domingo, 6 de julho de 2008

149 Buddha Brahmin




                     ( Vesali, Índia ) 

149
Se veneno esconde-se...etc.” - Esta história foi contada sobre o Príncipe Licchavi, o Mau de Vesali pelo Mestre quando vivia na casa oitanada na grande floresta perto de Vesali.

 Naqueles dias Vesali gozava de maravilhosa prosperidade. Tripla muralha
rodeava a cidade, cada muro uma légua de distância do outro, e haviam três portões com torres de vigília. Naquela cidade haviam sempre sete mil setecentos e sete reis para governar o reino e número semelhante de vice-reis, generais e tesoureiros. Entre os filhos dos reis havia um conhecido como Príncipe Licchavi o Mau, jovem feroz, irascível e cruel , punindo sempre. Como uma víbora irada. Sua natureza irascível era tal que ninguém podia falar mais de duas ou três palavras à presença dele ; e nem os pais, parentes, nem amigos podia fazê-lo ficar melhor. Então por fim seus pais resolveram levar o jovem desgovernado ao Buddha Todo-Sapiente, entendendo que ninguém a não ser ele possivelmente poderia domar o espírito feroz de seu filho. Assim trouxeram-no ao Mestre, a quem, com obediência devida, suplicaram que lesse uma leitura para o jovem, [que fizesse um discurso, que desse uma preleção].

Dirigiu-se então o Mestre ao príncipe, falando: -”Príncipe, seres humanos não devem ser cruéis, irascíveis e ferozes. O homem feroz é aquele que é duro e grosso mesmo com a mãe que o carregou, com seu pai e seu filho, com os irmãos e irmãs, com a esposa, amigos e parentes ; inspirando terror como uma víbora que projeta-se para picar, como um ladrão saltando sobre uma vítima na floresta, como um ogro avançando para devorar, - o homem feroz, direto vai re-nascer após esta vida no ínfero ou em outro lugar de punição ; e mesmo nesta vida, não importa quão bem trajado esteja, parece feio. Seja bela sua face como lua cheia em órbita, ainda assim é repugnante como lótus escorchada em chamas, como um disco de ouro coberto de sujeira. É tal raiva que leva, os homens a matarem-se, uns aos outros, com a espada, tomando veneno, a enforcarem-se, a jogarem-se do alto dos precipícios ; e então acontece que encontrando sua morte por causa da própria raiva , re-nascem em tormento. Assim também aqueles que injuriam os outros, são odiados mesmo nesta vida e devem por seus pecados passarem com a morte do corpo para ínfero e punição ; e quando uma vez mais nascem como pessoas, doenças e males os atingem nos olhos nos ouvidos, em todo lugar, a partir do seu nascimento. Daí, deixe toda pessoa mostrar gentileza e ser doadora de bem, e então com certeza, ínfero e punição não serão temidos por elas.”

Tal foi o poder desta única preleção sobre o príncipe que o orgulho foi humilhado a partir daí ; sua arrogância e egoísmo saíram dele e seu coração girou, voltou, para o amor e a gentileza. 

Nunca mais ele xingou ou bateu mas tornou-se gentil como cobra com presas arrancadas, como caranguejo com garras cortadas, como um touro com chifres quebrados.

Notando esta mudança de temperamento, os Irmãos falavam reunidos no Salão da Verdade de como o Príncipe Licchavi o Mau, a quem as exortações incessantes dos pais não conseguiram curvar, humilhou-se e abrandou-se com uma única preleção do Buddha Todo-Sapiente, e como isto era igual a domesticar seis elefantes berrantes de uma só vez. Bem, foi dito que, 'O amansador d'elefante, Irmãos, guia o elefante que ele treina, fazendo ele ir p'ra esquerda ou p'ra direita, p'ra trás ou p'ra frente, de acordo com seu desejo ; de modo semelhante o domador de cavalo e o de boi com cavalos e bois ; e assim também o Abençoado, o Buddha Todo-Sapiente, guia a pessoa que ele treina à retidão, para onde quer que ele queira em qualquer das oito direções, e faz seu pupilo discernir as formas externas a si-mesmo. Tal é o Buddha e Ele apenas,' - e assim por diante, descendo até as palavras, - 'Ele que é aclamado como chefe dos treinadores de pessoas, supremo em vergá-las ao jugo da Verdade.' “Pois, senhores,” disseram os Irmãos, “não há treinador de pessoas como o Supremo Buddha.”

E aqui o Mestre entra no Salão e questiona-os sobre o quê conversavam. Então eles dizem a ele, e ele fala, “Irmãos, esta não é a primeira vez que uma simples preleção minha conquistou o príncipe ; o mesmo aconteceu antes.”

E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida novamente como um brahmin no país Norte, e quando ele cresceu, primeiro aprendeu os Três Vedas e todo o ensino, em Takkasila ( Taxila ), e por algum tempo viveu vida mundana. Mas quando seus pais morreram ele se tornou um recluso, morando nos Himalaias, e alcançou os Conhecimentos e as Consecuções místicas. Lá morou bastante tempo, até necessidade de sal e outros artigos da vida, trazê-lo de volta aos caminhos das pessoas, e ele chega em Benares, onde abriga-se, aloja-se, no jardim real. Dia seguinte vestiu-se com cuidado e esmero, e trajando a melhor roupa de asceta foi em busca de coleta de oferta na cidade e chega ao portão do rei. O rei estava sentado e vê o Bodhisatva da janela e nota consigo mesmo como o eremita, sábio de coração e de alma, fixando a vista imediatamente nele, move-se em majestade leonina, como se em cada passo, depositasse bolsa com mil peças.

 “Se bondade habita em algum lugar,” pensou o rei, “deve ser no peito deste homem.” Chamando então um cortesão, pediu-lhe que trouxesse o eremita à sua presença. E o cortesão foi até o Bodhisatva e com obediência devida, tomou sua tigela de coleta da mão. “E agora, sua excelência ?” falou o Bodhisatva. “O rei chama sua reverência,” respondeu o cortesão. “Minha morada,” diz o Bodhisatva, “é nos Himalaias e não gozo do favor do rei.”
Então o cortesão voltou e relatou isto ao rei. Lembrando-se que estava sem conselheiro confidencial naquele momento, o rei pede que tragam o Bodhisatva e o Bodhisatva consente em vir.

O rei o saúda com grande cortesia à entrada e pede que sente em um trono dourado debaixo de um parassol real. E o Bodhisatva foi alimentado com finas comidas que fora aprontada para alimentar o rei mesmo.

Então o rei perguntou onde o asceta vivia e entendeu que sua casa era nos Himalaias.
E aonde vais agora ?”
Em busca, senhor, de um abrigo para a estação das chuvas.”
Por quê não moras em meu parque -jardim ?” sugeriu o rei. Então, tendo ganho o consentimento do Bodhisatva e tendo comido ele também, foi com seu convidado até o jardim e lá fez construírem um eremitério, com uma cela para o dia e uma cela para a noite. Esta morada era provida dos oito requisitos de um asceta. Tendo assim instalado o Bodhisatva, o rei colocou-o aos cuidados do jardineiro e voltou ao palácio. Acontece então do Bodhisatva passar a morar no parque-jardim do rei, e duas ou três vezes por dia o rei vir visitá-lo.

Bem, a rei tinha um filho feroz e irascível que era conhecido como Príncipe Mau, que estava fora do controle de seu pai e parentes. Conselheiros, brahmins e cidadãos todos apontavam ao jovem seus modos ruins mas em vão. Ele não presta atenção aos conselhos deles. E o rei sente que a única esperança de recuperar seu filho, depositava-se no asceta virtuoso. Então como última tentativa ele pega o príncipe e entrega ao Bodhisatva para lidar com ele. O Bodhisatva então anda com o príncipe pelo parque-jardim até chegarem onde um arbusto de árvore Nimb crescia, no qual contudo cresciam apenas duas folhas, uma de um lado, uma do outro.

Prove a folha deste arbusto, príncipe,” disse o Bodhisatva, “e veja como te parece.”
O jovem o fez; mas bastou colocar a folha na boca, que ele a cuspiu para fora com um palavrão, praguejando e escarrando para tirar o gosto da boca.
Qual o problema, príncipe ?” perguntou o Bodhisatva.
Senhor, ho-je esta árvore só sugere veneno mortal ; mas, se deixada crescer , mostrará que é mortal para muita gente,” falou o príncipe, e em seguida arrancou e picou com as suas próprias mãos, o arbusto, recitando estas linhas:-

Se veneno esconde-se no arbusto
O quê não acontecerá em crescimento pleno ?

Disse então o Bodhisatva a ele, “Príncipe, temendo o quê o arbusto venenoso crescendo seria, você o arrancaste e picaste de uma vez. Do mesmo modo que agiste com o arbusto, o povo deste reino, temendo o quê um príncipe tão feroz e irascível pode se tornar quando rei, não te entronizará mas te arrancarão como esta árvore Nimb e te mandarão para o exílio. Portanto aceite o conselho do arbusto e mostre misericórdia e abunde em gentileza amável.”
A partir daquele momento o temperamento do príncipe muda. Cresce em humildade, mansidão, misericórdia e transborda de gentileza. Conformando-se ao conselho do Bodhisatva, quando veio a morte de seu pai, tornou-se rei, abundando em caridade e outras obras boas, e no fim passou, sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre diz, “Então, Irmãos, esta não é a primeira vez que abrando Príncipe Mau ; fiz o mesmo em dias idos.” Então ele identificou o Jataka dizendo, “O Príncipe Licchavi Mau de ho-je era o Príncipe Mau da estória, Ananda o rei, e eu o asceta que exortou o príncipe à bondade.”



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