quarta-feira, 31 de março de 2010

402 Buddha Senaka


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                                       ( Imagens de Yakshas, espíritos d'árvore )

402
Estais confuso...etc.” - O Mestre contou isto quando em Jetavana, relativo a Perfeição da Sabedoria. A ocasião da história aparecerá no jataka 546 de Mah'Osadha e Amara.
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Certa vez um rei chamado Janaka reinava em Benares ( Varanasi ). Naquele tempo o Bodhisatva nascera numa família brahmin e o chamavam de jovem Senaka. Quando cresceu aprendeu todas as artes em Takkasilā ( Taxila ) e voltando para Benares foi ver o rei. O rei o colocou no lugar de ministro e deu a ele grande glória. Ele ensinou ao rei coisas temporais e espirituais. Sendo um pregador prazeroso da lei, estabeleceu-o nos cinco preceitos, em fazer ofertas, fazer jejuns, nos dez caminhos da ação reta e assim o estabeleceu na trilha da virtude. Por todo o reino era como se fora o tempo do aparecimento de Buddhas. No jejum quinzenal o rei, os vicereis e outros juntam-se reunidos e decoram o lugar do encontro. O Bodhisatva ensinava a lei num aposento decorado no meio de um estofado de pele de cervo com o poder de um Buddha e sua palavra era semelhante a pregação de Buddhas. Então um certo brahmin velho pedindo oferta em dinheiro conseguiu mil dinheiros, deixou-as em uma família brahmin e prosseguiu novamente em busca de ofertas. Depois que ele já havia ido, a família gastou todas as peças de dinheiro. Ele voltou e queria os dinheiros de volta. O brahmin, sendo incapaz de devolvê-los a ele, lhe deu a filha como esposa. O outro brahmin a tomou e fixou residência numa cidade brahmin não distante de Benares. Devido a sua juventude sua esposa estava insatisfeita nos desejos e errava com outro jovem brahmin. Existem dezesseis coisas que não podem ser satisfeitas, saciadas : e quais são estas dezesseis ? O mar não se satisfaz com todos os rios, nem o fogo com o combustível, nem um rei com seu reino, nem um tolo com seus erros, nem uma mulher com três coisas, intercurso, adornos e gravidez, nem um brahmin com textos sacros, nem um sábio com meditação enstática, nem um sekha ( homem santo que não atingiu santidade ) com honra, nem alguém livre de desejo com penitência, nem um homem energético com energia, nem o falante em falar, nem o político com àssembléia, nem o crente com o serviço da igreja, nem o homem liberal com o ofertar, nem o estudado com a aprendizagem da lei, nem as quatro congregações (Irmãos, Irmãs, leigos e leigas) em ver o Buddha. Assim esta mulher brahmin, estando insatisfeita, insaciada, no intercurso, desejava colocar seu marido para fora e errar atrevidamente. Então um dia em seu propósito maligno ela ficou deitada. Quando ele disse, “Como estais, esposa ?” ela respondeu, “Brahmin, não posso fazer o trabalho da sua casa, arranje uma empregada para mim.” “Esposa, não tenho dinheiro, que darei para consegui-la ?” “Busque dinheiro mendigando ofertas e assim arranje uma.” “Então esposa, apronte algo para a minha jornada.” Ela encheu um saco de couro, com alimento cozido e não cozido, e deu para o marido. O brahmin, prosseguindo através dos vilarejos, vilas e cidades, conseguiu setecentos dinheiros e pensando, “Este dinheiro é suficiente para comprar escravos, machos e fêmeas,” começou a retornar para sua própria vila : em certo lugar conveniente para beber água ele abriu o saco e comendo algo desceu para beber água sem fechar a boca do saco. Então uma cobra preta num oco d'árvore, sentindo o cheiro do alimento, entrou no saco e deitou-se enrolada comendo a comida. O brahmin veio e sem olhar dentro amarrou o saco e o colocou nos ombros, indo embora. Ahi, um espírito que vivia numa árvore, sentado no oco do tronco, disse para ele no caminho, “Brahmin, se parares na viagem morrerás, se fores para casa ho-je tua esposa morrerá,” e desapareceu. Ele olhou mas não vendo o espíritoficou atormentado e assustado com medo da morte e deste jeito chegou ao portão de Benares lamentando e chorando. Estava-se no décimo quinto dia do jejum, dia da pregação do Bodhisatva, sentado em assento decorado da lei e uma multidão com perfumes, flores e semelhantes nas mãos veio em tropas para escutar a pregação. O brahmin disse, “Onde vocês estão indo ?” e foi dito, “Ó brahmin, ho-je sábio Senaka prega a lei com voz doce e poder de um Buddha : não sabes ?” Ele pensou, “Dizem que é um sábio pregador e eu estou aterrorizado com medo da morte : sábios são capazes de tirar fora mesmo grandes tristezas : é certo portanto que eu vá até lá e escute a lei.” Então foi com eles e quando àssembléia e o rei no meio dela, sentou ao redor do Bodhisatva, ele ficou de fora, não distante do assento da lei, com seu saco de comida no ombro, assustado com medo da morte. O Bodhisatva pregou como se ele estivesse trazendo para baixo o rio celeste ou chovendo ambrosia. A multidão ficou agraciada e aplaudindo escutava a pregação. Sábios têm olhar agudo. Naquele momento o Bodhisatva, abrindo seus olhos agraciados com as cinco graças, examinou àssembléia por todos os lados e, vendo aquele brahmin, pensou, “Esta grande assembléia ficou agraciada e escuta a lei, aplaudindo mas aquele brahmin ali está mal e lamenta-se : deve haver alguma dor dentro dele que o leva às lágrimas : como se tocasse ferrugem com ácido, ou fizesse gota d'água rolar de uma folha de lótus, o ensinarei a lei, livrando-o da dor e agraciando-o na mente.” E então o chamou, “Brahmin, sou o sábio Senaka, agora te farei livre da dor, fale corajosamente,” e assim falando com ele disse a primeira estrofe :-

Estais confuso no pensamento, perturbado nos sensos,
São evidentes as lágrimas que correm dos teus olhos ;
O que perdeste ou o quê desejas ganhar
Vindo aqui ? Dê-me sincera resposta.

Então o brahmin, declarando a causa de sua dor, falou a segunda estrofe :-

S'eu for para casa minha esposa deve morrer,
S'eu não for, o Yaksha disse, morro eu ;
Este é o pensamento que me perfura cruelmente :
Me resolva o problema, Senaka.

O Bodhisatva, escutando as palavras do brahmin, espalhou a teia de conhecimento como se jogasse rede no mar, pensando, “Existem muitas causas de morte aos seres neste mundo : alguns morrem afogados no mar ou apanhados por peixes carnívoros, alguns caem no Ganges, ou são capturados por crocodilos, alguns caem das árvores ou são espetados por espinhos, alguns atingidos por armas de todos os tipos, alguns tomando veneno ou são enforcados ou caem dos precipícios ou por frio intenso ou atacados por doenças diversas, assim morrem : bem entre tantas causas de morte de qual causa morrerá este brahmin se permanecer na estrada ho-je, ou sua esposa se voltar para casa ?” Enquanto assim considerava, viu o saco no ombro do brahmin e pensou, “Deve haver uma serpente que entrou dentro do saco sentindo o cheiro do alimento quando o brahmin no almoço comeu algo indo beber água sem amarrar a boca do saco : o brahmin voltando após beber água deve ter partido depois de amarrar e colocar o saco no ombro sem perceber que a serpente estava dentro : se ele parar na estrada, dirá à tarde quando descansar, 'Comerei algo', e abrindo o saco colocará dentro a mão : então a serpente o picará na mão e destruirá a vida dele : esta será a causa da morte dele se ficar na estrada : mas se for para casa o saco irá para as mãos da esposa ; ela dirá, 'Olharei as coisas que estão dentro', e abrindo o saco colocará a mão, a serpente então a picará e destruirá a vida dela e esta seria a causa de sua morte se ele for para casa ho-je.” Ele soube isto através de seu conhecimento prático. Então veio a sua mente, “A serpente deve ser uma serpente preta, brava e destemida ; quando o saco bate contra o costado do brahmin, ela não se mexe ou treme ; não mostra nenhum sinal de estar lá no meio de tal assembléia : portanto deve ser uma serpente preta, brava e destemida :” a partir do seu conhecimento prático ele sabia disto como se olhasse com um olho divino. Então como se fora uma pessoa que estivera do lado e visto a serpente entrar no saco, decidindo através de seu conhecimento prático, o Bodhisatva respondeu a questão do brahmin na assembléia real falando a terceira estrofe :-

Primeiro muitas questões considerei,
E agora minha língua a verdade declara ;
Brahmin, em tua saca de comida
Uma serpente entrou despercebida.

Assim falando, ele respondeu, “Ó brahmin, há alimento neste teu saco ?” “Há, Ó sábio.” “Comeste algo ho-je no almoço ?” “Sim, Ó sábio.” “Onde sentaste ?” “No mato, na raiz de uma árvore.” “Depois que comeste a refeição e foste beber água, amarraste a boca do saco ou não ?” “Não amarrei, Ó sábio.” “Quando voltaste de beber água, olhaste dentro antes de amarrar ?” “Amarrei sem olhar dentro, Ó sábio.” “Ó brahmin, quando foste beber água, penso que uma serpente entrou no saco devido ao cheiro da comida sem você perceber : tal é o caso : portanto largue o saco, coloque-o no meio d'assembléia e abra a boca, afaste-se e pegando uma vara, bata no saco com ela : então quando vires uma serpente preta saindo fora com sua crista aberta e silvando, não terás dúvida :” e assim falou a quarta estrofe :-

Pegue uma vara e bata no saco,
Silenciosa e de língua bifurcada (falsa) ela é ;
Cesse de atormentar com dúvidas tua mente ;
Abra o saco, verás a serpente.

O brahmin, escutando as palavras do Grande Ser, assim o fez, apesar de assustado e com medo. A cobra saiu do saco quando sua crista foi atingida com a vara e ficou encarando a multidão.

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O Mestre, explicando o assunto, falou a quinta estrofe :

Assustado, no meio da turba reunida,
Ele desamarrou a corda do saco de comida ;
Irada rastejou para fora uma serpe,
De crista ereta, com todo seu orgulho.

Quando a serpente saiu fora com a crista levantada, houve uma profecia do Bodhisatva como Buddha omnisciente. A multidão começou a sacudir as roupas e a estalar os dedos aos milhares, chuvas das sete pedras preciosas eram como chuvas de nuvem grossa, gritos de 'bom' elevaram-se as centenas de milhares e o barulho era como de terra que se abre. A resposta de tal pergunta com o poder de um Buddha não é o poder de nascença, nem o poder de homens ricos e de altas famílias : de que é o poder então ? Do conhecimento : a pessoa de conhecimento faz crescer o insight espiritual, abre a porta dos nobres Caminhos, entra no grande e infinito nirvāna e tem a mestria da perfeição do discipulado, de pacceka buddha e de buddha perfeito : conhecimento é a melhor dentre as qualidades que traz o grande e infinito nirvāna, o resto são ajudantes do conhecimento : e assim é dito :-

'Sabedoria é melhor,' confessa o bom,
Como a lua em céu estrelado ;
Virtude, fortuna, retidão,
São ajudantes do sábio.

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Quando a questão já estava assim respondida pelo Bodhisatva, um certo encantador de serpentes fez uma mordaça para a cobra, a pegou e a soltou na floresta. O brahmin, subindo até o rei, o saudou e fez reverência, e louvando-o falou meia estrofe :-

Grande, rei Janaka, teu ganho
Ver Senaka o sábio.
Após louvar o rei, ele pegou setecentos dinheiros do saco e louvando o Bodhisatva, falou uma estrofe e meia desejando fazer uma oferta de felicidade :-
Venerável tua sabedoria ; véus são vãos,
Brahmin, a teus olhos agudos.
Estes setecentos dinheiros, veja,
Pegue-os todos, te ofereço ;
A ti devo minha vida,
E o bem estar da minha esposa.
Escutando isto, o Bodhisatva falou a oitava estrofe :-
Por recitar poesia
Sábios não podem aceitar salário ;
Primeiro deixe-nos a ti ofertar,
Antes que comeces a jornada para casa.
Assim falando o Bodhisatva fez com que se entregasse mil peças de dinheiro ao brahmin e o questionou, “Quem te enviou a pedir dinheiro ?” “Minha esposa, Ó sábio.” “Tua esposa é velha ou jovem ?” “Jovem, Ó sábio.” “Então ela erra com outro e te enviou para fora pensando em errar com segurança : se levares este dinheiro para casa, ela dará ao amante dela o quê ganhaste com teu trabalho : portanto não vá para casa direto mas somente após deixar o dinheiro fora da cidade na raiz de uma árvore ou outro lugar :” e assim o mandou partir. Ele, chegando próximo da cidade, deixou o dinheiro na raiz de uma árvore e foi para casa à noitinha. Sua esposa neste momento estava sentada com o amante dela. O brahmin ficou na porta e disse, “Esposa.” Ela reconheceu a voz dele e colocando a luz para fora abriu a porta : quando o brahmin entrou, ela pegou o outro e colocou na porta : e voltando e não vendo nada no saco perguntou, “Brahmin, que ofertas conseguiste na tua jornada ?” “Mil dinheiros.” “Onde está ?” “Deixei em tal e tal lugar : não se preocupe, pegarei a-manhã.” Ela foi e contou ao amante. Que por sua vez foi e o pegou como se fosse seu próprio tesouro. Dia seguinte o brahmin foi e não vendo o dinheiro dirigiu-se até o Bodhisatva, que disse, “Qual o problema, brahmin ?” “Não encontrei o dinheiro, Ó sábio.” “Contaste para tua esposa ?” “Sim, Ó sábio.” “Há alguém que seja amigo de vocês ?” “Sim, Ó sábio.” Então o Grande Ser fez com que se lhe dessem a despesa de sete dias dizendo, “Vá, e vocês dois convidem e entretenham no primeiro dia quatorze brahmins, sete você e sete sua esposa : no dia seguinte em diante retire um cada dia, até que no sétimo você convide um brahmine tua esposa um : então se notares que o brahmin que tua esposa convidou no sétimo veio nos outros dias, me diga.” O brahmin fez isto e contou ao Bodhisatva, “Ó sábio, observei um brahmin que é sempre nosso convidado.” O Bodhisatva enviou homens com ele para trazer este outro brahmin e perguntou a ele, “Você pegou mil dinheiros pertencentes a este brahmin da raiz de tal e tal árvore ?” “Não, Ó sábio.” “Não sabes que sou o sábio Senaka ; farei você devolver este dinheiro.” Ele ficou com medo e confessou, dizendo, “Eu peguei.” “Que fizeste com ele ?” “Coloquei em tal e tal lugar, Ó sábio.” O Bodhisatva perguntou ao primeiro brahmin, “Brahmin, você vai ficar com a esposa ou vai arranjar outra ?” “Deixe-me ficar com esta, Ó sábio.” O Bodhisatva enviou homens para buscar o dinheiro e a esposa, e deu ao brahmin o dinheiro da mão do ladrão ; puniu o outro, removendo-o da cidade, puniu também a esosa e deu grande honra ao brahmin, fazendo-o morar perto de si mesmo.
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Após a lição, o Mestre declarou as Verdades e identificou o Jataka :- No final das Verdades, muitos atingiram a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo o brahmin era Ananda, o espírito (yaksha) Sariputra, àssembléia era a igreja de Buddha e o sábio Senaka era eu mesmo.”



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