segunda-feira, 30 de março de 2009

263 A cabana no Ganges




263
“Não pelos mares...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana também sobre um Irmão relapso. O Mestre fez com que o trouxessem para o Salão da Verdade e perguntou se era vero que caíra. Sim, disse ele, era. “Mulheres,” disse o Mestre, “em dias idos fizeram mesmo as almas crentes pecar.” Então contou uma história.
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Certa vez Brahmadatra, o rei de Benares ( Varanasi ), estava sem filhos. Ele disse a sua rainha, “Façamos oração por um filho.” Eles ofereceram preces. Após muito tempo, o Bodhisatva desceu do mundo de Brahma e foi concebido por sua rainha. Assim que ele nasceu, foi banhado e dado a uma babá para que mamasse. Logo que apanhou o seio, berrou. Foi dado a outra ; contudo enquanto uma mulher o segurasse, não se aquietava. Então foi entregue a um empregado masculino [ um babu ] ; e assim que o homem o segurou ele se aquietou. Após isto os homens passaram a cuidar dele. Na hora de mamar ou sugavam o leite para ele ou davam o seio por traz de uma cortina. Mesmo quando cresceu, não podiam mostrar mulher para ele. O rei providenciou que se fizesse um lugar separado para ficar e um quarto separado para meditação, tudo para ele mesmo.

Quando o rapaz completou dezesseis anos, o rei pensou consigo mesmo. “Outro filho eu não tenho, e este não se diverte com prazeres. Ele nem mesmo deseja reinar. Qual o bem de um tal filho ?”

Havia uma certa garota dançarina, inteligente no cantar, no dançar e em música, jovem, capaz de ganhar ascendência sobre qualquer homem com que cruzasse. Ela se aproximou do rei e perguntou a ele sobre o que pensava ; o rei disse a ela o que pensava.

“Deixa estar, meu senhor,” disse ela : “vou seduzi-lo, farei com que ele me ame.”

“Bem, se conseguires seduzir meu filho que nunca teve qualquer negócio com mulher nenhuma, ele será rei e você será a rainha dele !”

“Deixe ele comigo, meu senhor,” disse ela ; “e não fique ansioso.” Então ela veio para o pessoal da guarda e disse, “Aurora do dia irei ao lugar de descanso do príncipe e do lado de fora do quarto em que ele medita separado, vou cantar. Se ele ficar irado, vocês devem me dizer e então irei embora ; mas se ele escutar, me elogiem.” Isto eles concordaram em fazer.

Assim de manhã ela se posicionou naquele lugar e cantou com voz melodiosa, de modo que a letra era tão doce quanto a melodia e a melodia quanto a letra. O príncipe ficou escutando. Dia seguinte, ele ordenou que ela permanecesse perto e cantasse. E no outro dia que ela ficasse dentro do quarto e no seguinte diante dele mesmo ; e assim aos poucos o desejo surgiu dentro dele ; ele seguiu os caminhos do mundo e conheceu alegria do amor. “Não deixarei que outro tenha esta mulher,” ele decidiu ; e pegando a espada, saiu atacando furiosamente pelas ruas, caçando as pessoas. O rei fez com que o capturassem e o baniu da cidade junto com a garota.

Juntos viajaram para a floresta, descendo o Ganges. Lá, com o rio de um lado e o mar do outro, construíram um cabana e viveram. Ela sentava-se dentro de casa e cozinhava as raízes e bulbos ; o Bodhisatva trazia frutos selvagens da floresta.

Um dia, quando ele estava fora buscando frutos, um eremita de uma ilha no mar, que fazia sua ronda para conseguir comida, viu fumaça enquanto passava através dos ares e pousou do lado desta cabana.

“Sente-se até que esteja cozido,” disse a mulher ; então seus charmes femininos seduziram a alma dele e fez com que caísse do transe místico, causando uma impureza em sua pureza. E ele, como um corvo com asa quebrada, incapaz de deixá-la, ficou sentado lá o dia inteiro até que viu o Bodhisatva chegando e então correu rapidamente em direção ao mar. “Este deve ser um inimigo,” ele pensou e pegando a espada partiu para caçá-lo. Mas o asceta, fazendo como se fosse elevar-se nos ares, caiu no mar. Então o Bodhisatva pensou,
“Este homem aí sem dúvida é um asceta que chegou aqui através dos ares ; e agora que seu transe está quebrado, cai no mar. Devo ir e ajudá-lo.” E permanecendo na margem pronunciou estes versos:-

Não pelo mar mas com seu poder mágico,
Viajastes para cá mais cedo ;
Agora pela má companhia das mulheres
Afundas no meio do mar.

Cheias de sedução, toda enganos,
Tentam ao coração mais puro até sua queda.
Caem e afundam : homens devem fugir para longe
De mulheres, quando sabem de que tipo são.

A quem servem por desejo ou ouro,
Queimam como fogo no combustível.

[ A Glosa acrescenta as seguintes linhas:
Alucinação, tristeza, e doença,
Miragem, sofrimento (e sólidos laços são estes),
Armadilha de morte, profundamente assenta na mente -
Quem acredita nestas é o pior de sua espécie. ]

Quando o asceta escutou estas palavras que o Bodhisatva falou, ele ficou de pé no meio do mar e reassumindo seu transe interrompido, elevou-se nos ares e seguiu caminho para sua residência.

Pensou o Bodhisatva, “Aquele asceta lá, com tanto peso, vai pelos ares como um tufo de algodão. Por que eu como ele não devo cultivar o transe e ir pelos ares ?” Assim ele retornou para sua cabana e levou a mulher para entre as pessoas novamente ; então disse a ela que partiria e ele mesmo foi para a floresta, onde construiu uma cabana em um lugar agradável e tornou-se um asceta ; preparou-se para o transe místico, cultivou as Faculdades e as Consecuções e tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Quando este discurso estava terminado, o Mestre declarou as Verdades : (agora na conclusão das Verdades o Irmão relapso tornou-se estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho :) “Naquele tempo,” disse ele, “eu mesmo era o jovem que nunca tinha tido nada a ver com mulheres.” Cf. Jataka 507.







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