Desista desta fantasia e contente-se com o quê tens.”

Quando porém está escuro e é noite,” disse ela, “o quê impede um homem de ir aonde ele quer ?”

Persistindo ela em suas súplicas, o amor dele por ela por fim o fez desistir e prometer que faria o desejo. Arriscando a própria vida, partiu impetuosamente para a despensa na cidade à noite e entrou através da cerca. O barulho que fez quebrando a cerca levantou os guardas, que saíram para pegar o ladrão. Eles o capturaram e com golpes e maldições logo o aprisionaram. De manhã foi trazido diante do rei que prontamente ordenou que o empalassem vivo. Arrastado foi para fora, com mãos atadas às costas, e levado para fora da cidade para execução ao som do tambor de execução e foi empalado vivo. Intensas foram suas dores ; e, para somar a elas, corvos pousaram em sua cabeça e bicaram para fora das órbitas, seus olhos, com bicos de adagas. Ainda assim, desconsiderando a dor, e pensando só na esposa, o homem murmura para si mesmo, “Ai, perderei o passeio ao festival contigo adornada em roupas açafrão, com seus braços ao redor do meu pescoço.” Assim falando, ele pronunciou esta estrofe:-

Como dor não conto estar aqui empalado,
Por corvos sendo rasgado. Minha dor de coração é esta,
Que minha cara esposa não guarde festa
Adornada em vestido lindo de cor rubra.

E enquanto balbuciava isto sobre sua esposa, ele morre e renasce no ínfero.

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Sua lição terminada, o Mestre identifica o Jataka dizendo, “Este marido e esposa eram o marido e esposa daqueles dias também, e eu era o Espírito do Ar que fez sabida esta história.”




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