segunda-feira, 14 de julho de 2008

151 Buddha Brahmadatra




                  ( Moeda de Kosala )

151
Duro com o duro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana, para explicar como a um rei foi dada lição.

Isto será explicado no Jataka 521.

É dito que um dia o rei de Kosala deu sentença em um caso muito difícil envolvendo moral má. Após sua refeição, com mãos ainda úmidas, ele segue em sua esplêndida carruagem para visitar o Mestre ; e o rei o saúda, seus pés belos como flor de lótus aberta e senta em um dos lados.

Então o Mestre dirigiu-se a ele nestas palavras. “O quê, meu senhor rei, o traz aqui nesta hora do dia ?” “Senhor,” disse ele, “perdi a hora porque decidia um caso difícil, que envolvia moral má ; agora já o terminei, e me alimentei e aqui estou, com minhas mãos ainda úmidas, diante de ti.” “Meu senhor rei,” respondeu o Mestre, “julgar uma causa com justiça e imparcialidade é a coisa certa ; este é o caminho do céu. Pois quando você primeiro aconselha-se com pessoas como eu sapientes, não é maravilha se você julga seu caso perfeita e justamente ; mas o maravilhoso é quando reis têm somente o conselho de 'scolars' que não são sapientes, e ainda assim decidem-se perfeita e justamente, evitando os Quatro Caminhos Ruins, e observando as Dez Virtudes Reais, e após legislar com justiça vai preencher as hostes celestes.” Então, ao pedido do rei, ele contou uma história de tempos antigos.

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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva foi concebido pela Rainha Mãe ; e as cerimônias próprias ao estado de gravidez devidamente realizadas, ela dá a luz. No dia do batismo, o nome que deram a ele foi Príncipe Brahmadatra [ Theo-doro, mesmo nome ].

Com o tempo, ele cresce, e aos dezesseis anos vai para Takkasila ( Taxila no Punjab ) para educar-se , onde aprende todos os ramos do saber, e com a morte do pai torna-se rei no lugar dele, e legisla com retidão e correção, administrando justiça sem considerar sua própria vontade ou capricho (will or whim). E enquanto legislava assim com justiça, seus ministros na parte deles também eram justos ; assim, enquanto todas as coisas eram feitas com justiça, não havia ninguém que trouxesse um processo falso para a corte. De
modo que todo o alvoroço presente com os advogados cessa dentro dos recintos do palácio ; durante todo o dia os ministros podiam ficar sentados no banco e depois ir embora sem ver um único litigante. As cortes ficaram desertas.

Então pensou o Bodhisatva consigo mesmo, “Porque governo com justiça nenhum requerente vem pedir decisão na corte ; o velho burburinho esta quieto ; as cortes de justiça estão desertas. Agora devo buscar se em mim mesmo há alguma falta ; que, encontrada, devo afastar, e viver depois boa vida.” A partir daquele momento ele tentou continuamente encontrar alguém que dissesse a ele alguma falta ; mas de todos que estavam ao redor na corte não conseguiu encontrar ninguém ; nada conseguia escutar a não ser o bem de si mesmo. “Talvez,” pensou ele, “estejam todos com tanto medo que não dizem mal de mim apenas bem,” e então saiu para tentar com as pessoas do lado de fora dos muros. Mas com estes aconteceu justamente o mesmo. Partiu para mais afastado e fora da cidade inquirindo os cidadãos dos subúrbios nos quatro portões da cidade [ n. do tr.: cada portão para um ponto cardial, uma casta ]. Ainda assim não houve ninguém que encontrasse qualquer falta ou erro nele ; nada além de louvores ouvia. Por fim, com a intenção de testar a zona rural, confiou todo o governo aos ministros, e montado em sua carruagem e levando apenas o auriga com ele, deixou a cidade disfarçado. Atravessou todo o campo até a fronteira ; mas não se deparou com nenhum crítico ; tudo que escutou foram apenas louvores seus. Volta então dos pântanos e dirige-se para casa pela auto-estrada.

Bem, por fortuna, fado, destino, neste mesmo momento, Mallika, rei de Kosala, estava fazendo exatamente a mesma coisa. Ele também era um rei justo, e buscava seus erros ; mas entre as pessoas ao redor não houvera ninguém que encontrasse falta nele ; e escutando nada a nãos ser louvor e elogio, partiu perguntando através do país, e chegava naquele momento naquele mesmo lugar.

Estes dois encontram-se, num lugar em que a estrada das carruagens afundava entre os dois barrancos, e não havia espaço para uma carruagem passar a outra.

Tire sua carroça do caminho !” disse o auriga do rei Mallika ao auriga do rei de Benares.
Não, não, motorista,” respondeu ele, “saia você do caminho ! Saiba que nesta carruagem está sentado o grande monarca Brahmadatra, senhor do reino de Benares !”
Nem tanto, motorista !” replicou o outro, “nesta carruagem esta sentado o grande rei Mallika, senhor do reino de Kosala ! São vocês que devem dar caminho, e deixar passar a carruagem do nosso rei !”

Pois, eis que aí está um rei também,” pensou o auriga do rei de Benares. “O quê deve ser feito ?” Então uma ideia lhe ocorreu ; ele perguntaria as idades dos dois reis de modo que o mais jovem daria passagem ao mais velho. E perguntou ao outro motorista qual a idade do rei ; mas deram-se conta de que ambos tinham a mesma idade. Daí questionaram a extensão do poder real, bens, e glória e todos os pontos relativos a castas , clãs e família ; e descobriram que ambos tinham um país de trezentas léguas de extensão que eram semelhantes em poder, bens, glória e na natureza das linhagens e famílias. Então pensou consigo mesmo que passagem deveria ser dada à melhor pessoa ; e requiriu que o outro motorista descrevesse as virtudes do seu patrão. O homem respondeu com o primeiro verso da poesia que segue, na qual estabelece as faltas de seu rei como se fossem tantas como as virtudes:-

Duro com o duro, rei Mallika inclina-se suavemente ao suave,
Governa o bom com bondade e paga o mau com maldade.
Dê passagem, dê passagem, Ó auriga ! Tais são os caminhos deste monarca!

Oh,” disse o auriga do rei de Benares, “é tudo que tens a dizer sobre as virtudes de seu rei ?” “Sim,” disse o outro. - “se estas são suas virtudes, quais serão seus vícios !” “Vícios sejam então,” cotejou ele, “se queres ; mas deixe-nos escutarmos quais seriam as virtudes de teu rei !” “Escute então,” juntou o primeiro, e repetiu o segundo verso:-

Ele conquista ira com mansidão, o mau com inclinações de bondade,
Vence o miserável com presentes e paga mentiras com verdades.
Dê passagem, dê passagem, Ó auriga ! Tais são os caminhos deste monarca!

Com estas palavras ambos rei Mallika e seu auriga desceram de sua carruagem e puxando seus cavalos moveram-se para fora da estrada, para dar lugar ao rei de Benares. Então o rei de Benares fez boa admoestação ao rei Mallika, dizendo, “Assim e assim deves ser ;” após o que retornou a Benares e lá fez ofertas e obras boas por toda sua vida, até que por fim foi preencher as hostes celestes. E rei Mallika guardou a lição com o coração ; e depois de atravessar o comprimento e a largura da terra, e não deparar-se com ninguém que encontrasse erro, retornou à sua própria cidade ; onde fez ofertas por toda a vida e obras boas, até que no final foi preencher as hostes celestes.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, que começara com o intuito de ensinar o rei de Kosala, ele identificou o Jataka : “Moggallana era então o motorista do rei Mallika, Ananda era o rei, Sariputra era o auriga do rei de Benares, e eu mesmo era o rei.”




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