quarta-feira, 2 de julho de 2008

148 Buddha Chacal




   ( A cena do chão medido com moedas de ouro quadradas, Barhut, Índia )

148
Morda uma vez, a segunda acautele-se...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre subjugar os desejos.

Nos é dito que certos quinhentos amigos ricos, filhos de mercadores de Savatthi, foram levados ao escutarem os ensinamentos do Mestre, a entregarem seus corações à Verdade e juntos à Irmandade viver em Jetavana na parte que Anatha-pindika pavimentou com moedas de ouro postas lado a lado ( Kulla-vaga VI,4 [ Jeta príncipe diz a Sudattha, Alimentador dos pobres, que não vendia aquela terra nem que ele cobrisse o chão todo com moedas quadradas – ele leva a sério e cobre o chão com moedas muitas e assim efetua a venda. Príncipe Jeta logo cede a terra toda como oferta quando vê que o assunto é sério. E adere à Fé. ]).

Bem, no meio de certa noite pensamentos luxurientos tomam todos, e, no sofrimento deles começam a se agarrar às luxúrias que haviam abandonado. Naquela hora o Mestre eleva ao alto a lâmpada da sua omnisciência e descobre qual paixão agarra os Irmãos em Jetavana, e, lendo os corações deles, percebe que luxúria e desejo brotaram dentro deles. Como a mãe que vigia seu filho único, ou como um homem que têm apenas um olho cuida de seu olho que resta, vigilante igual está o Mestre sobre seus discípulos ; - de manhã ou à tarde, na hora que suas paixões guerreiam contra eles mesmos, ele não deixará seu fiel ser dominado mas naquela hora mesma subjugará as luxúrias alinhavadas que os assedia. Daí o pensamento veio a ele, “Isto é como quando ladrões que invadem cidade de imperador ; desdobrarei direto a Verdade a estes Irmãos, com o fim de que, subjugando as luxúrias deles, eleve-os à Arahat(idade).”

Então ele saiu de seu quarto perfumado e em fala macia chamou o venerável Ancião, Ānanda, Tesoureiro da Fé. E o Ancião veio e com obediência devida permaneceu diante do Mestre para saber seu desejo. O Mestre pediu que ele reunisse em sua câmara perfumada todos os Irmãos que moravam naquele quarteirão de Jetavana [próximo ao portão portanto aonde houvera o 'negócio' entre Sudattha e príncipe Jeta]. Tradição diz que o pensamento do Mestre era que se apenas reunisse aqueles quinhentos Irmãos, eles concluiriam que ele estava cônscio do humor luxuriento deles, e seriam impedidos, agitados, de receberem a Verdade ; deste jeito mesmo reuniu todos os Irmãos que moravam lá. E o Ancião pegou uma chave e foi de cela em cela reunindo os Irmãos até que todos estavam juntos na câmara perfumada. 

Após o quê aprontou o trono de Buddha. Em dignidade de estado como Monte Sineru descansando em sólida terra, o Mestre sentou-se no trono de Buddha, fazendo com que brilhasse ao seu redor como que pares de guirlandas sobre guirlandas das seis cores de luz, que dividia-se e dividia-se em massas do tamanho de uma bandeja, de um pálio, ou de uma torre, até, como raio de raio, os raios alcançarem o céu acima. Era mesmo como o sol que eleva-se, agitando as profundezas do oceano.

Com obediência reverente e corações também, os Irmãos entram e sentam-se ao redor dele, em circunferência como se fossem cortina de cor laranja. Em voz e tons como de Maha-Brahma o Mestre disse, “Irmãos, um Irmão não deve ancorar os três pensamentos ruins, - luxúrias, ódios e crueldade. Nunca pensem imaginar que desejos maus são assunto trivial. Pois tais desejos são como um inimigo ; e um inimigo não é assunto trivial, mas, dada oportunidade, obra apenas destruição. Assim mesmo é desejo, apesar de pequeno ao primeiro surgir, apenas cresce, quando deixado, de modo que obra posterior destruição. Desejo é como veneno na comida, coceira na pele, como uma víbora, como o raio de Indra, sempre a ser evitado, sempre a ser temido. Aonde quer que surja desejo, daí, sem encontrar em nenhum momento ancoradouro no coração, deve ser expelido pelo pensar e refletir, - como uma gota de chuva que rola na folha da lótus. O sábio de tempos anteriores tinham ogeriza tanto ao menor desejo, que o esmagavam para fora antes que ele crescesse.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva re-nasceu na vida como chacal e morava na floresta à margem de um rio. Bem, um velho elefante morreu às margens do Ganges, e o chacal, encontrando a carcaça, parabenizou a si mesmo por topar com tal estoque de carne. Primeiro ele mordeu a tromba mas era como morder cabo de arado. “Não há nada de comer aqui,” disse o chacal e mordeu perto da presa. Mas era como morder ossos. Tentou então a orelha mas era como mastigar o aro de uma cesta de joeirar. Caiu então em cima do estômago mas a achou dura como cesta de grãos. As patas não eram melhores pois estavam como pilões. Depois tentou o rabo este como a cuia. “Aqui também não vai dar,” disse o chacal ; e falhando em todo lado em encontrar um pedaço de carne, ele tenta as costas e descobre que era como bolo macio. “Por fim,” disse ele, “encontrei o lugar certo,” e comeu seu caminho indo direto para dentro da barriga, onde fez banquete copioso dos rins, coração e do resto, temperando a sede com sangue. E quando a noite vem, ele descansa dentro. Enquanto deitava lá, o pensamento veio à mente do chacal, “Esta carcaça é ambos, alimento e casa para mim, e por quê deveria deixá-la ?” Então lá ficou e morava nas entranhas do elefante, comendo em volta. Passa o tempo até que o sol e os ventos de verão secam e encolhem o couro do elefante, fechando a entrada pela qual o chacal entrou e o interior ficar em trevas completas. Assim foi o chacal, como que, cortado para fora do mundo e confinado a um interspaço entre os mundos. Depois do couro, a carne secou e o sangue acaba. Em um frenesi desesperado, ele corre batendo de um lado e de outro contra as paredes da sua prisão na tentativa infrutífera de escapar. Enquanto ele chacoalhava para cima e para baixo dentro como uma bola de arroz numa panela fervendo, logo cai uma tempestade e a chuva molha o corpo da carcaça e a restaura a sua forma anterior, até que luz brilha como uma estrela através do caminho pelo qual o chacal entrara. “Salvo! Salvo!” grita o chacal, e, voltando à cabeça do elefante corre enfiando a cabeça primeiro para fora pelo escape. Ele tenta atravessar, é vero, mas foi apenas deixando todo seu pêlo no caminho. Primeiro correu, depois parou e sentou vendo seu corpo pelado, agora macio como tronco de palmeira. “Ah!” ele exclama, “este infortúnio caiu sobre mim por causa de minha cobiça e apenas por causa dela. De agora em diante não serei ganancioso nem novamente entrarei na carcaça de um elefante.” E seu terror encontrou expressão nesta estrofe:-

Morda uma vez, a segunda acautele-se. Ah, grande foi meu medo!
Entranhas de elefante evitarei de agora em diante.

E com estas palavras o chacal partiu, e ele nem mesmo olhou novamente aquela carcaça nem outra qualquer. E daí em diante não foi mais ganancioso.

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Sua lição terminada, o Mestre disse, “Irmãos, nunca deixem desejos se enraizarem no coração mas arranquem-los fora onde quer que brotem.” Tendo pregado as Quatro Verdades (nos finais das quais aqueles quinhentos Irmãos ganharam Arahat(idade) e o resto ganhou vários graus menores de salvação), o Mestre identificou o Jataka como segue:- “Eu mesmo era o chacal daqueles dias.”

[ N. do Tr.: Cf. com a parábola tradicional hebraica da Raposa e das Galinhas, evangélica mesma, em que IHS é a galinha e Herodes a raposa, quando a raposa por três dias assombra à noite o galinheiro passando por porta estreita : na noite terceira, gorda, farta, não passa na estreita porta e é pega. Metáfora da vida mesma em que no 'muito comer', no saciar-se em excesso, se fica preso na roda das coisas, na roda das existências. O final feliz do Chacal aparece na versão, Lebre no Jardim do Hortelão guardado por Cão (constelações mesmas) : “a Lebre a quem o Cão persegue, numa corrida sem fim.” teria dito Arato no séc. II A.D em 'Phainomena'.. Ela consegue escapar levando seu Fruto da Vida, também passando por porta estreita não sem perder o rabo, mordida pelo Cão na passagem como o Chacal que perdeu seu pêlo. No céu permanece a imagem do movimento eternizado (cf. constelações à noite fria). Corrida sem fim do Cão atrás da Lebre. Daí a Lebre ser símbolo da Ressurreição, imagem da Páscoa. ]




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