quarta-feira, 13 de junho de 2012

445 Buddha asceta Nigrodha


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          Veluvana / Bosque de Bambus, Índia


445
Quem é este homem...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambus sobre Devadatra. Um dia os Irmãos disseram a ele, “Amigo Devadatra, o Mestre te ajudou muito ! Do Mestre, você recebeu suas Ordens, menores e maiores ; você aprendeu as Três Cestas, a voz do Buddha ; você fez com que se levantasse o Ênstase dentro de ti ; a glória e o ganho de Dasabala ( Buddha, “aquele que possui os dez poderes” ) pertence a você.” Com isto ele segurou uma folha de grama, com as palavras, “Não vejo nenhum bem que o asceta Gotama me fez, nem mesmo este tanto !” Eles discutiam isto no Salão da Verdade. Quando o Mestre entrou, perguntou sobre o quê discutiam sentados juntos. Eles disseram. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez mas há muito tempo atrás como agora, Devadatra foi ingrato e traiçoeiro com os amigos.” E ele contou um conto dos dias antigos.

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Certa vez um grande monarca chamado Magadha reinava em Rajagaha. E um mercador desta cidade trouxe para casa, para ser esposa do seu filho, uma filha de mercador de certo país. Mas ela era estéril. Com o passar do tempo menos respeito era prestado a ela por causa disto ; todos falavam para que ela escutasse, assim : “Enquanto há uma esposa estéril na casa de nosso filho, como poderá a linhagem da família ser mantida ?” Como este falatório ficava entrando no ouvido dela, ela disse para si mesma, “Então está bem, vou fingir estar grávida e enganá-los.” E assim ela perguntou a uma boa e antiga ama dela “O quê as mulheres fazem quando estão com criança ?” e sendo instruída no que fazer para preservar o bebê, escondeu quando menstruava ; mostrou desejos por gostos estranhos e amargos ; no tempo em que os braços e as pernas começavam a inchar, ela fez com que se lhe batesse as mãos, os pés e as costas até que crescessem ; todo dia ela fazia bandagem ao redor do seu corpo com trapos e roupas para parecer maior ; enegreceu os bicos dos peitos ; e além daquela ama não deixou ninguém estar presente em seu banheiro. Seu marido também dedicou a ela as atenções próprias do seu estado. Depois de nove meses passados deste jeito, ela declarou ser seu desejo retornar para casa e dar à luz na residência de seu pai. Então despedindo-se dos pais de seu marido, ela montou numa carruagem e com um largo número de ajudantes deixou Rajagaha atrás dela e pegou a estrada.

Bem, viajando na frente dela estava uma caravana ; e ela sempre no horário do café da manhã aproximava-se do lugar onde a caravana tinha acabado de estar. E uma noite, uma pobre mulher deu à luz um filho debaixo de uma árvore banian ; e considerando que sem a caravana ela não poderia seguir mas que se ela vivesse poderia encontrar a criança, o cobriu como estava e o deixou deitado lá, aos pés da árvore banian. E a deidade d'árvore tomou conta dele ; não era uma criança qualquer mas o Bodhisatva mesmo que veio ao mundo daquela forma.

Na hora do café da manhã os outros viajantes chegaram no lugar. A mulher, com sua empregada, separando-separa debaixo da sombra d'árvore banian para fazer suas necessidades, viu um bebê de cor dourada deitado lá. Logo ela grita para a empregada que o objetivo delas foi alcançado ; desata as ataduras das coxas ; e declara que o bebê era dela mesma e que acabou de pari-lo.

Os empregados imediatamente levantam uma tenda para protegê-la e altamente felizes mandam uma carta de volta a Rajagaha. Os pais do marido dela escrevem em resposta que como o bebê nasceu, não há mais necessidade dela ir para a casa dos pais; que ela retornasse. Assim para Rajagaha ela voltou imediatamente. E eles conheceram o bebê : e quando o bebê veio a ser nomeado, o chamaram com o nome do lugar onde nasceu, Nigrodha-Kumara, ou Mestre Banian. Naquele mesmo dia, a nora de um mercador, em seu caminho para a casa dos pais para parir, deu à luz um filho debaixo dos ramos de uma árvore ; e a ele eles chamaram Sakha-Kumara, Mestre Galho. E no mesmo dia, a esposa de um alfaiate empregado deste mercador deu à luz um filho no meio dos pedaços de tecidos dele ; e ele foi chamado Pottika, ou Mexedor de roupa.

O grande mercador mandou chamar estas duas crianças, que nasceram no mesmo dia de Mestre Banian e os criou junto com ele.

Eles cresceram juntos e logo foram para Takkasila ( Taxila ) para completar sua educação. Ambos os filhos dos mercadores tinham dois mil dinheiros ( peças ) para dar ao professor deles como pagamento ; Mestre Banian proviu Pottika de educação debaixo de sua proteção.

Quando a educação deles estava terminada, eles despediram-se de seu professor e o deixaram, com a intenção de aprender os costumes do povo do campo ; e viajando de um lugar para outro, com o tempo chegaram em Benares e deitaram para descansar em um templo. Era o sétimo dia desde que o rei de Benares morrera. Foi feita proclamação pela cidade através do toque do tambor, que de manhã o carro de festa estaria preparado. Os três camaradas estavam deitados debaixo d'árvore dormindo, quando àurora Pottika acordou e sentando-se começou a massagear os pés de Banian. Alguns galos estavam empoleirados nesta árvore e o galo no topo cagou no galo de baixo ( cf. Jataka 284 em que também acontece esta cena ). “O que é isto que caiu em mim ?” perguntou este galo. “Não fique irado, senhor,” respondeu o outro,”foi sem querer.” “Ah, então você pensa que meu corpo é um lugar para seus dejetos ! Você não conhece minha importância, isto está claro !” A isto o outro disse, “Oh, ainda com raiva apesar d'eu dizer que foi sem querer ! E qual é a sua importância, prego ?” - “Quem quer que me mate e coma minha carne receberá mil peças de dinheiros ainda nesta manhã ! Não é algo de que se orgulhar ?” “Bah,” cotejou o outro, “orgulho de algo tão pequeno como isto ! Pois, se alguém me mata e come minha gordura, tornar-se-á rei ainda nesta manhã; aquele que comer minha carne do meio, torna-se comandante-chefe ; e aquele que comer a carne ao redor dos ossos, será tesoureiro !”
Pottika escutou tudo isto. “Mil dinheiros-” pensou ele, “O que é isto ? Melhor ser rei !” Então mansamente subindo n'árvore, ele pegou o galo que empoleirava-se no topo e o matou e o cozinhou em brasas ; a gordura deu a Banian, a carne do meio para Galho e ele mesmo comeu a carne que estava junto aos ossos. Quando eles já tinham comido, disse, “Banian, Senhor, ho-je serás rei ; Galho, Senhor, serás comandante-chefe ; e quanto a mim, sou o tesoureiro !” eles perguntaram como sabia ; ele contou a eles.

Então ao redor da hora do almoço, entraram na cidade de Benares. Na casa de um certo brahmin eles receberam uma refeição de mingau de arroz com ghee e açúcar ; e depois saindo da cidade entraram no parque real.

Banian deitou em uma laje pedra, os outros dois deitaram do lado dele. Então aconteceu que naquele momento estavam justamente enviando a carruagem cerimonial com os cinco símbolos da realeza nela ( espada, parassol, diadema, sandálias e leque )( os detalhes disto serão dados no Jataka 539 sobre o grande Janaka ; deste carro se fala na postagem anterior : Parasara e o carro dos sentidos ). O carro andando e parando, permaneceu pronto para eles entrarem. “Algum ser de grande mérito deve estar presente aqui !” pensou o capelão consigo mesmo. Ele entrou no parque e espreitou o jovem ; e então removendo a coberta de seus pés examinou as marcas sobre eles. “Pois,” disse ele, “ele está destinado a ser Rei de toda a Índia, que seja apenas de Benares !” e ele ordenou que todos os gongos e címbalos fossem tocados.

Banian despertando retirou a coberta de seu rosto e viu uma multidão reunida ao redor dele ! Ele vira e por um momento ou dois fica deitado ; então levanta e senta com as pernas cruzadas. O capelão dobra um joelho dizendo “Divino ser, o reino é teu !” “Assim seja,” disse o jovem ; o capelão o colocou em cima de uma pilha de pedras preciosas e o ungiu rei.

Assim feito rei, ele deu o posto de Comandante-chefe para seu amigo Galho e entrou na cidade com grande pompa ; e Pottika ( depois deste ponto ele é várias vezes chamado Pottiya ) foi com eles.

Desde dia em dia o Grande Ser legislou retamente em Benares.

Um dia a lembrança de seus pais veio à mente dele ; e dirigindo-se a Galho , ele disse, “Senhor, é impossível viver sem pai e mãe ; tome uma companhia de soldados e vá buscá-los.” Mas Galho se recusou ; “Isto não é problema meu,” disse. Então ele pediu a Pottika para fazer isto. Pottika concordou e indo até os pais de Banian, contou a eles que seu filho tornara-se rei e os pedia que fossem até ele. Mas eles declinaram dizendo que tinham poder e riqueza : tanto que bastava, e não iriam. Ele pediu aos pais de Galho também para ir e eles também preferiram ficar ; e quando convidou seus próprios pais eles disseram, “Vivemos da alfaiataria ; é suficiente, bastante,” e recusaram como o resto.

Como ele falhou em atingir seus objetivos, ele retornou à Benares. Pensando que descansaria da fatiga da viagem na casa do Comandante-chefe antes de ver Banian, ele foi para esta casa. “Diga ao Comandante-chefe,” falou ao porteiro, “que seu camarada Pottika está aqui.” O homem fez isto. Mas Galho havia concebido um rancor contra ele porque, cotejando-o, aquele havia dado a seu camarada Banian o reino ao invés de dar para ele mesmo ; então escutando esta mensagem, cresceu sua raiva. “Camarada realmente ! Quem é camarada ? Um caipira doido mal-nascido ! Pegue-no !” Então bateram nele e o chutaram e o castigaram com pontapés, joelhadas e cotovelas e depois pegando-o pelo pescoço o atiraram para fora.

Galho,” pensou ele,”ganhou o posto de Comandante-chefe por minha causa e agora é ingrato, malicioso, me bateu e me jogou para fora. Mas Banian é um sábio agradecido e bom e a ele irei.” Então para a porta do rei ele foi e enviou uma mensagem ao rei que Pottika seu camarada estava esperando na porta. O rei pediu que entrasse e quando o viu se aproximar, levantou-se do assento e foi encontrá-lo e saudá-lo com afeição ; fez com que o barbeassem e cuidassem dele e o adornou com todo tipo de ornamento e deu a ele carnes gostosas de todo tipo para comer ; e isto feito, sentou graciosamente do seu lado e o perguntou sobre seus pais, que como o outro o informou se recusaram a vir.

Bem, Galho pensou consigo mesmo, “Pottika vai me insultar aos ouvidos do rei mas s'eu estiver junto ele não será capaz de falar” ; então ele também foi para lá. E Pottika, na presença dele mesmo, falou ao rei dizendo, “Meu senhor, quando eu estava cansado da viagem, fui à casa de Galho, esperando descansar lá e depois visitá-lo. Mas Galho disse, 'Não o conheço !' e me tratou mal e me atirou para fora pelo pescoço ! Podes acreditar nisto !” e com estas palavras ele pronunciou três estrofes de versos :

'Quem é este homem ? Não o conheço ! E o pai dele, quem ?
Quem é este homem ?' assim Sakha disse : - Nigrodha, que pensas tu ?

Então os homens de Sakha com as ordens de Sakha me deram bofetes na face,
E me pegando pelo pescoço me atiraram para fora do lugar.

Que ato de traição tal não faz um homem mau !
Um ingrato é uma vergonha, Ó rei – e ele é teu camarada também.

Escutando isto, Banian recitou quatro estrofes :

Não conheço, nem nunca ouvi falar por ninguém,
Tal mal como este que contas o qual Sakha te fez.

Comigo e Sakha viveste ; éramos ambos teus camaradas ;
Do império sobre a humanidade nos deste a cada um uma parte :
Conseguimos majestade através de ti, e nenhuma dúvida há nisto.

Como quando uma semente é jogada no forno, torrando e não crescendo ;
Torna-se um homem bom em mau, perecendo igual.

O agradecido, bom e virtuoso tais homens não são como eles ;
Semeados em bom solo em atos de homens bons nunca são atirados fora.

Enquanto Banian recitava tais linhas, Galho ficou parado onde estava. Então o rei perguntou a ele, “Bem, Galho, reconheces esse homem Pottika ?” Ele ficou abobalhado. E o rei deu suas ordens sobre o sujeito nestas palavras da oitava estrofe:

Amarrem este traidor sem valor aí, cujos pensamentos são tão maus ;
Empalem-no ! Pois eu o mataria – sua vida é nada para mim !

Mas Pottika, escutando isto, pensou consigo mesmo - “Que este tolo não morra por minha causa !” e pronunciou a nona estrofe :
Grande Rei, tenha misericórdia ! Vida uma vez ida e difícil trazer de volta :
Meu senhor perdoe e deixe-o viver ! Não quero mal ao miserável.

Quando o rei escutou isto, ele perdoou Galho ; e desejava dar o posto de Comandante-chefe para Pottika mas não o faria. Então o rei deu a ele o posto de de Tesoureiro e com ele todo o árbitro das guildas de mercadores. Antes disto tal ofício não havia mas há desde então. E logo Pottika o Tesoureiro Real sendo abençoado com filhos e filhas, pronunciou a última estrofe para aconselhá-los :

Com o Nigrodha deve-se morar ;
Ficar com Sakha não é bom.
Melhor com Nigrodha morrer
Do que com Sakha tomar fôlego.

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Este discurso terminado, o Mestre disse, “Então, Irmãos, vocês vêem que Devadatra foi ingrato antes,” e depois identificou o Jataka : “Naquele tempo, Devadatra era Sakha, Ānanda era Pottika e eu mesmo era Nigrodha.”



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