Parasara e o carro
dos sentidos ( in Plutarco Védico isbn 978-85-906438-0-7 )
Tanto neste
jataka 445 quanto no 539 vemos a cena do carro cerimonial que é
solto sem auriga, sem motorista, para sozinho percorrer a cidade
atrás de um rei apropriado. A cidade toda vae atrás
dele uns querendo impedir o caminho e outros liturgicamente abre m a
passagem para que vá sem qualquer intervenção
humana e siga livremente. Que carro, carruagem, é este ?
Somando às referências que unem oriente e ocidente temos
em um relato da história de Roma este mesmo carro que anda
solto, sozinho, com vida própria : está na 'Vida de
Publícola' de Plutarco e teria ocorrido em meados do séc.
VI a.C. . Vejamos então estes parágrafos XIII e XIV :
XIII.
Fazia então pela segunda vez Tarquinio guerra na Etruria aos
romanos e se diz que aconteceu um portento extraordinário.
Reinando ainda Tarquinio, tinha já quase concluído o
templo de Júpiter Capitolino e fosse por vaticínio que
se fez ou por movimento e ditame próprio, encarregou uns
artistas tirrenos da cidade de Veyes de fazer uma carroça de
barro que havia resolvido colocar no arremate ( do templo ) e ao cabo
de pouco tempo perdeu o reino. Puseram os tirrenos a carroça
de quatro cavalos já formada para cozinhar no forno e não
aconteceu o que era natural acontecesse com a argila, que era ao
entrar contrair-se dissipada a umidade mas se dilatou e se tornou
oca, tomando tanto volume e tanta consistência que ainda
retirada a cobertura do forno e derrubada as paredes, houve
dificuldade para tirá-la. Julgaram os adivinhos que aquilo
repesesntava um grande prodígio e que anunciava felicidade e
autoridade àqueles em cujo poder estivesse a carruagem ; com o
que determinaram os veyanos não entregá-la aos romanos,
que a pediam e responderam que pertencia a Tarquinio e não aos
que o haviam desterrado. Poucos dias depois tinham os veyanos
corridas de cavalos e tudo aconteceu como de costume em tais
espetáculos ; porém com o carro vencedor aconteceu que
assim que o carreteiro saiu coroado do circo, quando espantados os
cavalos, sem nenhuma causa conhecida mas por algum impulso superior
ou por boa sorte, deram de correr e escapar para Roma, levando o
carreteiro. De nada serviu ele puxar as rédeas e mandá-los
parar, porque lhe arrebataram ( o carro ), tendo que ceder e
sujeitar-se ao ímpeto, até que chegados ao Capitólio,
o jogaram em terra junto à porta que agora chamam Ratumena.
Maravilhados e temerosos os veyanos com este acontecimento,
permitiram que a carruagem ( de barro ) se devolvesse aos artistas.
XIV. Este
templo de Júpiter Capitolino foi voto, promessa, de Tarquinio
de Demarato que ofereceu dedicar-lhe estando em guerra com os sabinos
; porém o construiu Tarquinio o Soberbo, filho ou neto do que
o votou ( Hércules ao lado de Evandro o árcade foi o
primeiro a levantar o altar ali : ofereceu um dos bois de Gerião
do seu décimo trabalho, o gado do sujeito que tinha três
cabeças na então península ibérica ; no
caso as três cabeças como no muro Atlântida mesma
representam a estratificação social mesma organizada
tradicionalmente ) ( Numa também no alto da colina, ele
presidente dos áugures, voltando-se para os pontos cardeais
examinava o que pronunciava os deuses por meio dos agouros ou
prodígios : as aves davam os agouros : faustos / fastos ou
nefastos ). Não chegou a dedicar-lhe mas faltou muito pouco
para concluir quando Tarquinio foi deposto. Logo que estava acabado
e todo adornado, se acendeu em Publícola o desejo de fazer sua
dedicação. O viam com inveja muitos dos principais e
as demais honras que havia alcançado e pareciam próprias
como legislador ( fez boas leis para a plebe ) mas como general não
miravam com tanto encômio ; à dedicação
tinha como alheio a ele e instavam Horacio para que disputasse com
ele a dedicação. Jogada as sortes Publícola
perde e deve sair em uma expedição militar
indispensável, decretando-se que fosse Horacio o dedicante,
subiram com ele ao Capitolio (...) Nos idos pois de setembro na lua
cheia congregados todos no Capitolio, Horacio depois de impor
silêncio e praticar as demais cerimônias, chegando até
as portas, como é costume, pronunciou as palavras
estabelecidas para a dedicação ; mas o irmão de
Publícola , Marco, que já estava há um tempo
também na porta esperando o momento oportuno : “Cónsul,
grito ele, teu filho morreu de uma doença no exército.”
Causou isto pesar em todos os circunstantes ; porém
Horacio, sem alterar-se nem o mínimo e não dizendo
outra coisa que “deixes o morto onde quiseres pois não me
abandono ao pranto”, concluiu o que restava da dedicação.
Não era certa a notícia mas Marco fingiu para distrair
a Horacio ; contudo é muito digna de elogio a serenidade do
cónsul, seja por se impor rápido ao engano, seja
mantendo-se inalterado com tal nova, dando-lhe crédito.
( No
parágrafo seguinte, XV, Plutarco fala das várias
construções deste mesmo templo que foi destruído
nas guerras civis mas reconstruído por Sila e novamente
destruído nos tempos de Vitelio tendo feito o terceiro
Vespasiano que teve a sorte de o ver concluído ; mas depois de
morto logo foi destruído novamente ; reconstruiu Domiciano
pela quarta vez com doze mil talentos só no revestimento à
ouro ao que é chamado de outro Midas por querer tornar tudo de
ouro. )
Dá para
ver claramente que o carro é o mesmo que se movimenta sozinho
até no crescer da argila. Como entender esta argila ? A
resposta está no Mahabharata em diálogo justamente
entre o mesmo grande rei Janaka e o sábio Parasara na Santi
parva, seção CCXCII :
Parasara
disse, “Aquela pessoa que tendo obtido este carro, isto é,
seu corpo dotado de mente, segue, curvando com as rédeas do
conhecimento os corcéis representados sob os objetos dos
sentidos, deve certamente ser vista como possuidora de inteligência.
A homenagem ( na forma de devoção e meditação
concentrada no Supremo ) por uma pessoa cuja mente é
dependente de si mesma e que jogou fora os meios de vida ( contemptus
mundi ) é válida de alto louvor, - esta homenagem,
nomeadamente, Ó regenerado, é resultado de instruções
recebidas por alguém que teve sucesso em transcender os atos e
não obtidas da discussão mútua entre as pessoas
em mesmo estado de progresso. Tendo obtido o período de vida
determinado, Ó rei, com tal dificuldade, não se deve
diminuí-lo ( com a indulgência aos sentidos ). Por
outro lado deve-se sempre se empenhar, através de atos
corretos, para o próprio avanço gradual. ( ... ) Aquela
pessoa que, refletindo com sua mente, Ó rei, e certificando a
própria habilidade, realiza atos corretos, certamente obtem o
que é para seu benefício. Àgua derramada em vaso
não cozido gradualmente diminui e finalmente escapa toda. Se
guardada, contudo, em um vaso cozido, permanece sem a quantidade
diminuir. Do mesmo modo, atos realizados sem reflexão com a
ajuda do entendimento não se tornam bons ; enquanto atos
feitos com julgamento permanecem sem diminuir de excelência e
geram felicidades como resultado. Se em um vaso que contém
água, derrama-se mais água, àgua que
originalmente estava lá aumenta em quantidade ; do mesmo modo
todos os atos feitos com julgamento, sejam equânimes ou não,
só somam as estoque de retidão de alguém.”
A metáfora
do vaso é ampla dissertando-se sobre o esmalte de fora e o
fogo de dentro, afinal, cozido guarda em si um pouco deste fogo do
cozimento . Vemos então que o forno é o forno do
julgamento interior, do livre arbítrio que decide a todo
momento toda a existência e o carro é o corpo mesmo e
seus sentidos. O fato de o grande Janaka ser quem escuta as palavras
do sábio Parasara reforça a tese. O fogo do julgamento
está claramente na dedicação do templo na fala
de Horacio.
Finalmente cabe
lembrar que a metáfora do vaso cozido aparece nos odres de
couro para botar vinho quando em casa de Levi, Mateus, IHS é
interrogado sobre o jejum : ele fala também além dos
vinhos novos em odres novos, do Noivo que chega provavelmente no
carro apropriado e da roupa nova sem remendo. Antes Ele estivera na
casa da sogra de Pedro.
O Fedro
dialogando com Sócrates do lado de fora de Atenas junto aos
templos de Pan e das Ninfas amplia esta imagem da alma como um carro
puxado por cavalos com um auriga que segura uma lâmpada, a
mente : o amor é a luz mesma. A tradução de si-mesmo, self, em grego, auto, esclarece por que move-se sozinho o carro. Vyasa e Markandeya no Mahabharata ampliam a imagem que o Fedro de Plato toma emprestado. É clara a transmissão da Tradição nesta questão. Assim como na República com as castas, raças, classes. A ligação,
relação, contato, ocidente oriente, é
estarrecedora : juntos desde sempre.
O carro que anda sozinho junto com o cavalo vencedor são imagens do ritual do Asvamedha que vemos realizar-se todo ano em Roma antiga : o cavalo de outubro - G. Dumèzil e a escola de religião comparada estabelecem que o ritual indo-europeu existe no ocidente quanto no oriente: unidade clara. O acontecimento na fundação da república mostra que para além de rituais vazios há uma doutrina viva, desde sempre.
O carro que anda sozinho junto com o cavalo vencedor são imagens do ritual do Asvamedha que vemos realizar-se todo ano em Roma antiga : o cavalo de outubro - G. Dumèzil e a escola de religião comparada estabelecem que o ritual indo-europeu existe no ocidente quanto no oriente: unidade clara. O acontecimento na fundação da república mostra que para além de rituais vazios há uma doutrina viva, desde sempre.
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